quarta-feira

LENDA URBANA


LENDA URBANA (Urban legend, 1998, TriStar Pictures, 99min) Direção: Jamie Blanks. Roteiro: Silvio Horta. Fotografia: James Chressanthis. Montagem: Jay Cassidy. Música: Christopher Young. Figurino: Mary Claire Hannan. Direção de arte/cenários: Charles Breen/Carolyn 'Cal' Loucks. Produção executiva: Brad Luff. Produção: Gina Matthews, Michael McDonnell, Neal H. Moritz. Elenco: Jared Leto, Alicia Witt, Rebecca Gayheart, Joshua Jackson, Michael Rosenbaum, Tara Reid, Robert Englund, Brad Dourif, Loretta DeVine, John Neville. Estreia: 25/9/98

O sucesso estrondoso de "Pânico" (1996) não apenas ressuscitou o prestígio de Wes Craven ou catapultou a carreira de Neve Campbell: seu êxito comercial deflagrou uma onda de slasher movies juvenis que raramente conseguiram atingir o mesmo nível de inteligência e frescor do original. Produções como "Eu sei o que vocês fizeram no verão passado" (1997) mostraram que, apesar do forte apelo popular, a fórmula assassinatos violentos/personagens ingênuos/humor sombrio era perigosamente frágil e propensa a inevitáveis armadilhas. Foi o que ocorreu com "Lenda urbana": se utilizando de todos os ingredientes reaproveitados por Craven (mas consagrados desde os cultuados "Halloween" e "Sexta-feira 13"), o filme de Jamie Blanks conquistou uma respeitável bilheteria internacional (mais de 70 milhões de dólares contra um orçamento tímido de aproximadamente 14 milhões), rendeu continuações e agradou aos fãs menos exigentes do gênero, mas esbarrou na reprovação generalizada da crítica, pouco entusiasmada com o excesso de clichês e furos do roteiro, escrito pelo mesmo Silvio Horta que estaria por trás da série "Ugly Betty" (2006).

Dirigido por Jamie Blanks (também compositor de trilhas sonoras e editor, e que voltou ao suspense com "O dia do terror", de 2001), "Lenda urbana" se aproveita de um tema bastante interessante para contar uma história que, apesar de apresentar alguns momentos de tensão genuína, escorrega constantemente na inverossimilhança e falha ao criar personagens capazes de despertar a simpatia do espectador - culpa talvez da apatia de Alicia Witt, escolhida pelos produtores depois da recusa de Jennifer Love Hewitt (que tentava escapar do rótulo de heroína do gênero, depois de "Eu sei o que vocês fizeram no verão passado") e Reese Witherspoon (antes da fama e da consagração que viria poucos anos depois). Insossa e sem carisma, Witt ainda teve o azar de ficar com uma personagem igualmente sem graça - e até um pouco irritante, como toda boa protagonista de um filme de terror. Sua Natalie Simon é uma jovem introvertida e misteriosa que se envolve, junto com um grupo de colegas de uma universidade da Nova Inglaterra, em uma apavorante caçada humana, onde um violento assassino faz suas vítimas de acordo com histórias contadas através das gerações. Enquanto cadáveres se acumulam, ela se vê apaixonada por Paul Gardener (Jared Leto), repórter do jornal universitário e objeto do desejo de sua melhor amiga, Brenda (Rebecca Gayheart). Com um passado que tenta esconder a todo custo, Natalie não demora a tornar-se alvo do carniceiro - ou não será ela mesma uma suspeita?

 

O roteiro de Silvio Horta até tenta ser criativo na hora de eliminar seus personagens - algumas mortes fazem jus ao sucesso de bilheteria do filme, e a primeira cena (com a participação não creditada de Brad Dourif e da filha de Natalie Wood e Robert Wagner, Natasha Gregson-Wagner) é potente o suficiente para ganhar a plateia de cara. Porém nem mesmo a direção mais inovadora do mundo seria capaz de evitar o senso de decepção com seu terço final - não apenas a resolução do mistério é pouco crível como o assassino parece se tornar imortal (reflexos de Jason, Freddy Kruger e Michael Meyers) sem nenhuma explicação aparente. O elenco também não ajuda: se Alicia Witt não tem a força necessária para assumir o posto de scream queen, seus colegas também não se saem melhor, especialmente Rebecca Gayheart, cujo exagero em cena é mais assustador que os crimes mostrados diante do espectador. Jared Leto tem pouco a fazer como o galã do momento, e Joshua Jackson volta a interpretar o amigo simpático e metido a conquistador (algo que faz com extrema naturalidade desde a série "Dawson's Creek", que, aliás, é lembrada sutilmente na única boa piada do roteiro). Tara Reid, por sua vez, protagoniza uma das melhores sequências do filme (substituindo Sarah Michelle Gellar, que saiu do projeto por conflitos de agenda com a série "Buffy: a caça-vampiros"). Completando o elenco, nomes consagrados do cinema de terror (Brad Douriff, de "Brinquedo assassino", e Robert Englund, o Freddy Kruger em pessoa) e o veterano John Neville - emprestando seu prestígio a um personagem que, como os demais, é subaproveitado no enredo.

No final das contas, "Lenda urbana" atinge a seus objetivos. Pelo tempo que dura prende a atenção do espectador e dá alguns sustos - que é o que se espera de uma produção do gênero. Também faz uso razoável das lendas urbanas que lhe inspiraram e não tem medo em assumir-se um slasher movie com todas os seus prós e contras. É pouco convincente? Sim. Tem um elenco majoritariamente fraco? Sem dúvida. Mas é pouco provável que os fãs do estilo se importem com tais detalhes enquanto a tela é inundada por sangue e gritos juvenis. Não é, nem de longe, um "Pânico". Mas poucos filmes são.

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