tag:blogger.com,1999:blog-30319857095032298622024-03-19T00:31:42.276-03:00UM FILME POR DIAFilmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.comBlogger1874125tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-85356487968136022172023-03-23T19:17:00.222-03:002023-03-28T14:08:51.568-03:00VAMPIROS DO DESERTO<p><i></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2ysSRdWK5IXBU6C511dw96ssefpK8qD5BVoKcKfPreqw9JDthZsyvl7zeabCbMN1P3cgLYHaLPATNshKgVgB-C0_cz-Z9AYONPDmTBRZjInSNdpPni7q3BzP6TJfOVJRAKIDShIeWpeaaZpCi3G8TsnNpHV9cPa-wjHw0EWz4agkg-WHW4fQ8oPiV/s468/rawImage.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="468" height="219" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2ysSRdWK5IXBU6C511dw96ssefpK8qD5BVoKcKfPreqw9JDthZsyvl7zeabCbMN1P3cgLYHaLPATNshKgVgB-C0_cz-Z9AYONPDmTBRZjInSNdpPni7q3BzP6TJfOVJRAKIDShIeWpeaaZpCi3G8TsnNpHV9cPa-wjHw0EWz4agkg-WHW4fQ8oPiV/s320/rawImage.jpg" width="320" /></a></i></div><i><br />VAMPIROS DO DESERTO (The forsaken, 2001, Screen Gems/Sandstorm Films,
90min) Direção e roteiro: J. S. Cardone. Fotografia: Steven Bernstein.
Montagem: Norman Buckley. Música: Tim Jones, Johnny Lee Schell.
Figurino: Ernesto Martinez. Direção de arte/cenários: Martina
Buckley/Trevor Murray. Produção: Scott Einbinder, Carol Kottenbrook.
Elenco: Kerr Smith, Brendan Fehr, Izabella Misko, Johnathon Schaech,
Carrie Snodgress. Estreia: 27/4/2001</i><p></p><p>Típico produto da geração MTV, com cortes ágeis<i>, </i>visual modernoso e atores fotogênicos, "Vampiros do deserto" chegou às telas com um<i> </i>público-alvo definido. Pode não ter feito um sucesso estrondoso de bilheteria, mas é inegável que, em comparação com uma gama de produções do gênero que abarrotavam as salas de cinema no começo dos anos 2000, tem muito mais a dizer. Mergulhando no universo do vampirismo sem medo de criar uma nova mitologia e apostando na sensualidade e na violência - ainda que moderada pela edição -, o filme de J. S. Cardone (cineasta sem maior expressão e nenhum grande filme no currículo) acerta em se levar a sério mas peca justamente no calcanhar de Aquiles da maioria dos exemplares de terror de sua época: o roteiro superficial, que não permite uma conexão maior entre os personagens e o espectador.</p><p>O protagonista do filme é Sean (Kerr Smith), um jovem que trabalha como editor de trailers de cinema enquanto não realiza o sonho de tornar-se diretor. Contratado para dirigir uma Mercedes até a Flórida e entregá-la sem um arranhão à proprietária, ele aproveita a situação para juntar dinheiro para comparecer ao casamento da irmã. No caminho, as coisas não saem exatamente como o previsto e ele se vê quase obrigado a dar carona ao misterioso Nick (Brendan Fehr), que se oferece para pagar a gasolina da viagem. Durante uma parada para comer, a dupla de novos amigos encontra Megan (Izabella Miko), uma garota em nítido sofrimento físico que os aproxima de uma realidade assustadora, revelada por Nick: a presença maligna de um grupo de vampiros, liderados por Kit (Jonathon Schaech) e cuja origem remete às cruzadas religiosas. Há algum tempo na caça de Kit, o corajoso Nick conta com a ajuda de Sean para exterminá-lo e salvar a vida tanto de Megan quanto do próprio motorista - em vias de transformar-se também em morto-vivo.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnsv8V1MZjFdYZ6iXX6J9y4iYM9kJTEi9Oy1x9shOhfGatQcwbn7CHPvlr6HKOaP8le6TURjT71fX4_gdxfyZAzQg4qlhGffgzgaAtrueCJChrwZz6qiQ1SfgGH2iG1HuNzZRu3TURoUykugDJnDxwREa0SWDk96G3SX_9t3PGBtNy94k_YETJhyYY/s1280/VAMP.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="718" data-original-width="1280" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnsv8V1MZjFdYZ6iXX6J9y4iYM9kJTEi9Oy1x9shOhfGatQcwbn7CHPvlr6HKOaP8le6TURjT71fX4_gdxfyZAzQg4qlhGffgzgaAtrueCJChrwZz6qiQ1SfgGH2iG1HuNzZRu3TURoUykugDJnDxwREa0SWDk96G3SX_9t3PGBtNy94k_YETJhyYY/s320/VAMP.jpg" width="320" /></a></div> <p></p><p>A escolha de Kerr Smith para o papel central de "Vampiros do deserto" tem certa razão de ser: sucesso na série juvenil "Dawson's Creek" - que também revelou Katie Holmes e Michelle Williams -, Smith também fez parte do elenco do bem-sucedido "Premonição" (2000) e parecia uma aposta certeira junto ao público-alvo, com sua imagem de galã e moço de família. Seu colega de elenco, Jonathon Schaech, já tinha um currículo maior, dividindo a carreira entre produções comerciais - como "Colcha de retalhos" (1995) e "The Wonders: o sonho não acabou" (1996) - e incursões ao cinema independente - "Geração maldita" (1995), normalmente enfatizando uma persona sexy e marginal. O encontro dos dois opostos - com o simpático Brendan Fehr no meio de campo - é uma das camadas mais interessantes do filme de Cardone, que foi apontado, anos depois de seu lançamento, como um conto de descoberta da sexualidade homoerotica entre os dois protagonistas. Tal ideia soa um tanto deslocada diante da trama, que não encontra espaço para qualquer romance exceto a atração de Sean por Megan - algo pouco desenvolvido em um roteiro que se concentra em sangue (muito), ação (razoável) e a tentativa de criar um histórico cultural aos sanguessugas. Cardone se sai relativamente bem ao disfarçar um orçamento modesto (cerca de 15 milhões de dólares) com soluções criativas e uma direção que enfatiza os pontos positivos do roteiro.</p><p>Sim, o roteiro escrito pelo próprio diretor tem seus méritos. Por mais que falhe em não aprofundar seus personagens centrais e até mesmo sua relação, Cardone oferece ao espectador sequências bastante interessantes, em que explora a sede de sangue das plateias mais jovens da forma mais elegante possível. Mesmo não sendo uma produção inesquecível ou capaz de revitalizar os filmes do gênero, "Vampiros do deserto" não decepciona a quem procura um passatempo digno e que, por incrível que pareça, diverte sua plateia. Não chega a ser um "Garotos perdidos" - que marcou uma geração inteira desde seu lançamento, em 1987 - mas tampouco desrespeita os cânones clássicos, ainda que modernizados e pasteurizados para uma juventude acostumada a banhos de sangue.<br /></p>Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-39342486819469017982023-03-22T19:21:00.188-03:002023-03-27T13:59:27.489-03:00DA MAGIA À SEDUÇÃO<p><i></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEROv__Wdd0VqDzhpexUvCZF8kTPx-JzaVGZZeMck8iUg9SEliMGvnbYVl7_0VN9Hb3q6whfDrxRSLMiTi2jM9WC0pGPlBy-k-OzNW_cI1YZZezYGgkN1VGjFDdx65uMrpZHrs935Eq2Agllwj_QqJXzbswC6VrQxiDZVhmeRnsSWSP0jrDDrg0koN/s800/Practical-Magic.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="800" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEROv__Wdd0VqDzhpexUvCZF8kTPx-JzaVGZZeMck8iUg9SEliMGvnbYVl7_0VN9Hb3q6whfDrxRSLMiTi2jM9WC0pGPlBy-k-OzNW_cI1YZZezYGgkN1VGjFDdx65uMrpZHrs935Eq2Agllwj_QqJXzbswC6VrQxiDZVhmeRnsSWSP0jrDDrg0koN/s320/Practical-Magic.png" width="320" /></a></i></div><i><br />DA MAGIA À SEDUÇÃO (Practical magic, 1998, Warner Bros, 104min) Direção: Griffin Dunne. Roteiro: Robin Swicord, Akiva Goldsman, Adam Brooks, romance de Alice Hoffman. Fotografia: Andrew Dunn. Montagem: Elizabeth Kling. Música: Alan Silvestri. Figurino: Judianna Makovksy. Direção de arte/cenários: Robin Standefer/Claire Jenora Bowin. Produção executiva: Bruce Berman. Produção: Denise Di Novi. Elenco: Sandra Bullock, Nicole Kidman, Aidan Quinn, Dianne Wiest, Stockard Channing, Goran Visnjic, Marc Feuerstein, Evan Rachel Wood, Margo Martindale, Chloe Webb. Estreia: 16/10/98</i><p></p><p>Quando "Da magia à sedução" chegou aos cinemas, Nicole Kidman ainda não era a estrela que viria a se tornar depois do sucesso de "Moulin Rouge: o amor em vermelho" e "Os outros" -<i> </i>ambos lançados em 2001 - nem tampouco tinha o prestígio que o Oscar por "As<i> </i>horas" (2002) lhe traria. Em outubro de 1998, data da estreia, a maior estrela do projeto era Sandra Bullock, em franca ascensão desde que chamou a atenção do público pela primeira vez, em "Velocidade máxima" (1994). A união das duas atrizes, porém, ao contrário do que se poderia esperar, decepcionou. Com menos de 50 milhões de dólares arrecadados nas bilheterias mundiais, o filme dirigido pelo também ator Griffin Dunne - e baseado em um best-seller de Alice Hoffman - ficou em um estranho meio-termo entre uma comédia romântica<i> </i>com tons sobrenaturais e um suspense fantástico com elementos<i> </i>típicos das histórias de amor que enchem os olhos dos fãs do gênero. Escorado no carisma de suas estrelas e com o apoio luxuoso de um elenco coadjuvante impecável, "Da magia à sedução" funciona como um passatempo acima da média - mas inegavelmente sofre com sua atmosfera um tanto indecisa.</p><p>De acordo com um dos roteiristas, o premiado Akiva Goldsman - Oscar por "Uma mente brilhante" (2001) - a primeira versão do filme privilegiava o lado mais sombrio da história criada por Hoffman e publicada em 1995. O marketing promovido pela Warner, porém, conduziu a produção a um resultado mais leve, de olho em um público mais amplo. Sendo assim, a saga de duas jovens irmãs lidando com seus dons de feitiçaria encontrou, no filme de Dunne, um viés mais lúdico e menos mórbido. Se por um lado é um acerto, ao explorar o talento cômico de suas atrizes, também deixa no ar a sensação de um resultado final híbrido, que não atinge todo o seu potencial dramático. Tal problema de foco respingou inclusive na trilha sonora original de Michael Nyman, que foi substituída, depois de exibições-teste, por uma música considerada menos "europeia e intrusiva", composta por Alan Silvestri. Com intenções mais comerciais, a versão que finalmente chegou às telas acabou por decepcionar o estúdio - mas tornou-se cult com o passar do tempo, principalmente devido à presença de Kidman e Bullock.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgN8FZ9BTNdwdrWhF70MiJe-7kTd90gC4SxzsjGe76_PhCHcLUraMzcIXp3gLMMn1auEdXuuacgjDys_vcIPfYvGeyz4_ior8pybdbzy6z50H3viBdMzZbFUXk3PkOhf5fscw8vFFfr74xalgSRwte3iwFhWBLEKW_HLn-YjGSrJcB-WmpaVmdfCYd-/s1024/original-12559-1458657036-20.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="433" data-original-width="1024" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgN8FZ9BTNdwdrWhF70MiJe-7kTd90gC4SxzsjGe76_PhCHcLUraMzcIXp3gLMMn1auEdXuuacgjDys_vcIPfYvGeyz4_ior8pybdbzy6z50H3viBdMzZbFUXk3PkOhf5fscw8vFFfr74xalgSRwte3iwFhWBLEKW_HLn-YjGSrJcB-WmpaVmdfCYd-/s320/original-12559-1458657036-20.jpg" width="320" /></a></div> <p></p><p>As duas atrizes vivem, respectivamente, Gillian e Sally Owens, irmãs que, órfãs, vivem desde a infância em uma pequena ilha na costa de Massachussets, criadas por suas tias, Frances (Stockard Channing) e Jet (Dianne Wiest). Descendentes de uma longa linhagem de bruxas, elas sabem que são amaldiçoadas para o amor e se ressentem de terem passado a vida toda sofrendo o preconceito dos outros moradores locais. Chegando à idade adulta, porém, sua união é posta à prova pelas radicais diferenças entre suas personalidades. Enquanto Sally - introvertida e romântica - desafia sua sina e vive um casamento feliz e realizado com Michael (Mark Feuerstein), Gillian - rebelde e sensual - foge da cidade com o objetivo de viver a vida longe dos olhos maldosos dos conterrâneos. A maldição que as une, no entanto, parece mais forte do que qualquer coisa: Sally fica viúva depois de um trágico acidente, e Gillian se envolve em um relacionamento tóxico e violento com o perigoso Jimmy Angelow (Goran Visjnic) - uma relação cujos desdobramentos trágicos a obriga a retornar ao lar e apresenta as duas irmãs o detetive de polícia Gary Hallet (Aidan Quinn). Sua reunião abala a tranquilidade da pequena cidade - mas pode, paradoxalmente, ajudá-las a superar o preconceito que cerca sua família e suas origens.</p><p>O que pode ser dito a respeito de "Da magia à sedução" é que, apesar dos problemas, o produto final é um delicioso programa para os menos exigentes. No auge da beleza, Nicole Kidman rouba a cena como a tresloucada e irresponsável Gillian - um contraponto aos dramas de Sally, interpretada por uma Sandra Bullock competente mas repetindo os trejeitos que fizeram dela uma grande estrela. Stockard Channing e Dianne Wiest brilham a cada aparição e a direção de Griffin Dunne faz o possível para extrair o melhor de um roteiro cuja mudança de tom no terço final prejudica mais do que ajuda. Para os fãs de suas atrizes centrais é imperdível - mas fica no ar a sensação de que poderia ter sido melhor, mais memorável ou até mesmo mais corajoso. <br /></p>Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-23212525099561602982023-03-21T19:03:00.002-03:002023-03-21T19:03:30.606-03:00FANTASMAS DO PASSADO<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuYtpNumI8WkSzt8eRxP7Chs4x4vHYh6BhSOb6MtZ2AL5HOhwRBngsuN6JVM2GLR5cqqAYJ1BdU9QHG9HKFNUXMrDOAeo6dekxcnMJQ4QuF_5OR1vCO41I8hN37xXNIhMMhvAK_NtV7JfZNsqf63CYRMtHKIQLaM7jNbM7R44kSf6b16XAZXiw-no1/s600/ghosts_of_mississippi_photo_0-592909603.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="405" data-original-width="600" height="216" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuYtpNumI8WkSzt8eRxP7Chs4x4vHYh6BhSOb6MtZ2AL5HOhwRBngsuN6JVM2GLR5cqqAYJ1BdU9QHG9HKFNUXMrDOAeo6dekxcnMJQ4QuF_5OR1vCO41I8hN37xXNIhMMhvAK_NtV7JfZNsqf63CYRMtHKIQLaM7jNbM7R44kSf6b16XAZXiw-no1/s320/ghosts_of_mississippi_photo_0-592909603.jpg" width="320" /></a></i></div><i><br />FANTASMAS
DO PASSADO (Ghosts of Mississippi, 1996, Columbia Pictures, 130min)
Direção: Rob Reiner. Roteiro: Lewis Colick. Fotografia: John Seale.
Montagem: Robert Leighton. Música: Marc Shaiman. Figurino: Gloria
Gresham. Direção de arte/cenários: Lilly Kilvert/Karen A. O'Hara.
Produção executiva: Charles Newirth, Jeffrey Stott. Produção: Nicholas
Paleogolos, Rob Reiner, Andrew Schneiman, Frederick Zollo. Elenco: Alec
Baldwin, Whoopi Goldberg, James Woods, Craig T. Nelson, Virginia Madsen,
Diane Ladd, Susanna Thompson, William H. Macy, Jerry Levine, Terry
O'Quinn, James Pickens Jr., Lucas Black, Jerry Hardin. Estreia: 20/12/96</i><p></p><p><b>2 indicações ao<i> </i>Oscar: Ator Coadjuvante (James Woods), Maquiagem</b></p><p>Quando
"Fantasmas do passado" chegou aos cinemas, em dezembro de 1996, fazia
apenas dois anos e meio que sua história havia tido seu desfecho. O
terceiro julgamento de Byron de la Beckwith<i> </i>pelo assassinato do
líder negro Medgar Evers em 1963 - depois de dois outros anulados por
uma série de circunstâncias que beneficiavam o réu - tornou-se assunto
dominante em Jackson, Mississippi no começo de 1994 e<i> </i>sua versão
cinematográfica aproveitou-se da energia de revolta local para tentar
transmitir ao espectador toda a força dos acontecimentos que foram um
marco na luta pelos direitos civis na sociedade norte-americana. Não
conseguiu completamente.<i> </i>A bilheteria pouco expressiva e a receptividade morna da crítica acabaram por relegar o filme a uma espécie de limbo<i> </i>na
carreira do diretor Rob Reiner, apenas um meio-termo entre o sucesso de
"Conta comigo" (1986), "Harry & Sally: feitos um para o outro"
(1989), "Louca obsessão" (1990) e "Questão de honra" (1992) e o fracasso
comercial de "O anjo da<i> </i>guarda" (1994) e "Alex & Emma:
escrevendo sua história" (2003). Mesmo assim, chamou a atenção o
suficiente para render a James Woods uma indicação ao Oscar de ator
coadjuvante - a segunda de sua carreira.</p><p><i> </i>Woods - na pele
do venal Byron de la Beckwith - é o destaque absoluto do filme de
Reiner. Mesmo com poucos minutos em cena, seu desempenho consegue
eclipsar tanto a potente atuação de Whoopi Goldberg (tentando dar
consistência às falas clichês de sua personagem) quanto o esforço de
Alec Baldwin, ainda não exatamente reconhecido como o ator de respeito
que se tornaria com o passar dos anos. Fugindo da tentação de fazer de
Beckwith um vilão humanizado (basta ver entrevistas reais para perceber
que isso é impossível), o veterano ator dá o seu melhor para transmitir,
em cada aparição, todo o ódio e o desprezo que move o movimento
supremacista do sul dos EUA - e do resto do mundo. Sempre que surge na
tela, seu olhar maligno e sua expressão de desprezo pela justiça tornam
impossível ignorar seu minucioso trabalho - algo que nem mesmo a
maquiagem exagerada (inexplicavelmente indicada ao Oscar) consegue
atrapalhar. Lamentável que o roteiro não lhe dê mais espaço e se
concentre naquele que talvez seja o grande problema do filme: a figura
do criticado <i>white savior</i> - termo que caracteriza, normalmente de
forma pejorativa, uma pessoa branca que se torna o herói em uma luta
racial. Ok, o advogado que levou Beckwith aos tribunais em 1994,Bobby
DeLaughter, é branco. Mas fica, mesmo assim, a sensação de um foco
inadequado a uma trama tão nitidamente específica.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYwTz4ysFPkL1inTc9BoacTuSJ3wTkDhD0jOdqdWDodKD5DQ-unCD2iISgB0SeALPD980THqcr_ok6OJAD8Dd1a6-5BhYDpv9RuyRbhzkmWawFexV_wrA8NfPVWNuZfBCL2ukQEvOMU1zFluNtoYwtZqxdWwLQ2xK3lCgOYTceI6BpU3pB6gXiGEJR/s1024/GHOSTS2.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="576" data-original-width="1024" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYwTz4ysFPkL1inTc9BoacTuSJ3wTkDhD0jOdqdWDodKD5DQ-unCD2iISgB0SeALPD980THqcr_ok6OJAD8Dd1a6-5BhYDpv9RuyRbhzkmWawFexV_wrA8NfPVWNuZfBCL2ukQEvOMU1zFluNtoYwtZqxdWwLQ2xK3lCgOYTceI6BpU3pB6gXiGEJR/s320/GHOSTS2.jpeg" width="320" /></a></div><br /> <p></p><p>Apesar
de dar a Whoopi Goldberg o importante e crucial papel de Myrlie Evers, a
viúva do ativista pelos direitos civis Medgar Evers (vivido no filme
por James Pickens Jr., de "Grey's Anatomy"), o roteiro de "Fantasmas do
passado" se concentra basicamente em Bobby DeLaughter, promotor do
Mississipi que entra, quase por acaso, no caso do terceiro julgamento de
um racista radical acusado pelo assassinato. Casado, pai de dois filhos
e parte de uma família tradicional e respeitada, Bobby se deixa
convencer pela persuasiva Myrlie de que trinta anos já é tempo
suficiente para tentar novamente a condenação do homem que matou seu
marido. Para conquistar sua confiança, o promotor põe em risco seu
casamento, sua carreira e até mesmo sua vida. Sem o apoio daqueles que o
rodeiam - todos profundamente enraizados nos preconceitos sulistas - e
questionado até mesmo por Myrlie, ele descobre, no processo rumo ao
tribunal, que condenar um homem tão abertamente preconceituoso e
intolerante não é tarefa fácil, especialmente em seu contexto geográfico
e social.</p>Assumindo um papel que foi cogitado para ser de Tom
Cruise ou de Tom Hanks - ambos com potencial comercial bem maior -, Alec
Baldwin sofre com a direção quase mecânica de Rob Reiner e com o
roteiro esquemático e quase frio. Ao tentar evitar o sentimentalismo
inerente à história, Reiner nega à plateia o tom emocional que poderia
fazer de seu filme uma produção marcante e relevante. Lançado no mesmo
ano do sucesso "Tempo de matar" e do fiasco "O segredo" - ambos com
temática semelhante, ainda que relatos de ficção baseados em livros de
John Grisham -, "Fantasmas do passado" passou praticamente em branco nos
cinemas e dificilmente é lembrado mesmo nas filmografias de seus atores
principais. Não deixa de ser uma injustiça: mesmo longe de ser um dos
melhores filmes do diretor ou até mesmo sobre o tema, é um
entretenimento decente - ainda que seu foco seja um tanto problemático.Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-31177418156304297962023-03-20T19:56:00.001-03:002023-03-20T19:56:10.673-03:00BARRY LYNDON<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEOKDgJpYUi9quKgCi0nhh8Uq8RC4uYqwEsRA145PdVCRoEv3CWf4RE-62G9ciJc2zgibpr4CnlQjPCmAyPjdnR9Qvj-Lw-6Xkw0uRUqjVJFStv62BKmncI17pGdYKqls9vFXK3HJlII4yJ7VTnyXI_CIgWDwXgIfiQ6alll3cz0pZwnVI6ezBCHUD/s723/365-Filmes-Tres-Meia-Cinco-Barry-Lyndon-Stanley-Kubrick-Ryan-ONeal-Marisa-Berenson-9.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="415" data-original-width="723" height="184" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEOKDgJpYUi9quKgCi0nhh8Uq8RC4uYqwEsRA145PdVCRoEv3CWf4RE-62G9ciJc2zgibpr4CnlQjPCmAyPjdnR9Qvj-Lw-6Xkw0uRUqjVJFStv62BKmncI17pGdYKqls9vFXK3HJlII4yJ7VTnyXI_CIgWDwXgIfiQ6alll3cz0pZwnVI6ezBCHUD/s320/365-Filmes-Tres-Meia-Cinco-Barry-Lyndon-Stanley-Kubrick-Ryan-ONeal-Marisa-Berenson-9.jpg" width="320" /></a></i></div><i><br />BARRY LYNDON (Barry Lyndon, 1975, Warner Bros,</i><i>
185min) Direção: Stanley Kubrick. Roteiro: Stanley Kubrick, romance de
William Makepeace Thackeray. Fotografia: John Alcott. Montagem: Tony
Lawson. Música: Leonard Rosenman. Figurino: Milena Canonero. Direção de
arte/cenários: Ken Adam/Roy Walker. Produção executiva: Jan Harlan.
