quinta-feira

MINORITY REPORT, A NOVA LEI

MINORITY REPORT, A NOVA LEI (Minority report, 2002, 20th Century Fox/Dreamworks SKG, 145min) Direção: Steven Spielberg. Roteiro: Scott Frank, Jon Cohen, conto de Philip K. Dick. Fotografia: Janusz Kaminski. Montagem: Michael Kahn. Música: John Williams. Figurino: Deborah L. Scott. Direção de arte/cenários: Alex McDowell/Anne Kuljian. Produção executiva: Gary Goldman, Ronald Shusett. Produção: Bonnie Curtis, Gerald R. Molen, Walter F. Parkes. Elenco: Tom Cruise, Colin Farrell, Max Von Sydow, Samantha Morton, Lois Smith, Tim Blake Nelson, Peter Stormare. Estreia: 17/6/02

Indicado ao Oscar de Edição de Som

É o ano de 2054, e o índice de criminalidade da cidade de Washington despencou vertiginosamente. O responsável por esse milagre é um projeto chamado "Pré-crime", que permite à força policial antecipar-se aos homicídios premeditados e evitar os crimes graças às premonições de três poderosos videntes, mantidos em constante cuidado pelo departamento de polícia. O chefe da equipe "Pré-crime" é o detetive John Anderton (Tom Cruise), um homem assombrado pelo desaparecimento do filho pequeno anos antes e que encontra no vício em drogas uma forma de escapar da depressão. Às vésperas de uma votação popular que irá consagrar definitivamente o projeto e torná-lo nacional, Anderton - um policial de extrema competência e ética - se vê envolvido em um apavorante pesadelo kafkiano: em menos de 36 horas ele será o responsável pelo assassinato de um homem cuja existência ele nem mesmo tem conhecimento. Desesperado para provar sua inocência (em um crime ainda não cometido), ele sequestra Agatha (Samantha Morton), a mais dotada das videntes e parte em busca da verdade. Atrás dele está principalmente Danny Witwer (Colin Farrell), que quer encontrar falhas no sistema.

Baseado em um conto do escritor Philip K. Dick - cuja mente fértil deu ao cinema as histórias de "Blade Runner" e "O vingador do futuro" - "Minority report, a nova lei" marca o reencontro de Steven Spielberg com a ficção científica, gênero do qual estava afastado desde seu megasucesso "ET", de 1982 - isso se "Jurassic Park" não for considerado como tal. Nos vinte anos que separam os dois filmes, a tecnologia do cinema alterou-se drasticamente - boa parte devido aos filmes do próprio cineasta - e Spielberg tornou-se um diretor respeitado, vencedor de 2 Oscar. Portanto, é lógico que exista uma diferença abissal entre a ingenuidade oitentista da clássica história da amizade entre o menino Elliot e seu extra-terrestre de estimação e a distópica visão de mundo do filme estrelado por Cruise. Realizado a um custo altíssimo - mais de cem milhões de dólares - "Minority report" é uma ficção científica noir, ao estilo de "Blade runner", mas sem espaço para a filosofia melancólica do filme de Ridley Scott.



Se dá para comparar "Minority report" com algum outro filme baseado em Dick, este é "O vingador do futuro", estrelado por Arnold Schwarzenegger em 1990, mas mesmo assim o trabalho de Spielberg ganha pontos em não se deixar contaminar pelo certo ar cafona da produção dirigida pelo holandês Paul Verhoeven. Seus efeitos especiais são mais discretos, dando espaço bem mais à história complexa (bastante modificada do conto original, diga-se de passagem) do que a mirabolantes pirotecnias visuais, que estão presentes mas em um nível muito mais sutil. A fotografia espetacular do premiado Janusz Kaminski é estourada, dando à imagem um aspecto feio e descuidado que combina à perfeição com o objetivo do cineasta de passar ao público uma sensação de angústia. E angústia é o que não falta: durante suas mais de duas horas e meia de duração, "Minority report" não dá tréguas ao espectador, levando-o como testemunha do calvário de seu protagonista em direção à verdade. O roteiro cria transplantes de olhos, aranhas que dão choque, propagandas personalizadas, caixas de cereais animadas e tudo que um escritor criativo pode imaginar, mas não se deixa nunca fugir do mais importante: a história empolgante e surpreendente.

Muito mais inteligente do que a maioria dos filmes de ação com pretensões comerciais que aportam nos cinemas americanos na temporada de verão - bem na época em que foi lançado - "Minority report" tem a seu favor também o carisma de Tom Cruise, ainda no auge de seu sucesso. Ainda que não explore como poderia as possibilidades dramáticas de sua complexa personagem, Cruise é competente o bastante para conquistar a simpatia do público, fator essencial para o êxito do filme, mesmo porque seu rival em cena é o irlandês Colin Farrel - que, em 2002 era considerado a grande promessa do início do século. É Cruise quem sustenta toda a mirabolante trama - que envolve até mesmo o veterano Max Von Sydow - e mantém a atenção da plateia suspensa até os minutos finais. O equilíbrio exato entre cenas da mais alta ação (inclusive com uma sequência que Hitchcock declarou certa vez que sonhava fazer, em uma fábrica de automóveis) com o misterioso homicídio a ser perpetrado por John Anderton é que faz com que o filme seja mais do que um simples entretenimento passageiro.

E seria injusto elogiar "Minority report" sem citar Samantha Morton. Na pele de Agatha, a talentosa vidente que desencadeia todo o drama (e cujo nome é uma homenagem à escritora Agatha Christie), a jovem atriz nem precisa falar muito para transmitir toda a vasta gama de emoções que permeia sua personalidade. Vinda de uma indicação ao Oscar de coadjuvante (pelo ótimo "Poucas e boas", de Woody Allen), Morton consegue roubar a cena e ser tão memorável quanto os inventivos efeitos visuais e a rocambolesca trama central.

Um comentário:

Leia-me Já! disse...

Esse filme é genial! Ficção científica da mais alta qualidade!

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