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OS PIRATAS DO ROCK

 


OS PIRATAS DO ROCK (The boat that rocked, 2009, Universal Pictures/Working Title Films/StudioCanal, 135min) Direção e roteiro: Richard Curtis. Fotografia: Danny Cohen. Montagem: Emma E. Hickox. Música: Hans Zimmer. Figurino: Joanna Johnston. Direção de arte/cenários: Mark Tildesley/Dominic Capon. Produção executiva: Liza Chasin, Richard Curtis, Debra Hayward. Produção: Hilary Bevan Jones, Tim Bevan, Eric Fellner. Elenco: Philip Seymour Hoffman, Bill Nighy, Rhys Ifans, Kenneth Branagh, Emma Thompson, Tom Sturridge, Jack Davenport, Nick Frost, Chris O'Dowd, Gemma Arterton, January Jones, Will Adamsdale. Estreia: 01/4/2009

O ano era 1966. O rock britânico dominava as paradas de sucesso, as vendagens e os corações de milhares de jovens, encantados com a aura de rebeldia e liberdade. Em um movimento oposto a esse, no entanto, o governo local tentava impedir o avanço do que considerava uma cultura "perigosa", com uma lei que restringia a execução de música popular na rádio oficial do país a apenas uma hora por dia. Inconformadas com tal arbitrariedade, várias emissoras piratas entravam nos lares ingleses com uma programação recheada de sucessos - sintonizadas a partir de navios ancorados fora dos limites da Inglaterra. Uma dessas emissoras era a Radio Caroline, cujo estilo anárquico, debochado e informal ficou na mente do diretor e roteirista Richard Curtis - que, décadas mais tarde, resolveu homenageá-la com "Os piratas do rock", uma divertida e calorosa comédia que emula, de forma fictícia, sua personalidade e dia-a-dia. Narrado em forma anedótica e pontuado por uma trilha sonora das mais empolgantes - além de um elenco perfeitamente escalado -, o filme pode não ter feito um sucesso avassalador (na verdade nem chegou a pagar seu custo de produção), mas é, como o normal na carreira de Curtis, o equivalente cinematográfico a um abraço carinhoso.

Conhecido principalmente pelo roteiro de "Quatro casamentos e um funeral" (1994) - que lhe rendeu uma merecida indicação ao Oscar e lhe abriu as portas para outras pérolas do gênero, como "Um lugar chamado Notting Hill" (1999) e "O diário de Bridget Jones" (2001) -, Curtis estreou na direção com o sublime "Simplesmente amor" (2003) e tornou-se um cineasta de poucos mas consistentes filmes. "Os piratas do rock" é apenas seu segundo longa, mas já enfatiza seu estilo delicado e generoso de contar histórias centradas em seres humanos, com todas as suas idiossincrasias e possíveis tendências ao ridículo - até mesmo quando o personagem central é um barco. Com uma galeria de tipos capazes de arrancar risadas (e talvez até algumas discretas lágrimas), "Os piratas do rock" aposta em uma trama sem um protagonista único, que espalha seu foco em uma série de acontecimentos que, juntos, formam um retrato dos mais festivos de uma das mais prolíficas eras do rock - vista por seus bastidores mais distantes.

 

O cenário estabelecido por Curtis para contar sua história é a Rock Radio, uma das várias emissoras piratas que desafiavam a lei britânica para agradar a uma legião de fiéis fãs. O filme começa quando o adolescente Carl (Tom Sturridge), expulso da escola pelo supremo ato de rebeldia de fumar maconha, chega ao QG da rádio para passar uns tempos ao lado do padrinho, Quentin (Bill Nighy), o dono do lugar. Assim que chega, Carl se torna parte da rotina doméstica - que inclui duas visitas mensais de um grupo de mulheres para a diversão dos funcionários - e amigo dos radialistas, todos donos de personalidades distintas que dividem o amor pelo rock e pelas liberdades individuais. Dentre todas as bizarras situações que ele testemunha, destaca-se a nem sempre sutil rivalidade entre o americano The Count (Philip Seymour Hoffman) - um dos mais famosos de seu país - e o maior DJ da Inglaterra, o arrogante Gavin (Rhys Ifans) - que retorna depois de um período dedicado a prazeres ilícitos. Mas como a felicidade de uns é sempre o suplício de quem não é feliz, a existência da Rock Radio passa a ser ameaçada por Alistair Dormandy (Kenneth Branagh), homem de confiança do Primeiro Ministro, que faz da missão de acabar com as transmissões piratas a prioridade de seus dias.

"Os piratas do rock" não é tão redondo ou brilhante como os outros filmes de Richard Curtis - demora a engrenar e em alguns momentos sofre de uma perda de ritmo -, mas apresenta, como em todos eles, um humor contagiante. É difícil não torcer por seus anti-heróis, assim como é quase impossível não se deixar envolver por sua amizade e por sua busca por liberdade e arte. Ilustrado por uma bela trilha sonora (por vezes ligeiramente anacrônica, mas sempre funcional) e impregnado por uma ingenuidade encantadora, é uma comédia que foge do riso fácil e prefere sorrisos emocionados a gargalhadas vazias. Em suma, é tudo que a obra de seu diretor/roteirista/produtor sempre ofereceu às plateias: humor inteligente e sensibilidade.

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