QUEIME DEPOIS DE LER (Burn after reading, 2008, Focus Features, 96min) Direção e roteiro: Ethan Coen, Joel Coen. Fotografia: Emmanuel Lubezki. Montagem: Roderick Jaynes. Música: Carter Burwell. Figurino: Mary Zophres. Direção de arte/cenários: Jess Gonchor/Nancy Haigh. Produção executiva: Tim Bevan, Eric Fellner, Robert Graf. Elenco: George Clooney, Brad Pitt, Frances McDormand, John Malkovich, Tilda Swinton, Richard Jenkins, J.K. Simmons. Estreia: 07/8/08 (Festival de Veneza)
Depois da consagração com os Oscar de filme, direção e roteiro por "Onde os fracos não tem vez", era de se esperar que os irmãos Coen se tornassem mais ambiciosos. Acontece, porém, que a dupla - responsável pela aura de respeitabilidade que o cinema independente americano atingiu nos anos 80 - não joga exatamente pelas regras do mainstream hollywoodiano. Fugindo desesperadamente da repetição, eles lançaram, poucos meses depois da cerimônia de entrega das estatuetas, a comédia "Queime depois de ler", que mistura um roteiro anárquico com personagens que beiram a estupidez - elementos que deram muito certo em algumas de suas obras mais respeitadas, como "Fargo" e "E aí, meu irmão, cadê você?".
Escrito concomitantemente a "Onde os fracos não tem vez", o roteiro de "Queime depois de ler" tem a seu favor o fato de não se levar a sério em momento algum, devolvendo a seus autores o tom de deboche que sempre faz parte de sua filmografia. A diferença é que dessa vez os diálogos nonsense são declamados por rostos conhecidos do grande público, como John Malkovich, George Clooney e Brad Pitt, o que talvez explique a renda de mais de 60 milhões de dólares - tímida em relação aos blockbusters, mas respeitável em se tratando de um filme com o orçamento modesto de pouco mais de 35 milhões. Levando-se em conta também que não segue o padrão de comédias que o público americano gosta - a saber, bobagens sobre fluidos corporais e piadas grosseiras e apelativas. Inteligente e sarcástico, o filme dos Coen é um biscoito fino, despretensioso e muito engraçado.
Tudo começa quando Osborne Cox (John Malkovich, exercitando ainda mais sua persona enlouquecida), um agente da CIA especializado nos Balcãs, é demitido devido a seu problema de alcoolismo. Revoltado, ele resolve escrever suas memórias. Enquanto isso, sua mulher, Katie (Tilda Swinton) tem um caso extraconjugal com Harry Pfarrer (George Clooney), que trabalha no Departamento de Estado e também é casado. O quadrilátero amoroso se complica ainda mais quando Harry - que busca outras amantes em sites da Internet - conhece Linda Litzke (Frances McDormand), funcionária de uma academia de ginástica que tem a ideia fixa de realizar uma série de cirurgias plásticas. Frustrada por não ter cobertura de seu plano de saúde, ela vê uma luz no fim do túnel quando encontra, sem querer, um disquete com os primeiros capítulos das memórias de Cox. Ao lado de seu colega Chad Feldheimer (Brad Pitt), ela resolve chantagear o ex-agente, acreditando que o manuscrito trata de segredos de estado. A partir daí a confusão está formada.
Que não se espere de "Queime depois de ler" uma profusão de piadas. O roteiro dos irmãos Coen é um brilhante exercício de bom-humor e crítica política (sem precisar apelar para intelectualismo). Sua trama, repleta de mal-entendidos e reviravoltas, é um prato cheio para o talento de seu elenco, que deita e rola com personagens que tem seu charme justamente na sua falta de noção. Desde o don juan virtual vivido por Clooney - em sua terceira atuação sobre o comando dos cineastas - até a ansiosa e carente personagem de McDormand, tudo funciona divinamente, graças, logicamente, ao talento dos diretores em extrair de cada um o seu melhor. Aí inclui-se o timing cômico de Brad Pitt e J.K. Simmons e o rosto sempre repleto de nuances de Tilda Swinton. São os excelentes atores escalados que dão suporte ao tresloucado roteiro, cujo principal objetivo é divertir o espectador. E, justiça seja feita, faz isso muito bem.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
sexta-feira
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Um comentário:
Extremamente divertido, um dos melhores dos irmãos Cohen.
Abraço
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