quinta-feira

MAGNÓLIA

MAGNÓLIA (Magnolia, 1999, New Line Cinema, 188min) Direção e roteiro: Paul Thomas Anderson. Fotografia: Robert Elswit. Montagem: Dylan Tichenor. Música: Jon Brion. Figurino: Mark Bridges. Direção de arte/cenários: William Arnold, Mark Bridges/Chris Spellman. Produção executiva: Michael De Luca, Lynn Harris. Produção: Paul Thomas Anderson, JoAnne Sellar. Elenco: Jason Robards, Julianne Moore, Philip Seymour Hoffman, Tom Cruise, John C. Reilly, Melora Walters, William H. Macy, Philip Baker Hall, Melinda Dillon, Alfred Molina, Luiz Guszman, Jeremy Blackman. Estreia: 17/12/99

3 indicações ao Oscar: Ator Coadjuvante (Tom Cruise), Roteiro Original, Canção Original ("Save me")
Vencedor do Golden Globe de Ator Coadjuvante (Tom Cruise)

Quando trata-se de cinema, normalmente o adjetivo "épico" vem acompanhado de cenários grandiosos, fotografia esplendorosa cobrindo vastas paisagens, uma trilha sonora grandiloqunte e personagens heroicos lutando por causas nobres e altruístas em espetáculos longos de ritmo alucinante. Por isso não deixa de ser um choque assistir-se à "Magnólia", de Paul Thomas Anderson, descrito por seu criador como um "épico sobre pessoas comuns". Épico? Os cenários são apartamentos à meia-luz, auditórios de programas de TV, bares frequentados por perdedores. A fotografia é sutil, discreta, tenuamente iluminada. A trilha sonora é composta por canções que falam de dor, rejeição e insegurança interpretadas por uma cantora folk de voz delicada. E as personagens podem ser consideradas quaisquer coisas, menos nobres e altruístas, porque lutam pela própria felicidade e contra a solidão e o arrependimento. Excetuando-se a longa duração (quase três horas), nada em "Magnólia" corresponde ao conceito de "filme épico". E talvez justamente por isso, por essa distorção, o trabalho de Anderson seja um dos melhores filmes da década de 90.
Anderson, também diretor do ótimo “Boogie nights, prazer sem limites” não tem medo de ousar em sua nova obra. Nada em “Magnólia” acontece da maneira que acontece em outros filmes e sim da maneira como ocorre na vida real. A história de amor contada no decorrer de sua duração - entre o policial  Jim (John C. Reilly) e a viciada em cocaína Claudia (Melora Walters, a grande revelação do filme) -  não ocorre entre dois exemplos de beleza em busca de uma felicidade de comercial de margarina e sim entre duas pessoas adultas e inseguras, com um belo histórico de problemas e personalidades conflitantes de verdade. Donnie Smith, o gênio mirim do passado (o ótimo William H. Macy) não quer ganhar dinheiro para viajar para Aspen e sim para colocar um aparelho nos dentes e assim conquistar a atenção e quem sabe o amor de um garçom mais jovem e atraente. Stanley Spector (Jeremy Blackman), o gênio mirim do presente, quer conquistar o amor do ambicioso pai e ter o direito de ir ao banheiro no momento em que precisar. O empresário moribundo Earl Partridge (o veterano Jason Robards em seu último e grande trabalho) não quer morrer em paz e sim obter o perdão do filho que abandonou, o guru de autoajuda sexual Frank T. Mackey(Tom Cruise em seu melhor trabalho, indicado ao Oscar de ator coadjuvante) e sua mulher, Linda (Julianne Moore nunca aquém de espetacular), que casou-se com ele por dinheiro, descobre, na iminência de sua morte, que o ama de verdade.



Cada cena em “Magnólia” surpreende por sua capacidade de emocionar sem apelar para o trivial e em buscar sempre a solução menos convencional, fato que fica evidente em seu clímax – uma chuva de sapos aparentemente sem qualquer explicação racional – e em uma das cenas mais comentadas de seu tempo – uma bela seqüência onde todos os personagens entoam a bela “Wise up”, da cantora Aimée Mann. A edição ágil de Dylan Tichenor colabora com a intenção do diretor em demonstrar o estado de excitação e angústia de seu grande número de personagens, todos envolvidos em momentos de total e dolorida verdade, seja ela o reencontro com um pai cuja imagem nunca foi positiva ou a revelação de um passado pouco agradável.

Contando com um elenco impecável (onde até mesmo Tom Cruise se sai bem, apesar da personagem irritante) e com uma trilha sonora que dificilmente pode ser excluída do rol de personagens devido à sua importância capital no desenrolar das cenas - mais do que simplesmente comentá-las, a trilha surge quase como uma espécie de consciência - "Magnólia" talvez seja o melhor exemplo de como um filme pode ser denso sem ser petulante e triste sem ser piegas. Envolvente desde sua fascinante sequência de abertura, é também a prova viva de quem nem sempre a palavra "épico" precisa estar necessariamente ligada a vastas paisagens (ainda que a alma humana muitas vezes seja tão seca e árida quanto o maior deserto).

7 comentários:

renatocinema disse...

Adoro a trilha, as atuações (mesmo a de Cruise), emocionante.

Um belo filme, um belo "épico".

Hugo disse...

Filmaço, com grande elenco e bela direção de PT Anderson.

Abraço

Ricardo Morgan disse...

Um dos melhores filmes que já vi. Um verdadeiro estudo sobre as desgraças e tragédias humanas. Concordo com o seu texto! Abraço

Anônimo disse...

Oi, tenho visitado seu blog sempre que eu posso. mas... tenho uma curiosidade: Onde voc6e arranja tempo para assistir um filme todos os dias ? É um dos meus sinhos, poder ver um filme obrigatório por dia, mas o tempo passa tão rápido. Tem alguma dica, é uma questão de organização, acordar mais cedo... ?
Se puder falar disso no próximo post, agradeço muiti=o :) !

Marilu.

Iuri disse...

Um dos meus filmes preferidos!!! Aquela chuva de sapos é clássica!!!
Otimo blog!!

! Marcelo Cândido ! disse...

Custei a ver esse filme mas também depois que vi arrepiei...

Cristiano Contreiras disse...

Cruise merecia o oscar aqui!

VAMPIROS DO DESERTO

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