quinta-feira

TRÊS REIS

TRÊS REIS (Three kings, 1999, Warner Bros., 114min) Direção: David O. Russell. Roteiro: David O. Russell, história de John Ridley. Fotografia: Newton Thomas Sigel. Montagem: Robert K. Lambert. Música: Carter Burwell. Figurino: Kym Barrett. Direção de arte/cenários: Catherine Hardwicke/Gene Serdena. Produção executiva: Bruce Berman, Gregory Goodman, Kelly Smith-Wait. Produção: Paul Junger Witt, Edward L. McDonnell, Charles Roven. Elenco: George Clooney, Mark Wahlberg, Ice Cube, Spike Jonze, Cliff Curtis, Nora Dunn, Jamie Kennedy, Mykelti Williamson, Judy Greer. Estreia: 01/10/99

Tudo que o povo americano conseguiu visualizar da Guerra do Golfo foram as imagens transmitidas pelas emissoras de televisão. Uma guerra totalmente midiática, sem heróis nem vítimas – pelo menos nos conceitos consagrados como tais – que, se deixou um gosto de vazio nas bocas ianques, mas que pelo menos legou “Três reis”, um dos filmes mais alucinados de 1999, que brinca no tênue limite entre o deboche inteligente e a seriedade que um tema como tal merece. Dirigido pelo desconhecido David O. Russell, que também assina o roteiro - e conseguiu a chance de ser indicado ao Oscar de diretor em 2011 por "O vencedor" - o filme consegue ser chocante, engraçado e dar uma visão completamente inusitada do conflito que jogou americanos em territórios árabes.

Na verdade, o filme começa quando a guerra termina. Às vésperas de embarcar de volta pra casa, o Coronel Archer (George Clooney, cada vez mais à vontade nas telas) junta-se a outros três soldados em uma cruzada pessoal. Ele, o pai de primeira viagem Troy (Mark Whalberg, escolhendo seus papéis com a firmeza de um veterano), o engajado (Ice Cube, hilário) e o atrapalhado (o video-clipeiro que brinca de cineasta Spike Jonze) descobrem um mapa – escondido em um lugar surreal – que dá a exata localização de todo o ouro roubado por Sadam Hussein do povo do Kwait. Dispostos a mudar de vida, eles resolvem buscar o tesouro, batendo de frente com a miséria do povo do Iraque, com a violência com a qual pouco contato tiveram durante as batalhas e com a verdade sobre a guerra criada pelo presidente do país mais poderoso do mundo.



"Três reis" destaca-se também por não pretender levantar nenhuma bandeira politicamente correta. Os protagonistas não são heróis imaculados (muito pelo contrário) e nem tampouco os normalmente vilões na visão norte-americana (os oponentes) são poços de crueldade, ainda que em determinados momentos quase o sejam. Felizmente o humor alucinado do roteiro não permite que a coisa toda seja levada demasiadamente a sério - e a presença de um sensacional George Clooney apenas reitera o tom de brincadeira do filme, cuja edição ágil impede o tédio e foge do tradicional esquema dos filmes de guerra, onde as batalhas são o centro da ação. Talvez incomode os fãs mais aguerridos do gênero, mas pode conquistar a plateia mais afeita a novidades estilísticas.

Longe de ser diversão fácil – ainda que contenha todos os ingredientes necessários a um sucesso de bilheteria (leia-se ação, tiros, humor e atores conhecidos) – “Três reis” destaca-se principalmente por sua coragem em lidar com um tema sério de maneira irreverente, sem nunca deixar-se cair na tentação de apelar para a piada fácil ou tiroteios desnecessários. A violência do filme é cuidadosamente encaixada em momentos-chave para que nunca resvale para o banal e a fotografia estourada de Newton Thomas Sigel colabora para a sensação de calor e sufocamento que o deserto iraquiano passa ao espectador. Mesmo o humor tem seu senso de ironia e amargura que pouco é encontrado em filmes americanos, especialmente nos de guerra. O relativo heroísmo dos soldados, no final, não soa como patriotada barata e sim como questão de humanidade. E a bela canção “In God’s country”, da banda irlandesa U2 fecha a obra com chave de ouro.

Um comentário:

Hugo disse...

É um ótimo filme que faz graça com um tema sério e acerta em cheio.

O trio principal carrega bem o filme, além da participação do cineasta Spike Jonze como ator.

Abraço

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