Produção: Stanley Kubrick. Elenco: Ryan O'Neal, Marisa Berenson, Patrick
Magee, Gay Hamilton, Frank Middlemass, Leonard Rossiter. Estreia:
11/12/75 (Londres)</i><p></p><p><b>7 indicações ao Oscar: Melhor Filme,
Diretor (Stanley Kubrick), Roteiro Adaptado, Fotografia, Trilha Sonora,
Figurino, Direção de Arte/Cenários</b></p><p><b>Vencedor de 4 O</b><b>scar: Fotografia, Trilha Sonora, Figurino, Direção de Arte/Cenários</b></p><p>Conhecido
por sua obsessão em termos profissionais, Stanley Kubrick dedicou boa
parte de sua vida a pesquisar sobre Napoleão Bonaparte, a quem escolheu
como tema de um seus filmes. Depois de ler alegadamente uma centena de
livros sobre o líder francês e ter explorado o assunto por todos os
ângulos, porém, viu seu projeto ser cancelado pela Warner Bros por
problemas de orçamento - o que mostrou-se premonitório, haja visto o
fracasso de "Waterloo" (1970), produzido por Dino de Laurentiis. Partiu,
então, para a produção do controverso "Laranja mecânica" (1971) - que
lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor diretor - mas jamais
abandonou a ideia de dirigir uma história passada no século XVIII e
utilizar-se de todo o resultado de seus estudos. Foi então que mirou na
obra do escritor William Makepeace Thackeray - mais precisamente em
"Feira das vaidades", publicado em 1848. Com o tempo, ciente de que a
vasta trama do livro não caberia em apenas três horas de duração, mudou
novamente de alvo, mas ainda dentro do universo do autor, nascido na
Índia em 1811. Surgia assim "Barry Lyndon", mais um de seus clássicos - e
certamente a mais sofisticada de suas produções, premiada com 4 Oscar e
celebrada pela crítica como uma obra-prima inquestionável.</p><p>Filmado
na Inglaterra por longos nove meses - o que empurrou sua estreia para
dezembro de 1975, quase dois anos e meio depois do começo da produção -,
"Barry Lyndon" custou aos cofres da Warner aproximadamente 11 milhões
de dólares, mas não foi um sucesso de bilheteria, para decepção do
estúdio e do próprio diretor, que viu-se obrigado pela consciência a
fazer de "O iluminado" - um projeto bem mais comercial - seu filme
seguinte. Nem a exigência dos engravatados - de escalar um ator popular
para o papel central, como forma de garantir seu sucesso financeiro -
mostrou-se certeira. O apuro visual, o capricho na direção de atores e o
roteiro (irônico e inteligente) não foram suficientes para conquistar a
plateia. Sem as elocubrações filosóficas de "2001: uma odisseia no
espaço" (1968) e o virtuosismo narrativo de "Laranja mecânica", o filme
de Kubrick aposta em uma narrativa linear como forma de contar sua
história, uma saga pessoal que satiriza com elegância a aristocracia
europeia dos anos 1700. Com uma reconstituição de época impecável e uma
fascinante direção de fotografia - que inclui belas sequências filmadas a
luz de velas -, "Barry Lyndon" provou que o celebrado cineasta jamais
poderia ser chamado de repetitivo.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzukD1M5nvoYNsp0NqzwDoJnge4qTjrG_k_oWmztarhtiNPPjfqW1j7hCv8k6yTr0q1bSNFiromj2NMNdofiN0zK_7oFcrPeZyvgBMSsE4oXAVz4vkqQVclMkuraiWpKgkZqNm9Kcivanr98sl7uPMEmfrSYKVLyH_94VJ2m7Rv5jZdrY6m9NpQmU8/s800/Current_BL3_original.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="800" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzukD1M5nvoYNsp0NqzwDoJnge4qTjrG_k_oWmztarhtiNPPjfqW1j7hCv8k6yTr0q1bSNFiromj2NMNdofiN0zK_7oFcrPeZyvgBMSsE4oXAVz4vkqQVclMkuraiWpKgkZqNm9Kcivanr98sl7uPMEmfrSYKVLyH_94VJ2m7Rv5jZdrY6m9NpQmU8/s320/Current_BL3_original.jpg" width="320" /></a></div><br /> <p></p><p>A
trama de "Barry Lyndon" começa com a morte do pai do protagonista, que
se torna órfão ainda criança e passa a ser o centro das atenções de sua
mãe. Vivendo na Irlanda do século XVIII, o rapaz, chamado Redmond Barry
(e interpretado por Ryan O'Neal), se apaixona por sua prima, Nora Brady
(Gay Hamilton), e tal sentimento é o catalisador de uma série de eventos
que irá transformar sua vida pelas próximas décadas. Fugindo de uma
acusação de assassinato - forjada por seu rival pelo amor da ambiciosa
prima -, Barry acaba se unindo ao exército britânico na Guerra dos Sete
Anos. Indolente e pouco honesto, ele deserta mas se vê obrigado a fazer
parte do exército prussiano. Depois de salvar a vida de seu capitão,
torna-se seu protegido, mas sua lealdade não é exatamente sólida e não
demora a associar-se a Chevalier de Balibari (Patrick Magee), um jogador
irlandês de quem só se afasta quando resolve dar o golpe do baú na
milionária Lady Lindon (Marisa Berenson) - de quem assume também o
sobrenome. Seu casamento com a viúva, porém, é destinado à tragédia,
graças à rivalidade de Barry com seu enteado.</p>Talvez a maior ousadia
de Stanley Kubrck em "Barry Lyndon" tenha sido a escolha de seu ator
central. Um dos dez atores mais populares do cinema em uma pesquisa
realizada em 1973 (ano do começo da produção), Ryan O'Neal só perdia,<i> </i>na época, para Clint Eastwood<i> </i>-
logicamente velho demais para o papel. Vindo do sucesso de filmes como
"Love story: uma história de amor" (1970), "Essa pequena é uma parada"
(1972) e "Lua de papel" (1973), O'Neal não era, apesar disso, a primeira
opção do cineasta, que preferia Robert Redford, também parte da lista
dos grandes astros do momento. Com a recusa de Redford - que logo em
seguida voltaria ao topo com "Nosso amor de ontem" e "Golpe de mestre",<i> </i>ambos de 1973<i> - </i>o
futuro marido de Farrah Fawcett entrou no projeto como uma forma de
somar prestígio ao sucesso comercial. Por um lado deu certo: mesmo com a
direção do perfeccionista Kubrick, o ator que levou multidões aos
cinemas com seu drama lacrimoso ao lado de Ali McGraw não teve a mesma
sorte com a produção que poderia lhe dar o status de grande intérprete -
mas obteve o respeito que tal empreitada oferece. Seu desempenho,
porém, acabou eclipsado pela opulência da produção: dotado de um ritmo
próprio, cuja lentidão é parte indissociável do tom imposto pelo roteiro
e pela direção, "Barry Lyndon" encanta principalmente pela beleza
plástica<i>. </i>Suas três horas e cinco minutos de duração - meros doze minutos<i> </i>a
menos que "Spartacus" (1960) e com direito a intervalo - passam sem
pressa diante dos olhos do espectador, que fascinado com a bela
fotografia de John Alcott<i>, </i>o figurino de Milena Canonero e o desenho de produção de Ken Adam, se deixa envolver<i> </i>por uma trama iconoclasta, satírica e quase cínica.<i> </i>Com
um protagonista que vive na sociedade do século XVIII com uma
mentalidade moderna, "Barry Lyndon" é, a seu modo, também à frente de
seu tempo. Pode não ter revolucionado o cinema, mas é mais um filme
indispensável na carreira de um dos poucos diretores que podem ser
realmente chamados de artista<i>. </i><p> </p>Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-54283514015885031472023-03-17T19:17:00.001-03:002023-03-17T19:17:15.585-03:00O DOCE SABOR DE UM SORRISO<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglPVxiWHwDRZ9UlxfgkHL2mEVIkABM2RjjlLcZzV3FbMzkPHXnTWecMv5EQWUERHHy7PYdVEh2E6m7RQTbrKY4yrmugO1WSKbyrAow5PVgGwFOELptNkDTzMqLdbDTDrc9VotnDPgiGhudBDgfkeg1ksnHt_O_QNrAKqWWvxJmn4MtlnY_c4CzXu81/s1024/OnlyWhenILaugh1981_20037_1024x767_11212014041329.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="767" data-original-width="1024" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglPVxiWHwDRZ9UlxfgkHL2mEVIkABM2RjjlLcZzV3FbMzkPHXnTWecMv5EQWUERHHy7PYdVEh2E6m7RQTbrKY4yrmugO1WSKbyrAow5PVgGwFOELptNkDTzMqLdbDTDrc9VotnDPgiGhudBDgfkeg1ksnHt_O_QNrAKqWWvxJmn4MtlnY_c4CzXu81/s320/OnlyWhenILaugh1981_20037_1024x767_11212014041329.jpg" width="320" /></a></i></div><i><br />O
DOCE SABOR DE UM SORRISO (Only when I laugh, 1981, Columbia Pictures,
120min) Direção: Glenn Jordan. Roteiro: Neil Simon, peça teatral "The
gingerbread lady", de sua autoria. Fotografia: David M. Walsh. Montagem:
John Wright. Música: David Shire. Figurino: Ann Roth. Direção de
arte/cenários: Albert Brenner/Marvin March. Produção: Roger M.
Rothstein, Neil Simon. Elenco: Marsha Mason, James Coco, Joan Hackett,
Kristy McNichol, David Dukes, Peter Coffield. Estreia: 13/9/81 (Festival
de Toronto)</i><p></p><p><b>3 indicações ao Oscar: Atriz (Marsha Mason), Ator Coadjuvante (James Coco), Atriz Coadjuvante Joan Hackett)<br />Vencedor do Golden Globe de Atriz Coadjuvante (Joan Hackett) </b></p><p>Um dos mais populares dramaturgos norte-americanos<b> </b>dos anos 1960 e 1970, Neil Simon não apenas consagrou-se nos palcos da Broadway mas também teve uma bem<b>-s</b>ucedida carreira<b> </b>em
Hollywood, assinando grandes sucessos, que chegaram a lhe render
indicações ao Oscar - pelos filmes "Um estranho casal" (1968), "Uma
dupla desajustada" (1975), "A garota do adeus" (1977) e "California
Suite" (1978). Vencedor de 3 Tony Awards e referência do teatro nos EUA,
Simon enfrentou, em 1970, um revés artístico e comercial: sua peça "The
gingerbread lady" teve uma decepcionante trajetória e parecia fadada a
entrar para a história como um de<i> </i>seus poucos equívocos. Porém,
na arte nem sempre um fracasso é definitivo, e onze anos depois,
rebatizado de "Only when I laugh", seu texto ressurgiu em forma de
roteiro e, posteriormente como um filme. Dirigido por Glenn Jordan e
produzido pelo próprio Neil Simon, "O doce sabor de um sorriso"
arrebatou três indicações ao Oscar (incluindo na categoria de melhor
atriz, para Marsha Mason, então casada com o escritor) e reafirmou sua
posição como um<i> </i>roteirista dos mais confiáveis e admiráveis de
sua geração. Mesmo com sua história construída dentro de um universo
todo particular - o mundo do teatro nova-iorquino, com suas
idiossincrasias e dramas -, o filme estrelado por Mason acerta ao dotar
sua protagonista de sentimentos universais e facilmente reconhecíveis
dentro de qualquer família disfuncional.</p><p>A personagem central do
filme é Georgia Hines (Marsha Mason), uma atriz de teatro que, depois de
uma temporada de de três meses em uma clínica de reabilitação, volta ao
convívio de seus amigos e de sua filha adolescente, Polly (Kristy
McNichol). Polly, tentando reconectar-se com a mãe com quem tem uma
relação delicada, resolve morar com ela em seu pequeno apartamento - e
passa a testemunhar sua luta para evitar a recaída no álcool. Tentando
retomar a carreira, Georgia aceita o desafio de protagonizar uma peça
inédita de seu ex-namorado, David (David Dukes) - um texto que recria no
palco sua problemática relação. Em seu dia-a-dia ela conta com o apoio
de Toby Landau (Joan Hackett), cujo casamento está por um fio a despeito
de seus cuidados com a aparência, e Jimmy Perrino (James Coco), um ator
gay em busca de um lugar ao sol.</p><p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjI7merdn8DMXf1w9HHLCqUBNvfv4DvTeYUDAFrhjA5MVcpjslbSFRAw0Su5iW6VbAWHf2Kqdg95YJ4eoxoOXPmG5rGBVNu-ucxRWx6pYxE0sE8eYr4Wc8FCe_inVr33D1e3aBTRMmNHxZEcA7EySQWt0k50BevNO_pPuY8JOmjw7lCsdM2jviL7pFT/s928/only6.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="556" data-original-width="928" height="192" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjI7merdn8DMXf1w9HHLCqUBNvfv4DvTeYUDAFrhjA5MVcpjslbSFRAw0Su5iW6VbAWHf2Kqdg95YJ4eoxoOXPmG5rGBVNu-ucxRWx6pYxE0sE8eYr4Wc8FCe_inVr33D1e3aBTRMmNHxZEcA7EySQWt0k50BevNO_pPuY8JOmjw7lCsdM2jviL7pFT/s320/only6.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p>Típico
produto de sua época - para o bem e para o mal -, "O doce sabor de um
sorriso" não esconde suas origens teatrais, com um roteiro calcado
basicamente em diálogos e cenas cuja construção vai crescendo
gradualmente. É aí que se destaca a familiaridade de Mason em declamar o
texto bem azeitado de Simon - em especial a ótima sequência em que,
reunida com seus dois melhores amigos, ambos frustrados com suas vidas,
sua Georgia cai na tentação de voltar a beber. Em momentos assim o filme
cresce e disfarça a direção sem brilho de Glenn Jordan em seu primeiro
filme. Substituindo Herbert Ross - que havia comandado com sucesso o
ótimo "A garota do adeus" -, Jordan extrai de seus atores atuações
inspiradas, mas falha em dotar o filme de um ritmo ágil que lhe faria
muito bem. Uma edição mais enxuta, por exemplo, evitaria a duração
excessiva (a trama frágil mal consegue sustentar as duas horas) e
deixaria a história menos cansativa. Para sua sorte, porém, a química
entre o elenco é das melhores possível. James Coco, inclusive, tem no
currículo a dúbia glória de ter sido indicado ao Oscar e ao Framboesa de
Ouro pelo mesmo desempenho: na pele do leal Jimmy Perrino, ele é dono
de algumas das melhores falas do roteiro - mas perdeu o prêmio da
Academia para John Gielgud (de "Arthur, o milionário sedutor") e o
Framboesa para Steve Forrest (por "Mamãezinha querida"). E Joan Hackett,
que brilha na pele da quase fútil Toby Landau, morreu aos 49 anos, em
1983, vítima de câncer no ovário, encerrando uma carreira promissora
ainda incipiente. </p>Leve e inteligente, mas pouco lembrado até
mesmo pelos fãs de Neil Simon, que o coloca em segundo plano diante de
uma série de sucessos, "O doce sabor de um sorriso" é uma produção
simpática, dotada de alguns bons e específicos momentos. O resultado
final é um tanto morno e carece da força dos melhores trabalhos do
autor, além de deixar no ar uma sensação de frustração em relação ao
destino de seus personagens. Porém, o carisma de Marsha Mason em um de
seus melhores trabalhos e a leveza com que trata de temas pesados como o
alcoolismo fazem dele uma bela opção para quem gosta do gênero e da
Hollywood do começo da década de 1980 - um meio-termo entre a ousadia
dos 70 e o conservadorismo que se avizinhava e tomaria conta dos anos
seguintes.Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-66277837767229921992023-03-16T18:53:00.004-03:002023-03-16T18:53:52.633-03:00UM LUGAR NO CORAÇÃO<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaoQl580pspljuV1y47adbK9dhEWEryVd2TAZcRfDvkcQ-m8xx9bFIfz-mrBFqTnFBQs-ftDgCfZ0lz53NQVt0pUKW5l37D7hIfAheL65pFfH8jxz8HLNnjZpVHR7rMPuPPMF_E708hj4TCfW5laZ9X1yjGhM87YUxqM1axB6ywsKVe6JEv-4twlDT/s685/plnh9.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="385" data-original-width="685" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaoQl580pspljuV1y47adbK9dhEWEryVd2TAZcRfDvkcQ-m8xx9bFIfz-mrBFqTnFBQs-ftDgCfZ0lz53NQVt0pUKW5l37D7hIfAheL65pFfH8jxz8HLNnjZpVHR7rMPuPPMF_E708hj4TCfW5laZ9X1yjGhM87YUxqM1axB6ywsKVe6JEv-4twlDT/s320/plnh9.jpeg" width="320" /></a></i></div><i><br />UM
LUGAR NO CORAÇÃO (Places in the heart, 1984, TriStar Pictures, 111min)
Direção e roteiro: Robert Benton. Fotografia: Néstor Almendros.
Montagem: Carol Littleton. Música: John Kander. Figurino: Ann Roth.
Direção de arte/cenários: Gene Callahan/Derek Hill, Lee Poll. Produção
executiva: Michael Hausman. Produção: Arlene Donovan. Elenco: Sally
Field, Danny Glover, John Malkovich, Ed Harris, Amy Madigan, Lindsay
Crouse. Estreia: 04/10/84</i><p></p><p><b>07 indicações ao Oscar: Melhor
Filme, Diretor (Robert Benton), Atriz (Sally Field), Ator Coadjuvante
(John Malkovich), Atriz Coadjuvante (Lindsay Crouse), Roteiro Original,
Figurino</b></p><p><b>Vencedor de 2 Oscar: Atriz (Sally Field), Roteiro Original</b></p><p><b>Vencedor do Golden Globe de Melhor Atriz/Drama (Sally Field) <br /></b></p><p>Na cerimônia do Oscar que premiou<b> </b>os
melhores filmes de 1984, uma situação atípica configurou-se na
categoria de melhor atriz. Três das candidatas ao prêmio da Academia
estavam na briga por papéis quase similares. Tanto Jessica Lange em
"Minha terra, minha vida" quanto Sissy Spacek em "O rio do desespero" e
Sally Field em "Um lugar no coração" chegaram às finais da disputa
interpretando mulheres fortes e determinadas a defender sua propriedades
rurais. Field levava vantagem - estava indicada por uma produção que
também concorria a estatuetas de filme, direção e roteiro - e acabou
saindo vitoriosa pela segunda vez na carreira, mas a a coincidência
temática acusava mais do que simples falta de originalidade: no meio da
década de 1980, uma espécie de ciclo de filmes situados nos anos
pós-Depressão parecia servir como uma luva ao conservadorismo do governo
Reagan, então em seu primeiro mandato como presidente. Ao voltar os
olhos para o passado, os grandes estúdios de Hollywood recontavam uma
parte da história que ninguém desejava repetir - e de quebra davam a
cineastas e atores grandes oportunidades dramáticas e artísticas. Tudo
bem que "Um lugar no coração" não levou o Oscar de melhor filme, mas sua
premiação na categoria de roteiro original - contra três comédias - é
sinal inequívoco de que até mesmo a Academia se deixou levar por tal
sentimento de melancolia e superação.</p><p>Não que o filme de Robert
Benton - voltando ao Oscar cinco anos depois do triunfo de seu "Kramer
vs Kramer" (1979) - careça de qualidades que justificam seu sucesso
junto à crítica. Com uma protagonista com ecos de Scarlett O'Hara e um
tom triunfalista capaz de emocionar aos espectadores mais sensíveis, "Um
lugar no coração" é um filme à moda antiga, com personagens complexos,
uma trama simples mas eficiente e a felicidade de driblar o
sentimentalismo e os clichês - quando estes aparecem servem como
combustível para a história e não como uma muleta narrativa. Amparado
por uma atuação caprichada de Sally Field - que também saiu vitoriosa no
Golden Globe - e um elenco coadjuvante brilhante que inclui um jovem
John Malkovich e Danny Glover em um de seus primeiros papéis
importantes, a produção de Benton conquista desde as primeiras cenas,
graças a um roteiro redondo que permite à plateia que se envolva com os
dramas de seus personagens - mesmo contando uma história norte-americana
em sua raiz mais profunda, é inegável que os sentimentos que inspiram
são universais.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKaJADWYw24ctCvO1779_GhLgS9NI0IJOweQnzUG0EFlPsfs2iluZrn6W5QxdtZQqp2QmxfzgWg-_gapPEO-MFR2PrxISacKAV8C85_ZEEwQXH1VIb43Xy6agb7qD18ZtNzNozFmQy3fsFyFvPPSidp-uwLiWxxoqAmbi-dwdbD2A767nlyxyjnEqS/s1920/places_.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1920" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKaJADWYw24ctCvO1779_GhLgS9NI0IJOweQnzUG0EFlPsfs2iluZrn6W5QxdtZQqp2QmxfzgWg-_gapPEO-MFR2PrxISacKAV8C85_ZEEwQXH1VIb43Xy6agb7qD18ZtNzNozFmQy3fsFyFvPPSidp-uwLiWxxoqAmbi-dwdbD2A767nlyxyjnEqS/s320/places_.jpg" width="320" /></a></div> <p></p><p>A
protagonista de "Um lugar no coração" é Edna Spalding. Dona de casa,
esposa e mãe dedicada de dois filhos pequenos, ela vive em uma pequena
fazenda localizada em Waxahachie, Texas, no começo dos anos 1930. Sua
vida pacata e sem sobressaltos - apesar do constante perigo que cerca
seu marido xerife - sofre uma triste reviravolta quando um acidente a
deixa inesperadamente viúva. Cheia de dívidas e sem experiência de
trabalho braçal, Edna se recusa a capitular e vender sua propriedade - o
que resultaria também em uma separação da família. Dotada de extrema
força de vontade e garra, ela resolve então trabalhar exaustivamente
para transformar suas terras em uma fazenda de algodão, contando, para
isso, com a ajuda de Moses (Danny Glover) - um homem negro que aparece
no local pedindo esmola - e Will Denby (John Malkovich), um rapaz cego
que aluga um quarto em sua casa. Correndo contra o tempo e as
dificuldades da economia frágil da época, a voluntariosa Edna ainda
precisa escapar das ameaças da Klu Klux Klan, que não vê com bons olhos
sua amizade com Moses.</p>Cuidadoso na reconstituição de época e no
trabalho de direção de seus atores, Robert Benton faz um gol e tanto em
"Um lugar no coração". Ao construir um roteiro que trata com carinho
tanto seus protagonistas como seus coadjuvantes, o cineasta oferece ao
espectador uma viagem ao passado, evocada diretamente de suas próprias
lembranças. Nascido na mesma Waxahachie de seus protagonistas, Benton
faz das recordações da sua infância a matéria-prima de sua história,
ainda que ela seja completamente fictícia. O tom nostálgico que perpassa
cada sequência - valorizado pela música de John Kander e a bela
fotografia do veterano Néstor Almendros - é responsável direto pelo
sucesso de sua narrativa, que foge dos exageros mesmo quando faz de sua
personagem central uma mulher quase sem defeitos. Ao dotar Edna Spalding
de um caráter firme e brios de guerreira, o diretor parece dizer que
não lhe interessa mostrar o que ela tem de errado, e sim sublinhar sua
força e dignidade. Saindo dos anos 1970, uma época em que anti-heróis
dominavam a indústria, o cinema norte-americano dava sinais de que
pretendia voltar a valores mais sólidos e menos cínicos. Dentro dessa
premissa, "Um lugar no coração" é exemplar - e de quebra emociona sem
fazer muito esforço.Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-58276031826526225002023-03-15T19:54:00.005-03:002023-03-15T19:54:32.537-03:00O SEGREDO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2Jk9kw9Ke291Wz7dVGxzDJbNqAKV4lKXcA97oHFNBMGGCPmkkYnotAKHu2nAJJDT0vbqeHI2XJCbhAAhN_DV7riQmMi8eDXXaC93iSfQQvCmu14GdbMSgbm_95sgwoor2-WAANX5AXWrG2UiVWZu1Jy5e5FkKG5bhwCgYku-VNkgNBf33y8VQSJBt/s450/chamber2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="281" data-original-width="450" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2Jk9kw9Ke291Wz7dVGxzDJbNqAKV4lKXcA97oHFNBMGGCPmkkYnotAKHu2nAJJDT0vbqeHI2XJCbhAAhN_DV7riQmMi8eDXXaC93iSfQQvCmu14GdbMSgbm_95sgwoor2-WAANX5AXWrG2UiVWZu1Jy5e5FkKG5bhwCgYku-VNkgNBf33y8VQSJBt/s320/chamber2.jpg" width="320" /></a></i></div><i><br />O
SEGREDO (The chamber, 1996, Universal Pictures, 11min) Direção: James
Foley. Roteiro: William Goldman, Phil Alden Robinson (Chris Reese),
romance de John Grisham. Fotografia: Ian Baker. Montagem: Mark Warner.
Música: Carter Burwell. Figurino: Tracy Tynan. Direção de arte/cenários:
David Brisbin/Lisa Fischer. Produção executiva: David Friendly, Karen
Kehela., Ric Kidney. Produção: John Davis, Brian Grazer, Ron Howard.
