sexta-feira

O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN

O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN (Le fabuleux destin d'Amelie Poulain, França, 2001, 122min) Direção: Jean-Pierre Jeunet. Roteiro: Jean-Pierre Jeunet, Guillaume Laurant. Fotografia: Bruno Delbonnel. Montagem: Hervé Schneid. Música: Yann Tiersen. Figurino: Madeline Fontaine, Emma Lebail. Direção de arte/cenários: Aline Bonetto/Marie-Laure Valla. Produção executiva: Claudie Ossard. Produção: Jean-Marc Deschamps, Claudie Ossard. Elenco: Audrey Tautou, Mathieu Kassovitz, Jamel Debbouze, Dominique Pinon, Yolande Moreau. Estreia: 25/4/01

5 indicações ao Oscar: Melhor Filme Estrangeiro, Roteiro Original, Fotografia, Direção de Arte/Cenários, Som

O mundo seria um lugar muito melhor se fosse como é retratado em "O fabuloso destino de Amélie Poulain", um dos mais felizes produtos cinematográficos jamais concebidos em seus mais de cem anos de história. Feliz em sua essência, em sua realização e em seu resultado final, o filme de Jean-Pierre Jeunet (em seu primeiro trabalho após sua experiência hollywoodiana com "Alien: a ressurreição") é uma obra-prima em todos os sentidos, um verdadeiro e sólido argumento a favor da paixão que o cinema desperta em milhares de fãs. Exagero? Não é o que acham os mais de 15 milhões de espectadores que correram aos cinemas para assistí-lo e transformá-lo no maior sucesso de bilheteria da história do cinema francês, além de um dos mais influentes produtos cinematográficos de todos os tempos.

Tendo como cenário uma Paris estilizada e esplendidamente fotografada por Bruno Delbonnel (cuja predominância das cores verde, amarelo e vermelho tem como inspiração o trabalho do artista plástico catarinense Juarez Machado), Jeunet conta a história da jovem garçonete Amélie Poulain (vivida com graça e carisma pela ótima Audrey Tautou), que descobre o prazer de ajudar as pessoas a ser felizes ao localizar, por acidente, uma caixa de relíquias infantis perdida em seu apartamento por um antigo morador que vive afastado da família. Incentivada pela mudança positiva que provoca no desconhecido ao devolver-lhe o antigo brinquedo, ela passa a vingar oprimidos, unir solitários, levar a vida exterior a um vizinho doente e até mesmo a resgatar o amor-próprio de uma viúva infeliz. A única pessoa a quem ela não consegue ajudar é ela mesma: tímida e introvertida, ela não tem coragem de declarar-se ao excêntrico Nino Quincampoix (o cineasta Matthieu Kassovitz), mesmo sabendo que ele é o amor de sua vida.



Apontar um único defeito no filme de Jean-Pierre Jeunet é tarefa das mais difíceis que se pode imaginar. Tecnicamente perfeito, com uma trilha sonora deliciosa de Yann Tiersen, com um elenco de atores com rostos marcantes (uma das mais fortes características do diretor, que lembra o cuidado de um Fellini) vivendo personagens interessantes e verossímeis apesar de suas excentricidades e com um roteiro impecável, equilibrado entre o romance idílico e uma auto-ironia irresistível, "O fabuloso destino de Amélie Poulain" ainda consegue o feito raro de conquistar a audiência sem jamais tocar em assuntos polêmicos, ignorar qualquer tipo de violência física e contar uma história de amor sem cair nas armadilhas das comédias românticas americanas - além, é claro, de nunca apelar para o erotismo. Não foi à toa que até mesmo a Academia de Hollywood, normalmente avessa a produções que saem de seus domínios, lhe deu cinco indicações ao Oscar (ainda que, na hora H tenha escolhido o politizado "Terra de ninguém" como vencedor). E se o papel principal foi escrito especialmente para Emily Watson (que pulou fora do projeto na última hora), não há público que consiga imaginar outra Amélie Poulain que não Audrey Tautou.

Dona de um rosto impressionante e de um carisma inegável, Tautou tornou-se a imagem perfeita do filme, uma das mais emblemáticas faces do cinema do início do século XXI. Seus olhos levemente arregalados, assim como seu sorriso meigo enfeitam um dos filmes mais alto-astral que se pode ter notícia. Uma obra-prima capaz de derrubar qualquer mau-humor. Seu único problema? Fazer com que, em comparação com o mundo colorido e onírico mostrado por Jeunet, o mundo real soe tão cinzento...

3 comentários:

renatocinema disse...

Filme poético, mágico e apaixonante.

Um lirismo absurdo.

Alan Raspante disse...

tem como não amar amélie poulain? ah, esse filme é muito, mas muito lindo mesmo!

o Humberto disse...

Rapaz, eu sou suspeito para falar desse filme. Eu simplesmente AMO. Eu demorei uns seis anos pra assistir, mas eu me senti tão profundamente tocado por ele quando, enfim, vi que comprei uma cópia pra mim no dia seguinte. É dos poucos filmes que tenho em casa e procuro assistir regularmente pra me lembrar de ver e viver a vida com um pouco mais de delicadeza.

Excelente sua resenha. Excelente seu blog.

Um abraço!

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