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VAMPIROS DE ALMAS


VAMPIROS DE ALMAS (Invasion of the body snatchers, 1956, Walter Wanger Productions, 80min) Direção: Don Siegel. Roteiro: Daniel Mainwaring, série de Jack Finney. Fotografia: Ellsworth Fredericks. Montagem: Robert S. Eisen. Música: Carmen Dragon. Direção de arte/cenários: Edward Haworth/Joseph Kish. Produção: Walter Wanger, Walter Mirisch. Elenco: Kevin McCarthy, Dana Wynter, Larry Gates, King Donovan, Carolyn Jones. Estreia: 05/02/56

Não deixa de ser um tanto irônico que um filme constantemente lembrado como uma metáfora do macarthismo, que tantas baixas causou na indústria do cinema, não seja oficialmente uma obra com tais pretensões. Lançado em 1956, quando a política de caça aos comunistas de Hollywood promovida pelo senador Joseph McCarthy ainda estava a pleno vapor, "Vampiros de almas" parecia a alegoria perfeita para o clima de paranoia que rondava o país. Porém, apesar de o diretor Don Siegel afirmar que era impossível fugir das conexões com a realidade, o ator central do filme, Kevin McCarthy, e o autor da história na qual o roteiro era baseado, Jack Finney, negavam qualquer ligação, classificando o filme como apenas mais um thriller de ficção científica a alcançar as telas. É inegável, no entanto, que, sabendo o contexto em que foi realizado, o clássico de Siegel assume um subtexto muito mais interessante e lhe confere uma aura de relevância histórica de que não muitos filmes podem se gabar.

Realizado com pouco mais de 500 mil dólares e filmado em 19 dias - já contando com o atraso causado pela teimosia do diretor em filmar cenas noturnas sem apelar para efeitos visuais, "Vampiros de almas" sofreu com o orçamento apertado. O desenhista de produção, Edward Haworth, por exemplo, esteve sempre à beira de um ataque de nervos: depois de trabalhar com Alfred Hitchcock em "Pacto sinistro" (1951) e "A tortura do silêncio" (1953) - e pouco antes de ganhar um Oscar por "Sayonara" (1957) -, ele chegou a escrever uma carta ao diretor do Allied Artists, preocupado com o destino do filme. De pouco adiantou: Haworth teve de multiplicar sua criatividade para fazer com que o principal elemento da trama - os casulos que abrigavam cópias dos habitantes da pequena cidade de Santa Mira - não fosse prejudicado pelos exíguos trinta mil dólares à sua disposição. Como a história mostrou, ele não apenas conseguiu, mas também forjou um visual que influenciou várias outras obras do gênero pelos anos seguintes - inclusive o remake, lançado em 1978.

 

A trama de "Vampiros de almas" é uma pérola do kitsch - e é tratada como tal por Don Siegel, que mais tarde se consagraria dirigindo Clint Eastwood em sucessos como "Perseguidor implacável" (1971) e "Alcatraz: fuga impossível"" (1979). Tudo se passa em uma típica cidadezinha norte-americana da década de 1950. É para lá que o médico Miles Bennell (Kevin McCarthy) retorna depois de um congresso, para encontrar parte da população sofrendo do que parece um surto de paranoia coletiva: vários de seus pacientes insistem em dizer que seus parentes foram substituídos por algum tipo de impostor. A princípio cético, Bennell leva um choque ao descobrir que todos estão falando a verdade, e que alienígenas estão tomando os corpos dos humanos. Ao lado de uma antiga namorada, Becky (Dana Wynter em papel para o qual foram consideradas Anne Bancroft, Kim Hunter, Vera Miles e Donna Reed), o médico fará o possível para avisar as autoridades a respeito da invasão, mas conforme avança em sua cruzada, percebe que talvez já seja tarde demais - e que não irá demorar para que ele e sua amiga se tornem vítimas.

O roteiro original de "Vampiros de almas" se assumia um pouco como filme trash, repleto de passagens cômicas que se intercalavam às sequências mais sérias da narrativa. Acreditando que a fórmula "humor + tragédia" seria um fator positivo para o sucesso do filme, Siegel, o roteirista Daniel Mainwaring e o produtor Walter Wanger fizeram exibições-teste às escondidas do diretor do estúdio. Realmente o público parecia aprovar a mistura de gêneros, mas Steve Broidy (o mesmo que recebeu a carta desesperada de Edward Haworth) nem considerou a ideia: para a estreia oficial, mandou editar o filme sem qualquer resquício dos momentos leves - uma espécie de contradição, já que foi justamente o estúdio quem exigiu mudanças no final da história original, deixando de lado o tom pessimista e acenando com uma esperança para os personagens e o público. Tais decisões, por mais ditatoriais que possam parecer, acabaram por funcionar: o filme é, hoje em dia, uma das ficções científicas mais conhecidas do cinema.

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