Elenco: Chris O'Donnell, Gene Hackman, Faye Dunaway, Robert Prosky,
Raymond J. Barry, Lela Rochon, Bo Jackson, David Marshall Grant.
Estreia: 11/10/96</i><p></p><p>Entre 1993 e 1996, um dos nomes mais
quentes em Hollywood não era um astro milionário, um cineasta
prestigiado ou um produtor poderoso. Ao transformar em livros seu
conhecimento como advogado e sua experiência em tribunais, John Grisham,
passou, em poucos anos, de um escritor principiante a um dos autores
mais requisitados pelos estúdios, sempre em busca de material para
suprir a demanda de um público ávido por boas histórias. Com o apoio
nada desprezível de atores como Tom Cruise, Julia Roberts, Denzel
Washington e Susan Sarandon - e diretores respeitados como Sydney
Pollack, Alan J. Pakula e, vá lá, Joel Schumacher - as adaptações das
obras de Grisham se mostravam uma mina de ouro, se não inesgotável ao
menos generosa. Assim, "A firma" (1993), "O Dossiê Pelicano" (1993), "O
cliente" (1994) e "Tempo de matar" (1996) ultrapassaram a marca de 100
milhões de dólares de arrecadação e firmaram seu nome como um atestado
de qualidade. Porém, como não poderia deixar de acontecer, nem todo
sucesso dura para sempre - e qualquer falha no processo pode resultar em
um inesperado fracasso. Foi o que aconteceu com "O segredo": com uma
renda mundial que não chegou a cobrir metade de seu orçamento, estimado
em 50 milhões, o filme dirigido por James Foley mostrou que nada - nem
ninguém - é infalível.</p><p>Lançado poucos meses depois de "Tempo de
matar", dirigido por Joel Schumacher e com um elenco que incluía Samuel
L. Jackson, Kevin Spacey, Sandra Bullock e um Matthew McConaughey a
caminho do estrelato, "O segredo" já estreou em desvantagem: apesar de
ser um ator em franca ascensão à época - no mínimo desde sua parceria
com Al Pacino em "Perfume de mulher" (1992) -, Chris O'Donnell ainda não
parecia capaz de segurar sozinho (ou quase) uma bilheteria sólida, em
especial em comparação com a primeira escolha para o papel principal do
filme, Brad Pitt. Mais jovem, com menos experiência e sem nenhum grande
sucesso solo no currículo, O'Donnell acabou por se tornar o principal
alvo das críticas - mesmo que não seja o responsável pelos problemas de
bastidores que, logicamente, respingaram no resultado final, que não
agradou nem mesmo ao próprio John Grisham. Desde a saída de Pitt -
consequência da opção de Ron Howard em comandar "O preço de um resgate"
(1996) -, o projeto de "O segredo" parecia fadado pelo menos a uma
produção problemática. O roteirista William Goldman, por exemplo, viu
parte de seu trabalho rejeitado por Howard (ainda produtor do filme) e
pelo novo diretor, James Foley - e depois testemunhou seu substituto,
Phil Alden Robinson, preferir assiná-lo com um pseudônimo por não
concordar com a versão final. Além disso, a ideia de oferecer a direção a
Foley - que lançou o suspense "Medo" no mesmo ano para a mesma
Universal Pictures - não foi das mais felizes: se a trama já não é tão
eletrizante quanto a de outros livros de Grisham, o trabalho de Foley
pouco faz para acentuar suas qualidades ou amenizar seus defeitos. Quase
no piloto automático, o cineasta falha em sua principal missão:
conectar o espectador com seu protagonista.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9uDAuchLRjGG8cOb1PF4eAWSW69BbwzuRthuwEzxuRbBMoPs3e4xh1sXAV6t3B2SUtWHTrO_9xMSeEPB7FODLw-tE1kTqv8L4jC_-hVCh-wc_2Ol9eL-wEbWqKOTcpkvNNC1E2SUWrbmyWvjI0_qM6YP7Z-AotZ9KI7bkbdHtly1pFF0EtAk__UFx/s600/The_Chamber-731621932-large.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9uDAuchLRjGG8cOb1PF4eAWSW69BbwzuRthuwEzxuRbBMoPs3e4xh1sXAV6t3B2SUtWHTrO_9xMSeEPB7FODLw-tE1kTqv8L4jC_-hVCh-wc_2Ol9eL-wEbWqKOTcpkvNNC1E2SUWrbmyWvjI0_qM6YP7Z-AotZ9KI7bkbdHtly1pFF0EtAk__UFx/s320/The_Chamber-731621932-large.jpg" width="320" /></a></div> <p></p><p>Jovem
e idealista como quase todos os personagens centrais de Grisham (talvez
seus alter-egos), Adam Hall (Chris O'Donnell, esforçado mas nada mais
do que isso), acaba de sair da faculdade de Direito e para seu primeiro
caso importante escolhe um desafio dos maiores: evitar que um condenado à
câmara de gás seja executado. Culpado pelo assassinato de duas crianças
judias trinta anos antes, Sam Cayhall (Gene Hackman) assume a autoria
do crime, não demonstra nenhum arrependimento e parece se orgulhar de
suas ideias racistas - transmitidas a eles através de gerações. Mas Adam
tem seus motivos para lutar pela suspensão da pena do irascível
presidiário: Sam é seu avô, e apesar das consequências trágicas do
crime, como o suicídio de seu pai, o jovem advogado quer, mais do que
tudo, investigar as raízes de tanto ódio e tentar extirpá-las do próprio
futuro. Para isso, conta com a ajuda hesitante de uma tia, Lee (Faye
Dunaway), viciada em álcool e envergonhada do passado da família, ela
esconde suas origens, mas vê na chegada do sobrinho uma oportunidade de
curar feridas antigas e ainda doloridas.</p>Visto à luz do tempo, "O
segredo" não é o horror que muitos fizeram pensar quando de sua estreia.
Mesmo que não tenha o mesmo brilho de outros filmes baseados em obras
de Grisham - em especial "O cliente", que deu a Susan Sarandon uma
indicação ao Oscar, e "O homem que fazia chover", um dos poucos Francis
Ford Coppola da década de 1990 -, o resultado final tem qualidades que
foram ignoradas em seu lançamento. A atuação monstruosa de Gene Hackman é
um exemplo: mesmo com um personagem quase maniqueísta, o veterano ator
oferece ao público um trabalho precioso, repleto de uma energia que
falta ao protagonista de Chris O'Donnell. E se Faye Dunaway - em papel
oferecido a Sigourney Weaver - foi indicada ao Framboesa de Ouro, isso
diz mais sobre a implicância de parte da crítica sobre seu desempenho do
que exatamente por justiça: por mais que exagere em alguns momentos, a
atriz, vencedora do Oscar por "Rede de intrigas" (1976), constrói uma
personagem que reflete com perfeição as consequências do ódio e da
intolerância. São os veteranos astros que dão a "O segredo", apesar de
suas falhas, motivos para que lhe seja feita justiça: mesmo estando
longe de ser um filme marcante, tampouco é a aberração que seu fracasso
comercial poderia dar a entender.<p> </p>Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-13894123662360776632023-03-14T21:30:00.005-03:002023-03-14T21:30:58.779-03:00A ESTRANHA PASSAGEIRA<p><i>A ESTRANHA PASSAGEIRA (Now, voyager, 1942, Warner Bros, 117min)
Direção: Irving Rapper. Roteiro: Casey Robinson, romance de Olive
Higgins Prouty. Fotografia: Sol Polito. Montagem: Warren Low. Música:
Max Steiner. Figurino: Orry-Kelly. Direção de arte/cenários: Robert
Haas/Fred M. MacLean. Produção: Hal B. Wallis. Elenco: Bette Davis, Paul
Henreid, Claude Rains, Gladys Cooper, Bonita Granville, John Loder.
Estreia: 22/10/42</i></p><p></p><p><b>3 indicações ao Oscar: Atriz (Bette Davis), Atriz Coadjuvante (Gladys Cooper), Trilha Sonora Original (Drama)</b></p><p><b>Vencedor do Oscar de Trilha Sonora Original <br /></b></p><p>Por incrível que pareça, o maior sucesso de bilheteria<i> </i>da
carreira de Bette Davis, "A estranha passageira", não teve a mesma
sorte junto aos críticos. Recebido com ressalvas pela imprensa que tanto
havia alardeado as qualidades de seus trabalhos anteriores - que
renderam quatro indicações consecutivas ao Oscar e uma estatueta
dourada, por "Jezebel" (1938) -, o filme de Irving Rapper não precisou
dos aplausos dos jornalistas para levar multidões às salas de exibição e
emocionar milhares de espectadores com sua trama romântica e
melodramática. Baseado no terceiro livro de uma saga em cinco partes que
conta a história de uma família rica de Boston - entre 1936 e 1942 -, o
filme de Rapper voltou a colocar Davis na briga por um prêmio da
Academia (que perdeu para Greer Garson, por "Rosa da esperança") e deu a
Max Steiner o segundo de seus três troféus.</p><p>Apesar da implicância
de Davis com a música de Steiner - segundo ela a trilha do compositor
era intrusiva demais e atrapalhava o resultado final de sua atuação -, a
partitura de "A estranha passageira" é uma das mais celebradas do
autor, e uma das mais expressivas de sua brilhante trajetória. Romântica
sem cair no sentimentalismo e forte mesmo evitando o exagero dramático,
sua composição ilustra com eficiência a história criada pela escritora
Olive Higgins Prouty e adaptada com extrema fidelidade por Casey
Robinson - que também colaborou, sem crédito, no roteiro oscarizado de
"Casablanca" (1942). Mas enquanto a travessia das páginas do livro para
sua adaptação cinematográfica foi relativamente simples, a produção do
filme, como era de se esperar quando se trata de Bette Davis, teve sua
cota de atribulações. Primeiro foi a saída do diretor original, Edmund
Goulding, que foi desligado do projeto por problemas de saúde - e levou
com ele a ideia de ter Irene Dunne no papel principal. Seu substituto,
Michael Curtiz, queria Norma Shearer ou Ginger Rogers como protagonista
(e Ginger era uma entusiasta da possibilidade) - mas foi barrado quando
Davis, decidida a ser a estrela do filme, convenceu o produtor Hal B.
Wallis a contratá-la e demitir Curtiz. O resultado não poderia ter sido
melhor: não apenas a atriz teve o sucesso comercial que ela e a Warner
Bros desejavam como Curtiz foi alocado para dirigir "Casablanca" - que
lhe rendeu um Oscar e a glória de ter comandado um dos maiores clássicos
da história do cinema.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgt_qqOIYASmHjNb1ZBCay7VUgHRrOKfx2cVMUpIkg1WLFEvl_QU3P2_zvlQvQI4xsON19k8zP_Pb944L_ihmQwPQGKYt956MC8g0EIT70rOM6k3BiUtxjbM-NMRHVBlrTsQ-Ml3CZBNFiqQ72bPQECkOPXn0HZEXec3DOsiBndP3T3fIqgjzJv7dN2/s640/now-voyager.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="333" data-original-width="640" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgt_qqOIYASmHjNb1ZBCay7VUgHRrOKfx2cVMUpIkg1WLFEvl_QU3P2_zvlQvQI4xsON19k8zP_Pb944L_ihmQwPQGKYt956MC8g0EIT70rOM6k3BiUtxjbM-NMRHVBlrTsQ-Ml3CZBNFiqQ72bPQECkOPXn0HZEXec3DOsiBndP3T3fIqgjzJv7dN2/s320/now-voyager.jpg" width="320" /></a></div> <p></p><p>"A
estranha passageira" é um melodrama romântico típico da Hollywood dos
anos 1940. A protagonista, Charlotte Vale, é uma solteirona temporã,
dominada por sua tirânica mãe (Gladys Cooper, indicada ao Oscar de atriz
coadjuvante) e presa em constantes pensamentos negativos a respeito de
sua aparência e personalidade. Tida como o patinho feio de uma família
de posses, Charlotte é constantemente humilhada e tratada quase como uma
empregada, uma enfermeira destinada a abdicar da própria vida. Em vias
de um colapso nervoso, ela é enviada, pelo Dr. Jaquith (Claude Rains), a
um centro de reabilitação psicológica, de onde sai, meses depois, com a
autoestima elevada e a saúde mental equilibrada. Em viagem de navio -
onde começa a testar sua nova personalidade, mais centrada e sociável -,
ela conhece o galante Jerry Durance (Paul Henreid), por quem acaba se
apaixonado mesmo ciente do fato de que ele é casado, embora infeliz e
incapaz de uma separação por causa das filhas. O romance impossível é
encerrado com o final da viagem, e, para surpresa de todos, Charlotte
retorna ao lar disposta a assumir as rédeas do próprio destino - o que
inclui um noivado sem amor com o gentil Elliot Livingston (John Loder). </p><p>"A
estranha passageira" é longe de ser o melhor filme de Bette Davis, uma
das mais fantásticas atrizes da era de ouro de Hollywood. Porém, é um
dos mais representativos de sua fase como estrela dos melodramas da
Warner, que a ajudaram a estabelecer-se como um mito. Com a ajuda do
figurinista Orry-Kelly, do diretor de fotografia Sol Polito e da direção
de Rapper - que possibilitou que sua personalidade artística se
sobrepusesse a qualquer inovação narrativa -, Davis fez de sua Charlotte
Vale um ícone romântico dos mais duradouros. Repleto de momentos
dramáticos, frases de efeito (<i>"Oh, Jerry, não peçamos a lua, nós já temos as estrelas!")</i>
e até sequências de um humor duvidoso (o chofer brasileiro que atende
os protagonistas durante um passeio pelo Rio de Janeiro é provavelmente
uma das representações mais estereotipadas da história), o filme mantém
intocada sua aura mesmo depois de setenta anos - e é inegável que boa
parte de tal perenidade se deve ao carisma e ao fascínio de sua atriz
central. É por ela, mais do que por sua trama pouco surpreendente, que
"A estranha passageira" vale cada minuto.</p>Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-79472200038741723392023-03-13T21:02:00.003-03:002023-03-13T21:02:32.817-03:00E AGORA, MEU AMOR?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMgl3pKHHA3Z4jROxmGoNNfElEakJS-sAQ5CqcLSUuQBaKdZYzQiJ6tNIFfq7VRtGOCRSlH4Ae8Ka76BE9mTYLjH-vQJE4rWm2AMJHyDopLSCWIkpZTH0fV0iRRUxHoHUSBWbl-eXhTwPq3iscQUkme1NE_yb1e9ombzhYwL4CprzuwxllCUvqRlvD/s640/fools.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="427" data-original-width="640" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMgl3pKHHA3Z4jROxmGoNNfElEakJS-sAQ5CqcLSUuQBaKdZYzQiJ6tNIFfq7VRtGOCRSlH4Ae8Ka76BE9mTYLjH-vQJE4rWm2AMJHyDopLSCWIkpZTH0fV0iRRUxHoHUSBWbl-eXhTwPq3iscQUkme1NE_yb1e9ombzhYwL4CprzuwxllCUvqRlvD/s320/fools.jpg" width="320" /></a></i></div><i>E
AGORA, MEU AMOR? (Fools rush in, 1997, Columbia Pictures, 109min)
Direção: Andy Tennant. Roteiro: Katherine Reback, estória de Joan
Taylor, Katherine Reback. Fotografia: Robbie Greenberg. Montagem: Roger
Bondelli. Música: Alan Silvestri. Figurino: Kimberly A. Tillman. Direção
de arte/cenários: Edward Pisoni/Leslie Morales. Produção executiva:
Michael McDonnell. Produção: Doug Draizin. Elenco: Matthew Perry, Salma
Hayek, Jill Claybourgh, Jon Tenney, Carlos Gomez, Siobhan Fallon, John
Bennett Perry. Estreia: 14/02/97</i><p></p><p>No começo de 1997, poucos
programas de tv eram tão populares e queridos quanto "Friends" - cujo
sucesso só fez aumentar ainda mais nas temporadas seguintes. Nenhuma
surpresa, portanto, que seus astros tentassem o caminho natural rumo em
direção ao cinema, ainda considerado um veículo mais nobre e com mais
status. Enquanto Jennifer Aniston já começava a brilhar em comédias
românticas - como "Nosso tipo de mulher" (1996) e "Paixão de ocasião"
(1997) -, Courteney Cox ganhava ainda mais fama com o primeiro capítulo
de "Pânico" (1996) e Lisa Kudrow apostava na comédia, com "Romy &
Michelle" (1997), o elenco masculino buscava arduamente ser reconhecido
além de seus personagens mais célebres. Se David Schwimmer havia tentado
a sorte no elogiado mas pouco visto "O primeiro amor de um homem"
(1996) - ao lado de uma Gwyneth Paltrow pré-Oscar - foi Matthew Perry
quem deu o passo mais bem-sucedido. Tudo bem que "E agora, meu amor?"
não foi um sucesso avassalador de bilheteria - nem tampouco chegou a
fazer barulho nas cerimônias de premiação do ano -, mas o romance
dirigido por Andy Tennant conseguiu mostrar, ainda que de forma tímida,
que o intérprete do sardônico Chandler Bing tinha mais a oferecer do que
piadas ininterruptas. </p><p>Simples e inofensivo, o filme de Tennant -
que se especializaria em comédias românticas no decorrer dos anos 2000 -
serve como um veículo perfeito para o carisma de Perry, um ator
simpático e talentoso, capaz de provocar a identificação do público
masculino sem maiores dificuldades. Na trama, ele interpreta Alex
Whitman, um homem comum, que trabalha como supervisor no mercado de
construção civil enquanto leva uma vida quase tediosa, se envolvendo
aqui e ali em relações fugazes e sem profundidade. Uma dessas relações
acontece durante uma viagem a Las Vegas, quando ele conhece a mexicana
Isabel Fuentes (Salma Hayek) e passa a noite com ela. O que parecia
apenas mais um caso passageiro logo se revela algo mais complicado,
porém: alguns meses depois do encontro, a bela fotógrafa ressurge em sua
vida com a notícia de que está grávida. Atônito com a novidade - e
ciente de que a jovem não tem o menor interesse em interromper a
gravidez, por motivos religiosos e morais -, Alex a pede em casamento.
Mesmo diante do fato de que se conhecem muito pouco e que suas
diferenças culturais e sociais podem ser um empecilho para o
relacionamento, os dois se casam - e descobrem, com o passar dos meses,
que estavam certos quanto às dificuldades de um compromisso tão precoce.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiF9h47UOrdxrWG_IbF3BTjfYcYv3DcNjOOEXek86pJP4ZTFaHxJm48S9FYnRdYKLEwrlOowU9IVP4nqopDfNeJ7ZQC14epfXC_OYQqgyi-3C6ru6H_wBYud_HInZAJXdpElxDt9FHWv0cg5dt7Yog_tUPo7OMI_wCNzkDaH2xE_PPY7kCiBNcR43Qk/s1200/fool1.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="630" data-original-width="1200" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiF9h47UOrdxrWG_IbF3BTjfYcYv3DcNjOOEXek86pJP4ZTFaHxJm48S9FYnRdYKLEwrlOowU9IVP4nqopDfNeJ7ZQC14epfXC_OYQqgyi-3C6ru6H_wBYud_HInZAJXdpElxDt9FHWv0cg5dt7Yog_tUPo7OMI_wCNzkDaH2xE_PPY7kCiBNcR43Qk/s320/fool1.jpg" width="320" /></a></div> <p></p><p>Se
há alguma diferença entre "E agora, meu amor?" e dezenas de filmes do
gênero é em sua tentativa - nem sempre feliz, mas bem intencionada - de
retratar o choque cultural que nasce do encontro entre Alex e Isabel,
duas pessoas de mundos cuja distância pode ser facilmente subestimada em
um primeiro olhar. Alex tem uma relação quase distante com os pais
(interpretados por Jill Claybourgh e John Bennett Perry, pai de Matthew
também na vida real), enquanto Isabel tem a família - numerosa, ruidosa e
onipresente - como base de sua existência. Isabel é católica fervorosa -
e seu novo marido não é exatamente um sujeito religioso. Alex tem
planos profissionais que pedem que ele more em Nova York; a futura mãe
de seu filho não tem a menor intenção de abandonar Las Vegas e seu
clamoroso clã. Tais diferenças - administráveis em um namoro, mas pouco
remediáveis quando se começa uma família - formam o conflito que é
praticamente todo o roteiro do filme. O problema é que, apesar de
talentosa, a dupla central falha no principal: não há química entre o
casal, e a paixão que surge entre eles soa pouco crível, tornando
difícil o principal objetivo de uma comédia romântica, que é torcer pelo
casal de protagonistas.</p>"E agora, meu amor?" é, na verdade, e em
seu favor, um entretenimento despretensioso, que cumpre o que promete.
Se não consegue ultrapassar os limites do mediano é somente porque o
roteiro foge de qualquer ousadia narrativa e/ou profundidade dramática.
Salma Hayek é linda - e em papel oferecido à Jennifer Lopez, que o
recusou para estar em "Anaconda" (1997) -, mas não é exatamente uma
atriz de grandes recursos (levaria ainda quase meia década para
concorrer ao Oscar por "Frida" (2002)) e Matthew Perry, simpático e
carismático, faz o que pode para extrair substância de um personagem
muito aquém de seu talento cômico - e, segundo ele, foi durante as
filmagens que um acidente de jetski aprofundou ainda mais seu vício em
remédios controlados, problema que o atormentou durante décadas. Leve
(até demais), "E agora, meu amor?" é o programa ideal para os fãs dos
atores e do gênero. Mas não entrega mais do que se poderia esperar.Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-13482728121618674392023-03-10T19:13:00.003-03:002023-03-10T19:13:24.061-03:00TRÊS SOLTEIRÕES E UM BEBÊ<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPk5dJkZVZpJLzupcdixZVgjZeqSV5CL3qzBu9voBu_dVO_FVefkaEsMJo55nVpS9N5y9Nn21zO-NNSu0C_V3j43uOw9v8i1NMIYDTEuY46_ZaoNUIjVXvRAzeEsERG6hkqgR9FJ9fn3qLenszyL7jDaBGY9bUUsQnl-eIA8shO_r-R0-ky-EWWFfu/s1024/3meny.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="759" data-original-width="1024" height="237" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPk5dJkZVZpJLzupcdixZVgjZeqSV5CL3qzBu9voBu_dVO_FVefkaEsMJo55nVpS9N5y9Nn21zO-NNSu0C_V3j43uOw9v8i1NMIYDTEuY46_ZaoNUIjVXvRAzeEsERG6hkqgR9FJ9fn3qLenszyL7jDaBGY9bUUsQnl-eIA8shO_r-R0-ky-EWWFfu/s320/3meny.jpg" width="320" /></a></i></div><i><br />TRÊS
SOLTEIRÕES E UM BEBÊ (Three men and a baby, 1987, Touchstone Pictures,
102min) Direção: Leonard Nimoy. Roteiro: James Orr, Jim Cruickshank,
original de Coline Serreau. Fotografia: Adam Greenberg. Montagem:
Michael A. Stevenson. Música: Marvin Hamlisch. Figurino: Larry Wells.
Direção de arte/cenários: Peter Larkin/Jacques M. Bradette, Hilton
Rosemarin. Produção executiva: Jean-François Lepetit. Produção: Robert
W. Cort, Ted Field. Elenco: Tom Selleck, Steve Guttenberg, Ted Danson,
Nancy Travis, Margaret Colin, Alexandra Amini. Estreia: 23/11/87</i><p></p><p>Em
1985, uma singela comédia francesa sobre um trio de amigos solteiros
que tem sua rotina transformada com a chegada inesperada de uma menina
recém-nascida pegou o mundo de surpresa e se tornou um dos maiores
sucessos da temporada - não apenas em seu país de origem, mas também no
mercado norte-americano, normalmente avesso a produções realizadas fora
de seu domínio. Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, "Três
homens e um bebê", escrito e dirigido por Coline Serreau, não demorou a
chamar a atenção dos estúdios de Hollywood, que viram na trama elementos
que casavam perfeitamente com a agenda conservadora do governo Reagan.
