quarta-feira

INTRIGAS

 


INTRIGAS (Gossip, 2000, Warner Bros/Village Road Show Pictures, 90min) Direção: Davis Guggenheim. Roteiro: Gregory Poirier, Theresa Rebeck, história de Gregory Poirier. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem: Jay Cassidy. Música: Graeme Revell. Figurino: Louise Mingenbach. Direção de arte/cenários: David Nichols/Enrico A. Campana, Michelle Convey. Produção executiva: Bruce Berman, Joel Schumacher. Produção: Bobby Newmyer, Jeffrey Silver. Elenco: James Marsden, Lena Headey, Norman Reedus, Joshua Jackson, Kate Hudson, Edward James Olmos, Eric Bogosian. Estreia: 18/4/2000

A ideia até que é interessante, especialmente em uma época pré-redes sociais: um grupo de estudantes resolve monitorar o alcance e a circulação de um boato e descobrem, da pior maneira possível, que uma vez espalhado, um rumor pode ter resultados trágicos e imprevisíveis. Porém, na mão de um diretor mais afeito a um visual estiloso do que a consistência dramática, o suspense juvenil "Intrigas" resulta em um produto esteticamente atraente (ainda que datado) mas vazio em suas pretensões. Com uma premissa que se apresenta instigante até perto de sua metade e que descamba para um excesso de reviravoltas, o filme de estreia de Davis Guggenheim - que assinou episódios de séries de TV elogiadas, como "Plantão médico" e "Nova Iorque contra o crime" e depois levaria um Oscar pelo documentário "Uma verdade inconveniente" (2006) - estreou no lastro de produções de terror adolescente que viraram febre no final dos anos 1990, mas decepcionou em termos de bilheteria e tampouco teve cacife suficiente para tornar-se cult. Nem mesmo a presença de Kate Hudson (às vésperas de virar estrela com o brilhante "Quase famosos", lançado no mesmo ano) foi o bastante para que ele deixasse de ser uma promessa não cumprida.

Um dos maiores problemas do roteiro é fazer de seus três protagonistas personagens pouco simpáticos e nada agradáveis, o que de cara afasta a possibilidade de conexão. Cathy (Lena Headey, em papel oferecido a Jennifer Love Hewitt e Maggie Gyllenhaal) é uma jovem que sofre com o histórico de um romance mal-sucedido com um professor; Travis (Norman Reedus) vive em função de sua arte, que o torna quase antissocial; e Derrick (James Marsden), o galã do grupo, não aceita o fato de ser rejeitado pela colega de apartamento. Merecidamente renegados pelos mais populares estudantes - afinal, os três são perceptivelmente arrogantes -, eles inventam um projeto que, em sua concepção, é inovador e fascinante: criar uma história fictícia, espalhá-la pelo campus e ver o circo pegar fogo. A ocasião surge perfeita quando Derrick testemunha a bela Naomi Preston (Kate Hudson) e seu namorado, Beau (Joshua Jackson), fazerem sexo durante uma festa apesar do estado pouco sóbrio da moça. Em pouco tempo a história se espalha e vai sendo alterada, até que, de uma hora para outra, Beau é preso por estupro.

 

Sem saber exatamente que história quer contar, o roteiro de "Intrigas" cai na armadilha de levar-se a sério demais, abandonando sua ideia inicial para embarcar em um enredo que privilegia uma série de reviravoltas - nem todas verossímeis e até bem forçadas. Enquanto discute a força destrutiva de boatos o filme caminha bem, explorando com destreza os ambientes fúteis e glamorosos em que seus personagens circulam e desenvolvendo a contento suas personalidades quase vazias - a despeito da fragilidade das atuações. Quando muda de foco, no entanto, torna-se apenas mais uma produção que tenta atingir seu público-alvo - plateias jovens pouco exigentes - ao acumular situações pretensamente surpreendentes. Kate Hudson, carismática e boa atriz, é quem se sobressai, explorando as camadas de sua Naomi Preston dentro das poucas possibilidades do texto - é dela a cena mais intensa do filme, catalisadora das consequências mais trágicas da história. Já Lena Headey - que ficaria famosa mais de uma década depois, por "Game of thrones" - se esforça para dar consistência a uma personagem construída com fragilidade dramática. Joshua Jackson, por sua vez, pouco tem a fazer com seu Beau Edson, uma vítima inocente tanto dos protagonistas quanto do roteiro.

Fracasso comercial nos EUA, onde rendeu pouco mais de cinco milhões de dólares, "Intrigas" comprovou o desgaste da fórmula de suspenses juvenis que começou com "Pânico" (1996) e foi sendo explorada sem critério pelos estúdios e por cineastas pouco criativos. Mesmo que fuja um pouco do gênero - afinal não há um assassino mascarado trucidando adolescentes -, o filme de Guggenheim apresenta todos os elementos que levaram multidões aos cinemas, mas esquece do principal: uma trama envolvente e atores carismáticos. Até tenta impor um novo estilo, mas infelizmente fica aquém de sua (boa) ideia inicial.

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