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A ÓRFÃ


A ÓRFÃ (Orphan, 2009, Warner Bros./Dark Castle Entertainment, 123min) Direção: Jaume Collet-Serra. Roteiro: David Leslie Johnson, estória de Alex Mace. Fotografia: Jeff Cutter. Montagem: Tim Alverson. Música: John Ottman. Figurino: Antoinette Messam. Direção de arte/cenários: Tom Meyer/Daniel Hamelin, Martine Giguère-Kazermichuk, David Laramy, Cal Loucks. Produção executiva: Don Carmody, Michael Ireland, Steve Richards. Produção: Jennifer Davisson Killoran, Leonardo DiCaprio, Susan Downey, Joel Silver. Elenco: Vera Farmiga, Peter Sarsgaard, Isabelle Fuhrman, CCH Pounder, Jimmy Bennet, Margo Martindale, Aryana Engineer. Estreia: 21/7/2009

Nada como uma boa polêmica para chamar a atenção para um filme, certo? Que o digam os produtores de "A órfã", suspense produzido por (entre outros) Leonardo DiCaprio e que estreou no verão norte-americano de 2009. Antes mesmo de seu lançamento, o filme dirigido pelo espanhol Jaume Collet-Serra conseguiu provocar indignação junto a entidades responsáveis por adoções. O motivo? Uma linha de diálogo mostrada no trailer. "Deve ser difícil amar um filho adotivo como se ele fosse seu próprio...", dizia a protagonista infantil da história, escandalizando (com certa razão) os ativistas e funcionando como um marketing inesperado e muito eficiente. Tal linha foi excluída do trailer - mas não do filme - e acabou despertando a curiosidade de muita gente: não por acaso, rendeu quase 80 milhões de dólares ao redor do mundo (metade disso só nos EUA) e entrou no inconsciente coletivo de forma como poucas produções do gênero são capazes de fazer a longo prazo. A trajetória de Esther, a menina órfã que transforma o sonho da adoção em um pesadelo familiar, tornou-se um dos filmes de suspense mais populares de sua época - e a boa notícia é que, apesar de alguns pequenos tropeços, merece toda essa repercussão.

Dirigido pelo espanhol Jaume Collet-Serra - que posteriormente iniciou uma prolífica parceria com Liam Neeson em uma série de filmes de ação -, "A órfã" caiu no gosto popular por conseguir unir, em um único produto coeso, um filme de gênero, com todos os seus cânones, e um drama psicológico com desdobramentos sexuais surpreendentes para uma produção comercial. Seu tom adulto e a seriedade do roteiro - inspirado livremente em um caso real ocorrido na Ucrânia em 2010 – destoam da tendência de buscar plateias cada vez mais jovens (e, por conseguinte, menos exigentes e predispostas a banhos de sangue inconsequentes). Ao optar por uma trama quase elegante em seu desenvolvimento, Collet-Serra tenta fugir dos clichês – e consegue, em boa parte do tempo, principalmente por conta da direção segura, do roteiro que entrega os elementos aos poucos e do elenco acima de qualquer suspeita. Aclamados pela crítica e conhecidos do público, Vera Farmiga e Peter Sarsgaard oferecem ao resultado final um prestígio muito oportuno – e o fato de Leonardo DiCaprio ser um dos produtores não atrapalha em nada.

 

Farmiga e Sarsgaard vivem Kate e John Coleman, um casal jovem que vive o luto de ter perdido um bebê recém-nascido. Mesmo com outros dois filhos – o pré-adolescente Daniel e a pequena Max, que tem problemas de audição -, os entristecidos pais decidem aumentar a família e enterrar sua dor. A escolhida dos dois é Esther (Isabelle Fuhrmann), uma menina de nove anos educadíssima e gentil, que encanta John com seus modos nobres e inteligência. O que deveria ser um período de felicidade, porém, esbarra em uma série de problemas inesperados: aos poucos, Esther começa a demonstrar uma personalidade arredia e manipulativa – especialmente com as outras crianças – e, percebendo a instabilidade do casamento de seus novos pais, inicia uma perigosa batalha de nervos que a coloca em rota de colisão com Kate, que tenta recuperar-se de uma séria questão com o álcool.

Qualquer coisa que se saiba além da premissa inicial de “A órfã” pode ser prejudicial à sensação de descobrir a virada do roteiro – capaz de surpreender àqueles que tiverem a sorte de escapar dos spoilers. A mudança de rumo que surge no ato final – e deixa os atos anteriores de Esther quase previsíveis – é o grande trunfo do filme, mas seria injusto creditar apenas a ela o sucesso do resultado final. Orquestrado com delicadeza e grande senso de timing e estética, “A órfã” é um filme que resiste inclusive à uma revisão, graças principalmente ao brilhantismo de Collet-Serra em levar a sério a história que conta e evitar a tentação dos sustos fáceis. Mesmo que derrape em alguns lugares-comuns no meio do caminho, ele consegue fazer de uma produção que poderia ser apenas mais um exemplar raso de um gênero pouco afeito a experimentos uma pequena e marcante pérola.

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