Parte de um ciclo que festejava o casamento e a<i> </i>família e que
gerou filmes como "Presente de grego" (1987), "Ela vai ter um bebê"
(1989) e "Olha quem está falando" (1989) - além do polêmico "Atração
fatal" (1987), um verdadeiro libelo pró-matrimônio, disfarçado sob um
verniz de <i>thriller</i> <i>-, </i>o remake do filme de Serreau encontrou<i> </i>na Touchstone Pictures o lugar ideal para ser desenvolvido, depois de passar pela TriStar e pela Universal: nada como<i> </i>uma<i> </i>ramificação
da Disney, afinal, para abrigar um projeto tão inofensivo. E, como não
poderia deixar de acontecer, "Três solteirões e um bebê" repetiu, nas
bilheterias americanas (e mundiais) o sucesso de seu original e foi
ainda mais além,<i> </i>terminando a temporada com<i> </i>uma renda
superior a 160 milhões de dólares - um êxito incontestável que permitiu,
três anos depois, a realização de uma sequência desnecessária e de
pouca repercussão, "Três solteirões e uma pequena dama".</p><p>O projeto
do remake da comédia francesa contava, em seus primeiros momentos, com a
presença da própria Coline Serreau - que chegou a participar da escolha
dos atores principais (um processo longo que cogitou os nomes de
praticamente todo e qualquer astro ou potencial astro da época). Sua
saída de cena deu lugar a Leonard Nimoy - cuja experiência como diretor
(restrita a dois longas de "Jornada nas estrelas", um telefilme e alguns
episódios de telesséries) não foi suficiente para evitar desgastes com o
elenco masculino, frequentemente questionando seus métodos de trabalho.
E se a direção de Nimoy não chega a ser brilhante ou dotada de uma
criatividade capaz de amenizar a fragilidade do roteiro, tampouco
compromete o resultado final. Simpático mas superficial, "Três
solteirões e um bebê" diverte (ao menos em sua primeira metade), encanta
(graças à simpatia das pequenas Lisa e Michelle Blair) e pode até
emocionar aos mais sensíveis, mas carece de personalidade e, afora sua
premissa interessante, é pouco memorável e até mesmo decepcionante -
principalmente fora do contexto social em que foi lançado.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrpAg6_UcTu8oKZ8X2TDf7uX2eQZs0One1euDWJC0QnHGEBPKMomE7KlRfGqLCMNgHUrjuYMJw8DhV_K7Aq9aC5_Yx-YpzaWr-mh0esVxgaN90XgdxaVkTkavuDJT8bSjNUDeQ7h0e_S43RyYIZ1G2nb0P54jdu4MrBRgyie9QpT_ogNyCqY-6uXed/s640/3men.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="469" data-original-width="640" height="235" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrpAg6_UcTu8oKZ8X2TDf7uX2eQZs0One1euDWJC0QnHGEBPKMomE7KlRfGqLCMNgHUrjuYMJw8DhV_K7Aq9aC5_Yx-YpzaWr-mh0esVxgaN90XgdxaVkTkavuDJT8bSjNUDeQ7h0e_S43RyYIZ1G2nb0P54jdu4MrBRgyie9QpT_ogNyCqY-6uXed/s320/3men.jpg" width="320" /></a></div><br /> <p></p><p>Entre
as dez maiores bilheterias de 1987, ano em que "Três solteirões e um
bebê" foi lançado, havia espaço para comédias românticas ("Feitiço da
lua" e "Dirty dancing: ritmo quente"), filmes de ação ("Predador" e
"Máquina mortífera) e sequências de sucessos já previamente testados
("Um tira da pesada 2" e "007: marcado para a morte"). Buscando uma
parcela do público que preferia frequentar as salas de exibição para
relaxar e se divertir sem maiores exigências, filmes como o remake
comandado por Nimoy tentavam driblar a violência que enchia o cofre dos
estúdios ao oferecer produções que pudessem agradar à família inteira -
ou seja, sem sexo, sem sangue, sem mortes a rodo ou palavrões ofensivos.
"Três solteirões" caiu como uma luva em tais intenções, ao explorar uma
situação capaz de arrancar sorrisos até do mais cínico espectador. O
problema nem era o fato de exagerar na construção quase infantil de seus
protagonistas - um trio de heterossexuais metidos a conquistadores e
incapazes da tarefa mais simples do dia-a-dia -, mas sim seu fracasso em
expandir a piada única no qual todo o roteiro era baseado. Acrescentar à
história uma desnecessária subtrama envolvendo tráfico de drogas não
apenas truncava o ritmo a partir da metade - também, de certa forma,
tornava quase incoerente seu discurso de "filme família (além de não
convencer e ser chata). Retomar o rumo em seus minutos finais - um tanto
inverossímeis - até conserta um pouco as coisas, mas qualquer um com um
mínimo de exigência percebe que, apesar da premissa adorável, o filme é
simplesmente bobo.</p><p>A trama segue as aventuras de três amigos que
dividem um belo e amplo apartamento em Manhattan: o arquiteto Peter
Mitchell (Tom Selleck em papel que chegou a ser considerado para Chevy
Chase, Steve Martin, Bill Murray, Jack Nicholson, Paul Hogan e, pasmem,
Arnold Schwarzenegger), o cartunista Michael Kellan (Steve Guttenberg,
que ganhou o papel de nomes como Tom Hanks, Michael Keaton, John
Travolta e Bruce Willis) e o ator Jack Holden (Ted Danson no lugar de
Michael J. Fox, Tony Danza, Jeff Daniels, Danny Glover, Kevin Kline,
Gary Oldman, Bill Pullman e Dennis Quaid) moram juntos e convivem
pacificamente com suas rotinas que envolvem muitas mulheres, festas e
absolutamente nenhum compromisso amoroso mais sério. As coisas mudam de
figura quando, durante uma viagem de Jack a trabalho, seus amigos
descobrem, à porta de sua casa, um bebê de poucos meses, deixado no
local por uma antiga namorada. Enquanto lidam com as novas
responsabilidades, os colegas acabam se apaixonando pela menina - mesmo
que isso atrapalhe suas carreiras, seus fugazes relacionamentos e até
seus valores. Quando a mãe do bebê ameaça retomar a filha, porém, eles
se sentem incapazes de abrir mão de quem já consideram parte da família.</p>Sim,
é agradável. Sim, o bebê é adorável e algumas situações são realmente
engraçadas - especialmente no primeiro ato. E sim, a química entre os
três atores centrais (no auge de sua popularidade) funciona como um
relógio. Mas no final das contas, é pouco. O roteiro é quase preguiçoso,
o desenvolvimento dos personagens é raso (nenhum dos protagonistas soa
como alguém de verdade) e, como já dito, algumas subtramas atrapalham o
ritmo da história. Porém, quem não se importa com tais "detalhes" terá,
certamente, quase duas horas de um entretenimento inofensivo e
esquecível.Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-77158587035252070722023-03-09T15:03:00.002-03:002023-03-09T15:03:26.855-03:00O GRANDE DITADOR<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: small;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgOtp7RPmccHOIe1K_ajFKkI_CmVi66Ia4uhdWU6fn3NMn_4eStqIR0DI0be0skBzpbEXEv8Nad1grspYjhSgtSx00nx62hc2Y2PE75459f-LHAe2srmIWsMR-qwqlyPphBcsWtqZuOKOKkdvAHPVwAnxE9EJkR0RBw3Fp0Wo22c44R9CvHRJL5hEf/s800/Classic-Movies-O-Grande-Ditador-Charlie-Chaplin-1.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="800" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgOtp7RPmccHOIe1K_ajFKkI_CmVi66Ia4uhdWU6fn3NMn_4eStqIR0DI0be0skBzpbEXEv8Nad1grspYjhSgtSx00nx62hc2Y2PE75459f-LHAe2srmIWsMR-qwqlyPphBcsWtqZuOKOKkdvAHPVwAnxE9EJkR0RBw3Fp0Wo22c44R9CvHRJL5hEf/s320/Classic-Movies-O-Grande-Ditador-Charlie-Chaplin-1.jpg" width="320" /></a></i></span></div><span style="font-size: small;"><i><br />O
GRANDE DITADOR (The great dictator, 1940, Charles Chaplin Productions,
125min) Direção e roteiro: Charles Chaplin. Fotografia: Karl Struss,
Roland Totheroh. Montagem: Willard Nico. Música: Charles Chaplin,
Meredith Wilson. Direção de arte/cenários: J. Russell Spencer/Edward G.
Boyle. Elenco: Charles Chaplin, Paulette Goddard, Jack Oackie, Reginald
Gardiner, Henry Daniell, Billy Gilbert, Grace Hayle. Estreia: 15/10/40</i></span><p></p><p><span style="font-size: small;"><b>5
indicações ao Oscar: Melhor Filme, Ator (Charles Chaplin), Ator
Coadjuvante (Jackie Oackie), Roteiro Original, Trilha Sonora Original</b></span></p><p><span style="font-size: small;">Por
um bom tempo Charles Chaplin desejou realizar um filme sobre Napoleão
Bonaparte - e em 1936 já tinha inclusive um script em mente para dar
vazão à sua ambição. A ascensão política de Adolf Hitler e Benito
Mussollini, no entanto, mudou seus planos: ciente da persona dramática e
exagerada do ditador alemão e de suas possibilidades cômicas - além de
ter sido alertado do fato de dividir com ele algumas características
físicas -, Chaplin resolveu desenvolver uma trama que ridicularizasse o
nascente nazismo e seu líder. Nascia, assim, "O grande ditador", que se
tornaria o maior sucesso de bilheteria de sua carreira e um dos maiores
clássicos do cinema. Indicado a cinco Oscar - incluindo melhor filme,
ator e roteiro original - e celebrado como uma obra-prima corajosa e
visionária, o filme não escapou de polêmicas à época de seu lançamento
(e muito tempo depois) e sobrevive, até hoje, como uma das realizações
fundamentais de seu criador, um dos ícones do cinema m udo.</span></p><p><span style="font-size: small;">Primeiro
filme totalmente falado de Chaplin, "O grande ditador" começou a
incomodar antes mesmo de iniciar suas filmagens. Com medo das
represálias que um tema político poderia acarretar em um momento tão
crítico, os estúdios tentavam demover o cineasta da ideia de fazer um
filme que tinha como protagonista uma representação pouco disfarçada de
um dos líderes mundiais. Incentivado por ninguém menos que Franklin D.
Roosevelt, porém - que mandou um representante oficial para lhe dar
apoio -, Chaplin foi adiante e financiou sozinho uma produção arriscada,
demorada (539 dias de filmagens) e cujo sucesso era completamente
imprevisível. Mais adiante, o diretor/ator/produtor declararia que, caso
soubesse da extensão das atrocidades cometidas em nome de Hitler,
jamais teria feito piada sobre o assunto - uma informação negada por
pessoas próximas a ele, que afirmam que o avanço do nazismo não o
impediu de manter inalterado seu objetivo de criar uma comédia sobre um
assunto tão sério. É fato, porém, que quando a produção começou de
verdade, em 1937, a violência nazista ainda estava muito aquém daquela
que seria nítida em 1940, quando o filme finalmente viu a luz dos
refletores - nove meses depois do lançamento de "You natzy spy!",
curta-metragem estrelado pelos Três Patetas que entrou para a história
como a primeira sátira anti-nazismo do cinema.</span></p><p><span style="font-size: small;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: small;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-v9iPlWT_hKEuTxgI0ScYY7hpJrJoMgM2HKlmv1jaPMJS7fLvNxwg83TjIc8gk9xBvgmohlfa3DnEejvH6jrZHPT-vJwa42Mq7wCPKAVZSrvmaHxQEk4JD4fVdHytz-b2nkURVyySIoxXbLVda6TI7fzrXR0t21sFmtA2Zvby0Y3CA-whYbKebvvf/s800/Classic-Movies-O-Grande-Ditador-Charlie-Chaplin2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="800" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-v9iPlWT_hKEuTxgI0ScYY7hpJrJoMgM2HKlmv1jaPMJS7fLvNxwg83TjIc8gk9xBvgmohlfa3DnEejvH6jrZHPT-vJwa42Mq7wCPKAVZSrvmaHxQEk4JD4fVdHytz-b2nkURVyySIoxXbLVda6TI7fzrXR0t21sFmtA2Zvby0Y3CA-whYbKebvvf/s320/Classic-Movies-O-Grande-Ditador-Charlie-Chaplin2.jpg" width="320" /></a></span></div><span style="font-size: small;"> </span><p></p><p><span style="font-size: small;">Depois
de pronto, "O grande ditador" tampouco deixou de gerar controvérsia,
por motivos óbvios. Banido da Espanha, onde só pode estrear em 1976,
meses depois da morte de Francisco Franco, e de todos os países ocupados
pela Alemanha, o filme acabou sendo abraçado pelo governo britânico
como uma valiosa peça de propaganda - uma bem-vinda mudança de atitude
que só aconteceu com a entrada do país na guerra contra Hitler e seus
aliados. Nem o próprio Hitler, aliás, segundo consta, deixou de assistir
o trabalho de Chaplin: biografias de Eva Braun afirmam, por exemplo,
que o veto da produção em todo o território alemão (que vigorou até
1958) não impediu o chanceler germânico de assistir à comédia no mínimo
duas vezes - e se divertir com ela. O mesmo não aconteceu, no entanto,
com um grupo de soldados que teve a oportunidade de conferir o resultado
em uma sessão nos Balcãs - com uma cópia contrabandeada da Grécia,
membros da resistência apresentaram o filme aos fieis seguidores de
Hitler (ignorantes do conteúdo até depois do começo da sessão) e
testemunharam uma revolta que, conforme relatos, resultou até mesmo em
tiros em direção à tela. Um resultado até mesmo previsível -
principalmente em vista do enorme sucesso comercial do filme, cuja
mensagem final, de paz e liberdade, destoavam completamente da
beligerante ideologia nazista. </span></p><span style="font-size: small;">Mas
nem só de ideologia e crítica social vive um filme, e "O grande
ditador" é, acima de tudo, excelente cinema. Sem abrir mão de seu genial
talento para o humor físico, Charles Chaplin se aproveitou das
vantagens do som para criar uma obra-prima que mescla, de forma
magistral, sequências visuais impagáveis - especialmente em sua primeira
metade e na célebre cena em que o ditador dança com um globo - com
piadas verbais fascinantes - os discursos do histérico Hynkel,
completamente nonsense, são inesquecíveis. A declaração final do
protagonista (o barbeiro judeu confundido com o ditador) não tornou-se
um clássico à toa: insistindo em mantê-la na edição definitiva - apesar
de conselhos contrários -, Chaplin deixou clara e indelével sua posição
em relação à guerra e ao fascismo. Se hoje seu discurso soa tristemente
atual, pode-se dizer que, à época, ajudou a construir a ideia de que o
cineasta era simpatizante do comunismo - fato que o levou ao exílio
voluntário, anos mais tarde. Indicado ao Oscar de melhor ator, perderia
para James Stewart (por "Núpcias de escândalo") e só retornaria à
cerimônia da Academia em 1972, para receber um prêmio honorário em
homenagem à sua contribuição ao cinema. Em 1973, voltou a concorrer -
pela trilha sonora de "Luzes da ribalta", realizado em 1952 mas lançado
em Los Angeles somente vinte anos mais tarde - e, no Natal de 1977,
morreu tranquilamente em sua casa na Suíça, deixando um legado
inestimável a públicos de todas as gerações.</span><p> </p>Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-89892454687124947282023-03-08T21:53:00.001-03:002023-03-08T21:53:23.920-03:00NINOTCHKA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgESDKVu_0q-Xo5ZkZrCuFHKb10Nha7zKu13H311Dq0QNd0xC1VhYWXRT51LQCp9jWVE0of_chlTtHVPDvcF-i-XeUocdpEtAkKoQipHG4o-4oS03ojrjH31q2Zr7D3YRIeKvZdItbB_UfFpPJuTmOygOsQzojK6y0MmIIKDMYDH8JPSGsBNb0zSEQX/s400/Ninotchka_1939_6.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="283" data-original-width="400" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgESDKVu_0q-Xo5ZkZrCuFHKb10Nha7zKu13H311Dq0QNd0xC1VhYWXRT51LQCp9jWVE0of_chlTtHVPDvcF-i-XeUocdpEtAkKoQipHG4o-4oS03ojrjH31q2Zr7D3YRIeKvZdItbB_UfFpPJuTmOygOsQzojK6y0MmIIKDMYDH8JPSGsBNb0zSEQX/s320/Ninotchka_1939_6.jpg" width="320" /></a></i></div><i><br />NINOTCHKA
(Ninotchka, 1939, MGM, 110min) Direção: Ernst Lubitsch. Roteiro:
Charles Brackett, Billy Wilder, Walter Reisch, história original de
Melchior Lengyel. Fotografia: William H. Daniels. Montagem: Gene
Ruggiero. Música: Werner R. Heymann. Figurino: Adrian. Direção de
arte/cenários: Cedric Gibbons/Edwin B. Willis. Elenco: Greta Garbo,
Melvyn Douglas, Ina Claire, Bela Lugosi, Sig Ruman, Felix Bressart,
Alexander Granach. Estreia: 23/11/39</i><p></p><p><b>4 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Atriz (Greta Garbo), História Original, Roteiro Original</b></p><p>Quando
Greta Garbo lançou seu primeiro filme falado, "Anna Christie", em 1930,
o departamento de marketing da MGM não demorou a utilizar-se de tal
evento para divulgar a produção -<i> "Garbo fala!", </i>lia-se em todo
lugar. Quando, nove anos mais tarde o estúdio a confirmou na primeira
comédia de sua carreira em Hollywood, não chegou a ser nenhuma surpresa
que a mesma tática bem-sucedida fosse reciclada. Com o novo slogan <i>"Garbo ri!", </i>a
campanha publicitária de "Ninotchka" despertou a curiosidade do
público, que, seduzido mais uma vez pela bela e misteriosa estrela
sueca, transformou o filme de Ernst Lubitsch em um dos grandes sucessos
de bilheteria do ano e um dos maiores êxitos comerciais da atriz - que
acabou perdendo o Oscar para Vivien Leigh ("... E o vento levou") mas
mostrou à sua legião de fãs e aos severos críticos um inesperado e
insuspeito timing cômico. Lançado no mágico ano de 1939, junto com
clássicos absolutos, como "O mágico de Oz", "No tempo das diligências",
"A mulher faz o homem", "O morro dos ventos uivantes" e "A regra do
jogo" - além do já citado "... E o vento levou" - "Ninotchka" é uma
deliciosa comédia romântica, com diálogos espirituosos, um elenco
impecável e uma direção elegante - que ameniza com folga a visão um
tanto estereotipada da Rússia comunista.</p><p>A trama começa quando
três oficiais russos chegam à Paris dos anos 1930 com o objetivo de
vender joias da grã-duquesa Swana (Ina Claire), expropriadas pelo
governo. O atrapalhado grupo vê seu objetivo interrompido, no entanto,
pela proprietária do tesouro, que deseja ter de volta o que lhe
pertence. Para isso, ela pede ajuda ao melífluo Leon D'Algout (Melvyn
Douglas), que acaba por seduzir o trio - com visual emprestado de
Trotsky, Lenin e Dzerzhinsky - com os luxos e os prazeres do mundo
capitalista. A demora dos agentes em retornar à Rússia incomoda seus
superiores, que decide então mandar à capital francesa uma oficial
rígida e incorruptível, Ninotchka (Greta Garbo). Determinada a cumprir
sua missão no menor período de tempo possível, a bela russa acaba por
cair, inadvertidamente, nos braços de Leon, que se apaixona por sua
personalidade séria e quase inatingível. Sem saber que ele está por trás
do atraso na solução de seus problemas profissionais, Ninotchka se
deixa conquistar - e quanto mais demora a venda das joias, mais
complicada fica a sua situação amorosa.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMYKQZufH0CJFiihAT9deV2M416mv0KmzYuJXQ56W9vC55FFLbI1054UWD7ZSyQpEt-iWhnGgIwsyGPmhvrVFm2GGoCOqzSqKE5o0pxjsBZTzm9U7I372CDO16d_HnsGmAVIyP8PVlAIy225053EdoQ4M32CCs3vmP_l-gpvb2ZvlI9JdoD5GMIT-Z/s917/nino.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="504" data-original-width="917" height="176" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMYKQZufH0CJFiihAT9deV2M416mv0KmzYuJXQ56W9vC55FFLbI1054UWD7ZSyQpEt-iWhnGgIwsyGPmhvrVFm2GGoCOqzSqKE5o0pxjsBZTzm9U7I372CDO16d_HnsGmAVIyP8PVlAIy225053EdoQ4M32CCs3vmP_l-gpvb2ZvlI9JdoD5GMIT-Z/s320/nino.png" width="320" /></a></div> <p></p><p>Não
é difícil perceber, no roteiro irônico e mordaz de "Ninotchka", a
personalidade do futuro cineasta Billy Wilder e de seu habitual
parceiro, Charles Brackett. Chamados por Lubitsch para reescrever o
texto original - de autoria de Gottfried Reinhardt e S. N. Behrman -, a
dupla de roteiristas uniu-se a Walter Reisch e criou uma pequena
obra-prima. Com um humor sardônico que não perdoa nada e nem ninguém, a
trama de "Ninotchka" nada tem de política, apenas utilizando-se de um
pano de fundo sócio-histórico para contar uma história de amor que vence
qualquer tipo de idealismo. Se por um lado faz piada dos estereótipos
russos, também não poupa a pretensa superioridade capitalista - e
enfatiza, com inteligência, o choque cultural entre seus protagonistas.
Tal particularidade encontra na direção de Lubitsch a tradução perfeita -
o cineasta jamais tenta ser maior que o enredo e seus personagens - e
em seu elenco a personificação exata. Se Melvyn Douglas está preciso na
sua interpretação do galante D'Algout - a ponto de sua dubiedade ser
mais um charme do que um defeito -, é Greta Garbo quem engole tudo à sua
volta, com seu magnetismo único a serviço de uma das personagens mais
icônicas do cinema americano. A cena em que Ninotchka finalmente vê sua
rigidez quebrada e solta uma gargalhada é, sem favor, antológica - não
por acaso, ilustra o cartaz do filme e reitera seu slogan publicitário.</p>Banido
na URSS por razões óbvias, "Ninotchka" sobrevive à prova do tempo
principalmente por sua narrativa moderna, leve e inteligente. Não deixa
de ser irônico saber que a presença de Ernst Lubitsch na cadeira de de
diretor foi resultado da saída de George Cukor, que abandonou o projeto
para comandar "... E o vento levou" - do qual também saiu para dar lugar
a Victor Fleming. Grande responsável pelo tom sofisticado do resultado
final de "Ninotchka", Lubitsch, nascido na Alemanha em 1892, se tornou
um dos grandes cineastas da era de ouro de Hollywood, conhecido por
comédias românticas como "A loja da esquina" (1940) - refilmado em 1998
como "Mensagem para você", estrelado por Tom Hanks e Meg Ryan -, "Ser ou
não ser" (1942) e "O diabo disse não" (1943) - que lhe rendeu uma
indicação ao Oscar. Conhecido pelo que se convencionou chamar de "o
toque Lubitsch", ofereceu a "Ninotchka" uma personalidade rara - algo
que faltou em seu remake musical "Meias de seda", estrelado por Cyd
Charisse e Fred Astaire em 1957. Nada contra a dupla, mas ninguém melhor
que Greta Garbo e sua postura para dar viva à misteriosa Ninotchka.<p> </p>Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-74372189236910704542023-03-07T19:55:00.006-03:002023-03-07T19:55:57.103-03:00A CAIXA DE PANDORA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgDDVO_PjU0AsWJMwzB8INGk0FZJSz5--qEDPXuylNieOUKfZoU05eZ4IsG4mvH_yFDES4bmIAbZwYAW5iu3UvqK9c5qH2Uzv78gI7KmC9pv78G5cUcbr3Z2gHsbCtuPw46YSI7Gg3LJ4XhvfQR-gKF3eSvkeh5i-GAN2Pal612v28sESmLszrC3HO/s600/Pandora's%20Box%201929.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="315" data-original-width="600" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgDDVO_PjU0AsWJMwzB8INGk0FZJSz5--qEDPXuylNieOUKfZoU05eZ4IsG4mvH_yFDES4bmIAbZwYAW5iu3UvqK9c5qH2Uzv78gI7KmC9pv78G5cUcbr3Z2gHsbCtuPw46YSI7Gg3LJ4XhvfQR-gKF3eSvkeh5i-GAN2Pal612v28sESmLszrC3HO/s320/Pandora's%20Box%201929.jpg" width="320" /></a></i></div><i><br />A
CAIXA DE PANDORA (Die busche der Pandora, 1929, Nero-Film AG, 109min)
Direção: Georg Wilhelm Pabst. Roteiro: Ladislaus Vajda, peças teatrais
de Frank Wedekind. Fotografia: Gunther Krampf. Montagem: Joseph
Fleisler. Figurino: Gottlieb Hesch. Direção de arte/cenários: Andrej
Andrejew/Hesh. Produção: Heinz Landsman. Elenco: Louise Brooks, Fritz
Kortner, Franz Lederer, Carl Goetz, Krafft-Raschig, Alice Roberts.
