terça-feira

BOSSA NOVA


BOSSA NOVA (Bossa nova, 2000, Columbia Pictures, 95min) Direção: Bruno Barreto. Roteiro: Fernanda Young, Alexandre Machado, conto "A senhorita Simpson", de Sérgio Sant'Anna. Fotografia: Pascal Rabaud. Montagem: Ray Hubley. Música: Eumir Deodato. Figurino: Emilia Duncan. Direção de arte: Cassio Amarante. Produção executiva: Bruno Barreto. Produção: Lucy Barreto, Luiz Carlos Barreto. Elenco: Amy Irving, Antônio Fagundes, Deborah Bloch, Drica Moraes, Alexandre Borges, Pedro Cardoso, Giovanna Antonelli, Rogério Cardoso, Sérgio Loroza, Stephen Tobolowski, Alberto de Mendoza. Estreia: 21/02/2000 (Festival de Berlim)

"Bossa nova", a comédia romântica dirigida por Bruno Barreto, se passa em um universo particular. Um ecossistema próprio, dotado uma trilha sonora suave com canções de Tom Jobim (a quem o filme é devidamente dedicado), paisagens idílicas de um Rio de Janeiro idealizado e personagens cuja maior função na vida é amar e ser amado - mesmo que ainda não saibam disso. Baseado no conto "Senhorita Simpson", de Sérgio Sant'anna (e adaptado pelo casal Fernanda Young e Alexandre Machado, criadores da série "Os Normais"), o filme de Barreto marca seu retorno ao cinema nacional depois de uma tentativa malograda em ser abraçado por Hollywood (com o pouco visto "Entre o dever e a amizade") e, apesar de não apresentar nada de novo ao gênero e forçar uma estética quase pasteurizada, consegue conquistar o público com uma trama despretensiosa e agradável, valorizada por um elenco de peso liderado por sua então mulher, Amy Irving. Leve, romântico e francamente ingênuo - com tudo que isso tem de positivo e negativo -, "Bossa nova" foge da tendência do cinema brasileiro da época de explorar o regionalismo (em produções como "O auto da Compadecida", "Eu, tu, eles" e "Tainá: uma aventura na Amazônia") e não tem medo de apelar para o escapismo.

O centro do roteiro - que aposta em diálogos rápidos e uma estrutura, em seus melhores momentos, de uma comédia de erros - é a solitária Mary Ann Simpson (Amy Irving), viúva americana que mora no Rio de Janeiro e vive de ensinar inglês para brasileiros interessados (pelos mais diversos motivos) em aprender a se comunicar no idioma. Sua amiga Nadine (Drica Moraes) precisa saber a língua para uma melhor relação com um namorado estrangeiro, a quem nunca viu pessoalmente mas acredita ser um artista plástico do SoHo. O jogador de futebol Acácio (Alexandre Borges) acaba de ser contratado por um time inglês e quer aprender a xingar (e seduzir) na língua de Shakespeare. E o advogado Pedro Paulo (Antonio Fagundes), ainda sem aceitar o fim do casamento com Tania (Deborah Bloch), está mais interessado na própria professora do que em novos conhecimentos - e não mede esforços para conquistá-la. Enquanto isso, seu meio-irmão, Roberto (Pedro Cardoso), cai de amores por sua estagiária, Sharon (Giovanna Antonelli), que, por sua vez, se sente atraída por Acácio quando ele procura o escritório para tratar de seu novo contrato.

 


Com uma narrativa simples que faz uso das paisagens naturais do Rio de Janeiro - fotografadas com destreza pelo francês Pascal Rabaud - como elemento dramático crucial, "Bossa nova" é assumidamente uma declaração de amor à cidade que lhe serve de cenário, assim como se mostra apaixonado pelo ritmo que lhe dá nome. Emoldurada pelas canções de Tom Jobim, a história de amor entre Mary Ann e Pedro Paulo se mostra plácida, envolvente e delicada como a obra do compositor - e se beneficia do carisma e do talento de seus intérpretes. Se Amy Irving serve como musa inspiradora do diretor e catalisadora de todo o quiproquó que a envolve, o charme maduro de Antonio Fagundes surge como a tradicional figura do galã maduro - status que não o impede de demonstrar um talento já devidamente consagrado. No elenco coadjuvante, Drica Moraes e Deborah Bloch brilham com um timing cômico impecável, que valoriza cada linha de diálogo, e é uma pena que o ótimo Pedro Cardoso seja tão pouco explorado: sua história de amor não correspondido pela bela Sharon é, talvez, a mais romântica de um roteiro que privilegia o humor (provavelmente pelo currículo de Young e Machado, sempre sagazes em suas observações sobre a natureza humana). Não deixa de ser irônico, no entanto, que a direção de Bruno Barreto seja mais interessante quando se volta ao amor do que ao riso - apesar de engraçadas, as situações propostas soam mais como um especial de televisão do que como cinema.

Visualmente atraente, delicadamente amoroso e engraçado como a melhor das comédias românticas, "Bossa nova" é o programa ideal para os fãs do gênero, ainda que nem sempre atinja todo o seu potencial. Tecnicamente impecável e dotado de uma honestidade encantadora, é uma prova (mais uma) das possibilidades infinitas do cinema nacional - ainda que sua estética seja mais próxima de Hollywood do que das produções brasileiras clássicas. Apesar de suas inegáveis qualidades, é impossível não ficar com a impressão de que se trata de um filme brasileiro para gringo ver - mas, em sua defesa, é uma propaganda sensível de uma das mais belas cidades do mundo. E talvez isso seja o suficiente para o público que deseja apenas desligar-se dos problemas enquanto assiste a uma bela história de amor.

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