quinta-feira

ETERNAMENTE JOVEM

 


ETERNAMENTE JOVEM (Forever young, 1992, Warner Bros/Icon Productions, 102min) Direção: Steve Miner. Roteiro: J. J. Abrams. Fotografia: Russell Boyd. Montagem: Jon Poll. Música: Jerry Goldsmith. Figurino: Aggue Guerard Rodgers. Direção de arte/cenários: Gregg Fonseca/Jay Hart, Jan Pascale. Produção executiva: J. J. Abrams, Edward S. Feldman. Produção: Bruce Davey. Elenco: Mel Gibson, Jamie Lee Curtis, Elijah Wood, Isabel Glasser, George Wendt, Robert Hy Gorman, Nicolas Surovy. Estreia: 11/12/92

Conhecido por filmes que exploravam sua testosterona mais do que seus méritos dramáticos - como as séries "Máquina mortífera" e "Mad Max" -, o australiano Mel Gibson entrou na década de 1990 disposto a mudar a imagem que tinha diante do público e da crítica (algo que nem "Hamlet", dirigido por Franco Zefirelli em 1990 havia conseguido). E o primeiro passo nessa direção foi "Eternamente jovem", uma história de amor à moda antiga, despretensiosa e dirigida de modo clássico que, apostando basicamente na presença do ator, fez uma bela carreira nas bilheterias e pavimentou um novo caminho para sua carreira - que culminaria em um Oscar de melhor direção por "Coração valente" (1995). Um romance com leves toques de ficção científica e humor, o filme de Steve Miner (mais conhecido por  filmes de terror e episódios de séries de tv) se beneficia, também, do carisma do pequeno Elijah Wood - que quase rouba a cena mesmo ao lado de veteranos como Gibson e Jamie Lee Curtis.

Escrito por J. J. Abrams - que anos depois se consagraria como criador do seriado "Lost" -, o roteiro de "Eternamente jovem" começa em 1939, antes da II Guerra Mundial. O piloto de testes da Força Aérea americana, Daniel McCormick (Mel Gibson), é apaixonado por sua namorada, Helen (Isabel Glasser), e depois de um longo relacionamento resolve finalmente pedi-la em casamento. Uma tragédia, no entanto, surge em seu caminho quando ela é atropelada e entra em coma. Desesperado quando os médicos afirmam não ver possibilidade de uma melhora para ela, o jovem se oferece para servir de cobaia para uma experiência criogênica do amigo cientista, Harry Finley (George Wendt), e ficar congelado por um ano - tempo suficiente para não ser obrigado a testemunhar a morte da mulher que ama. As coisas não sabem como o esperado, no entanto, e Daniel só acorda novamente depois de cinquenta anos: em uma brincadeira em um depósito abandonado do exército, Nat Cooper (Elijah Wood) e seu melhor amigo, Felix (Robert Hy Gorman), acabam sem querer reativando a câmera criada por Finley e trazendo o antigo piloto de volta à vida. Tentando adaptar-se à nova realidade e encontrar seu amigo - único que pode lhe ajudar a entender tudo que aconteceu desde que iniciou seu sono - ele conta com a ajuda da mãe de Nat, a enfermeira Claire (Jamie Lee Curtis), uma mulher com histórico de relacionamentos complicados que se sente atraída pelo misterioso visitante.

 

A maior surpresa de "Eternamente jovem" é sua ousadia em não se sustentar em uma previsível história de amor entre Daniel e Claire - o que poderia ser o esperado. Apesar da boa química entre Mel Gibson e Jamie Lee Curtis, o roteiro prefere se dedicar à busca do protagonista por uma resposta a respeito de sua condição de exilado temporal. Mesmo que não explore todas as possibilidades de seu choque diante de um novo e mais moderno mundo - o que poderia gerar boas piadas e situações dramaticamente interessantes -, o roteiro de Abrams se beneficia de um ritmo que disfarça suas improbabilidades científicas ao envolver o espectador em uma trama leve e por vezes bem-humorada: todas as interações entre Gibson e Elijah Wood são repletas de uma sintonia rara, que evita que a trama caia no excesso de lágrimas. Ao ensinar o pequeno Nat a conquistar a colega por quem é apaixonado, Daniel recupera um romantismo clássico que remete aos melhores momentos clássicos do cinemão hollywoodiano - e contar com Billie Holiday na trilha sonora enfatiza essa direção ao coração do público. Se não bastasse isso, uma reviravolta no ato final deixa tudo ainda mais emocionante. A boa notícia é que Gibson sustenta bem sua persona sensível - que seria acentuada em seu primeiro filme como diretor, "O homem sem face" (1993).

E quem também surpreende em um novo caminho na carreira é o cineasta Steve Miner. Contratado depois que Sydney Pollack e John McTiernan surgirem como possíveis diretores, o homem por trás de "Sexta-feira 13 II" (1981) e "Sexta-feira 13 III" (1983) - filmes nada sutis e pouco afeitos a delicadezas - conduz "Eternamente jovem" com um tom ameno, caloroso e dotado de uma energia que remete a produções dos anos dourados de Hollywood (um tom que a trilha sonora de Jerry Goldsmith e a fotografia de Russell Boyd sublinham com extrema eficácia). Sem apelar para exageros melodramáticos mesmo que a história em si às vezes implore por isso, Miner não chega a imprimir personalidade ao resultado final, mas só o fato de não atrapalhar a história com pirotecnias desnecessárias já é mais do que admirável. Afinal de contas, o espectador que escolher assistir a seu primeiro filme romântico quer apenas isso: uma boa história, contada com respeito a seu público e uma boa dose de suspensão de realidade.

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