Estreia: 30/01/29</i><p></p><p>Ao assumir o papel da amoral Lulu em "A
caixa de Pandora" - a adaptação feita por Georg Wilhelm Pabst das peças
teatrais de Frank Wedekind - a norte-americana Louise Brooks tornou-se,
de imediato, um símbolo sexual duradouro, um marco no erotismo no cinema
e uma imagem indelével da cinematografia alemã das primeiras décadas do
século XX. Sua presença magnética e sua expressividade fascinante, no
entanto, não foram sempre unanimidade, principalmente junto aos
conterrâneos de Pabst e Wedekind - ultrajados pelo fato de uma
estrangeira viver uma personagem tão arraigada na cultura germânica, os
fãs do texto original demoraram a reconhecer em Brooks a principal
característica de Lulu: sua sensualidade latente, sempre à beira da
ruína (própria ou alheia). Bastou, porém, a estreia, para que quaisquer
detratores reconhecessem o óbvio: ali estava, diante de seus olhos, uma
das mais certeiras personificações do que se convencionou chamar de
mulher fatal - e o nascimento de um mito que, entre altos e baixos,
atravessaria o tempo e povoaria o imaginário popular de inúmeras
gerações.</p><p>Mesmo com o casamento perfeito entre personagem e atriz,
no entanto, "A caixa de Pandora" não foi um sucesso imediato - em parte
porque, em seus estertores, o cinema mudo perdia boa parte de público
para os filmes falados, já em franca ascensão, e em parte porque a
crítica em si não chegou a ser exatamente efusiva a respeito de suas
qualidades. Foi somente cinquenta anos depois de sua estreia, em 1979,
que uma plateia bem mais entusiasta o redescobriu, graças a uma
reportagem do britânico Kenneth Tynan para a revista New Yorker: a
matéria "The girl in the black helmet" apresentava Louise Brooks a uma
nova geração - com ela surgia um novo interesse por sua carreira, e por
conseguinte, por seus trabalhos na Europa. Incentivado pela própria
atriz - que comparecia a sessões de relançamento e alimentava o culto à
sua personalidade -, o renascimento de seu filme mais famoso revelou uma
obra-prima esquecida pelo tempo e abriu as portas para novas
manifestações culturais baseadas em seu material original, como a peça
teatral "Lulu", de 1997, que misturava, na mesma montagem, os textos de
Wedekind, referências ao filme de Pabst e elementos da vida de Brooks.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-OXL14TPLqT_ZtCP9LvH7DF23-5v8KHZFhNtB0YYNs9aMNgk9acXs47dTTWT7XncPhSJB9nYZlzQBrGI9zmU1o9ghU9PY3XWD2lS_2RaUvGG5B9zmaS-e1KI31aH4VUyYQuw3_olv2W7nB7Esr93lXrrOHMXQ2kXymPjq95b-vyvBUoURWnq5pd-D/s768/pandora.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="512" data-original-width="768" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-OXL14TPLqT_ZtCP9LvH7DF23-5v8KHZFhNtB0YYNs9aMNgk9acXs47dTTWT7XncPhSJB9nYZlzQBrGI9zmU1o9ghU9PY3XWD2lS_2RaUvGG5B9zmaS-e1KI31aH4VUyYQuw3_olv2W7nB7Esr93lXrrOHMXQ2kXymPjq95b-vyvBUoURWnq5pd-D/s320/pandora.jpg" width="320" /></a></div> <p></p><p>Brooks,
aliás, por pouco não ficou de fora de "A caixa de Pandora". Apesar de
escolhida por Pabst depois que o cineasta conferiu seu trabalho em "Uma
noiva em cada porto" (1928), a atriz viu-se obrigada a declinar do
convite por problemas contratuais com a Paramount Pictures, que não
concordou em liberá-la para as filmagens fora dos EUA. Sem poder contar
com a atriz de sua preferência, o cineasta alemão teve de contentar-se
com uma segunda opção, uma conterrânea chamada Marlene Dietrich. Na
última hora, porém, o destino interveio: Brooks foi dispensada pela
Paramount por problemas de salário e Dietrich acabou indo parar nos sets
de "O anjo azul" (1930), de Josef von Sternberg - e ofereceu um
desempenho inesquecível que a colocou merecidamente no rol das grandes
estrelas do cinema. Brooks, por sua vez, iniciou uma série de três
filmes na Europa - onde, segundo ela mesma, tinha mais liberdade e era
mais desafiada artisticamente do que em Hollywood - e, apesar de alguns
problemas na produção (seu colega de cena Fritz Kortner, por exemplo,
não fazia parte de sua lista de admiradores), ditou moda e influenciou o
comportamento feminino do final dos anos 1930 com sua exuberante Lulu.</p><p>Mas,
no final das contas, sobre o que é o filme "A caixa de Pandora"? Apesar
do título remeter ao mito grego, a trama se passa em uma Berlim
decadente e amoral, onde a bela Lulu (interpretada por Brooks com o
equilíbrio certo entre inocência e vulgaridade) faz uso do poder de sua
sensualidade para dominar os homens (e até algumas mulheres) à sua
volta. É essa sua força destruidora que a aproxima do poderoso Ludwig
Schon (Fritz Kortner), um editor milionário que, mesmo apaixonado por
ela, se recusa a um compromisso mais sério por causa de sua diferença de
classes sociais. Depois de seduzir até mesmo o filho de Schon, o
romântico Alwa (Franz Lederer), a sexy dançarina consegue levar seu
velho amante ao altar, mas uma tragédia acaba levando-a a empreender uma
fuga desesperada. No caminho, ao lado de seu velho protetor Schigolch
(Carl Gotz), de Alwa e da Condessa Geschwitz (Alice Roberts) - todos
envolvidos por seu poder de sedução -, Lulu se vê obrigada a uma nova
vida, ao mesmo tempo excitante e perigosa.</p>Com uma bela fotografia
de Gunther Krampf, um roteiro ousado de Ladislaus Vajda e personagens
complexos, que fogem do maniqueísmo e dos clichês, "A caixa de Pandora"
não figura à toa na lista dos maiores clássicos do cinema europeu da
história. Apostando em uma sensualidade amoral que deixaria os estúdios
de Hollywood chocados - em especial com o advento do famigerado Código
Hays, que limitou brutalmente os avanços comportamentais nos filmes
norte-americanos a partir de 1930 -, Georg Wilhelm Pabst desafiou as
regras e marcou um gol de placa, deixando seu nome marcado para sempre
na memória do público.<p> </p>Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-63669199231828562202023-03-06T18:37:00.007-03:002023-03-06T18:37:57.515-03:00TREM-BALA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBbXppITMkNotFEG1RmGDFNMMtOCpoCevJVjmkL30mFF0YQBJE6_kqecPABS4u-ybm7u9Eya_mA82yvXokLPVzh26bFZ-f8wyk7clGrkuBCesHF2WFNLIImygSxuk7UWXxm-dpNYTSHMsUVyb4if750EM47E9Emq05yqgIjkj2_LyoMttP2rDgTLDk/s1024/bullet.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="683" data-original-width="1024" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBbXppITMkNotFEG1RmGDFNMMtOCpoCevJVjmkL30mFF0YQBJE6_kqecPABS4u-ybm7u9Eya_mA82yvXokLPVzh26bFZ-f8wyk7clGrkuBCesHF2WFNLIImygSxuk7UWXxm-dpNYTSHMsUVyb4if750EM47E9Emq05yqgIjkj2_LyoMttP2rDgTLDk/s320/bullet.jpg" width="320" /></a></i></div><i><br />TREM-BALA
(Bullet train, 2022, Sony Pictures Entertainment, 127min) Direção:
David Leitch. Roteiro: Zak Olkewicz, romance de Kôtarô Isaka.
Fotografia: Jonathan Sela. Montagem: Elisabet Ronaldsdóttir. Música:
Dominic Lewis. Figurino: Sarah Evelyn. Direção de arte/cenários: David
Scheunemann/Elizabeth Keenan. Produção executiva: Brent O'Connor,
Ryosuke Saegusa, Kat Samick, Yuma Terada. Produção: Antoine Fuqua, David
Leitch, Kelly McCormick. Elenco: Brad Pitt, Aaron Taylor-Johnson, Joey
King, Brian Tyree-Henry, Andrew Koji, Hiroyuki Sanada, Michael Shannon,
Bad Bunny, Logan Lerman, Sandra Bullock. Estreia: 18/7/2022 (Paris)</i><p></p><p>Publicado
no Japão em 2010, o livro "Trem-bala", escrito por Kôtarô Isaka,
tornou-se um fenômeno, com mais de 700 mil exemplares vendidos, e
acabou, como não poderia deixar de ser, chamando a atenção de Hollywood.
Com os direitos adquiridos pela Sony Pictures e produzido com um
orçamento de 90 milhões de dólares, a intrincada história de cinco
assassinos profissionais cujas missões se cruzam em uma inusitada viagem
chegou às telas com um elenco de primeira linha, um diretor acostumado a
sequências recheadas de adrenalina e a responsabilidade de devolver ao
público o hábito de ir às salas de exibição depois do longo hiato
provocado pela Covid-19. Com uma renda acumulada de quase 240 milhões de
dólares internacionalmente, é difícil dizer que fracassou em seu
intento - mas dividiu a crítica e não fez o barulho que se poderia
esperar. Mesmo assim, o resultado final é um delicioso filme de ação,
com inspirados momentos de humor e um visual dos mais caprichados dos
últimos anos.</p><p>Na direção, que ficaria a cargo de Antoine Fuqua, o
cineasta David Leitch, cujo currículo apresenta produções extremamente
comerciais, como "Deadpool 2" (2018) e "Velozes e furiosos: Hobbs &
Shaw (2019) - além do subestimado e estiloso "Atômica" (2017) - deixou
de lado o tom mais sério proposto no projeto original para assumir sem
medo o caos, o deboche e a ironia. Com diálogos rápidos, idas e vindas
no tempo, cenas de luta empolgantes e personagens excêntricos, o roteiro
de "Trem-bala" nem sempre é rigorosamente fiel a seu material original,
mas até mesmo as alterações feitas na trama do livro servem com
perfeição à visão iconoclasta de Leitch, que prescinde das definições
levianas de heróis e vilões, algozes e vítimas: durante as pouco mais de
duas horas de duração do filme, nada que é dito é completamente
confiável e nenhuma verdade é absoluta. Tal opção pelo dúbio e pela
diversão ao invés da sobriedade faz de "Trem-bala" um produto raro, um
respiro muito bem-vindo a um gênero que normalmente falha em tal
equilíbrio. E se a presença de Brad Pitt parece apontar para um filme
calcado em um grande astro - e caro, com um cachê milionário de 20
milhões de dólares -, o desenvolvimento do roteiro insiste em sua
principal característica: não há um personagem central além do trem que
dá nome ao filme. </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9dUV2-i9nYJ7Ec1nNsntDyzJuvrO1YcYspT_X9ePZzqX-79W_9_oPd6oQLZ7C10ssaoFQ6EC3UzYDvpf7fPb8fMzsl9RZe5VAMyCoyLx-ZYO4N0P0nquL8dWd9XNF3RzG9-T8sWHGBO0kod7zO0dP0FJgAPl8gECTjlMDcNHN8lDpy1vMZ9F2U89i/s900/bullet-train-pic-.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="508" data-original-width="900" height="181" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9dUV2-i9nYJ7Ec1nNsntDyzJuvrO1YcYspT_X9ePZzqX-79W_9_oPd6oQLZ7C10ssaoFQ6EC3UzYDvpf7fPb8fMzsl9RZe5VAMyCoyLx-ZYO4N0P0nquL8dWd9XNF3RzG9-T8sWHGBO0kod7zO0dP0FJgAPl8gECTjlMDcNHN8lDpy1vMZ9F2U89i/s320/bullet-train-pic-.jpg" width="320" /></a></div><p>A
princípio até pode parecer que Pitt é o personagem principal da trama,
já que é o maior nome do cartaz e o primeiro a surgir na tela, mas não
demora para que fique perceptível que seu Ladybug é apenas uma peça em
um tabuleiro repleto delas. Escalado por sua superior (cuja
intérprete-surpresa surge apenas nos momentos finais) a recuperar uma
maleta em um trem-bala que viaja de Tóquio a Kyoto, Ladybug - que está
passando por momentos difíceis na carreira, sendo acusado de não
conseguir lidar com a agressividade - embarca no veículo sem ter a menor
ideia de que sua missão está longe de ser simples como parece. No mesmo
local, estão outros dois assassinos de aluguel, Tangerine (Aaron
Taylor-Johnson) e Lemon (Bryan Tyree Henry), e a misteriosa Prince (Joey
King) - que apesar do nome, esconde uma identidade feminina e um
violento trauma familiar. Contratados pelo infame mafioso White Death
(Michael Shannon) para salvar seu jovem filho das mãos de
sequestradores, Lemon e Tangerine acabam por cruzar o caminho de outros
criminosos beligerantes e cruéis - e, no decorrer do caminho, alianças
são feitas e desfeitas, fatos do passado são trazidos à tona,
reviravoltas acontecem a cada parada e até uma cobra assassina parece
fazer parte de uma trama cujos desdobramentos remetem a coincidências
das mais bizarras.</p><p>"Trem-bala" é um filme com inúmeras qualidades,
mas justamente elas podem incomodar parte dos espectadores. Seu humor -
um tanto macabro e violento - não é exatamente convencional. A
estrutura do roteiro - repleta de flashbacks e flash forwards - obriga a
uma atenção extra que poucos estão dispostos a conceder diante do
cinema quase preguiçoso que vem sendo oferecido pelos grandes estúdios. A
falta de um herói - por mais que Ladybug seja uma espécie de fio
condutor da trama ele não é o protagonista absoluto - talvez confunda
àqueles que buscam uma narrativa mais simples. E o visual elaborado
(cortesia da fotografia admirável de Jonathan Sela) pode soar como
excessivamente colorido e kitsch. Mas o fato é que, somadas todas as
características que fazem dele um filme de ação que tenta fugir da
pasteurização do gênero, o resultado é uma produção muito acima da
média, que não perde o ritmo em momento algum, que apresenta personagens
interessantes interpretados por um elenco impecável e que não hesita em
oferecer sequências coreografadas com precisão cirúrgica. É divertido,
inteligente e produzido com extrema competência. Quanto ao fato de ser
baseado em um livro japonês e contar com atores ocidentais é uma outra
discussão, mais séria e mais profunda que em nada atrapalha o prazer de
ser envolvido por um filme por 127 minutos de entretenimento puro.<br /></p>Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-36804170959660498442023-01-27T19:31:00.003-03:002023-01-27T19:31:41.366-03:00EM BUSCA DO OURO<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjBU642atIqp89TwLue2KPYMQ6_nCtCFRZt-kCg_VKXb5gt2a2P5yQ34bwpDtMQgZ60gk5uKZqHoA-QHYzlMBzl_UhuHluYxIU5275WsCwZDgEXUbBPm_jd1PgLtlpfq4I6zxpk3EALo462BjR0YF-kTHqSr2ISIIV-ddd-n7_RG4ISztXSMX_iRbC/s699/gold-rush-chaplin-scene.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="438" data-original-width="699" height="201" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjBU642atIqp89TwLue2KPYMQ6_nCtCFRZt-kCg_VKXb5gt2a2P5yQ34bwpDtMQgZ60gk5uKZqHoA-QHYzlMBzl_UhuHluYxIU5275WsCwZDgEXUbBPm_jd1PgLtlpfq4I6zxpk3EALo462BjR0YF-kTHqSr2ISIIV-ddd-n7_RG4ISztXSMX_iRbC/s320/gold-rush-chaplin-scene.jpg" width="320" /></a></i></div><i><br />EM
BUSCA DO OURO (The gold rush, 1925, Charles Chaplin Productions, 83min)
Direção, roteiro, montagem, música e produção: Charles Chaplin.
Fotografia: Roland Thoteroh. Música: Max Terr. Direção de arte: Charles
D. Hall. Elenco: Charlie Chaplin, Mack Swain, Tom Murray, Georgia Hale,
Henry Bergman, Malcolm Waite. Estreia: 26/6/1925</i><p></p><p><b>2 indicações ao Oscar: Trilha Sonora Original, Som</b></p><p>Quinto
filme mudo de maior bilheteria da história, "Em busca do ouro" é, em
opinião compartilhada por público e crítica, um dos mais completos
trabalhos de Charles Chaplin. Relançado em 1942 com uma trilha sonora
nova e uma narração em off substituindo os cartões com legendas,
concorreu ao Oscar em duas categorias (música original e som) e
reafirmou sua posição como uma obra-prima de seu criador, já então
consagrado como um dos maiores astros do cinema. Inspirado por um fato
histórico - as dificuldades enfrentadas por garimpeiros na corrida do
ouro no Alaska e no Klondike no final do século XIX - e ciente de que
poderia extrair humor mesmo de situações trágicas, o cineasta criou uma
sucessão de sequências brilhantes que entraram de imediato no
inconsciente coletivo de gerações e mais gerações. Realizado com o
perfeccionismo típico do cineasta, com locações nas geleiras de Serra
Nevada, centenas de figurantes (reais garimpeiros) e efeitos visuais
ainda hoje impressionantes - como a maquete de uma cabana que é parte
essencial do clímax -, "Em busca do ouro" figura, não à toa, na lista de
filmes preferidos de nomes tão díspares quanto Guillermo Del Toro,
Richard Attenborough e Akira Kurosawa.</p><p>Considerado por Chaplin
como o filme pelo qual ele gostaria de ser lembrado, "Em busca do ouro"
teve problemas de ordem pessoal durante o processo de filmagens. Tudo
começou quando o diretor iniciou um romance clandestino com Lita Grey,
de apenas 16 anos de idade. Apaixonado, ele escreveu o principal papel
feminino para sua nova atriz principal, mas foi obrigado a suspender as
filmagens quando ela descobriu-se grávida. Durante os três meses de
paralisação, Chaplin testou outras possibilidades - entre elas a futura
estrela Carole Lombard - e chegou até Georgia Hale, que assumiu, então, o
papel de Georgia, a dançarina por quem o protagonista cai de amores
depois em um clube de dança. O casamento do diretor e Grey nasceu fadado
ao fracasso - apesar dos dois filhos que tiveram durante seu
relacionamento - e não demorou para que o insaciável cineasta se
sentisse atraído também pela nova descoberta artística. O romance entre
os dois surgiu durante as filmagens - mas acabou de tal modo que, no
relançamento do filme, em 1942, o longo beijo final dos dois personagens
acabou de fora da edição.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOd8Zx452gXNpwaXL3SuftXUPWCPFGNEponotma6GFQZOpn19tLcu5t2FoUSzYJAmRyUzG6etOl7qQ8KxhGvCQEY-smfHI8Zcf_6W7Pz7f_05OhiLNoGBC5hOlsk6tzt7I4CTSSpEBPs4-GMBYpfKrllZYcNjMuyvlDHMeU9Guw3FXRXOGB0bpbJkc/s768/Duas%20vers%C3%B5es%20de%20Charles%20Chaplin%20do%20filme%20Em%20Busca%20do%20Ouro.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="479" data-original-width="768" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOd8Zx452gXNpwaXL3SuftXUPWCPFGNEponotma6GFQZOpn19tLcu5t2FoUSzYJAmRyUzG6etOl7qQ8KxhGvCQEY-smfHI8Zcf_6W7Pz7f_05OhiLNoGBC5hOlsk6tzt7I4CTSSpEBPs4-GMBYpfKrllZYcNjMuyvlDHMeU9Guw3FXRXOGB0bpbJkc/s320/Duas%20vers%C3%B5es%20de%20Charles%20Chaplin%20do%20filme%20Em%20Busca%20do%20Ouro.jpg" width="320" /></a></div><br /> <p></p><p>Caído
em domínio público em 1953 devido a negligência do espólio de Chaplin,
"Em busca do ouro" apresenta, em pouco mais de uma hora de duração,
algumas das cenas mais lembradas da carreira do diretor. A dança dos
pãezinhos, a refeição em que o protagonista serve os próprios sapatos
(feitos de alcaçuz e que levou três dias para ser finalizada, levando-o a
um hospital com um choque de glicose), a sequência em que seu
companheiro (faminto) o imagina como um frango assado, a briga no salão
de dança e a luta para que a cabana não despenque de um precipício
durante uma tempestade de neve são momentos do mais puro humor
chapliniano. Realizadas em uma época sem efeitos digitais e os recursos
modernos, são um exemplo de execução e se mantém até hoje, quase um
século depois, tão frescas e divertidas quanto antes. Provando-se ainda
um talento ímpar para atingir todo tipo de público, Chaplin consegue
fazer rir crianças e adultos, independente de classe social ou credo
religioso - um alcance fenomenal sem precedentes e ainda sem herdeiros
naturais.</p>Primeiro filme estrelado por Chaplin para a United
Artists, estúdio do qual era sócio, "Em busca do ouro" reforça sua
capacidade de transformar até mesmo situações extremas em fontes de
humor e poesia. Inserindo seus personagens em um cenário onde podem
acontecer ataques de urso, tempestades de neve, fome extrema, quedas em
despenhadeiros e outros perigos naturais (e outros ainda causados pelos
seres humanos que os cercam), o ator/diretor/produtor/roteirista
encontra formas criativas de buscar a gargalhada (ou, no pior dos casos,
um sorriso de ternura) e marcar de maneira indelével (mais uma vez) seu
nome na história do cinema mundial - sem dizer uma única palavra.Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-5497181001455908962023-01-26T18:46:00.003-03:002023-01-26T18:46:22.647-03:00O GAROTO<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9cQ3p56nxrIDcudK0_1x2j6Gr3-xpEC9hEXtp-uGWg-vLqT9HfyXl5dFXdpkUYvfBCt7u5JCniZB0gr6qPbKXLWiKr8_mRKNWy3b2gBeM4OR4FNWKizREv6rq_7r8OnvykxO6-cOG49O7WImec885kJb56LY6ngN-9NKfAcZVPWqZZEkaPO4Spbh-/s840/The-Kid-1921-1.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="840" height="229" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9cQ3p56nxrIDcudK0_1x2j6Gr3-xpEC9hEXtp-uGWg-vLqT9HfyXl5dFXdpkUYvfBCt7u5JCniZB0gr6qPbKXLWiKr8_mRKNWy3b2gBeM4OR4FNWKizREv6rq_7r8OnvykxO6-cOG49O7WImec885kJb56LY6ngN-9NKfAcZVPWqZZEkaPO4Spbh-/s320/The-Kid-1921-1.jpg" width="320" /></a></i></div><i><br />O
GAROTO (The kid, 1921, Charles Chaplin Productions, 68min)
Direção,roteiro, montagem e produção: Charles Chaplin. Fotografia:
Roland Totheroh. Direção de arte: Charles D. Hall. Elenco: Charlie
Chaplin, Jackie Coogan, Edna Purviance, Carl Miller. Estreia: 16/01/21</i><p></p><p>A epígrafe de "O garoto" - <i>"Um filme com um sorriso - e talvez uma lágrima" </i>-
é, sem dúvida, bastante apropriado. O primeiro longa-metragem de
Charles Chaplin, depois de vários curtas geniais e aplaudidos
unanimemente, é um conjunto perfeito de todos os elementos que sua
filmografia englobaria a partir de então: humor físico de alta precisão,
uma dose de sentimentalismo, uma simplicidade franciscana (que escondia
as dificuldades oriundas do perfeccionismo do diretor) e a capacidade
de extrair poesia da mais prosaica situação. Filmada por um período de
cinco meses e meio - filmagens tão longas que incomodaram os
financiadores do projeto, apavorados com a demora de finalização -, a
primeira obra-prima de Chaplin foi realizada durante um período
conturbado da vida pessoal do cineasta, que passava pelo divórcio de sua
