quarta-feira

ÁGUA PARA ELEFANTES


ÁGUA PARA ELEFANTES (Water for elephants, 2011, Fox 2000 Pictures, 122min) Direção: Francis Lawrence. Roteiro: Richard LaGravenese, romance de Sara Gruen. Fotografia: Rodrigo Prieto. Montagem: Alan Edward Bell. Música: James Newton Howard. Figurino: Jacqueline West. Direção de arte/cenários: Jack Fisk/Jim Erickson. Produção executiva: Kevin Halloran. Produção: Gil Netter, Erwin Stoff, Andrew R. Tennenbaum. Elenco: Robert Pattinson, Reese Witherspoon, Christoph Waltz, Hal Holbrook, Paul Schneider, Jim Norton. Estreia: 22/4/2011

Quando "Água para elefantes" estreou nos EUA, em abril de 2011, o ator Robert Pattinson ainda estava preso aos filmes da série "Crepúsculo" - que tanto foram responsáveis por sua popularidade (especialmente junto ao público adolescente feminino) quanto pela falta de respeito por parte da crítica a seu trabalho, situação que mudaria somente anos mais tarde, graças a sua associação com diretores de prestígio, como David Cronenberg. Mas, apesar do pouco caso da imprensa em relação a seus dotes artísticos, é inegável que boa parte do sucesso de bilheteria do filme, adaptado do romance homônimo de Sara Gruen, se deve à sua presença. Com uma trama derivativa e pouco original, "Água para elefantes" se beneficia de uma produção caprichada para disfarçar a direção morna de Francis Lawrence, que consegue deixar apagada até mesmo a normalmente carismática Reese Witherspoon.

A trama de "Água para elefantes" - e sua subsequente adaptação para o cinema - explora (nem sempre a contento) todos os elementos do que se convencionou chamar de "história de amor à moda antiga": um herói íntegro e romântico; uma mocinha sofrida mas decidida a lutar contra tudo e todos; uma paixão proibida; um vilão crudelíssimo e um cenário extravagante. Senão vejamos: o jovem Jakob Jankowski (Robert Pattinson) vê sua vida virar de cabeça para baixo quando perde a oportunidade de fazer a prova final de sua faculdade de Veterinária devido à trágica morte dos pais e, com isso, sua derrocada financeira que o obriga até mesmo a abandonar a casa onde morava. Por obra e graça do destino - ou dos desvãos das mãos caprichosas da escritora - ele acaba indo trabalhar como operário em um circo de propriedade do violento August (Christoph Waltz vivendo dois personagens amalgamados em um único, para desprazer dos leitores da obra original). August trata os empregados de seu circo, o Benzini Bros., com desprezo e tampouco se importa em ser cuidadoso com os animais que se apresentam pelas cidades onde o espetáculo é montado - até mesmo sua relação com a esposa, Marlena (Reese Witherspoon), mais jovem e uma das estrelas da companhia, é construída sobre uma base de medo e tensão. Quando Rosie, um elefante fêmea é adquirida para incrementar os shows, Jakob se aproveita de sua qualificação profissional para tornar-se seu cuidador e treinador oficial - e se apaixona irremediavelmente por Marlena. O romance entre os dois é sufocado pela onipresença de August, que jamais aceitaria perder a mulher para um empregado.

 

Com um prólogo interessante que apresenta o veterano Hal Holbrook como um Jakob idoso e nostálgico de seus dias no circo, o filme de Francis Lawrence - diretor de videoclipes de Britney Spears, Jennifer Lopez, Black Eyed Peas e Lady Gaga e da cultuada adaptação de "Constantine" (2005) - cria uma atmosfera envolvente, sublinhada pela trilha sonora épica de James Newton Howard e pela recriação dos anos da Depressão norte-americana dos anos 1930, mas peca ao não dar a mesma importância ao desenvolvimento dos personagens, em especial os secundários. O romance entre os protagonistas não convence por uma perceptível falta de química entre Reese Witherspoon - cujo talento é indiscutível - e Pattinson, que ficou com um papel para o qual foram testados também Andrew Garfield, Channing Tatum e Emile Hirsch: não existe entre eles aquela faísca que deixa impossível ao espectador não torcer por seu final feliz, em parte por problemas do roteiro (que não permite ao público acompanhar o florescer de seus sentimentos) e em parte pela edição que se pretende ágil mas é apenas apressada. Nem mesmo Christoph Waltz consegue escapar dos problemas, repetindo os trejeitos de sua criação mais famosa, o nazista Hans Landa, de "Bastardos inglórios" (2009), e criando um vilão unidimensional, sem qualquer nuance que o faça parecer mais do que apenas um antagonista cruel. E, golpe de misericórdia, o ambiente circense é subaproveitado, servindo unicamente como um mero pano de fundo - e nem a bela fotografia de Rodrigo Prieto consegue valorizá-lo.

No fim das contas, "Água para elefantes" é apenas um romance morno, cujo visual disfarça (relativamente bem) uma alma de telenovela. Com personagens rasos e uma trama folhetinesca que agrada aos fãs do gênero (e do par central de atores), é uma produção que fica muito a dever até mesmo em termos de emoção. E é de se questionar a qualidade geral de um filme quando seu maior destaque fica por conta de um elefante - Rosie, que serve de ponto fundamental para o clímax, rouba a cena sempre que aparece e desperta mais empatia do que o casal protagonista. Não que isso faça diferença para quem lotou as salas de exibição, mas tanto Pattinson quanto Witherspoon não estavam em seus melhores dias.


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