DIABOLIQUE (Diabolique, 1996, Morgan Creek Productions, 107min) Direção: Jeremiah Chechik. Roteiro: Don Roos, roteiro francês de Henri-Georges Clouzot, romance "Celle qui n'etait plus", de Pierre Boileau, Thomas Narcejac. Fotografia: Peter James. Montagem: Carol Littleton. Música: Randy Edelman. Figurino: Michael Kaplan. Direção de arte/cenários: Leslie Dilley/Michael Seirton. Produção executiva: Gary Barber, Chuck Binder, Jerry Offsay, Bill Todman Jr. Produção: James G. Robinson. Elenco: Sharon Stone, Isabelle Adjani, Kathy Bates, Chazz Palminteri, Shirley Knight, Adam Hann-Byrd. Estreia: 22/3/96
Quer destruir um clássico do cinema? Primeiro, decida refilmá-lo, de preferência em outro idioma. Depois, escolha um diretor medíocre sem nada de marcante no currículo. Por fim, escale um elenco com o único objetivo de chamar a atenção da mídia: um símbolo sexual tentando ser levado a sério é uma boa opção. Junte a isso um visual desleixado e voilá, sua missão está cumprida. Pelo menos foi seguindo essa receita que os gananciosos executivos de Hollywood transformaram o aterrador "As diabólicas", de Henri-Georges Clozout, lançado em 1955 com Simone Signoret em um dos papéis principais, em "Diabolique", um suspense anêmico e esquecível estrelado por uma Sharon Stone em vias de receber uma indicação ao Oscar por "Cassino".
O filme original foi baseado em um romance cujos direitos foram cobiçados por ninguém menos que Alfred Hitchcock - que depois realizou "Um corpo que cai" baseado em outra história escrita pelos mesmos autores, Pierre Boileau e Thomas Narcejac. Incensado pela crítica e vencedor do prêmio de Melhor Filme Estrangeiro pela Associação de Críticos de Nova York, é um autêntico suspense psicológico, capaz de grudar o espectador na poltrona do início ao fim, graças à trama bem bolada e à direção inteligente e criativa - sem falar no trabalho da ótima Signoret. Sua versão americana, realizada quatro décadas depois, deixa de lado qualquer sutileza e elegância para atingir um público acostumado com doses excessivas de violência e efeitos especiais. Dirigido por Jeremiah Chechik (que depois assinaria o tenebroso "Os vingadores", antes de mudar-se de mala e cuia para a TV), "Diabolique" tem a seu favor a história interessante, mas deixa escapar a chance de ser uma obra de personalidade própria.
As protagonistas do filme são Nicole Horner (Sharon Stone) e Mia Baran (Isabelle Adjani), duas professoras de uma escola para meninos no interior dos EUA. Baran, que é uma das donas da instituição, é casada com seu sócio, o mesquinho e sórdido Guy (Chazz Palminteri), que a humilha e destrata diante de qualquer pessoa e que tem um caso tórrido com Nicole, que também sente-se menosprezada por ele. Cansadas de tanto sofrimento, as duas planejam sua morte, mas, depois de concretizá-la, passam a sofrer o assédio da detetive Shirley Vogel (Kathy Bates), uma mulher determinada a encontrar o desaparecido diretor da escola. Enquanto tentam lidar com a pressão, Nicole e Mia começam também a desconfiar que alguém sabe do que elas fizeram: o cadáver desaparece de onde deveria estar e suas roupas e objetos pessoais passam a surgir nos momentos mais imprevisíveis.
É impossível deixar de pensar em como a trama criada por Boileau e Narcejac poderia se prestar a um filme interessante mesmo sendo uma refilmagem. O desenvolvimento da história e seu final inesperado são realmente empolgantes, mas Chechik não parece desfrutar do mesmo entusiasmo: seus enquadramentos são burocráticos, suas tentativas de criar suspense são pífias e sua direção de atores é no mínimo sofrível. Apesar de ser uma boa atriz - e Scorsese provou isso pouco antes - Sharon Stone faz caras e bocas o tempo todo, num esforço desnecessário para parecer sexy e forte (verdade seja dita, nem mesmo com o figurino vulgar de sua personagem ela deixa de estar deslumbrante). Isabelle Adjani, por sua vez, está no pior momento de sua carreira, mantendo a mesma expressão assustada durante todo o filme - culpa da direção ou da falta de empenho da atriz? E se até mesmo o futuro criador da série "Lost", J.J. Abrahms faz uma pequena participação - como um documentarista - é de se estranhar apenas a presença de Kathy Bates em um elenco tão desigual: na pele da detetive que toma para si o encargo de resolver todo o caso do desaparecimento de Baran, a oscarizada atriz de "Louca obsessão" faz o possível para dar veracidade e dignidade ao filme.
"Diabolique" até serve como sessão noturna de um dia cansativo. Mas é uma vergonha quando comparado ao original, infelizmente indisponível para o grande público. Quem tiver a oportunidade, veja o primeiro. Quem não tiver e desejar apenas acompanhar uma história surpreendente pode até gostar.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
domingo
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Um comentário:
Por isso que sempre digo.....continuações 99,9% das vezes sou contra.
Fora as obras de Tim Burton que apresentam algo novo, mesmo para quem não aprecie, é algo ousado. O resto é preguiça criativa.
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