primeira mulher, Mildred Harris, e o fato de retratar o cotidiano pobre
e miserável de pessoas em situação precária de vida provavelmente faz
de "O garoto" um dos filmes mais pessoais e autobiográficos de sua
carreira. </p><p>Oriundo de uma infância de privações e dificuldades
financeiras e emocionais, Charles Chaplin encontrou em Carlitos o
alter-ego ideal: pobre, sem passado e/ou futuro, sozinho no mundo e
invariavelmente solitário (mesmo quando acompanhado). Em "O garoto" seu
protagonista não está sozinho - afinal sua vida encontra uma razão
quando se depara com um bebê abandonado em um beco -, mas, apesar disso,
vive na iminente possibilidade de perdê-lo para a justiça. Pobre,
vivendo em condições quase insalubres (mas repleta de amor e afeto), ele
ainda encontra espaço para ensinar ao menino, quando um pouco maior,
maneiras pouco nobres de sobreviver às intempéries financeiras:
trabalhando como vendedor de vidros, ele conta com a criança para que
quebre as vidraças da cidade, por coincidência no exato momento em que
ele está passando pelo local. Os moradores não percebem o esquema, mas o
vagabundo criado por Chaplin não passa incólume ao olho da lei,
representada na figura de um policial com cara de poucos amigos - um
estereótipo frequente na obra do diretor. Além disso, outra ameaça surge
repentinamente no horizonte da inusitada família: a mãe do menino, que o
deixou para trás na juventude, hoje uma atriz consagrada, procura
reencontrá-lo para compensar os anos de ausência.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiripEFOVwa7KitymGL5xcsOA5v2jrvihPN6Wi5qrB0BfkcSU-sXvxPUdsGSWnqa-iGjTXhIU43lz-kXFusbBWtLcrRe_xZd4je5eJumGw0LNDj4_eJ4dnGBDjlO35CLOUdTp8Zys5x4N16WgCKAbOxmaUvh0x-XnhFU5PFQ_Ia3nCxu-e6FLaGwLa8/s589/the-kidd.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="464" data-original-width="589" height="252" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiripEFOVwa7KitymGL5xcsOA5v2jrvihPN6Wi5qrB0BfkcSU-sXvxPUdsGSWnqa-iGjTXhIU43lz-kXFusbBWtLcrRe_xZd4je5eJumGw0LNDj4_eJ4dnGBDjlO35CLOUdTp8Zys5x4N16WgCKAbOxmaUvh0x-XnhFU5PFQ_Ia3nCxu-e6FLaGwLa8/s320/the-kidd.jpg" width="320" /></a></div><br /> <p></p><p>Se
"O garoto" apresenta a essência do cinema de Charles Chaplin, muito se
deve à química impecável entre o astro e seu colega mirim, o pequeno
Jackie Coogan, descoberto pelo cineasta durante um número de vaudeville
com seu pai, também artista e parte do elenco do filme (em três papéis
pequenos): expressivo e talentoso, o pequeno Coogan acabou passando por
problemas financeiros antes mesmo de atingir a idade adulta, explorado
pela mãe e pelo padrasto. Ainda antes de voltar a tornar-se famoso -
como o Tio Fester da série "A família Monstro", dos anos 1960 - chegou a
contar com o auxílio do próprio Chaplin, com quem se encontrou pela
última vez em 1972, quando o cineasta retornou a Hollywood para receber
seu único Oscar (e um ano depois do relançamento de seu filme, com nova
edição e nova trilha sonora). E não apenas Coogan teve sua vida atrelada
a de de Chaplin além do campo profissional. Uma das atrizes que
trabalhavam como extra em "O garoto" - Lita Grey, que interpreta um dos
anjos na sequência de sonho no final da produção, e que tinha apenas 12
anos durante as filmagens - se tornou esposa do celebrado diretor depois
de, aos 16 anos de idade, descobrir que seu romance com Chaplin
resultou em uma gravidez (o casamento durou dois anos e gerou dois
filhos).</p>Mas, a despeito de seus bastidores e dramas fora das
telas, "O garoto" se mantém, mesmo mais de um século depois de seu
lançamento, como uma obra quase irretocável. Quase? Sim. Apesar de
oferecer momentos do mais puro lirismo, cenas de estampar um sorriso no
rosto do mais taciturno espectador e fixar na memória do público uma
dupla memorável de protagonistas, o filme se estende além do que
precisava, com uma sequência onírica que só se justifica pela
necessidade de alcançar o tempo que o define como longa-metragem. Tal
pecadilho, no entanto, não atrapalha em nada o prazer de ver (ou rever)
uma das comédias mais doces e sentimentais da história do cinema - e
que, não é à toa, figura no topo das preferências de muitos fãs de
Chaplin - como o cineasta Wayne Wang, que o considera seu filme
preferido. Certamente muita gente acompanha a opinião de Wang.Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-43888777069423731092023-01-25T21:39:00.003-03:002023-01-25T21:39:42.502-03:00O CASAMENTO DOS MEUS SONHOS<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjolawwikQVdGS9LcnIxFCctJQr2fwP3OAL6ntEjFrv0I0g6r3etFrul-vEzSqgA3Zzeh7viXm9NlRtGEXCFN9d7HXu3sALBElMNPB1859VjmYBrFcIKvRBDUzsuEIVIQrcbkBfHx9Af8tD-AI_0aru_IiVIeFr8XgiECtsUs8G6B6YpnGGvS7c9Y_G/s640/casamento.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="445" data-original-width="640" height="223" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjolawwikQVdGS9LcnIxFCctJQr2fwP3OAL6ntEjFrv0I0g6r3etFrul-vEzSqgA3Zzeh7viXm9NlRtGEXCFN9d7HXu3sALBElMNPB1859VjmYBrFcIKvRBDUzsuEIVIQrcbkBfHx9Af8tD-AI_0aru_IiVIeFr8XgiECtsUs8G6B6YpnGGvS7c9Y_G/s320/casamento.jpg" width="320" /></a></i></div><i><br />O
CASAMENTO DOS MEUS SONHOS (The wedding planner, 2001, Columbia
Pictures, 103min) Direão: Adam Shankman. Roteiro: Pamela Falk, Michael
Ellis. Fotografia: Julio Macat. Montagem: Lisa Zeno Churgin. Música:
Mervyn Warren. Figurino: Pamela Whiters. Direção de arte/cenários: Bob
Ziembicki/Barbara Munch. Produção executiva: Moritz Borman, Guy East,
Nina R. Sadowsky, Chris Sievernich, Nigel Sinclair. Produção: Peter
Abrams, Deborah Del Prete, Jennifer Gibgot, Robert L. Levy, Gigi
Pritzker. Elenco: Jennifer Lopez, Matthew McConaughey, Bridgette
Wilson-Sampras, Judy Greer, Justin Chambers, Kathy Najimi, Alex Rocco,
Joanna Gleason, Kevin Pollack. Estreia: 26/01/2001</i><p></p><p>No
começo dos anos 2000, Jennifer Lopez já era uma estrela. Em seu
currículo como atriz já constavam produções com diretores consagrados,
como Francis Ford Coppola ("Jack", de 1996), Oliver Stone
("Reviravolta", de 1997) e Steven Soderbergh ("Irresistível paixão", de
1998) e elogios da crítica especializada por seu trabalho em "Selena"
(1996). Como cantora, já havia vendido mais de 8 milhões de cópias com
seu álbum de estreia, "On the 6" (1999) e estava lançando seu segundo
trabalho, "J.Lo" - que tinha expectativas de se tornar um sucesso ainda
maior. Portanto, quando "O casamento dos meus sonhos" estreou, em
janeiro de 2001, seu nome no cartaz de um filme já era um atrativo e
tanto - e levando-se em conta que seu parceiro de cena, Matthew
McConaughey, também já tinha um fã-clube feminino dos maiores, não
chegou a ser surpresa a bilheteria acima dos 90 milhões de dólares do
filme no mercado internacional. Mesmo sem apresentar nenhuma novidade e
seguindo à risca a receita das comédias românticas, o filme de Adam
Shankman provou que, mesmo contra tecnologias de ponta e estratégias
milionárias de marketing, histórias de amor ingênuas e superficiais
sempre terão espaço junto a seu público fiel.</p><p>Assumindo o lugar de
Sarah Michelle Gellar - que não conseguiu conciliar as filmagens com as
gravações da série "Buffy: a caça-vampiros" - e Minnie Driver (segundo
afirmações da atriz em entrevistas), Jennifer Lopez não precisa fazer
muito esforço no papel principal do filme. Ela interpreta Mary Fiore,
uma bem-sucedida organizadora de casamentos que se esforça para
tornar-se sócia da empresa onde trabalha, enquanto luta para superar o
traumático fim de seu relacionamento. Jovem e bonita, ela é, também,
constantemente pressionada pelo pai viúvo a encontrar um novo amor - a
ponto de fugir dos avanços do bem intencionado amigo de infância Massimo
(Justin Chambers, que anos depois se tornaria astro com a série "Grey's
Anatomy"). Dedicada à carreira, Mary vê na milionária Fran Donnolly
(Bridget Wilson-Sampras) a chance de finalmente atingir seus objetivos
profissionais: planejar a festa de seu casamento parece o caminho certo
para o sucesso. Porém, seu encontro com o médico Steve Edison (Matthew
McConaughey) vira tudo do avesso: apaixonada, Mary vê no rapaz o homem
ideal para resolver sua vida romântica, mas descobre, decepcionada, que
ele é o noivo de sua mais promissora cliente.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7cKRkb0EH5FpDkO_egiWQvOaINNJVfgMt31pIYes2u5wyE9Of0AD2OQy5JfcBOO6hiMN4Gz1stHEksqCsW1Uss9ctRivcPaKPT66c7RWfBE-VKeJ9DeuV1Ui3mFj6X5Yw43njrOcPyDctsaY-2Tv5nSDJlIC2kERQNhiFLodWOVxT-dZ5_pPUFo6R/s500/casam.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="323" data-original-width="500" height="207" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7cKRkb0EH5FpDkO_egiWQvOaINNJVfgMt31pIYes2u5wyE9Of0AD2OQy5JfcBOO6hiMN4Gz1stHEksqCsW1Uss9ctRivcPaKPT66c7RWfBE-VKeJ9DeuV1Ui3mFj6X5Yw43njrOcPyDctsaY-2Tv5nSDJlIC2kERQNhiFLodWOVxT-dZ5_pPUFo6R/s320/casam.jpg" width="320" /></a></div><br /> <p></p><p>Apostando
nos clichês e sem medo de contar uma história sem nenhuma grande
novidade, o roteiro de "O casamento dos meus sonhos"serve, na verdade,
como um veículo para o estrelato de Jennifer Lopez: bela, carismática e
dotada de um razoável timing cômico, Lopez deita e rola com uma
personagem que não lhe exige mais do que fazer exatamente isso: ser
bela, carismática e exercitar seus dotes em comédia - que, se não chegam
a ser brilhantes, funcionam como um relógio. O roteiro não aprofunda
nenhum personagem e nenhum conflito (como é comum aos filmes do gênero),
mas a direção de Shankman - que em 2007 assinaria a versão para as
telas do musical "Hairspray: em busca da fama" - se equilibra entre o
burocrático e o elegante, disfarçando a fragilidade do enredo e até de
algumas soluções um tanto quanto apressadas. É também uma pena que o
filme não aproveite o talento de coadjuvantes como Kathy Najimi (que
pouco aparece como a dona da empresa da protagonista), Judy Greer
(especialista em roubar a cena mesmo em papéis pequenos) e Joanna
Gleason (na pele da mãe da noiva que está em vias de ver o futuro marido
nos braços de sua organizadora de casamentos). Nem mesmo Bridget
Wilson-Sampras tem muito o que fazer, eclipsada pela química entre Lopez
e Matthew McConaughey - que substituiu Brendan Fraser no último minuto e
viu fortalecido seu status de galã romântico.</p>Responsável pelo
cancelamento de um projeto semelhante que seria protagonizado por
Jennifer Love Hewitt, "O casamento dos meus sonhos" é o que pode se
chamar de filme-conforto. Seus personagens são velhos conhecidos do
público-alvo (a romântica sonhadora com azar no amor, o galã
comprometido com a mulher errada, a antagonista fútil), a história é
previsível até o osso, a trilha sonora é suave e com uma canção feita
para vender discos (a canção que toca nos créditos finais é "Love don't
coast a thing", da própria Jennifer Lopez) e os coadjuvantes servem como
contraponto humorístico à trama romântica. Se não entrega mais do que
propõe é justamente por sua intenção em servir à plateia como mais uma
coleção de clichês a que sua plateia possa recorrer quando necessitar de
duas horas de diversão sem compromisso. "O casamento dos meus sonhos" é
o equivalente cinematográfico de uma caixa de bombons ou um pote de
sorvete nos momentos de crise. Esperar mais dele é um erro, mas aceitar
suas limitações é o caminho para um passatempo agradável e leve.<p> </p>Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-24623058419153729282023-01-24T19:27:00.001-03:002023-01-24T19:27:10.899-03:00A PIOR PESSOA DO MUNDO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTgmJlTouU-THLVWK_lE-__PS--Td-IP4b9zqRR5GSKQHiyB625LZxdlM2dWIL-O3GckhkLFK9c6PmjgLXBVI2DdurxQJzoHtYL5J-riRLs_Ips5lxBK4cUuy93Ssc37oFLmMv1Cub4NlN3n5IVxUt1p4K0yyLc0PdQOvVVHw7e8VPjCKuGJdP2aMK/s1000/SCT_0310_GO_Movie_WorstPerson.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="562" data-original-width="1000" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTgmJlTouU-THLVWK_lE-__PS--Td-IP4b9zqRR5GSKQHiyB625LZxdlM2dWIL-O3GckhkLFK9c6PmjgLXBVI2DdurxQJzoHtYL5J-riRLs_Ips5lxBK4cUuy93Ssc37oFLmMv1Cub4NlN3n5IVxUt1p4K0yyLc0PdQOvVVHw7e8VPjCKuGJdP2aMK/s320/SCT_0310_GO_Movie_WorstPerson.jpg" width="320" /></a></i></div><i><br />A
PIOR PESSOA DO MUNDO (Verdens verste menneske, 2021, Oslo Pictures/MK2
Productions/Film i Vast, 128min) Direção: Joachim Trier. Roteiro:
Joachim Trier, Eskil Vogt. Fotografia: Kasper Tuxen. Montagem: Olivier
Bugge Coutté. Música: Ola Flottum. Figurino: Ellen Daheli Ystehede.
Direção de arte/cenários: Roger Rosenberg/Mirjam Veske. Produção
executiva: Dyveke Bjorkly Graver, Tom Kjeseth, Joachim Trier, Eskil
Vogt. Produção: Andrea Beretsen Ottmar, Thomas Robsahm. Elenco: Renate
Reinsve, Anders Danielsen Lie, Herbert Nordrum. Estreia: 08/7/2021
(Festival de Cannes)</i><p></p><p><b>2 indicações ao Oscar: Melhor Filme Internacional, Roteiro Original</b></p><p><b>Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes: Melhor Atriz (Renate Reinsve) </b></p><p>Ao
contrário do que podem fazer acreditar as redes sociais e os filmes
tipicamente hollywoodianos, a vida não é feita de escolhas fáceis. Optar
por um caminho - seja ele profissional, romântico ou familiar -
significa, por definição, que é preciso abandonar todos os outros, e
isso é, ninguém pode negar, definitivamente árduo e doloroso. Nessa
trajetória rumo ao amadurecimento, feridas são abertas, pessoas são
magoadas e é constante a sensação de que a felicidade de uns
provavelmente será a infelicidade de outros. E é justamente esse
sentimento de angústia que atormenta a vida de Julie, a protagonista da
comédia dramática "A pior pessoa do mundo" - que representou a Noruega
na disputa pela estatueta de melhor filme internacional no Oscar 2022.
Indicado também na categoria de roteiro original, o filme de Joachim
Trier aposta na aparente simplicidade de sua trama para envolver o
espectador em uma narrativa que equilibra com rara felicidade um humor
sutil, um drama que dribla miraculosamente o sentimentalismo e elementos
de comédia romântica - sem que se transforme, no processo, em uma
mixórdia de gêneros aleatórios. Inteligente e verossímil, é também, a
prova cabal de que o cinema fora de Hollywood há muito deixou de lado o
rótulo de hermético ou intelectual.</p><p>Julie - interpretada por
Renate Reinsve, premiada como melhor atriz no Festival de Cannes 2021 -
está chegando aos trinta anos e se encontra em várias encruzilhadas.
Profissionalmente não consegue decidir-se definitivamente por nenhuma
carreira - medicina, psicologia e fotografia são suas opções, com maior
tendência à última. Familiarmente, sente-se presa à mágoa que sente por
ser preterida pelo próprio pai. E romanticamente, então, é ainda pior.
Envolvida seriamente com Aksel (Anders Danielsen Lie) - alguns anos mais
novo e quadrinista profissional -, ela percebe, angustiada, que não
compartilha com ele os desejos de formar uma nova família. Tal situação a
leva a sentir-se atraída por Eivind (Herbert Nordrum), um barista com
quem se sente mais à vontade e mais próxima do que pode se chamar de
felicidade. Porém, as coisas não são assim tão fáceis - e qualquer
decisão que toma a leva por caminhos que podem não ter mais volta.
Incapaz de sentir-se totalmente firme dos rumos de sua vida e por
consequência agindo de forma a machucar a quem ama, Julie por vezes se
torna o que mais temia: a pior pessoa do mundo.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxQ499frLdIejhM1_V0XcAB6iJKEOR8YTlmL2zwngQt71QXIoKraC_HTLgTDfO2CqP8HUi1s65cVQWOhaM4MD-8Yvw5pL2h4ibJWwcVs2o5RcuZ2N8IzvbAlOQIDLiQL_OACpqVWsWgSiSP3QrkQSuMuLTpxQgwY5OVMpxk8TxQQ7aJ2JiK4H9k-qD/s1200/worstperson1.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="1200" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxQ499frLdIejhM1_V0XcAB6iJKEOR8YTlmL2zwngQt71QXIoKraC_HTLgTDfO2CqP8HUi1s65cVQWOhaM4MD-8Yvw5pL2h4ibJWwcVs2o5RcuZ2N8IzvbAlOQIDLiQL_OACpqVWsWgSiSP3QrkQSuMuLTpxQgwY5OVMpxk8TxQQ7aJ2JiK4H9k-qD/s320/worstperson1.jpeg" width="320" /></a></div><br /> <p></p><p>O
roteiro de "A pior pessoa do mundo" é um achado. Tanto pode seguir a
cartilha do naturalismo, criando personagens verossímeis e situações
facilmente identificáveis por qualquer espectador quanto pode apostar no
caminho contrário - o primeiro encontro real entre Julie e Eivind, por
exemplo, acontece enquanto o mundo à sua volta parece estático, como se
não existisse de verdade. Os personagens criados por Joachim Trier e
Eskil Vogt são, ao mesmo tempo, adoráveis e falíveis - dotados,
portanto, de defeitos e qualidades intrinsecamente humanos. E a atuação
de seu elenco, tanto principal quanto coadjuvante, é digna de aplausos
entusiasmados. Se Anders Danielsen Lie chama a atenção com um personagem
complexo e multidimensional - com direito a reviravoltas dramáticas e
até mesmo um surpreendente nu frontal -, é Renate Reinsve que faz do
filme uma pequena obra-prima: escolhida pelo diretor às vésperas de
abandonar a carreira de atriz e investir no ramo da marcenaria (!!),
Reinsve simplesmente torna Julie uma das mais fortes protagonistas
femininos do cinema das últimas décadas. Dotada de uma série
aparentemente inesgotável de nuances, a jovem vencedora do Festival de
Cannes consegue até mesmo mudar de feições, de acordo com cada momento
da trama: sexy, insegura, ousada, traumatizada, angustiada, decidida,
apaixonada.... sempre que Julie está em cena, seus sentimentos são
facilmente reconhecidos no rosto comum (mas nem por isso esquecível) de
sua intérprete. Como se fosse uma página em branco, pronta para
transmitir os anseios de sua personagem, Reinsve rouba o filme inteiro
para si - não à toa, é sua imagem que estampa o principal cartaz da
produção e sua personalidade a inspiração para a história.<br /></p><p>"A
pior pessoa do mundo" é um filme delicioso, uma prova inconteste de que a
simplicidade narrativa nem sempre significa pobreza de ideias ou falta
de criatividade. Ao retratar gente cujos desejos e traumas refletem os
mesmos que qualquer um da plateia, a trama de Joachim Trier acaba por
devolver ao público tanto sua capacidade de refletir quanto de sonhar,
sem deixar de, nesse meio-tempo, lembrar que o cinema não serve apenas
como válvula de escape ou sessão de terapia: perfeitamente equilibrado
entre esses dois pontos, é, segundo palavras do diretor, "uma comédia
romântica feita para aqueles que não gostam de comédias românticas". Ou
seja, é a vida real com verniz de fantasia - não aliena completamente e
não machuca com profundidade. Imperdível!<br /></p><p><br /></p>Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-82287639645614580002023-01-20T20:42:00.006-03:002023-01-20T20:42:46.472-03:00CYRANO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkeK2XzwbV5nSJhuIxaBFqrqJgKehPaORkR9vxSvh0sfKGnb3B-CIbNYkfMThquAySEA_Hl3hOd8GMsN5wP9AwhrK8fgcQD256wJHkTO9ks731Kv8SOL2A54rDkCQEY22d9N8uK2Wkwx8XPebse0SNvPFjr5hZZEaP8ztvV0m0gVgs2RO9uvrr22F3/s800/Critica-Cyrano-Peter-Dinklage.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="419" data-original-width="800" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkeK2XzwbV5nSJhuIxaBFqrqJgKehPaORkR9vxSvh0sfKGnb3B-CIbNYkfMThquAySEA_Hl3hOd8GMsN5wP9AwhrK8fgcQD256wJHkTO9ks731Kv8SOL2A54rDkCQEY22d9N8uK2Wkwx8XPebse0SNvPFjr5hZZEaP8ztvV0m0gVgs2RO9uvrr22F3/s320/Critica-Cyrano-Peter-Dinklage.jpg" width="320" /></a></i></div><i><br />CYRANO
(Cyrano, 2021, MGM Pictures/Working Title Films/BRON Studios, 123min)
Direção: Joe Wright. Roteiro: Erica Schmidt, musical de sua autoria,
peça teatral original de Edmond Rostand. Fotografia: Seamus McGarvey.
Montagem: Valerio Bonelli. Música: Aaron Dessner, Bryce Dessner.
Figurino: Massino Cantini Parrini, Jacqueline Durran. Direção de
arte/cenários: Sarah Greenwood/Katie Spencer. Produção executiva: Matt
Berninger, Carin Besser, Jason Cloth, Aaron Dessner, Bryce Dessner,
Aaron L. Gilbert, Erica Schmidt, Sheeraz Shah, Kevin Ulrich, Lucas Webb,
Sarah-Jane Robinson. Produção: Tim Bevan, Eric Fellner, Guy Helley.
Elenco: Peter Dinklage, Haley Bennett, Kelvin Harrison Jr., Ben
Mendelsohn, Monica Dolan, Glen Hansard. Estreia: 02/9/2021 (Festival de
Telluride)</i><p></p><p><b>Indicado ao Oscar de Figurino</b></p><p>Escrita
por Edmond Rostand em 1897, "Cyrano de Bergerac" tornou-se, com o
passar do tempo, uma das peças teatrais mais montadas da história - e um
ícone cultural dos mais duradouros, atravessando gerações sempre com o
mesmo sucesso. Parte da responsabilidade de tal perenidade deve-se ao
cinema, que em várias ocasiões aproveitou-se para adaptar o texto do
dramaturgo francês para as telas - caso da versão estrelada por José
Ferrer em 1950 (que deu ao ator o Oscar da categoria) e da transposição
estrelada por Gérard Depardieu em 1990 (que também foi indicada à
estatueta de melhor ator). A mais nova tradução de Rostand para o
público cinéfilo, lançada em 2021, prova que, apesar de tudo, a força de
sua história ainda se presta a novos olhares e inovações estilísticas.
