quarta-feira

BENNY & JOON: CORAÇÕES EM CONFLITO

 


BENNY & JOON: CORAÇÕES EM CONFLITO (Benny & Joon, 1993, Metro Goldwyn Mayer, 98min) Direção: Jeremiah S. Chechik. Roteiro: Barry Berman, estória de Barry Berman, Leslie McNeil. Fotografia: John Schwartzman. Montagem: Carol Littleton. Música: Rachel Portman. Figurino: Aggie Guerard Rodgers. Direção de arte/cenários: Neil Spisak/Barbara Munch. Produção executiva: Bill Badalato. Produção: Susan Arnold, Donna Roth. Elenco: Johnny Depp, Mary Stuart Masterson, Aidan Quinn, Julianne Moore, Oliver Platt, William H. Macy, CCH Pounder, Dan Hedaya, Joe Grifasi. Estreia: 16/4/93

No começo dos anos 1990 o nome de Johnny Depp já era sinônimo de excentricidade em Hollywood - em boa parte devido ao sucesso de sua performance em "Edward Mãos de Tesoura", dirigido por seu amigo Tim Burton. Por isso, não foi surpresa para ninguém quando ele foi escalado para interpretar um dos papéis centrais do drama romântico "Benny & Joon: corações em conflito": na pele do esquisitão Sam, fã de Chaplin e Buster Keaton, calado, semianalfabeto e dono de uma grande capacidade de amar, Depp confirmou sua persona dentro da indústria (que exploraria seu estilo em outras produções de relativo êxito) e foi, provavelmente, o maior responsável pelas críticas positivas do segundo filme do diretor Jeremiah Chechik. Sensível, honesta e despretensiosa, a história de amor entre duas pessoas à margem da sociedade - e a forma com que tal romance afeta as pessoas a sua volta - não chegou a fazer grande barulho nas bilheterias, mas tornou-se cult justamente pela presença do ator, particularmente inspirado em seu desempenho. Discreto em sua forma de suscitar emoções - e evitando a todo custo o melodrama barato -, "Benny & Joon" é um pequeno grande filme, que encontrou em Depp (e no resto do elenco) sua tradução perfeita.  

Ao contrário do que o subtítulo em português dá a entender, Benny e Joon não formam a dupla romântica central do filme. Benjamin e Juniper Pearl são, na verdade, irmãos, que vivem uma vida quase medíocre em uma pequena cidade de Washington. Ele (vivido por Aidan Quinn) é um mecânico solitário que abdicou de qualquer tipo de relacionamento amoroso para cuidar dela (interpretada por Mary Stuart Masterson) desde a morte de seus pais, em um acidente de carro. Juniper (ou Joon, como é conhecida pelos amigos e vizinhos) é uma jovem com deficiência intelectual - e dom para as artes - e exige do irmão, mesmo involuntariamente, dedicação quase absoluta. Depois do abandono de várias cuidadoras - incapazes de lidar com a inconstância de seu comportamento -, ela corre o sério risco de ser posta em um lar especializado quando um acontecimento inesperado muda os rumos de sua existência. Depois de perder em um jogo de cartas, Joon é obrigada por um amigo a abrigar em sua casa o estranho Sam (Johnny Depp) e, para sua surpresa - e de um atônito Benny - os dois acabam se apaixonando.

 

Projeto relativamente antigo da MGM, "Benny & Joon" quase teve, liderando seu elenco, a dupla de astros Tom Hanks e Julia Roberts (ainda que hoje seja difícil imaginá-los nos papéis). Depois de tentar também o então casal Tim Robbins e Susan Sarandon (outro par inusitado), as coisas pareciam finalmente ter entrado nos eixos com a escalação de Depp e sua namorada, Winona Ryder (começando uma trajetória ascendente em Hollywood). O fim do namoro acarretou na saída de Winona, que foi substituída por Laura Dern (recém saída de uma indicação ao Oscar por "As noites de Rose") ao mesmo tempo em que Woody Harrelson assumia o papel de Benny. Porém, tudo mudaria mais uma vez graças a dois acontecimentos fortuitos: Dern não gostou de saber que seu nome estaria em terceiro lugar nos créditos, e Harrelson foi convidado pela Paramount para ser o marido de Demi Moore em "Proposta indecente" (1993). Com Depp ainda firme no projeto, surgiram os nomes de Mary Stuart Masterson e Aidan Quinn, ambos promissores e, como mostra o resultado final, extremamente adequados aos personagens. Com a direção pouco invasiva de Chechik (em seu segundo longa-metragem) e um roteiro delicado e repleto de uma honestidade cativante, o filme acabou por agradar em cheio aos fãs de Depp - e, por consequência, a todos que procuravam escapar dos clichês do gênero.

A maior qualidade de "Benny & Joon" - além do elenco escalado com precisão - é o modo discreto com que Jeremiah Chechik conduz sua trama, sem pressa e com uma delicadeza surpreendente vinda de quem começou sua carreira no cinema com o pouco sutil "Férias frustradas de Natal" (1989) e que chegou a ser indicado a um Framboesa de Ouro pelo medonho "Os vingadores" (1999). Com um ritmo que leva o espectador a acompanhar vidas simples e personagens com sentimentos reais, o cineasta abraça o prosaico como forma de encantar.e emocionar (porém sem apelar para o sentimentalismo barato). E, se não bastasse tal cuidado, ainda há uma das primeiras aparições de Julianne Moore no cinema, como a garçonete e ex-atriz que se envolve com Benny a despeito de seus problemas familiares. Um motivo a mais para conhecer uma produção das mais simpáticas de seu tempo.

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