segunda-feira

DOIS FILHOS DE FRANCISCO, A HISTÓRIA DE ZEZÉ DI CAMARGO & LUCIANO

DOIS FILHOS DE FRANCISCO, A HISTÓRIA DE ZEZÉ DI CAMARGO & LUCIANO (Brasil, 2005, 132min) Direção: Breno Silveira. Roteiro: Carolina Kotscho, Patricia Andrade. Fotografia: André Horta, Paulo Souza. Montagem: Vicente Kubrusly. Música: Caetano Veloso. Figurino: Cláudia Kopke. Direção de arte: Kiti Duarte. Produção executiva: Paula Lavigne. Produção: Pedro Buarque de Hollanda, Emanoel Camargo, Luciano Camargo, Pedro Guimarães, Rommel Marques, Leonardo Monteiro de Barros, Luiz Noronha, Breno Silveira. Elenco: Angelo Antonio, Dira Paes, Márcio Kieling, Thiago Mendonça, Paloma Duarte, Dablio Moreira, Marcos Henrique, Lima Duarte, Jackson Antunes, José Dumont, Natalia Lage, Wigor Lima. Estreia: 19/8/05

O filme que conseguiu bater o recorde de bilheteria de "Dona Flor e seus dois maridos" - que parecia imbatível - nasceu desacreditado. Afinal, quem em sã consciência conseguiria prever que a história de uma dupla sertaneja - por mais popular que ela fosse - pudesse interessar a um público amplo o suficiente para lotar cinemas país afora e, mais importante ainda, emocionar incondicionalmente até mesmo aos detratores de um gênero musical não exatamente respeitado pela intelectualidade? Pois, ao contrário do que muita gente achava, "Dois filhos de Francisco, a história de Zezé Di Camargo& Luciano"não apenas tornou-se um sucesso inquestionável de público como também provou (se é que alguém ainda tinha alguma dúvida a respeito disso) que um bom diretor é capaz de transformar pedra em ouro.

Sensível e interessado em suas personagens, Breno Silveira - que se tornaria uma espécie de especialista em filmes em que a música assume importância vital - fez de sua estreia em longas-metragens uma bela ode à persistência, à esperança e ao amor familiar, o que aumentou consideravelmente seu alcance popular. A audiência acorreu célere às salas de cinema para assistir não apenas à trajetória de uma dupla sertaneja e sim à uma história de superação e união, recheada com belos golpes dramáticos capazes de emocionar ao mais insensível espectador. Mesmo que em muitos momentos chegue bem perto de escorregar no dramalhão, Silveira tem a sorte de contar com o talento imenso de dois de seus protagonistas, os ótimos Angelo Antonio e Dira Paes, que, vivendo Francisco e Helena, os pais dos protagonistas, transformam a experiência de se assistir ao filme em um programa acima da média que comprova a capacidade do cinema nacional em falar muito bem da realidade do país.



A primeira fase de "Dois filhos de Francisco" é perceptivelmente superior à segunda, ao mostrar a gênese daquela que se tornaria uma das duplas mais bem-sucedidas da música sertaneja. No sertão de Goiás, o lavrador Francisco (Angelo Antonio, nunca aquém de fabuloso) nutre o sonho - alimentado pela audição incessante de um rádio - de fazer de seus dois filhos mais velhos famosos no país inteiro. Tímidos, os meninos Mirosmar (Dáblio Moreira) e Emival (Marcos Henrique) seguem o sonho do pai e se tornam relativamente conhecidos no circuito de shows em exposições graças ao esforço de seu empresário, Miranda (José Dumont). Depois de uma tragédia, o que parecia um sonho alcançável vira um pesadelo e a família Camargo abandona a música. É só alguns anos depois que Mirosmar (já na pele de Márcio Kieling) volta a tocar, viaja para São Paulo tentar a sorte e, com o nome artístico de Zezé Di Camargo, junta-se a outro irmão, Welson (Thiago Mendonça) para formar uma dupla e aproveitar a onda de sucesso do gênero.

O roteiro de Carolina Kostcho e Patrícia Andrade - que mais tarde deu origem a uma biografia dedicada especificamente à Helena, mãe dos cantores - é de uma simplicidade linear que conquista justamente por não buscar o tentacular.  Tudo acontece de forma orgânica e corretamente inserida no contexto dramático - inclusive alguns momentos de um insuspeito humor. Quando o ritmo cai um pouco - em seu terço final - o que acaba se destacando é a trilha sonora, que foge com inteligência do óbvio, evitando a versão mais conhecida do hit "É o amor" e utilizando a gravação bela e tocante de Maria Bethânia. E até mesmo a história do relacionamento de Zezé com Zilu (Paloma Duarte) - sua esposa e mãe de seus filhos - não chega a comprometer o resultado final, ainda que em certas passagens soe como um drama televisivo.

No final das contas, é preciso deixar o preconceito de lado e encarar "Dois filhos de Francisco" como a história de uma família brasileira, incapaz de desistir de seus sonhos independentemente das desgraças que apareçam em seu caminho. É nesse quesito em particular que Breno Silveira é mais feliz, e não será nenhum pouco estranho se, ao final da sessão, lágrimas teimarem em aparecer.

Um comentário:

Hugo disse...

São duas figuras extremamente irritantes que fica difícil ter vontade de conferir o filme.

Abraço

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