Dirigido por Joe Wright, "Cyrano" não apenas ousa em transformar a
tragédia em musical como altera o principal elemento do texto, fazendo
de seu protagonista não um homem que sofre com um nariz descomunal, mas
um talentoso soldado torturado por sua condição de anão. Beneficiado com
o talento inegável de Peter Dinklage - aproveitando o sucesso de seu
trabalho na série "Game of thrones" -, o Cyrano de Wright em nada deixa a
desejar em relação a seus antecessores, apesar de ter sido praticamente
ignorado pela Academia e outras cerimônias de premiação.</p><p>Na
verdade, a versão de Wright é uma adaptação indireta do clássico de
Rostand. Sua origem é a reinvenção do texto original, criada pela
dramaturga Erica Schmidt e montada em 2018 em Connecticut - e no ano
seguinte em teatros off-Broadway, em Nova York. Sem a necessidade de uma
fidelidade absoluta ao clássico, o cineasta - autor de adaptações de
obras como "Orgulho e preconceito" (2005) e "Anna Karenina" (2012), além
do excepcional "Desejo e reparação" (2007) - explora todas as
possibilidades visuais da trama com uma liberdade encantadora e uma
sensibilidade irresistível. Até mesmo seus artifícios para modernizar a
forma de contar a história - e evitar o tédio que um texto em versos
poderia causar a um público menos paciente - soam orgânicos e
inteligentes, valorizados por uma reconstituição de época cuidadosa e
uma fotografia (de Seamus McGarvey) cujo maior mérito é não tentar se
sobrepor à trama e aos personagens. As canções - em especial a bela
"Close my eyes", com a participação de Glen Hansard, do filme "Apenas
uma vez" (2007) - conseguem integrar-se à narrativa com elegância ímpar,
e se a escalação de Dinklage para o papel-título soa genial, o mesmo
pode ser dito da escolha de Kelvin Harrison Jr. para viver o galã
Christian - pela primeira vez um ator negro assume (ao menos nas telas) o
papel do antagonista romântico (e involuntário) da história de amor
entre Cyrano e a bela Roxanne.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7rPppx4gtMrrF-eWAuw2Vhu8YfY3WY4NFDdCnISqmBsrpV7ojPafTo80ANk6zTPDGSnvv82vkXWLW7WSvIdnIA9dtG5fCtoHnDUHKh-iJA0H6hotDqjJcc87mMzJhBXlFIb_vn65-uR6LztF2ILWojugoW0CZG0JH7vLGLbThVYTNb9KkJ_gY9A4N/s740/Explicacion-del-final-de-Cyrano.5.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="370" data-original-width="740" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7rPppx4gtMrrF-eWAuw2Vhu8YfY3WY4NFDdCnISqmBsrpV7ojPafTo80ANk6zTPDGSnvv82vkXWLW7WSvIdnIA9dtG5fCtoHnDUHKh-iJA0H6hotDqjJcc87mMzJhBXlFIb_vn65-uR6LztF2ILWojugoW0CZG0JH7vLGLbThVYTNb9KkJ_gY9A4N/s320/Explicacion-del-final-de-Cyrano.5.jpeg" width="320" /></a></div><br /> <p></p><p>Apesar
das alterações oriundas da adaptação feita por Schmidt - que é casada
com o ator Peter Dinklage -, a trama do filme permanece, em sua
essência, a mesma: o protagonista é o romântico e sensível Cyrano,
apaixonado pela doce Roxanne (Haley Bennett), e que esconde de todos o
seu amor, ciente de que sua aparência física jamais permitirá uma
aproximação maior entre eles. Corajoso e dotado de grande inteligência, o
enamorado soldado francês vê sua situação ficar ainda mais complicada
quando um colega, Christian (Kelvin Harrison Jr.), também cai de amores
pela bela e voluntariosa jovem. Bonito mas sem muito conteúdo
intelectual, Christian recorre a Cyrano para que este escreva versos
sentimentais que possam conquistá-la: a farsa dá certo, e Roxanne se
deixa seduzir, sem desconfiar que, na verdade, está encantada pela alma
de seu velho amigo. Tudo poderia seguir indefinidamente se não fosse um
outro problema no caminho do inusitado triângulo amoroso: o poder de um
outro apaixonado por Roxanne, que, rejeitado, resolve mandar Christian
(e Cyrano) para o campo de batalha.</p>Sem contar com um orçamento
milionário que poderia lhe colocar como um grande épico - em especial
nas cenas de batalha, cuja economia é muito bem disfarçada pelo talento
do cineasta em criar soluções visuais criativas -, "Cyrano" acabou por
passar quase despercebido pelo grande público, perdido entre as
produções com maior visibilidade e marketing. Joe Wright - um diretor
que entende como poucos as engrenagens do cinemão clássico - extrai o
máximo do que lhe é oferecido, brindando o espectador com um espetáculo
de extremo bom gosto, ainda que sem a opulência que se poderia esperar
de uma produção de época. Com um começo um tanto confuso - um problema
que se resolve muito a contento logo em seguida - e a sensação de
estranhamento em relação à inclusão de canções em um material tão
conhecido, o filme acaba por envolver principalmente pelo talento
inquestionável de seu elenco, pela inteligência em contornar o que
poderiam ser problemas e pela sensibilidade de uma história atemporal e
emocionante. E é impossível não se deixar conquistar pelo carisma de
Peter Dinklage, um Cyrano de Bergerac com todos os atributos para
ingressar no rol de seus mais clássicos intérpretes.<p> </p>Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-53100725614098952732023-01-19T19:49:00.005-03:002023-01-19T19:49:59.846-03:00O BOM PATRÃO<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8os8Hr_juzNmiocU7J4mLrxLehl1Uj9DoknbqwEXRPH_PD3CZI-MCsNwY8TZh2VGQmqzRnzgUzPtVFxBItKqsSW1vFutTB_9dGHzEsjYlMCwq6J0B3u_2Pu_s41U2j1HE5wYJ6F0WXe71cvV6JDPY82A36KvIN6ypCl4Ow_5CZtV_1uhB6eONl2q8/s1024/el-buen-patron-scaled-1.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="576" data-original-width="1024" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8os8Hr_juzNmiocU7J4mLrxLehl1Uj9DoknbqwEXRPH_PD3CZI-MCsNwY8TZh2VGQmqzRnzgUzPtVFxBItKqsSW1vFutTB_9dGHzEsjYlMCwq6J0B3u_2Pu_s41U2j1HE5wYJ6F0WXe71cvV6JDPY82A36KvIN6ypCl4Ow_5CZtV_1uhB6eONl2q8/s320/el-buen-patron-scaled-1.jpeg" width="320" /></a></i></div><i><br />O
BOM PATRÃO (El buen patrón, 2021, Básculas Blanco/Crea SGR/ICAA,
116min) Direção e roteiro: Fernando León de Aranoa. Fotografia: Pau
Esteve Birba. Montagem: Vanessa Marimbert. Música: Zeltia Montes.
Figurino: Fernando García. Direção de arte/cenários: César Macarrón.
Produção executiva: Pilar de Heras, Marisa Fernández Armenteros, Laura
Fernández Espeso, Eva Garrido, Patricia de Muns. Produção: Fernando León
de Aranoa, Javer Méndez, Jaume Roures. Elenco: Javier Bardem, Manolo
Solo, Almudena Amor, Óscar de La Fuente, Sonia Almarcha, Fernando
Albizu, Tarik Rimli. Estreia: 21/9/2021</i><p></p><p>A Balanças Blancos é
uma tradicional fábrica, com décadas de história e a reputação de ser
um dos ambientes de trabalho mais generosos do país. Seu presidente,
Blanco (Javier Barden), inclusive, insiste em declarar que seus
funcionários são como membros da família e que são eles os maiores
responsáveis por seus sucesso e perenidade. Às vésperas da visita de uma
comissão que poderá escolher a empresa para receber um diploma de
excelência, porém, a aparência de exemplar tranquilidade do local começa
a ruir. Em pouco mais de uma semana, caberá a Blanco lidar com uma
série de problemas de ordem pessoal e profissional que põem em xeque sua
capacidade de liderar não apenas seus empregados, mas principalmente
suas relações familiares e de amizade. E tudo começa com dois
acontecimentos aparentemente sem conexão: a tentativa de ajudar o filho
delinquente de um antigo operário ao dar-lhe um emprego na loja da
mulher e a demissão de outro empregado, que, revoltado, inicia uma
manifestação na frente do prédio da empresa, acompanhado dos filhos
pequenos e chamando cada vez mais a atenção da mídia.</p><p>Recordista
histórico em indicações ao Goya - o Oscar espanhol -, com vinte
indicações, "O bom patrão" levou seis estatuetas, incluindo melhor
filme, direção, ator e roteiro original. Não chega a ser surpresa,
quando se assiste à produção de Fernando León de Aranoa: um equilíbrio
perfeito entre comédia e drama - com pitadas de suspense e uma dose
generosa de crítica social -, o filme apresenta um protagonista falível e
humanamente verossímil que ganha o público justamente por seus erros.
Lógico que o carisma e o talento de Javier Bardem ajudam muito nesse
quesito, mas o roteiro delicioso é tão repleto de camadas, de detalhes e
de ironias que é difícil não se deixar envolver sem muito esforço.
Contada em capítulos - cada um dedicado a um dia da atribulada semana de
Blanco -, a trama de Aranoa vai se tornando, aos poucos, um acúmulo de
situações problemáticas que apenas empurram a plateia em direção à
empatia quase absoluta pelo personagem central, mesmo sendo ele
desprovido de muitos escrúpulos. O que começa com um certo humor sombrio
vai gradualmente assumindo contornos trágicos - e a direção firme do
cineasta dribla magistralmente as armadilhas que surgem a cada cena,
além de distanciar-se do tom de deboche explícito que a trama poderia
assumir e aproximá-la de uma fábula repleta de cinismo sobre o mundo
capitalista e a hipocrisia da sociedade como um todo.</p><p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg20G-btwOftIwsUZFtg9Mzku6LnVdD4zfPR2AKXrird4lpKjHz-3JS6KGgUNyqGQfqyj-vlfMXY6LZYiAmxsExPjNHBM6QW-YvZj4ciWJ4PJ7DqzRp4yhj0d-B6RDSjn3TB5IcYuD8E1OetGR-xrw5gP8Yp00zIru-8b_0TMOTYm8tkxmjvOYSwAGI/s728/obompatrao4.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="410" data-original-width="728" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg20G-btwOftIwsUZFtg9Mzku6LnVdD4zfPR2AKXrird4lpKjHz-3JS6KGgUNyqGQfqyj-vlfMXY6LZYiAmxsExPjNHBM6QW-YvZj4ciWJ4PJ7DqzRp4yhj0d-B6RDSjn3TB5IcYuD8E1OetGR-xrw5gP8Yp00zIru-8b_0TMOTYm8tkxmjvOYSwAGI/s320/obompatrao4.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p>Se
não, vejamos: incomodado com a presença incômoda do ex-funcionário -
que acampa, junto com os filhos, diante da fábrica, munido de um
megafone e de uma vontade férrea de chamar toda a atenção possível da
mídia -, Blanco faz o possível e o impossível para removê-lo da vista da
comissão governamental, que pode aparecer a qualquer dia para
inspecionar a empresa e confirmar seu status de exemplar. Para isso, não
hesita em apelar para a lei - e até para meios heterodoxos e violentos a
ponto de piorar ainda mais a situação. Não bastasse isso, o empresário
precisa lidar com a queda de rendimento de seu braço direito, Miralles
(Manolo Solo), que está deixando a crise em seu casamento atrapalhar a
vida profissional - e é evidente que Blanco irá se intrometer nas
relações extraconjugais do casal para tentar resolver as contendas,
mesmo que para isso tenha que envolver outras pessoas na questão. Por
fim, o incansável patrão se deixa seduzir pela nova estagiária, a jovem
Liliana (Almudena Amor), apenas para descobrir que tal romance casual
pode ter desdobramentos inusitados - e quase cruéis.</p>Dominado por
um espetacular Javier Bardem - que apesar disso deixa espaço de sobra
para interpretações superlativas de todo o elenco, mesmo aqueles em
participações pequenas -, "O bom patrão" é uma amostra de que o cinema
espanhol sobrevive muito bem mesmo sem a sombra de Pedro Almodóvar, seu
maior representante junto ao público médio. Fernando León de Aranoa é um
cineasta que conduz sua história com um visual sóbrio, um humor quase
sofisticado e sutileza, deixando entrever nas entrelinhas uma crítica
contundente ao sistema de classes e ao jogo social da burguesia - no
discurso de Blanco, todos formam uma mesma família, mas na prática,
conforme os interesses vão se revelando, as regras mudam e deixam notar
um tecido que está esperando o primeiro puxão para romper completamente.
Blanco tenta demonstrar, por todo o filme, uma falsa sensação de
controle, mas não é preciso muito para que sua aflição transpire por uma
série de atos desesperados que, ao invés de ajudar, apenas pioram o
quadro. Os risos que "O bom patrão" desperta são nervosos, quase cínicos
- e é isso que faz dele uma joia rara, um filme que, de modo
inteligente, une o riso e a reflexão como forma de entretenimento da
mais alta qualidade.Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-11363452879163471262023-01-18T19:24:00.001-03:002023-01-18T19:24:17.037-03:00ARGENTINA, 1985<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvsL-YDJJltLxD53NzZUuE56b5IfBwn9PXPkc7Rd57Ap9zBA7Y6gwWIYQnT_gxotuo0O2QIehkw9tue6j-MxIkieY7KBoX-NctZP3RSsnwWnXDUYpLRnWxCb3xbfY45Kwgui0zX8HYZn0hvfAoWJUzNKNknpD3ri46mkRkeqMzKXuYCXQQ3s1Y-gww/s1200/ca-times.brightspotcdn.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="630" data-original-width="1200" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvsL-YDJJltLxD53NzZUuE56b5IfBwn9PXPkc7Rd57Ap9zBA7Y6gwWIYQnT_gxotuo0O2QIehkw9tue6j-MxIkieY7KBoX-NctZP3RSsnwWnXDUYpLRnWxCb3xbfY45Kwgui0zX8HYZn0hvfAoWJUzNKNknpD3ri46mkRkeqMzKXuYCXQQ3s1Y-gww/s320/ca-times.brightspotcdn.jpg" width="320" /></a></i></div><p><i><br />ARGENTINA,
1985 (Argentina, 1985, 2022, La Unión de los Ríos/Kenya Films/Infinity
Hills, 140min) Direção: Santiago Mitre. Roteiro: Santiago Mitre, Mariano
Llinás, Martín Mauregui (colaborador). Fotografia: Javier Julia.
Montagem: Andrés Pepe Estrada. Música: Pedro Osuna. Figurino: Mônica
Toschi. Direção de arte/cenários: Micaela Saiegh. Produção executiva:
Phin Glynn, Cindy Teperman. Produção: Victoria Alonso, Santiago
Carabante, Chino Darín, Ricardo Darín, Axel Kuschevatzky, Agustina
Llambi Campbell, Santiago Mitre, Federico Posternak, Ana Taleb. Elenco:
Ricardo Darín, Peter Lanzani, Alejandra Fletchner, Paula Ransenberg.
Estreia: 03/9/2021 (Festival de Veneza)</i></p><p><b>Vencedor do Golden Globe de Melhor Filme Internacional</b><i> <br /></i></p><p></p><p>As cicatrizes que a
ditadura militar deixou na sociedade argentina ainda se fazem sentir no
país, mesmo depois de quatro décadas após seu final. Pelo menos é que
dizem filmes como "A história oficial" (1985), de Luis Puenzo - que
concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro - e o novo "Argentina,
1985", o fascinante petardo do diretor Santiago Mitre que surge como um
potencial candidato ao Oscar 2023 na mesma categoria. Porém, enquanto a
obra-prima de Puenzo direcionava suas câmeras a um olhar mais particular
sobre o trágico período político encerrado em 1983 (com a história de
uma professora descobrindo as origens de sua pequena filha adotiva), a
produção de Mitre se debruça explicitamente sobre os crimes cometidos
pelos militares - estupros, assassinatos, torturas - para fazer uma
espécie de inventário de suas atrocidades e, por consequência, alertar
sobre os perigos de que voltem a acontecer. Momentoso, sóbrio e
inteligente, o filme, estrelado pelo sempre ótimo Ricardo Darín, surge
na hora apropriada, mas seu sucesso não deve ser creditado somente à sua
importância política: "Argentina, 1985" é cinema de primeira linha, um
filmaço que consegue unir, em duas horas e meia de projeção,
entretenimento e relevância histórica.</p><p>O filme de Mitre elege como
protagonista o promotor público Julio Strassera (Ricardo Darín),
escalado para ser o responsável pelo julgamento dos militares de alta
patente acusados da violenta repressão contra os críticos ao governo
ditatorial que dominou o país entre 1963 e 1983. Contando com o apoio do
jovem advogado Luis Moreno Ocampo (Juan Pedro Lanzani) - que entra em
rota de colisão com a família, formada por apoiadores do regime - e um
grupo de estagiários cuja vontade de ganhar a causa é inversamente
proporcional a sua pouca idade, Strassera aceita a missão contra a
vontade, ciente das consequências de um julgamento tão polêmico. Porém,
conforme as sessões avançam e as ameaças contra ele, sua mulher e seus
filhos aumentam, ele vê aumentar cada vez mais sua sede de justiça -
especialmente diante de depoimentos contundentes das vítimas, que
estabelecem um grau de crueldade e violência impossíveis de ignorar.
Strassera sabe que a condenação dos réus é a única forma de evitar que
tal atrocidade venha a repetir-se.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWoMlQKb4rtCyvae8gJv_L3i2OAxVvxZl8rZHyfaW89EO954FPh_Tzm_nJGizOEB5LvWF7lyw9HjoMVYSS-OZtQGt1P4_UATcmfDt42JSUB4Wjb5r4cgWAMhPb_ay_sUvF5Txos-QOvmSh4oNZey0VXFvHY4y8lelgpT5YK0iybVZMeGBwg8kwjzwz/s592/Argentina-1985.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="377" data-original-width="592" height="204" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWoMlQKb4rtCyvae8gJv_L3i2OAxVvxZl8rZHyfaW89EO954FPh_Tzm_nJGizOEB5LvWF7lyw9HjoMVYSS-OZtQGt1P4_UATcmfDt42JSUB4Wjb5r4cgWAMhPb_ay_sUvF5Txos-QOvmSh4oNZey0VXFvHY4y8lelgpT5YK0iybVZMeGBwg8kwjzwz/s320/Argentina-1985.jpeg" width="320" /></a></div> <p></p><p>Fugindo
do tom semi-documental que fatalmente acomete produções de teor
político, "Argentina, 1985" não abre mão, no entanto, de deixar bem
clara as suas intenções de desenterrar o passado sombrio do país. O
roteiro, perfeitamente equilibrado entre dramas pessoais e questões
jurídicas que jamais descambam para a verborragia técnica que poderia
afastar o espectador, não hesita em explicitar, através de testemunhas e
documentos, toda a fúria sanguinária de homens que tentavam, através da
força física e psicológica, destruir seus inimigos políticos da forma
mais vil. São momentos como esses, em que vítimas narram suas dores, que
fazem do filme de Santiago Mitre um petardo histórico e emocional, em
contraponto à frieza de todas as sequências em que são discutidos
detalhes de bastidores. Em especial no terço final da produção, o
cineasta parece abraçar definitivamente o desejo de comover a plateia,
encaminhando-a para um clímax arrepiante e, melhor ainda, perfeitamente
acurado e fiel aos fatos.</p>É admirável que o roteiro de "Argentina,
1985" - escrito por Mitre e Mariano Llinás - consiga a façanha de ser,
ao mesmo tempo, informativo e dramaticamente consistente. Apesar de
dedicar boa parte de sua narrativa a um estudo fidedigno dos processos
jurídicos retratados e dos documentos oficiais, a trama encontra espaço
suficiente para humanizar seus protagonistas e aproximá-los do
espectador mais comum. Enquanto Strassera precisa lidar com as ameaças
que sofre para abandonar o julgamento - em sequências tensas e editadas
com precisão -, Ocampo sente na pele as consequências de enfrentar um
sistema de violência ao tornar-se um pária dentro da própria família.
Para isso, o diretor recebe o auxílio impecável de um elenco exemplar,
liderado por Ricardo Darín, mais uma vez brilhante: um dos produtores do
filme (ao lado do filho, o também ator Chino Darín), o astro mais
popular do cinema argentino faz mais um gol de placa - e com o Golden Globe em mãos, corre o
delicioso risco de voltar à cerimônia da Academia, que em 2010 premiou o
hoje quase clássico "O segredo dos seus olhos". Forte e tocante,
"Argentina, 1985" é nada menos que obrigatório.Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-12688445602136178662023-01-17T21:05:00.001-03:002023-01-17T21:05:13.411-03:00BAR DOCE LAR<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcPxeUhYEzv0_VhDQkiguDSWmTGponQ7iCnfRORML_N7B2sKt-ILlFATnL9gSUihFoAXWSHP6hhejE6ebCmz0XwM2ZZYdYm2K9ZMr-FMmAYxuxAtbsQnaNVcYyX-4LEkQFJlU8P-liRJG6saQMktf1ijHnDK9z4aCbM6OIZlzqJCNfqfd8FqbM4kPs/s1000/TheTenderBar_1.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="563" data-original-width="1000" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcPxeUhYEzv0_VhDQkiguDSWmTGponQ7iCnfRORML_N7B2sKt-ILlFATnL9gSUihFoAXWSHP6hhejE6ebCmz0XwM2ZZYdYm2K9ZMr-FMmAYxuxAtbsQnaNVcYyX-4LEkQFJlU8P-liRJG6saQMktf1ijHnDK9z4aCbM6OIZlzqJCNfqfd8FqbM4kPs/s320/TheTenderBar_1.jpeg" width="320" /></a></i></div><p><i><br />BAR
DOCE LAR (The tender bar, 2021, Amazon Studios, 106min) Direção: George
Clooney. Roteiro: William Monahan, livro de J.R. Moehringer.
Fotografia: Martin Ruhe. Montagem: Tanya M. Swerling. Música: Dara
Taylor. Figurino: Jenny Eagan. Direção de arte/cenários: Kalina
Ivanov/Melissa M. Levander. Produção executiva: Barbara A. Hall, Ibrahim
Hamdan, J. R. Moehringer. Produção: George Clooney, Grant Heslov, Ted
Hope. Elenco: Tye Sheridan, Ben Affleck, Lily Rabe, Christopher Lloyd,
Daniel Ranieri, Briana Middleton. Estreia: 10/10/2021 (BFI London
Festival)</i></p><p>Não deixa de ser triste perceber que George Clooney,
anteriormente conhecido por escolher projetos de interesses político e
social para sua carreira como cineasta, tenha entrado em um período
pouco relevante. Filmes como "Confissões de uma mente perigosa" (2002),
"Boa noite, e boa sorte" (2005) e "Tudo pelo poder" (2011) parecem ter
ficado para trás, diante de produções esquecíveis ou simplesmente
medíocres, como "Caçadores de obras-primas" (2014) e "Suburbicon:
bem-vindos ao paraíso" (2017). Infelizmente seu projeto mais recente,
"Bar doce lar", volta a não entusiasmar, apesar de algumas qualidades
perceptíveis. Baseado em um livro de memórias de J.R. Moehringer, o
filme é apenas mais uma história pouco original de amadurecimento,
prejudicada por personagens pouco interessantes e por um roteiro
irritantemente convencional - uma surpresa quando se sabe que seu autor é
William Monahan, vencedor do Oscar por "Os infiltrados" (2006), uma
obra-prima de estrutura e concisão.</p><p>O filme de Clooney conta a
história de J.R., desde sua infância (quando é interpretado pelo
encantador Daniel Ranieri) até a juventude (quando passa a ser vivido
pelo promissor Tye Sheridan). Filho de uma batalhadora mãe solteira
(Lily Rabe) e um pai radialista que só dá as caras esporadicamente e não
faz a menor questão de um relacionamento mais profundo com ele, o
menino não demora a estabelecer um vínculo emocional com o tio, Charlie
(Ben Affleck), dono de um bar que assume, sem hesitar, a figura paterna
para o sobrinho. É com Charlie que o pequeno J.R. aprende valores, dicas
de sobrevivência emocional, macetes sociais e é a partir de suas
conversas que surge nele o amor pelos livros e o desejo de tornar-se
escritor. Sobrevivendo em meio a um quase caos - a casa do avô é
frequentemente povoada por inúmeros tios e primos barulhentos -, J.R.
cresce e, em busca de realizar seu sonho de escrever - e o de sua mãe,
de que ele faça uma faculdade -, descobre um mundo que nem sempre é
hospitaleiro e gentil. Apaixonado por uma colega, Sidney (Briana
Middleton), ele entra também no mundo dos amores complicados.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcWyUZGPWlfy4XzJR2tJeOLKpd1GeZQTkrig-Cb9LleDzit8DlitlisZ6FYDn6L1RP_BRs6jAx03wS8Pusl_K0istIuw3fUAyOq2AZmEzG5-q_0iVny6OQs-P9hbDSSfBofABErbbL1VyE4QZi2RU3CDX_zmC_Ic8q3saaO5uUYXKRcPuQPpw1tl4-/s800/the-tender-bar2_1217_t800.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcWyUZGPWlfy4XzJR2tJeOLKpd1GeZQTkrig-Cb9LleDzit8DlitlisZ6FYDn6L1RP_BRs6jAx03wS8Pusl_K0istIuw3fUAyOq2AZmEzG5-q_0iVny6OQs-P9hbDSSfBofABErbbL1VyE4QZi2RU3CDX_zmC_Ic8q3saaO5uUYXKRcPuQPpw1tl4-/s320/the-tender-bar2_1217_t800.jpg" width="320" /></a></div> <p></p><p>Sem
apresentar nada do que já tenha sido visto em vários outros filmes do
gênero, "Bar doce lar" peca por sua narrativa morna e sem grandes
momentos memoráveis. A cada cena um pouco mais interessante - o avô do
menino salvando a comemoração de Dia dos Pais na escola do neto, o
confronto de J.R. com os esnobes pais de Sidney, a melancólica espera do
menino por um pai que nunca chega para levá-lo a um jogo - segue-se
inúmeras outras repetitivas e que não despertam no espectador nada além
de uma sensação de dèjà-vu constante. Para isso contribui muito o fato
de que a história de Moheringer não é, a rigor, nem um pouco empolgante,
e seu personagem principal tampouco cativa por uma personalidade
marcante, apresentando, na maior parte do tempo, uma passividade que
torna quase impossível ao público importar-se de verdade com seu
destino. Nem mesmo o talento do jovem Tye Sheridan consegue dar
profundidade suficiente para disfarçar a fragilidade da estrutura do
roteiro de Monahan e a direção mecânica de Clooney. Quem de certa forma
se destaca é Ben Affleck, que mesmo sem apresentar nada de novo em sua
atuação, recebeu indicações ao Golden Globe e ao SAG Awards na categoria
de ator coadjuvante - apesar de ser o primeiro nome nos créditos.</p><p>Dizer
que "Bar doce lar" é um filme ruim é exagerar, já que tem uma produção
cuidadosa, uma trilha sonora deliciosa e um elenco que se esforça ao
máximo para extrair o melhor de cada momento. Porém, com o currículo
acumulado por George Clooney atrás das câmeras, era de se esperar algo
menos óbvio e tão pouco ambicioso. Falta de ambição nem sempre é defeito
- muitas vezes, inclusive, pode ser uma grande qualidade -, mas dessa
vez tal característica deixa no ar a sensação de oportunidade perdida: o
cineasta poderia ter assinado uma produção emocional e nostálgica mas
ficou muito aquém de suas expectativas. O resultado é uma produção
correta mas passa longe de atingir o mesmo nível dos melhores filmes do
diretor. Uma pena! <br /></p>Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-72264542833586869582023-01-16T19:51:00.000-03:002023-01-16T19:51:31.540-03:00PEARL<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGTUv_dbJOK67hml3X0Os93NzER-lI11rajGgHvr1d5vLj8SpLb11GOgMSP8r53NSXlbuJwO2QhRF02XQznzIAckY-sRalveZglMyUKUi2oHfg3F3RMxJD3GDuMheFVC-6pIUQE--Tz37faJuFPIjimeMpoIOq-d5YZrJwjLx9_eQT4Q4ggGbYT4DM/s1600/l-intro-1663335497.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="899" data-original-width="1600" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGTUv_dbJOK67hml3X0Os93NzER-lI11rajGgHvr1d5vLj8SpLb11GOgMSP8r53NSXlbuJwO2QhRF02XQznzIAckY-sRalveZglMyUKUi2oHfg3F3RMxJD3GDuMheFVC-6pIUQE--Tz37faJuFPIjimeMpoIOq-d5YZrJwjLx9_eQT4Q4ggGbYT4DM/s320/l-intro-1663335497.jpg" width="320" /></a></i></div><p><i>PEARL
(Pearl, 2022, A24, 103min) Direção: Ti West. Roteiro: Ti West, Mia
Goth, personagens criados por Ti West. Fotografia: Elliot Rockett.
