quarta-feira

EM SEU LUGAR

EM SEU LUGAR (In her shoes, 2005, 20th Century Fox, 130min) Direção: Curtis Hanson. Roteiro: Susannah Grant, romance de Jennifer Weiner. Fotografia: Terry Stacey. Montagem: Lisa Zeno Churgin, Craig Kitson. Música: Mark Isham. Figurino: Sophie De Rakoff. Direção de arte/cenários: John Warnke/Teresa Visinare. Produção executiva: Tony Scott. Produção: Lisa Ellzey, Carol Fenelon, Curtis Hanson, Ridley Scott. Elenco: Cameron Diaz, Toni Collette, Shirley MacLaine, Mark Feuerstein, Eric Balfour, Richard Burgi. Estreia: 14/9/05 (Festival de Toronto)

Definitivamente Curtis Hanson não é um cineasta que gosta de se repetir. Depois do merecido sucesso de crítica e público de sua obra-prima "Los Angeles, cidade proibida" - pelo qual chegou a concorrer ao Oscar - ele enveredou pela comédia dramática "Garotos incríveis" - adaptado de um romance de Michael Chabon e estrelado por grande elenco encabeçado por Michael Douglas - e pelo drama musical "8 mile, rua das ilusões", responsável pela estreia do rapper Eminem no cinema. E quem achava que sua versatilidade tinha chegado a seu ápice deve ter ficado de queixo caído com seu projeto seguinte: a adaptação de "Em seu lugar", livro de Jennifer Weiner que obteve grande êxito de vendas nos EUA e que, para surpresa de todos, é um perfeito exemplo daquilo que os americanos chamam de "chick-lit" e o resto do mundo de "livro de mulherzinha". Sim, o homem que narrou a violenta história de corrupção desbaratada pelo truculento Bud White e a trajetória de um cantor de rap rumo à fama agora conta a história de duas irmãs de personalidades opostas que precisam aprender a lidar com suas diferenças.

O primeiro mérito de Hanson em "Em seu lugar" foi a escolha da australiana Toni Collette para um dos principais papéis. Extremamente talentosa e rica de nuances, Collette chega a humilhar sua colega de cena, a fraca e careteira Cameron Diaz, que usa e abusa (no mau sentido) de todas as armas que lhe deram a posição (exagerada) de destaque dentro da indústria. Enquanto Collette utiliza de sutileza para transmitir seu recado, Diaz frequentemente cai nas armadilhas do roteiro, deixando sua personagem ainda mais chata do que na trama concebida por Weiner - e adaptada pela ótima Susannah Grant, que concorreu ao Oscar por "Erin Brockovich, uma mulher de talento". Na história que o filme conta, as duas são irmãs diferentes como a água e o vinho. Rosie (Collette) é uma bem-sucedida advogada, séria, responsável e dedicada que não dá sorte no amor enquanto Maggie (Diaz) passa seus dias e noites fazendo festas, bebendo e traçando qualquer homem que passe à sua frente. Um desses homens, porém, acabará sendo o culpado por um sério rompimento entre as duas, quando Maggie seduz o namorado da irmã. Furiosa - com toda a razão - Rosie expulsa a irmã de seu apartamento e vai seguir a vida. Maggie, sem rumo, acaba descobrindo que sua avó, Ella (Shirley MacLaine, ótima como sempre) está viva, ao contrário do que seu pai alega, e vai morar com ela na Flórida. Enquanto Rosie se envolve com um colega de firma, Simon (Mark Feuerstein), Maggie é incentivada pela avó a recomeçar a vida, trabalhando, mantendo-se sóbria e buscando a reconciliação com a irmã.



Apesar de fazer parte de uma linhagem menos nobre dentro de Hollywood - os filmes feitos para um público feminino, sem maiores ambições que não divertir a audiência por duas horas - "Em seu lugar" tem a seu favor a seriedade com que Curtis Hanson o trata. A relação entre Maggie e Rosie - ponto crucial da trama - é mostrada sem sentimentalismo barato, assim como os fantasmas do passado das irmãs, que retorna com o reaparecimento de sua avó. Apesar de estender-se demasiadamente - 130 minutos é quase um teste à paciência do público - o filme de Hanson mantém seu interesse por quase todo o tempo, pecando apenas por demorar demais em desenvolver as novas vidas das protagonistas quando separadas. A crise no relacionamento entre Rosie e Simon, por exemplo, não convence o bastante, apesar dos esforços do casal de atores. E não deixa de ser um tanto irritante a personagem de Cameron Diaz, que aborrece o espectador com sua absoluta falta de sensibilidade e respeito para com as pessoas à sua volta - falha do roteiro em explicar convincentemente seus motivos ou falha da atriz, incapaz de maiores voos de interpretação?

No cômputo final, "Em seu lugar" é um entretenimento de qualidade, dirigido com competência e que dá a oportunidade de rever Shirley MacLaine e aplaudir mais uma vez o talento de Toni Collette. Certamente agrada seu público-alvo, mas esbarra em suas próprias limitações temáticas. Vindo de um cineasta tão criativo quanto Hanson não deixa de ser um tanto frustrante.

Um comentário:

Anônimo disse...

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