segunda-feira

ÁGUA NEGRA

ÁGUA NEGRA (Dark water, 2005, Touchstone Pictures, 105min) Direção: Walter Salles. Roteiro: Rafael Yglesias, roteiro original de Hideo Nakata, Takashige Ichise, romance de Kôji Suzuki. Fotografia: Affonso Beato. Montagem: Daniel Rezende. Música: Angelo Badalamenti. Figurino: Michael Wilkinson. Direção de arte/cenários: Thèrése DePrez/Nick Evans, Clive Thomasson. Produção executiva: Ashley Kramer. Produção: Doug Davison, Roy Lee, Bill Mechanic. Elenco: Jennifer Connelly, John C. Reilly, Tim Roth, Pete Postletwhaite, Dougray Scott, Camryn Manheim, Ariel Gade. Estreia: 27/6/05

Ainda parte de uma onda que adaptava filmes de terror orientais para o paladar do público (em especial o americano), este "Água negra" é o primeiro filme hollywoodiano do brasileiro Walter Salles depois da boa receptividade de "Diários de motocicleta" (que chegou a levar um Oscar de melhor canção). No entanto, a boa vontade da crítica ianque e do público em geral não se repetiu dessa vez. Refilmagem livre de uma obra japonesa, o filme naufragou nas bilheterias e ainda amargou uma rejeição inexplicável da imprensa de modo quase geral.


Quase inexplicável, na verdade. Levando-se em consideração o quanto obtusa a crítica americana pode ser em algumas ocasiões, o dito fracasso de "Água negra" era até esperado. Afinal de contas, um filme de terror quase sem sustos, com um clima opressivo e claustrofóbico mas sem nada, absolutamente nada de sangue e com uma protagonista torturada por um passado traumático que não envolve psicopatas mascarados só podia mesmo dar com os burros n'água. O diretor Walter Salles e o roteirista Alfredo Yglesias nadaram contra a corrente dos filmes de horror que insistiam em lotar as salas de exibição. E por isso mesmo criaram uma dos melhores e mais angustiantes obras do gênero a surgir em muito tempo.



Lembrando constantemente o clássico "O bebê de Rosemary", de Roman Polanski - principalmente devido a seu clima e sua preferência em focar o psicológico em detrimento do físico - o filme começa quando a jovem Dahlia Williams (Jennifer Connelly, bela e melhor atriz como nunca), recém divorciada, se muda com a filha pequena Ceci (a ótima atriz miriam Ariel Gade) para um prédio soturno, distante alguns minutos de Manhattan. O apartamento onde elas vão morar tem um vazamento no teto e, enquanto Dahlia briga na justiça pela guarda da menina, ele começa a aumentar cada vez mais, na mesma medida em que ela volta a ter pesadelos com sua mãe relapsa. Quando sua filha passa a falar de uma amiga imaginária chamada Natasha, Dahlia entra em colapso.

A ambientação lúgubre do filme de Salles funcina quase como uma personagem em si. O prédio, cada vez mais úmido a medida em que Dahlia entra em suas crises psicológicas, a fotografia escura e sombria do brasileiro Affonso Beatto e a trilha sonora de Angelo Badalamenti (colaborador frequente de David Lynch) colaboram de forma impecável com todo o clima de angústia e solidão proposto pelo roteiro. Ao invés de assustar a audiência a cada cinco minutos, "Água negra" prefere apresentar um estudo sobre traumas do passado, sobre a depressão e sobre o terror que cada um carrega dentro de si. Não é à toa que fracassou. Mas é um filme excelente, digno de ser redescoberto e aplaudido pelos fãs de bom cinema.

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