quinta-feira

CIDADE DOS ANJOS


CIDADE DOS ANJOS (City of Angels, 1998, Warner Bros, 114min) Direção: Brad Silberling. Roteiro: Dana Stevens, roteiro original de Wim Wenders, Peter Handke, Richard Reitinger. Fotografia: John Seale. Montagem: Lynzee Klingman. Música: Gabriel Yared. Figurino: Shay Cunliffe. Direção de arte/cenários: Lilly Kilvert/Gretchen Rau. Produção executiva: Robert Cavallo, Arnon Milchan, Charles Newirth. Produção: Charles Roven, Dawn Steel. Elenco: Nicolas Cage, Meg Ryan, Andre Braugher, Dennis Franz, Colm Feore. Estreia: 10/4/98

Os fãs que me perdoem, mas "Asas do desejo", o cultuado filme do alemão Wim Wenders é um porre. Chato, arrastado, verborrágico e pretensioso, ele tornou-se uma espécie de unanimidade entre os "bem pensantes" do final da década de 80, mas no fundo, não passava de uma parábola com uma premissa interessante e uma fotografia bem cuidada (a não ser que se considere as elocubrações típicas do cineasta, cujo currículo passa bem longe do chamado cinema mainstream). Todas as questões filosóficas/metafísicas do filme foram louvadas ad nauseum pela mídia, fazendo dele um produto superestimado a ponto de ser eleito como um dos melhores da década. Por isso a gritaria generalizada na ocasião do lançamento de "Cidade dos anjos", uma espécie de refilmagem americana. Acusado de diluir a poesia do filme original, a obra de Brad Silberling - cujo trabalho mais famoso até então havia sido a versão em carne-e-osso de "Gasparzinho", com Christina Ricci - foi violentamente execrada pelos fãs de Wenders. Já aqueles que não se deixaram convencer pelos exageros estilísticos do alemão gostaram - e muito - da versão ianque da história. Com uma renda superior a 100 milhões de dólares no mercado doméstico, "Cidade dos anjos" tornou-se mais um sucesso romântico na carreira de sua protagonista, a namoradinha da América, Meg Ryan.

Quando lançado, em 1987, "Asas do desejo" comoveu as plateias "antenadas" com seus discursos verbais e estéticos sobre amor, liberdade e imortalidade justo em um momento crucial da história política e social da Europa: a queda do mundo de Berlim. Ao deixar de lado qualquer ressonância social, sua refilmagem americana concentra-se apenas na história de amor esboçada no terço final do original. E conquista justamente por ser simples e direta. O roteiro de Dana Stevens troca uma melancólica Berlim por uma ensolarada Los Angeles, onde anjos convivem harmoniosamente entre os seres, ajudando-lhes a superar seus problemas (mas sem nunca aparecerem). Um desses anjos é Seth (Nicolas Cage, canastrão como sempre), que busca as pessoas no momento de suas mortes. Em uma dessas tristes missões ele conhece a competente cirurgiã Maggie Rice (Meg Ryan em uma atuação superior a seus trabalhos anteriores) e se apaixona por ela, apesar de saber que jamais poderá consumar seu amor. No entanto, quando trava conhecimento com Nathaniel Messinger (Dennis Franz), um paciente de Maggie que consegue enxergá-lo, descobre que os anjos podem, sim, transformar-se em mortais. Enlouquecido de amor, Seth, contando com o apoio de seu melhor amigo, Cassiel (Andre Braugher), decide abandonar a imortalidade para ficar ao lado da mulher que ama.



Sim, "Cidade dos anjos" é piegas, triste, exageradamente romântico. E é, também, um belo filme, um perfeito exemplo de como transformar uma obra com objetivos pretensiosos em uma delicada história de amor que comove às lágrimas e ainda por cima dá margem a discussões (ainda que superficiais) sobre vida, morte e destino. É um produto tipicamente hollywoodiano, com tudo que isso tem de bom e de mau, mas que aproveita todo seu aparato técnico para uma narrativa enxuta e visualmente impressionante, mérito da fotografia inspirada de John Seale, oscarizado por "O paciente inglês". As cenas em que os anjos se reúnem aos crepúsculos são deslumbrantes, assim como a bela trilha sonora de Gabriel Yared, que conta com uma lindíssima canção de Alanis Morissette em seus créditos finais.

Os fãs de "Asas do desejo" tem razões mil para odiarem cada minuto de "Cidade dos anjos", que é, paradoxalmente, uma refilmagem que não utiliza quase nada de seu original, a não ser a ideia central. Mas em compensação, certamente as multidões que saíram aos prantos em seus momentos finais também não se tornarão especialmente adoradoras da obra de Wim Wenders, que continua sendo pedante e monótona.

4 comentários:

Rafael W. disse...

Não assisti ao original, mas amei esse aqui, é um filme lindão.

http://cinelupinha.blogspot.com/

Alan Raspante disse...

Olha, ainda não vi "Asas do Desejo", mas adoro "Paris, Texas" do Wim Wenders, filme que ficaria fácil fácil em primeiro lugar dos meus filmes favoritos!

Não posso dizer que odeio por completo Cidade dos Anjos, já que não curto tanto a estória do filme e suas atuações, mas consigo achar um filme simpático, sabe? Eu acho bacaninha, mas irritante... sei lá.

Abs querido!

K disse...

Não assisti ao filme original, mas toda vez que vejo Cidade do Anjos, acabo com os olhos cheios de lágrimas. Acho um filme lindíssimo, com uma trilha sonora perfeita.
blogtvmovies.blogspot.com

Silvano Vianna disse...

Legalzinho que ganhou fama e fez sucesso além do que deveria ao meu modo de ver.

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