quinta-feira

BUSCA FRENÉTICA


BUSCA FRENÉTICA (Frantic, 1988, Warner Bros, 120min) Direção: Roman Polanski. Roteiro: Roman Polanski, Gérard Brach. Fotografia: Witold Sobocinski. Montagem: Sam O'Steen. Música: Ennio Morricone. Figurino: Anthony Powell. Direção de arte/cenários: Pierre Guffroy. Produção: Tim Hampton, Thom Mount. Elenco: Harrison Ford, Emmanuelle Seigner, Betty Buckley, John Mahoney, Gérard Klein. Estreia: 19/02/88

Nada como, depois de um fracasso de proporções homéricas, voltar às origens para recuperar, se não o caminho das bilheteria, ao menos boa parte do prestígio acumulado em décadas de sucesso. Dois anos depois do fiasco irrecuperável de "Piratas" (1986) - que custou cerca de 40 milhões de dólares e rendeu menos de dois ao redor do mundo -, a carreira de Roman Polanski precisava urgentemente de um filme que resgatasse o respeito da crítica e relembrasse ao público o cineasta por trás de obras impecáveis como "O bebê de Rosemary" (1968) e "Chinatown" (1974). Nada mais natural, então, do que recorrer ao gênero que fez dele um dos mais importantes realizadores europeus de sua geração: de volta à Paris onde filmou seu clássico "O inquilino" (1976) e munido de intenções hitchcockianas, Polanski atingiu parte de seus objetivos. Apesar de não ter se tornado o grande êxito comercial esperado pela Warner Bros, sua primeira colaboração com a futura mulher Emmanuelle Seigner (com quem se casaria em agosto de 1989) o reconciliou com a maioria da crítica e mostrou que abandonar a grandiosidade e abraçar o minimalismo foi sua melhor opção.

Não é preciso ser graduado em Cinema para perceber que a inspiração de "Busca frenética"" - em termos temáticos e visuais - é o mestre do suspense Alfred Hitchcock. Com uma trama que remete diretamente a "A dama oculta" (1938), sequências que homenageiam obras como "Janela indiscreta" (1953) e a indefectível loura misteriosa que foi marca registrada de boa parte de sua filmografia , o filme de Polanski recorre até mesmo a um dos truques preferidos do cineasta britânico: o infame mcguffin - aqui representado por um artefato capaz de detonar armas nucleares (!!). Tal artifício até chega a incomodar de tão pueril, mas é fato que, até que se descubra os motivos por trás do desaparecimento da esposa do protagonista (interpretado por um apático Harrison Ford, provavelmente responsável por boa parte da repercussão popular do filme), a produção envolve e intriga na medida certa, aproveitando as ruas escuras de uma Paris bem menos acolhedora do que nos cartões postais mas charmosa o bastante para desfilar com beleza pelas lentes da fotografia do veterano polonês Witold Sobocinski - colaborador de nomes como Andrzej Wajda e Krysztof Zanussi. Percorrendo becos inferninhos, a câmera nervosa de Sobocinski mergulha o público em uma trama onde tudo parece perigoso e todos parecem suspeitos de algum crime inconfessável.

 

A trama começa com a chegada de Richard Walker (Harrison Ford) à Paris. Acompanhado da mulher, Sondra (Betty Buckley), ele está na capital francesa para uma conferência profissional, mas o casal tem também a intenção de reviver os bons momentos que passaram na cidade em sua lua-de-mel. Seus planos começam a dar errado quando Sondra simplesmente desaparece do quarto de hotel enquanto o marido está no chuveiro. Completamente perdido - não sabe falar francês e não tem a menor ideia do que pode ter acontecido com a esposa -, Walker tampouco recebe ajuda das autoridades locais, pouco interessadas em sua história. Depois de tentativas quase infrutíferas de investigar por conta própria, o médico descobre que o sumiço de Sondra está ligado a uma troca de malas ocorrida ainda no aeroporto - e tal descoberta o leva até Michelle (Emmanuelle Seigner), uma bela jovem que pode estar de posse do objeto procurado pelos sequestradores, que tem ligações com um grupo com intenções de controlar armas nucleares. Juntos, Walker e Michelle partem em busca de uma forma de resgatar Sondra e evitar uma tragédia maior, já que a polícia aparenta estar mais preocupada em desbaratar a quadrilha do que manter a mulher do médico viva.

A trama rocambolesca e com ares de aventura obsoleta de James Bond é o calcanhar de Aquiles de "Busca frenética". Roman Polanski é um diretor com o dom de buscar sempre ângulos desconfortáveis e criativos para enfatizar suas ideias frequentemente claustrofóbicas, mas acaba tropeçando em um roteiro - coescrito com o parceiro Gérard Brach - frequentemente confuso e sem foco bem definido. A presença de Emmanuelle Seigner soa gratuita a maior parte do tempo e a atuação de Harrison Ford, morna e indiferente, prejudica a empatia com seu personagem - que foi cogitado para cair nas mãos de Nick Nolte, William Hurt e Kevin Costner. Salva-se a primeira metade, intrigante, algumas sequências interessantes e até mesmo a presença magnética de Seigner. No mais, é um Polanski mais palatável ao gosto médio (ou seja sem maior personalidade) e menos marcante. Um supercine de luxo!!

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