quinta-feira

PAIXÃO DE OCASIÃO


PAIXÃO DE OCASIÃO (Picture perfect, 1997, Warner Bros, 121min) Direção: Glenn Gordon Caron. Roteiro: Arleen Sorkin, Paul Slansky, Glenn Cordon Caron, estória de Arleen Sorkin, Paul Slansky, May Quigley. Fotografia: Paul Sarossy. Montagem: Robert Reitano. Música: Carter Burwell. Figurino: Jane Robinson. Direção de arte/cenários: Larry Fulton/Debra Schutt. Produção executiva: William Teitler. Produção: Erwin Stoff. Elenco: Jennifer Aniston, Kevin Bacon, Jay Mohr, Olympia Dukakis, Illeana Douglas, Kevin Dunn. Estreia: 01/8/97

Comédias românticas, via de regra, seguem algumas fórmulas - já consagradas e sem as quais os fãs do gênero se sentiriam órfãos. Uma dessas fórmulas (talvez a mais utilizada, mas sempre eficiente) é seguida quase à risca em "Paixão de ocasião", um dos primeiros sucessos no cinema de Jennifer Aniston - então já famosa por "Friends" mas ainda antes de seu célebre casamento com Brad Pitt. Dirigido por Glenn Gordon Caron, produtor executivo de televisão, mas com poucos trabalhos como cineasta, o filme, simpático e agradável, serviu para comprovar o carisma de Aniston, que se tornaria, com o passar dos anos, a mais bem sucedida integrante do elenco da série (ao menos na tela grande). Mesmo sem apresentar maiores novidades em seu enredo - e talvez justamente por isso -, a história de um triângulo amoroso surgido através de um mal entendido conquistou o público (em especial o feminino) com sua mistura de humor, romance, belas paisagens e uma trilha sonora moderna - em suma, a receita completa para uma bela sessão da tarde despretensiosa.

Kate (Jennifer Aniston) é uma jovem de 28 anos que trabalha em uma agência de publicidade de Nova York, ao lado do homem por quem é apaixonada, o galante Sam (Kevin Bacon). Ainda solteira apesar dos apelos de sua dramática mãe, Rita (Olympia Dukakis), que não vê a hora de ser avó, Kate está praticamente desistindo da vida amorosa quando percebe que nem mesmo sua vida profissional está andando pra frente devido a seu estado civil. Deixada de lado em uma campanha milionária somente por ser solteira - de acordo com seus chefes ela não tem a estabilidade necessária para que confiem a ela uma responsabilidade maior -, Kate acaba aceitando fazer parte de uma mentira criada por sua amiga e colega de trabalho Darcy (Illeana Douglas): de uma hora para outra, o cinegrafista Nick (Jay Mohr) - que vive de filmar eventos particulares em Massachussets - se torna seu noivo, graças a uma fotografia casual tirada em um casamento. Para manter a mentira, Kate convida Nick para visitá-la e acompanhá-la em um jantar de negócios - ele se apaixona de verdade por ela, que não percebe a situação por ainda estar obcecada por Sam, que repentinamente também passa a sentir-se atraído pela colega capaz de trair o noivo para ficar com ele.

 

As situações criadas pelo roteiro de "Paixão de ocasião" são deliciosas, tanto no que diz respeito aos problemas criados na vida de Kate por sua mentira quanto por seu encontro com Nick, que se demonstra uma pessoa adorável e muito mais apaixonante do que ela poderia prever. Ao contrário de seus colegas nova-iorquinos, esnobes e consumidos pelas carreiras, ela vê, no rapaz, alguém sensível e capaz de oferecer mais do que conversas sobre mercado financeiro e estabilidade profissional: delicado e atencioso, Nick é a antítese de Sam, egoísta, autocentrado e que só percebe Kate quando tem certeza de que ela, comprometida, não lhe cobrará mais do que noites de sexo escondido. Enquanto um mal entendido leva a outro, no entanto, a trama perde a oportunidade de discutir temas relevantes, como a posição da mulher no mercado de trabalho e o preconceito contra mulheres solteiras e independentes. Não chega a ser um demérito - afinal não parece ser a intenção do roteiro - mas soa a uma oportunidade perdida ignorar uma premissa tão cheia de possibilidades, principalmente porque, conforme é mostrado logo nas primeiras cenas, Kate é tão talentosa quanto qualquer um de sua agência, sendo casada ou solteira. Mas essa discussão praticamente inexiste no filme - e, levando-se em conta de que se trata de uma comédia romântica com o objetivo simples de entreter e deixar a plateia com um sorriso nos lábios, é algo perdoável e compreensível.

"Paixão de ocasião" é, para os ávidos consumidores do gênero, uma delícia. Atores fotogênicos e talentosos, um roteiro que não exige demais dos neurônios, um roteiro que trabalha os clichês com segurança e carinho e uma direção que não tenta sobrepujar os elementos de que dispõe. Correto e sem grandes deslizes, Glenn Gordon Caron - cujo maior crédito em cinema é "Love affair: segredos do coração" (1994), remake de "Tarde demais para esquecer" (1957) - conduz seu filme com elegância e, mesmo que pudesse inserir um pouco mais de leveza a seu ritmo, faz dele um programa sem contra-indicações. Em seu primeiro papel principal em um gênero que fez a glória de Meg Ryan, Jennifer Aniston mostra personalidade própria e carisma o bastante para alçar voos mais ambiciosos - como seu elogiado desempenho em "Cake: uma razão para viver", lançado em 2015 e que comprovou seu talento dramático.

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