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DO JEITO QUE ELAS QUEREM


DO JEITO QUE ELAS QUEREM (Book club, 2018, June Pictures/Apartment Story/Endeavor Content, 104min) Direção: Bill Holderman. Roteiro: Bill Holderman, Erin Simms. Fotografia: Andrew Dunn. Montagem: Priscilla Nedd-Friendly. Música: Peter Nashel. Figurino: Shay Cunliffe. Direção de arte/cenários: Rachel O'Toole/Dena Roth. Produção executiva: Alan Blomquist, Ted Deiker. Produção: Andrew Duncan, Bill Holderman, Alex Saks, Erin Simms. Elenco: Diane Keaton, Jane Fonda, Candice Bergen, Mary Steenburgen, Andy Garcia, Craig T. Nelson, Don Johnson, Ed Begley Jr., Richard Dreyfuss, Wallace Shawn, Alicia Silverstone. Estreia: 17/5/2018

Em uma era que as aparências, a juventude e a popularidade nas redes sociais valem mais do que talento, é um alento perceber que ainda existe a possibilidade de se nadar contra a corrente mesmo na pouco ousada indústria de cinema de Hollywood. "Do jeito que elas querem" pode até não ter mudado a história da sétima arte ou a forma dos executivos enxergarem mulheres maduras como algo indesejável comercialmente, mas sua bilheteria internacional acima dos 100 milhões de dólares certamente demonstrou que, a despeito do pensamento comum, ainda existe espaço para filmes protagonizados por gente acima dos 60 anos de idade - principalmente quando esta gente é do calibre de Diane Keaton, Jane Fonda, Candice Bergen e Mary Steenburgen. São elas, do alto de seu carisma e de sua capacidade de extrair o melhor até mesmo de um roteiro bobo e quase superficial, o principal atrativo do filme de Bill Holderman - uma produção leve, divertida e que não tem medo de falar de um assunto tabu (sexo na maturidade) com a naturalidade de uma comédia adolescente. Pode até soar inverossímil em alguns momentos, mas é difícil não simpatizar com um elenco tão sensacional - que conta com participações luxuosas de Richard Dreyfuss, Andy Garcia e Don Johnson.

Filme de estreia de Holderman como diretor - como produtor seu currículo conta com obras que valorizam atores veteranos, como "O velho e a arma", que deu a Robert Redford, em 2018, um dos melhores papeis de sua carreira -, "Do jeito que elas querem" é, nitidamente, um veículo para o brilho cômico de suas estrelas, todas brilhantes e extremamente à vontade ao assumir a idade e seus efeitos colaterais na vida sexual. Tudo bem que todas são ricas (ou ao menos de classe média alta), sem problemas maiores a resolver e relativamente bem-sucedidas, mas isso não impede o público de rir de suas desventuras amorosas - e, dependendo do espectador (ou espectadora), atéomesmo identificar-se com algumas delas. Ao centrar sua trama em quatro personagens principais, o roteiro abarca diferentes tipos de relacionamentos e personalidades, e mesmo que não tente se aprofundar em nenhuma delas apresenta à plateia, de forma agradável e esteticamente sofisticada, um interessante painel sobre o amor na terceira idade.

Vivian (Jane Fonda) é uma empresária do ramo da hotelaria que tem uma vida sexual razoavelmente ativa mas que é incapaz de assumir um relacionamento sério - simplesmente não consegue dormir ao lado de um homem depois do sexo - até que reencontra um amor do passado, o músico Arthur (Don Johnson). Diane (Diane Keaton) ficou viúva recentemente e é pressionada pelas filhas casadas (uma delas vivida por Alicia Silverstone, musa dos anos 1990) para mudar de cidade e morar perto delas - sua preocupação é com sua segurança e sua saúde, como se ela fosse uma idosa inválida -, mas que se vê surpresa quando o charmoso piloto de avião Mitchell (Andy Garcia) se demonstra muito mais interessado nela do que se poderia imaginar. Sharon (Candice Bergen) é uma poderosa juíza que atravessa um período difícil depois da separação e do novo amor juvenil do ex-marido - e descobre que os sites de relacionamento podem esconder boas chances de realização sexual. E Carol (Mary Steenburgen) é uma dona-de-casa que tenta reacender a faísca amorosa do marido aposentado, Bruce (Craig T. Nelson). As quatro, amigas há décadas, se reúnem frequentemente em um Clube do Livro, onde falam de suas vidas e discutem literatura, embaladas por boas doses de vinho. Quando a obra escolhida é o polêmico "50 tons de cinza", todas elas se deixam influenciar pelo alto teor erótico da história e buscar dentro de si o melhor caminho para a felicidade a dois.


 Que não se espere maiores elocubrações intelectuais do roteiro, coescrito por Holderman e Erin Simms - atriz pouco conhecida e produtora do romântico "Nossas noites" (2017), que reuniu Jane Fonda e Robert Redford: a trama se contenta em aproveitar o talento de seu elenco para fazer rir enquanto derruba todo tipo de preconceito etário, mas jamais ambiciona discutir com seriedade o assunto. Seu objetivo é divertir o público com diálogos de duplo sentido, sequências de humor visual (o encontro de Craig T. Nelson com uma guarda de trânsito enquanto sofre os efeitos do Viagra é hilário), algum romantismo e momentos de pura comédia (o embate entre Candice Bergen e Richard Dreyfuss é delicioso). Não há a sofisticação de um Woody Allen. parceiro constante de Diane Keaton nos anos 1970, ou o engajamento dos filmes estrelados por Jane Fonda na mesma época, mas em compensação há a química precisa entre suas atrizes e a coragem da produção em apostar na experiência de seus intérpretes mesmo quando o senso comum da indústria privilegia efeitos visuais e orçamentos milionários. Além do mais, não tem preço rever o sempre ótimo Richard Dreyfuss - ainda que em um papel menor que seu talento - e testemunhar uma história que não relega mulheres com mais de 60 anos a tipos dramáticos e sofredores. 

Longe de problemas típicos de personagens de tal faixa etária - como o desprezo dos filhos, a deteriorização da saúde, a falta de oportunidades profissionais e a baixa autoestima -, as protagonistas de "Do jeito que elas querem" são festivas, alegres, independentes e donas do próprio nariz (e a mudança de tal status é o que move a personagem de Diane Keaton). Nada de lágrimas sofridas, reclamações doídas ou medo da morte. O roteiro brinca com a idade de suas heroínas de forma a envolver o espectador e fazê-lo rir de situações que, em mãos menos sutis, poderiam facilmente descambar para a vulgaridade e o mau gosto. Nenhuma atuação é digna de um Oscar e é pouco provável que o filme entre na lista dos preferidos da crítica, mas quem disse que só de obras-primas é feita a história do cinema? Se visto sem preconceitos - afinal é um "filme de mulher" -, "Do jeito que elas querem" é um programa dos mais divertidos.

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