quinta-feira

ROMA, CIDADE ABERTA


ROMA, CIDADE ABERTA (Roma, cittá aperta, 1945, Excelsa Filme, 100min) Direção: Roberto Rosselini. Roteiro: Sergio Amidei. Fotografia: Ubaldo Arata. Montagem: Eraldo Da Roma. Música: Renzo Rosselini. Direção de arte: Rosario Megna. Elenco: Aldo Fabrizzi, Anna Magnani, Marcello Pagliero, Giovanna Galletti. Estreia: 27/9/45

Indicado ao Oscar de Roteiro Original
Palma de Ouro de Melhor Filme no Festival de Cannes

Pontapé inicial do neorrealismo italiano - estética que antecedeu em alguns anos a nouvelle vague francesa e o Cinema Novo brasileiro - "Roma, cidade aberta", de Roberto Rossellini foi um choque de realidade em comparação ao pasteurizado cinema hollywoodiano dos anos 40. Realizado com pouquíssimos recursos técnicos e financeiros, o filme pegou o mundo de surpresa com seu visual cru, seu realismo sufocante e sua narrativa em tom semi-documental. Filmado nas ruas da capital italiana antes mesmo do final da guerra - e contando inclusive com soldados verdadeiros como figurantes - a obra que levou a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1946 transformou definitivamente o cinema europeu e mundial - apesar de seu fracasso de bilheteria.

A trama é simples: ao fugir de soldados da Gestapo, o comunista Manfredi (Marcello Pagliero) encontra refúgio no apartamento de Pina (Anna Magnani), que, grávida, está em vias de casar-se com o litógrafo Francesco (Francesco Grandjaquet), também opositor do regime. Com a ajuda de Don Pietro (Aldo Fabrizzi), um padre que se recusa a ficar neutro diante das atrocidades que presencia, o grupo tentará lutar contra o nazismo e defender suas próprias vidas, o que ficará cada vez mais difícil, uma vez que a ocupação alemã recrudesce a cada dia.


Talvez as maiores qualidades de "Roma, cidade aberta" sejam, hoje em dia, para um público acostumado a técnicas modernas, um tanto quanto comuns. A fotografia seca em preto-e-branco, a narrativa que segue diversos personagens e o enfoque dramático/político não são mais novidade para a audiência do século XXI. Mas a forma com que Rossellini conduz sua história é, indubitavelmente, um marco. Mesmo que não abra mão do maniqueísmo, o roteiro do diretor acompanha seus protagonistas sem apelar para o sentimentalismo que surgiria com os filmes de Vittorio De Sica (mais especificamente "Ladrões de bicicleta", lançado logo em seguida). Mesmo quando tragédias surgem em seu caminho - e elas não são poucas - existe um distanciamento saudável, responsabilidade do tom sério imposto desde suas primeiras cenas. Fortes e contundentes, os destinos de Manfredi, Pina, Francesco e Don Pietro são inesquecíveis.

Namorada do diretor Rossellini à época das filmagens, a sensacional Anna Magnani - que chegaria a ganhar um Oscar anos depois, demonstrando que seu imenso talento desconhecia a barreira do idioma - tornou-se a cara do neorrealismo italiano, tendo realizado filmes icônicos com o cineasta Luchino Visconti, como o excepcional "Belíssima", de 1952. Seu talento, contudo, não impediu o romance entre seu amante e a atriz Ingrid Bergman, iniciado durante as filmagens de "Stromboli", em 1949, depois que a atriz sueca lhe escreveu uma carta de fã pedindo para filmar com ele. O romance durou alguns anos e resultou no nascimento de duas filhas gêmeas, entre elas a atriz Isabella Rossellini.

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