segunda-feira

ESTRADA PARA PERDIÇÃO

ESTRADA PARA PERDIÇÃO (Road to Perdition, 2002, Dreamworks SKG, 117min) Direção: Sam Mendes. Roteiro: David Self, HQ de Max Allan Collins, Richard Piers Rayner. Fotografia: Conrad L. Hall. Montagem: Jill Bilcock. Música: Thomas Newman. Figurino: Albert Wolsky. Direção de arte/cenários: Dennis Gassner/Nancy Haigh. Produção executiva: Joan Bradshaw, Walter F. Parkes. Produção: Sam Mendes, Dean Zanuck, Richard D. Zanuck. Elenco: Tom Hanks, Paul Newman, Jude Law, Tyler Hoechlin, Stanley Tucci, Daniel Craig, Jennifer Jason Leigh, Ciaran Hinds, Dylan Baker, Liam Aiken. Estreia: 12/7/02

6 indicações ao Oscar: Ator Coadjuvante (Paul Newman), Fotografia, Trilha Sonora Original, Direção de Arte/Cenários, Som, Edição de Som
Vencedor do Oscar de Fotografia

Quem achava que o Oscar de direção por "Beleza americana" tinha sido sorte de principiante do inglês Sam Mendes foi obrigado a segurar o queixo com o lançamento de "Estrada para Perdição", seu segundo longa. Enquanto seu filme de estreia analisava com um olhar estrangeiro as entranhas dos subúrbios ianques sua adaptação da HQ de Max Allan Collins investiga a fundo os elementos básicos de outro gênero caro à plateia norte-americana (e a todas aquelas que cultuam o cinema hollywoodiano): os filmes de gângster. Ao lançar um olhar europeu sobre essa história de traição, vingança e violência (vagamente baseada em uma história real ocorrida com o gângster irlandês John Looney nos anos 30), Mendes construiu uma peça rara de ourivesaria visual e dramática, provando que, além de sensibilidade para as mazelas humanas, tem um apuradíssimo senso estético. "Estrada para Perdição" é um dos filmes mais deslumbrantes de seu tempo, e a fotografia do veterano Conrad R. Hall (que morreu logo após as filmagens) não mereceu seu Oscar injustamente.

Não existe nenhum plano ou sequência de "Estrada para Perdição" que não seja claramente planejado para causar um efeito específico na audiência (mesmo que às vezes esse objetivo seja bastante discreto a ponto de não ser percebido em uma primeira sessão) ou reiterar a visão de Mendes do roteiro de David Self (um exemplo disso é a maneira como os closes nos protagonistas vão se tornando frequentes à medida em que a relação entre eles também começa a se estreitar). Esse cuidado extremo do cineasta em encantar pelo visual em detrimento de um ritmo mais ágil e uma violência mais gráfica é, ao mesmo tempo, a qualidade maior de seu filme e seu calcanhar de Aquiles. Aparentemente Mendes nega aos fãs do gênero os tiroteios sangrentos que fizeram a glória de nomes como James Cagney e Paul Muni nos primórdios do cinema (e de banhos de sangue como o hiperbólico "Scarface" de Brian de Palma), porém o que ele faz (com invejável competência) é revestir-lhes com um uma poesia em forma de imagens. E, ao contar mais do que uma simples história de revanche - preferindo focalizar seus trunfos na relação conflitante entre um pai distante e silencioso e um filho pré-adolescente que anseia por uma figura paterna mais acessível e próxima.



A trama de "Estrada para Perdição" se passa em 1931, quando os EUA estão passando pela Grande Depressão causada pela queda da bolsa de valores de 1929. É a época da Lei Seca, onde gente como Al Capone faz fortuna em negócios escusos. Em Illinois, quem manda neste setor é o irlandês John Rooney (Paul Newman em sua última e esplêndida atuação, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de coadjuvante), um homem que não se conforma com a falta de talento e personalidade do único filho, Connor (Daniel Craig) e vê em seu protegido Michael Sullivan (Tom Hanks) a esperança de um substituto à sua altura. Sua atitude em relação a ele irá se transformar radicalmente quando Connor mata um empregado suspeito de roubo e o filho mais velho de Sullivan, Mike (Tyler Hoechlin) testemunha o crime às escondidas. Temendo as consequências que a situação pode trazer, o veterano gângster manda exterminar o menino, mas quem acaba morto por engano é seu irmão caçula, em companhia da mãe. Desesperado pela tragédia, Sullivan une-se ao filho em uma viagem na qual pretende vingar a morte de sua família. No caminho, ele acaba se aproximando do garoto, com quem sempre teve uma relação quase fria e precisa protegê-lo de um matador contratado pelos Rooney, o apavorante fotógrafo Harlen Maguire (Jude Law, irreconhecível).

"Estrada para Perdição" funciona lindamente em todos os seus níveis dramáticos. Enquanto filme de gângster é formalmente tradicional, apesar de evitar ferozmente a violência explícita. Como conflito familiar emociona ao aproximar pai e filho de maneira delicada e melancólica (ainda que sua opção por não exagerar no dramalhão o afaste um pouco de um público desacostumado a sutilezas). Visualmente é um espetáculo (cortesia também da direção de arte e do figurino caprichados). A trilha sonora de Thomas Newman é marcante e adequada e o elenco é de aplaudir de pé: Tom Hanks escapa pela primeira vez de sua persona carismática para viver um Michael Sullivan fechado e sorumbático (mesmo que esteja longe de ser um vilão como parte da mídia pintou è época da estreia do filme) e Jude Law mostra que não precisa mostrar seu sorriso luminoso para chamar a atenção. Mas é, acima de tudo, um belíssimo filme que melhora a cada revisão e marca o adeus de um mito absoluto, o grande Paul Newman. Convenhamos, não é pouca coisa!!!

4 comentários:

renatocinema disse...

Gosto muito do filme. A única questão negativa, a meu ver, foi de que fui assistir o filme imaginando que Tom Hanks seria um vilão. Daqueles estilo Cabo do Medo.

Quando percebi que não era esse o contexto, fiquei decepcionado. Mas, é realmente um grande filme.

Iuri disse...

Muito bom esse filme! Lembro que quando assisti fiquei impressionado com a fotografia!

Hugo disse...

É um ótimo filme que mistura lealdade com família, temas comuns em filmes sobre a máfia, valorizado pelo ótimo elenco.

Só as presenças de Tom Hanks e Paul Newman já valem a sessão.

Abraço

Cristiano Contreiras disse...

Bom filme este, mas sempre digo, a escolha do Tom Hanks - que parece ter desaprendido a atuar ou, sei lá, simplesmente se acomodou com seus dois oscar e tem preguiça - enfraquece o resultado. Concordo com Renato, precisávamos de um ator mais visceral e o roteiro deveria colocá-lo mais agressivo, ao meu ver. Mas, é um bom filme e a fotografia é um primor! Abraço, sumido!

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