MORRA, SMOOCHY, MORRA (Death to Smoochy, 2002, Warner Bros/FilmFour, 109min) Direção: Danny DeVito. Roteiro: Adam Resnick. Fotografia: Anastas N. Michos. Montagem: Jon Poll. Música: David Newman. Figurino: Jane Ruhm. Direção de arte/cenários: Howard Cummings/Enrico Campana. Produção: Andrew Lazar, Peter Macgregor Scott. Elenco: Robin Williams, Edward Norton, Catherine Keener, Danny DeVito, Jon Stewart, Pam Ferris, Harvey Weinstein. Estreia: 28/02/2002
A carreira de Danny DeVito como diretor trai, sem sombra de dúvida, um apreço pelo lado sombrio da vida. Foi assim em sua estreia, "Joga a mamãe do trem" (1987), no sucesso "A guerra dos Roses" (1989), e até mesmo no infantil "Matilda" (1996) - sem falar na cinebiografia "Hoffa: um homem, uma lenda" (1992), onde falou sério pela primeira vez em sua trajetória como diretor. Tendo em vista seu currículo e sua tendência ao humor mórbido, portanto, não chega a ser surpresa que ele tenha assinado "Morra, Smoochy, morra", o inusitado encontro entre Robin Williams e Edward Norton que fracassou nas bilheterias e desconcertou boa parte da crítica. Uma mistura nem sempre eficiente entre comédia e suspense, o filme ensaia uma crítica à indústria do entretenimento infantil e à obsessão pela fama, mas falha em seu principal objetivo: conquistar o espectador. Por vezes exagerado e desnecessariamente confuso - e quase indeciso em sua mescla de gêneros, o filme de DeVito parte de uma premissa interessante e parece não saber exatamente o que fazer com ela. Para sua sorte, conta com o talento mais do que comprovado de seus atores centrais (especialmente Norton, raramente visto em comédias).
Tudo começa quando Randolph Smiley (Robin Williams), popular apresentador de um programa de televisão direcionado ao público infantil, é demitido graças a seu recém descoberto costume de aceitar suborno para privilegiar algumas crianças em detrimento de outras. Sua saída da programação abre espaço, então, para a chegada de Sheldon Mopes (Edward Norton), contratado para, com seu personagem Smoochy - um rinoceronte cor-de-rosa -, preencher o horário na programação. Idealista, ingênuo e bem-intencionado, Sheldon nem de longe imagina que, apesar das promessas da emissora, ele não passa de uma peça em uma vasta engrenagem comercial. Enquanto tenta transmitir mensagens positivas e educativas em seu programa, nos bastidores ele é visto apenas como objeto de marketing - algo que a executiva Nora Wells (Catherine Keener) tenta esconder a todo custo. Não bastasse tal ruído na comunicação, Sheldon passa a ser o alvo de Randolph, que, obcecado por ter sido substituído, arma diversas formas de acabar com seu rival - nem que seja através de assassinato.
Considerado o pior filme de 2002 pelo respeitado crítico Roger Ebert, "Morra, Smoochy, morra" é, realmente, uma produção bastante problemática. Nem mesmo Robin Williams - que ficou com o papel depois que Jim Carrey preferiu fazer o igualmente pouco celebrado "Cine Majestic" - é capaz de dar consistência a um roteiro indeciso, que impede o público de ter qualquer tipo de empatia por seus protagonistas - seja ele qual for. Danny DeVito, que já alcançou bons resultados em produções anteriores, aqui demonstra ter perdido a mão em suas tentativas de fazer rir de situações aparentemente dramáticas e/ou trágicas, entregando soluções pouco efetivas para os conflitos e apostando em um visual carregado de cores que contrastam com o tom escuro da trama.e causam mais estranhamento que admiração. É perceptível, no entanto, a entrega de Edward Norton a um personagem atípico em sua carreira: na pele do ingênuo Sheldon Mopes - cujo otimismo e positividade chegam a irritar ao mais feliz dos seres humanos -, o ator consegue destacar-se mesmo estando ao lado de um craque do humor como Williams. E Catherine Keener também surpreende, dando dignidade a uma personagem cujos objetivos e reais intenções estão sempre no limiar entre a honestidade e o cinismo.
Tornado cult com o passar do tempo - algo que normalmente acontece quando uma produção encontra um público disposto a abraçá-la a despeito (ou justamente por causa) de seus equívocos -, "Morra, Smoochy, morra" passou à história como um passo em falso no currículo de seus astros, acostumados ao sucesso e ao prestígio de boa parte de suas trajetórias. Pouco lembrado mesmo pelos maiores fãs de Williams e Norton, também machucou a carreira de Danny DeVito - que só voltaria à cadeira de diretor cinco anos mais tarde com "Duplex" - mais um exemplar de seu humor sombrio, mas dessa vez iluminado pelas presenças de Ben Stiller e Drew Barrymore. Uma comédia que não consegue sustentar a contento sua piada única, "Morra, Smoochy, morra" mergulha no camp - mas não é capaz de assumir completamente sua aura trash.