Montagem: Ti West. Música: Tyler Bates, Tim Williams. Figurino: Malgosia
Turzanska. Direção de arte/cenários: Tom Hammock/Thomas Salpietro.
Produção executiva: Kim Cudi, Dennis Cummings, Mia Goth, Ashley
Levinson, Sam Levinson, Karina Manashil, Peter Phok. Produção: Jacob
Jaffke, Kevin Turen, Ti West. Elenco: Mia Goth, David Corenswet, Tandi
Wright, Matthew Sutherland, Emma Jenkins-Purro, Alistair Sewell.
Estreia: 03/9/2022 (Festival de Veneza)</i></p><p>Não é nenhuma novidade
o fato de filmes de sucesso darem origem a continuações - mesmo quando a
fonte aparentemente secou. O caso de "Pearl" é diferente. Não apenas é
uma prequel - tendência que vem se firmando há alguns anos como forma de
expandir o universo de deterrminadas produções -, mas é, também, uma
prequel realizada concomitantemente com seu filme original - o terror
"X: A marca da morte" - e uma aposta arriscada da produtora A24, que deu
sinal verde ao projeto antes mesmo de saber do resultado comercial e
crítico do primeiro filme. Filmado em segredo enquanto o diretor Ti West
também conduzia "X" (com a mesma atriz, Mia Goth, em papel duplo),
"Pearl" foi lançado seis meses depois da estreia de seu original e, para
surpresa de todos, agradou ainda mais ao evitar o rótulo de <i>slasher </i>e,
aprofundando a personalidade doentia de sua protagonista, atingir bons
momentos de um suspense psicológico, valorizado pela presença da
excepcional Goth , que não apenas coassinou o roteiro com West mas
também descolou um crédito como produtora executiva. Neta da atriz
brasileira Maria Gladys, Goth é uma revelação, que faz do filme uma
gratíssima surpresa no gênero justamente no momento em que ele começa a
se reinventar - em boa parte graças a produções da mesma A24.</p><p>Se
"X já demonstrava acima de qualquer dúvida o talento de Ti West em
manipular as regras dos filmes de terror a seu favor - enfatizando suas
qualidades e disfarçando seus pecados com um visual atraente e
referências que soam orgânicas e não apenas exibicionismo barato -,
"Pearl" consegue ir ainda mais longe, ao oferecer requintes de produção
surpreendentes em relação ao orçamento e um roteiro que dribla os
clichês, fundamenta boa parte dos acontecimentos do primeiro filme (que
ocorre décadas mais tarde) e ainda por cima homenageia o cinema em si.
Com citações (óbvias ou nem tanto) a produções como "O que terá
acontecido a Baby Jane?" (1962), "O mágico de Oz" (1939), musicais
clássicos e até ao quase obscuro "A free ride" (1915) - considerado uma
das primeiras produções pornográficas da história e cuja autoria ainda
causa polêmicas -, West constrói, de maneira gradual e inteligente, uma
das personalidades mais sombrias dos últimos anos, a da aparentemente
doce Pearl - que, por trás da aparência dócil e submissa, esconde um
monstro prestes a destroçar qualquer vestígio de civilidade.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqpB02JuSeBGUpFe2a-mbsoFkdYFzhnQR37EY8TH60tBoRqLdT0uJtcfQZyNewFK1ZQkDK82C3404NDRgd_iaQCezgQVaGWsi49kNaL_IpWZ3_f_3BPAmC4E_t2vvv67CxBLJhLhPGk5whw0KHkwQCn4EQ2oe9SsUIMBWjDnfoqG0Q3UubjfazsB6x/s740/pearl_tr1.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="380" data-original-width="740" height="164" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqpB02JuSeBGUpFe2a-mbsoFkdYFzhnQR37EY8TH60tBoRqLdT0uJtcfQZyNewFK1ZQkDK82C3404NDRgd_iaQCezgQVaGWsi49kNaL_IpWZ3_f_3BPAmC4E_t2vvv67CxBLJhLhPGk5whw0KHkwQCn4EQ2oe9SsUIMBWjDnfoqG0Q3UubjfazsB6x/s320/pearl_tr1.jpeg" width="320" /></a></div><br /> <p></p><p>A
trama se passa em 1918, em uma fazenda no interior do Texas - a mesma
fazenda que irá servir de cenário para os atores que a alugam em "X": é
nessa fazenda, afastada da civilização, que mora a jovem Pearl (Mia
Goth) e seus pais, imigrantes alemães com quem mantém uma relação
conturbada. Seu pai vive em uma cadeira de rodas e sua mãe, rígida e
pouco afeita a carinhos, tampouco lhe oferece qualquer tipo de apoio
emocional. Casada com Howard, um soldado que está no front da I Guerra,
Pearl esconde da família o seu sonho de tornar-se uma estrela de cinema -
desejo que se torna ainda maior quando ela conhece o jovem
projecionista do cinema local, que a apresenta ainda a filmes eróticos e
à possibilidade de tentar uma carreira na Europa. O renascimento de tal
sonho, no entanto, acaba se tornado um problema quando Pearl esbarra em
sua triste realidade doméstica. Sua solução para isso acaba por levá-la
a atos de violência, que fogem totalmente de controle quando ela
percebe que talvez não tenha talento suficiente para fugir de sua
massacrante rotina familiar.</p>Sem abrir mão da violência que se
poderia esperar de um filme do gênero, Ti West fez de "Pearl" uma joia
rara dentro do universo do cinema de terror. Suas inovações não se
limitam apenas à concepção visual - cores fortes, reconstituição de
época cuidadosa -, mas principalmente a sua opção em fazer de sua
protagonista não apenas uma potencial assassina, mas uma mulher
mentalmente torturada por sonhos impossíveis, uma rotina massacrante e,
logicamente, distúrbios psicológicos à espera de uma catarse. Nesse
ponto é a atuação avassaladora de Mia Goth o grande trunfo do filme: com
expressões faciais marcantes - que poderiam facilmente descambar para a
caricatura, em mãos menos competentes - e uma construção fascinante de
corpo, Goth simplesmente engole tudo a seu redor e é responsável por
fazer com que "Pearl" escape facilmente das limitações de seu gênero e
se inscreva como um dos grandes pequenos filmes dos últimos anos.
Fazendo jus a seu título, "Pearl" é, sem favor, uma pérola a ser
apreciada por qualquer fã de bom cinema.Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-62657970318439489002023-01-13T20:29:00.001-03:002023-01-13T20:29:36.122-03:00INGRESSO PARA O PARAÍSO<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglbqSvWz7ME1IaVNeAIxwo_V0Qb9AI4emL7CTFLEK1VgiYhOue_KC8Osa3IYG_rsi0gzfQEYIjBQ4_o4TYJOhyGVJC-IpfagEjXXh515SqA7aSPVWuNk8teRW573BEk2H020DTtjRPhYjYNWBJX6I5Dg3XE3GtO9NID4XrHzI3bUxAN4WblXgCRKmQ/s740/tickettoparadise.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="380" data-original-width="740" height="164" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglbqSvWz7ME1IaVNeAIxwo_V0Qb9AI4emL7CTFLEK1VgiYhOue_KC8Osa3IYG_rsi0gzfQEYIjBQ4_o4TYJOhyGVJC-IpfagEjXXh515SqA7aSPVWuNk8teRW573BEk2H020DTtjRPhYjYNWBJX6I5Dg3XE3GtO9NID4XrHzI3bUxAN4WblXgCRKmQ/s320/tickettoparadise.jpeg" width="320" /></a></i></div><i><br />INGRESSO
PARA O PARAÍSO (Ticket to paradise, 2022, Universal Pictures/Working
Title Films, 104min) Direção: Ol Parker. Roteiro: Ol Parker, Daniel
Pipski. Fotografia: Ole Bratt Birkeland. Montagem: Peter Lambert.
Música: Lorne Balfe. Figurino: Lizzy Gardiner. Direção de arte/cenários:
Owen Patterson/Nikki Barrett. Produção executiva: George Clooney,
Jennifer Cornwell, Marisa Yeres Gill, Lisa Gillan, Amelia Granger, Grant
Heslov, Rebecca Miller, Julia Roberts, Sarah-Jane Robinson, Nicholas
Simpson, Sam Thompson. Produção: Deborah Balderstone, Tim Bevan, Eric
Fellner, Sarah Harvey. Elenco: George Clooney, Julia Roberts, Kaitlyn
Dever, Billie Lourd, Maxime Bouttier. Estreia: 08/9/2022</i><p></p><p>Poucas
pessoas no mundo perderiam a chance de viajar a uma praia paradisíaca
em companhia de um dos melhores amigos e ainda ganhar uma fortuna para
isso. E dentre essas pessoas não se incluem Julia Roberts e George
Clooney: dois dos maiores astros de Hollywood, ricos, bonitos, famosos e
bem-sucedidos (além de amigos e parceiros profissionais), eles voltam a
se encontrar na frente das câmeras (e atrás também, já que assinam como
produtores executivos) na comédia romântica "Ingresso para o paraíso"
uma bobagem simpática e fotogênica que pouco faz por suas carreiras.
Longe de ser um desastre completo mas tampouco memorável, o filme de Ol
Parker - cujo currículo ainda pequeno inclui "Mamma Mia! Lá vamos nós de
novo" (2018) e outras produções menores - usa e abusa do carisma de
seus protagonistas e das belas paisagens naturais da Austrália (posando
de Bali) para contar uma história sem maiores novidades, mas que pode
agradar aos menos exigentes e os cinéfilos que nao vivem sem um romance
fictício.</p><p>Previsível sucesso de bilheteria - mais de 160 milhões
de dólares arrecadados no mercado internacional -, "Ingresso para o
paraíso" foi disputado por várias plataformas de streaming ainda em sua
fase de pré-produção: entusiasmadas com a reunião de Roberts e Clooney,
todas elas desejavam a chance de adicionar mais um êxito em seu
catálogo, mas, acertadamente, a Working Title Films preferiu um
lançamento em salas de exibição, tentando uma retomada pós-Covid-19, e a
distribuição nos cinemas ficou a cargo da Universal Pictures. Deu
certo: atingindo em cheio seu público-alvo, o filme não decepcionou em
termos comerciais, ainda que não tenha feito o barulho esperado junto às
demais plateias. Justificável. Apesar de seus protagonistas exalarem o
charme que lhes é característico e de uma ou outra boa piada, o trabalho
de Parker soa como mais do mesmo - mas, no final das contas, isso não
chega a ser novidade quando se trata de comédias românticas, que parece
ter, entre suas regras de ouro, nunca mexer em time que está ganhando.
Em outras palavras, "Ingresso para o paraíso" é um filme ideal para quem
procura uma produção da qual se é possível adivinhar o final desde a
primeira cena - ou até mesmo desde o cartaz.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi71dsSH06xY5V-REykcLoKK2QxTWFdW3JGCJkVbpFUTrUzy-nzNMyw1gQ_MQ6NBkRlsgpIE8vg4nPCMfRzbVbTi7UwzIRltrex1siU965CaEoxmMv6FiZ_J1XDIL9w9vhr5yMXe4dfPqWIpaL8ePWqES9TT70anWfqPl7VyzGBieudeeXCEMw7DaN4/s1210/ticket-to-paradise--1210x642.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="642" data-original-width="1210" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi71dsSH06xY5V-REykcLoKK2QxTWFdW3JGCJkVbpFUTrUzy-nzNMyw1gQ_MQ6NBkRlsgpIE8vg4nPCMfRzbVbTi7UwzIRltrex1siU965CaEoxmMv6FiZ_J1XDIL9w9vhr5yMXe4dfPqWIpaL8ePWqES9TT70anWfqPl7VyzGBieudeeXCEMw7DaN4/s320/ticket-to-paradise--1210x642.jpeg" width="320" /></a></div> <p></p><p>Casados
graças aos arroubos da juventude, David (George Clooney) e Georgia
Cotton (Julia Roberts) ficaram juntos apenas cinco anos, tempo
suficiente para descobrirem uma imensa incompatibilidade de gênios e
porem no mundo uma única filha, Lily (Kaitlyn Denver). Adulta, Lily é a
responsável por reunir seus pais em ocasiões especiais, como sua
formatura - e por impedir que a animosidade do ex-casal atrapalhe
qualquer evento em que se encontrem juntos. Depois de um período de
férias antes de iniciar uma carreira de advogada, porém, Lily surpreende
os pais ao anunciar que está perdidamente apaixonada e irá se casar. Se
a notícia já seria um choque normalmente, os detalhes são ainda mais
perturbadores: sua jovem e bela filha irá abandonar tudo para ficar em
Bali com o marido nativo, Gede (Maxime Bouttier). Temerosos que a filha
repita o maior erro de suas vidas, os ex-casados deixam de lado suas
diferenças e partem para a Indonésia com o objetivo de impedir o
casamento - mas a magia da beleza local resolve agir e fazê-los rever
seus sentimentos.</p><p>Avesso a comédias românticas desde que fez "Um
dia especial" (1996) - ao lado de Michelle Pfeiffer -, George Clooney
voltou ao gênero com a certeza de que seu carisma (somado ao sorriso
radiante de Julia Roberts) seria o suficiente para garantir um belo
retorno. Acertou em termos. "Ingresso para o paraíso" insiste em piadas
sobre diferenças culturais, desencontros amorosos, diálogos sarcásticos e
um visual de tirar o fôlego, como forma de disfarçar a fragilidade de
seu roteiro. Algumas vezes tais artifícios funcionam, principalmente
pelo talento dos dois astros, mas frequentemente fica a impressão de que
o elenco se divertiu mais fazendo o filme do que a plateia quando o
assiste. Talvez um pouco longo demais - uma edição mais enxuta
provavelmente deixaria o ritmo menos truncado e a trama menos repetitiva
-, o filme de Ol Parker segura bem uma sessão da tarde em um dia
chuvoso, mas dificilmente será lembrado como um destaque na carreira de
seus atores - ambos em momentos da carreira em que não precisam mais
provar nada a ninguém. Divertido mas sem o brilhantismo das melhores
comédias do gênero, "Ingresso para o paraíso" é um filme para fãs e
ocasionais cinéfilos românticos.<br /></p><i></i>Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3031985709503229862.post-59823583318222905242023-01-12T20:45:00.001-03:002023-01-12T20:45:16.456-03:00MEU FILHO<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCifHxyzHd8zpNVo4I47qyn3gHabNvqCJSjSzUmtndfj9TvCZndQzOq8kUDCrMZIZr7Z10NI3oXSSZgCqh3LcYvPMSobEpK3N0ofA5hFv9TV5eALJnpPQnF8SdVtKMJRyX82nE1GI4APmaKNz1VyfpP1ugF6nwLecSo-5OhUl6dVdSVbf_rYuoDjSj/s700/my-son-movie-poster-01-700x400-1.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="700" height="183" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCifHxyzHd8zpNVo4I47qyn3gHabNvqCJSjSzUmtndfj9TvCZndQzOq8kUDCrMZIZr7Z10NI3oXSSZgCqh3LcYvPMSobEpK3N0ofA5hFv9TV5eALJnpPQnF8SdVtKMJRyX82nE1GI4APmaKNz1VyfpP1ugF6nwLecSo-5OhUl6dVdSVbf_rYuoDjSj/s320/my-son-movie-poster-01-700x400-1.jpg" width="320" /></a></i></div><i><br />MEU
FILHO (My son, 2021, Une Hirondelle Productions/Wild Bunch
International/Sixteen Films, 95min) Direção: Christian Carion. Roteiro:
Christian Carion, Laure Irrmann. Fotografia: Eric Dumont. Montagem: Loic
Lallemand. Música: Laurent Perez Del Mar. Figurino: Carole Miller.
Produção executiva: Adam Fogelson, John Friedberg, Robert Simonds,
Kimberly Fox. Produção: Marc Butan, Christian Carion, Brahim Chioua,
Noémie Devide, Marc Gabizon, Laure Irrmann, Vicent Maraval, Rebecca
O'Brien. Elenco: James McAvoy, Claire Foy, Tom Cullen, Gary Lewis.
Estreia: 15/9/2021 (Internet)</i><p></p><p>Em 2017, o cineasta Christian
Carion surpreendeu o público francês com "Meu filho", uma produção que,
apesar da sinopse não exatamente original, fugia da narrativa
tradicional ao negar a seu ator principal, Guillaume Canet, o roteiro
que conduzia a trama. As reações de Canet ao que era proposto pelos
colegas de cena é que levavam a história adiante - e transmitiam a
sensação de desorientação necessária à construção do suspense. Quatro
anos mais tarde, ciente das limitações que um filme não falado em inglês
encontra no mercado internacional, Carion envolveu-se pessoalmente no
remake de sua obra - com um ator britânico (James McAvoy) e uma mudança
de cenário (da França para as montanhas escocesas) - e, com o máximo de
fidelidade possível, fez de sua refilmagem um produto que, se não chega a
revolucionar o gênero, ao menos envolve o espectador em um espiral de
intrigas e mistérios que vai se desenrolando aos poucos até o final que
infelizmente não consegue escapar do clichê.</p><p>A trama já começa com
a chegada de Edmond Murray (James McAvoy) às buscas de seu filho de
sete anos, desaparecido de um acampamento nas montanhas escocesas.
Chamado pela ex-mulher, Joan (Claire Foy) - de quem está separado há
alguns anos e que já está em uma nova relação -, Edmond não consegue
deixar de sentir-se culpado pelo fato de ser um pai ausente, em
constantes viagens a trabalho, inclusive por países em situações de
conflito. Questionado pela polícia, que suspeita de um sequestro com
vítima escolhida a dedo, Edmond não se conforma em apenas fazer parte
das equipes que procuram o menino pelas matas. Assumindo uma
investigação própria e com métodos não ortodoxos, ele se depara com
pistas falsas, suspeitos bastante dúbios e até com a possibilidade de
ter responsabilidade indireta com o desaparecimento. A cada passo que dá
adiante, porém, o tempo vai se esgotando - e o final de sua procura vai
ficando com chances cada vez maiores de não ser bem-sucedida. </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNPipRD-aQqAfrwfmLa44Um3yHhRPazVbN7986CiVO1DCMtfEXeUHiZkHy33kesoqd_cClO5JJ6gv-raVJy5yvjeFW54-SYqQ7QU9zdTTSrUaJ7DPHFquudQ18tGJOL6iQjikeh1kp-m_YXPiSBEwUuZo1naxh8rGsxZNWNRF9ajGGChJlHDaiYYrJ/s1280/tumblr_f19bbf843014d69a993637c6ef18d274_5507cd6c_1280.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="545" data-original-width="1280" height="136" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNPipRD-aQqAfrwfmLa44Um3yHhRPazVbN7986CiVO1DCMtfEXeUHiZkHy33kesoqd_cClO5JJ6gv-raVJy5yvjeFW54-SYqQ7QU9zdTTSrUaJ7DPHFquudQ18tGJOL6iQjikeh1kp-m_YXPiSBEwUuZo1naxh8rGsxZNWNRF9ajGGChJlHDaiYYrJ/s320/tumblr_f19bbf843014d69a993637c6ef18d274_5507cd6c_1280.png" width="320" /></a></div><p>Avassalador
no papel principal, James McAvoy demonstra, mais uma vez, sua
capacidade aparentemente infinita de se reinventar nas telas - vale
lembrar que o ator inglês já deu vida a um psicopata com problemas
mentais ("Fragmentado"), um soldado da I Guerra tentando retomar a vida
depois de uma acusação injusta de assédio ("Desejo e reparação"), um
inexperiente médico que se torna o homem de confiança do ditador Idi
Amin ("O último rei da Escócia") e o jovem Professor Xavier (na segunda
trilogia dos X-Men), apenas para citar alguns. É ele, com sua garra e
dedicação, que faz com que o filme de Carion saia da vala comum dos
filmes de ação para se tornar um passatempo bastante digno - ao menos em
seus dois primeiros terços. É nessa primeira parte que a ideia do
cineasta em esconder de seu ator central o roteiro faz toda a diferença:
conforme vai tomando conhecimento de fatos que cercam o possível crime,
Edmond vai sendo surpreendido com informações novas, que mudam o rumo
das investigações e de sua própria vida - e é o mesmo que acontece com
McAvoy, que vai descobrindo a trama através do que é lançado diante de
seus olhos. Da tristeza à preocupação, da raiva à coragem, do desespero à
desconfiança de todos a seu redor, o astro tira de letra todos os
desafios impostos pelo diretor e vai chegando, junto com o público, a um
desfecho que, esse sim, deixa no ar uma sensação de anti-clímax.</p>Depois
de dois terços de uma ação aflitiva e de uma tensão crescente, que vai
envolvendo o espectador de maneira gradual, "Meu filho" chega a seu
último ato caindo na armadilha fácil do exército de um homem só e
abandonando o tom de suspense psicológico que vinha adotando até então. A
resolução do mistério - preguiçosa e clichê - só serve para justificar
um embate entre Edmond e seus algozes, que, é preciso reconhecer,
fotografado com elegância e inteligência pelas câmeras de Eric Dumont,
que com uma textura quase palpável, enfatiza o tom sombrio e
claustrofóbico da trama e valoriza a construção metódica de uma história
desesperadora para qualquer pai. Mesmo não sendo um filme completamente
memorável - exceção feita ao trabalho de McAvoy, brilhante do início ao
fim -, "Meu filho" é o programa ideal para os fãs de suspense e ação.
Não muda a vida de ninguém, mas tampouco é uma perda total de tempo.Cleniohttp://www.blogger.com/profile/11321864249555869812noreply@blogger.com0