segunda-feira

O RESGATE DO SOLDADO RYAN

O RESGATE DO SOLDADO RYAN (Saving Private Ryan, 1998, Amblin Entertainment/DreamWorks Pictures, 169min) Direção: Steven Spielberg. Roteiro: Robert Rodat. Fotografia: Janusz Kaminski. Montagem: Michael Kahn. Música: John Williams. Figurino: Joanna Johnston. Direção de arte/cenários: Tom Sanders/Lisa Dean Kavanaugh. Produção: Ian Bryce, Mark Gordon, Gary Levinsohn, Steven Spielberg. Elenco: Tom Hanks, Edward Burns, Tom Sizemore, Matt Damon, Jeremy Davies, Vin Diesel, Giovanni Ribisi, Dennis Farina, Paul Giamatti, Ted Danson, Adam Goldberg. Estreia: 24/7/98

11 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Steven Spielberg), Ator (Tom Hanks), Roteiro Original, Fotografia, Montagem, Trilha Sonora Original/Drama, Direção de arte/cenários, Som, Efeitos Sonoros, Maquiagem
Vencedor de 5 Oscar: Diretor (Steven Spielberg), Fotografia, Montagem, Som, Efeitos Sonoros
Vencedor de 2 Golden Globes: Melhor Filme/Drama, Diretor (Steven Spielberg)

Depois de ter ganho seus esperados (e merecidíssimos!) Oscar por "A lista de Schindler", era esperado que Steven Spielberg entrasse naquele limbo que muitas vezes aprisiona os escolhidos da Academia. A desnecessária continuação de "Jurassic Park" e o sonolento "Amistad" também acenavam em direção a essa possibilidade. Mas eis que, surpreendendo a todos, o homem que foi chamado de "o Peter Pan do cinema" mostrou que sua maturidade artística ainda estava por vir. Novamente visitando a II Guerra Mundial, mas sob uma nova ótica,  Spielberg lançou "O resgate do soldado Ryan", um dos mais espetaculares filmes de guerra da história. Indicado a 11 Oscar e favorito ao prêmio máximo, o assustador retrato do conflito que matou milhares de pessoas pelo mundo bateu de frente com o bonitinho "Shakespeare apaixonado" e foi relegado apenas a quatro prêmios técnicos e a estatueta de melhor diretor. Ainda que o vencedor do ano seja simpático e inteligente, são as imagens fortes e dolorosas de "Ryan" que vão ficar marcadas na história do cinema.

E essas imagens fortes e dolorosas já atingem a plateia em seus primeiros momentos, contrariando a regra de deixar-se o clímax para o final. São vinte minutos de extrema violência mostrada sem poesia e retoques: um pelotão de soldados americanos desembarca na Normandia em de junho de 1945, no famigerado Dia D, e a câmera nervosa de Spielberg e do diretor de fotografia Janusz Kaminski jogam o público em um confronto onde sangue, suor, mar e areia se confundem. E é nessa sequência impecável que é apresentando o protagonista, o Capitão John Miller, vivido por um intenso e discreto Tom Hanks, merecidamente indicado ao Oscar de melhor ator. É a Miller que caberá a missão que dará origem à verdadeira trama do filme, escrita com precisão por Robert Rodat (também concorrente à estatueta): como uma espécie de jogada de relações públicas, o exército norte-americano resolve tirar do conflito o único sobrevivente de uma família cujos filhos foram todos vitimados na mesma campanha. Para isso, ordena a Miller que, juntamente com um grupo de soldados escolhidos a dedo, saia à procura do jovem James Francis Ryan (Matt Damon). Mesmo questionando a lógica da missão (arriscar a vida de oito homens para salvar apenas um), Miller tem integridade o bastante para cumprí-la. Sendo assim, une-se a o Sargento Mike Horrath (Tom Sizemore) e a outros recrutas em busca do rapaz.



Como normalmente acontece em filmes de guerra, o destino não é tão importante quanto o percurso. Buscando o paradeiro de Ryan, o Capitão Miller e seus subordinados testemunham os horrores da guerra (como se já não o tivessem sofrido na pele, anteriormente), experimentando toda a sua glória e suas mesquinharias, sua grandiosidade e sua covardia. É sintomático que os próprios soldados tenham personalidades paradoxais, o que incentiva o conflito entre eles mesmo que eles precisem desesperadamente de uma união, por mais frágil que ela possa parecer. Sendo assim estão reunidos o fervoroso católico Daniel Jackson (Barry Pepper) e o furioso judeu Stanley Mellish (Adam Goldberg), o beligerante Adrian Caparzo (Vin Diesel em seu primeiro papel de destaque) e o inexperiente Timothy Upham (Jeremy Davies), o médico Irwin Wade (Giovanni Ribisi) e o implicante nova-iorquino Richard Reiben (o diretor e roteirista Edward Burns, muito bem em cena). Unidos como pelotão e sozinhos em suas individualidades, eles apresentam à audiência um retrato fiel e assustador da guerra, deixando pouco espaço para o sentimentalismo típico do cineasta.

A fúria com que "O resgate do soldado Ryan" atinge o espectador é comparável com o enorme sucesso de bilheteria do filme de Spielberg. Apesar de sua violência explícita, o filme arrecadou mais de 200 milhões de dólares somente no mercado americano, tendo mais do que dobrado sua renda ao redor do mundo. Dirigido com um domínio invejável da técnica cinematográfica - sem que a preocupação com as personagens fosse deixada de lado - e dotado de uma força dramática arrebatadora, é um dos filmes indispensáveis dos anos 90 e quiçá o melhor de seu gênero na história do cinema. É, também, o último grande filme de seu diretor até a data. Seu Oscar de direção foi mais do que merecido: foi obrigatório.

2 comentários:

renatocinema disse...

Não sou fã número 1 do Peter Pan do cinema.
Aprecio alguns trabalhos dele. Mas, em minha visão, as vezes, ele falha na conclusão da trama, como por exemplo em Inteligência Artificial. Um bom filme que ele estraga nos minutos finais.

Porém, isso não quer dizer que Shakespeare Apaixonado (você concluiu corretamente, apenas um filme "bonitinho") tenha méritos ao vencer o Oscar no lugar da obra de Spierlberg. Isso é mais uma aberração do Oscar.

Dentre as obras de Steven que falam da guerra sou fã de O Império do Sol, uma produção com poesia, dor, sofrimento e amor.

Adoro a fotografia de O Resgate do Soldado Ryan e a atuação de Tom Hanks, apesar de não ser muito fã dele.
O trabalho de Matt Damon me cativou muito nessa obra.
Filme obrigatório mesmo.

Silvano Vianna disse...

Muito bom.
Muito bom mesmo.
Um dos melhores filmes que já ví, um ótimo elenco.
Fantástico.

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