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MISSÃO IMPOSSÍVEL

MISSÃO IMPOSSÍVEL (Mission: impossible, 1996, Paramount Pictures, 110min) Direção: Brian De Palma. Roteiro: David Koepp, Robert Towne, história de David Koepp, Steven Zaillian, série de TV criada por Bruce Geller. Fotografia: Stephen H. Burum. Montagem: Paul Hirsch. Música: Danny Elfman. Figurino: Penny Rose. Direção de arte/cenários: Norman Reynolds/Peter Howitt. Produção executiva: Paul Hitchcock. Produção: Tom Cruise, Paula Wagner. Elenco: Tom Cruise, Jon Voight, Emmanuele Bèart, Henry Czerny, Jean Reno, Ving Rhames, Kristin Scott-Thomas, Vanessa Redgrave, Emilio Estevez. Estreia: 22/5/96

Na metade da década de 90, Tom Cruise já era um astro estabelecido e consagrado, tanto em termos comerciais quanto artísticos, tendo sido inclusive reconhecido com uma indicação ao Oscar por seu trabalho em "Nascido em 4 de julho". Adorado pelas fãs, bem casado - então com a bela Nicole Kidman - e poderoso, parecia que nada lhe faltava. Mas ambição pouca é bobagem e o galã de "Top Gun, ases indomáveis" deu, então, um passo adiante dentro da indústria: uniu-se a sua empresária Paula Wagner e tornou-se produtor de cinema. Sua estreia na função não poderia ter sido mais bem-sucedida: adaptado de uma famosa série de TV americana, "Missão impossível" não apenas rendeu milhares e milhares de dólares como também abriu uma lucrativa franquia e elevou Cruise a um improvável posto de herói de filmes de ação.


Lançada em 1966, no auge da Guerra Fria, a série criada por Bruce Geller durou 7 temporadas e empolgava a audiência com tramas bem elaboradas sobre espionagem e agentes secretos. Sua versão cinematográfica é feliz em modernizar o conceito da série sem perder sua essência, equilibrando sequências de ação bem cuidadas e cenas do mais puro suspense, o que trai a presença de Brian DePalma na cadeira de diretor. Acostumado a brincar com o público em cenas de absoluta tensão - que o digam "Os intocáveis" e "O pagamento final" - DePalma exercita mais uma vez seu lado hitchcockiano, sem, no entanto, esquecer em momento algum que está comandando um produto comercial caro e que tem por objetivo divertir acima de tudo. A violência gráfica e explícita de "Scarface", por exemplo, é deixada de lado, substituída por uma elegância concisa, que se estende ao elenco escalado em várias partes do mundo e que se mostra ideal para a trama desenvolvida especialmente para a versão cinematográfica do seriado.

O roteiro - escrito por David Koepp e Robert Towne, dois dos mais respeitados profissionais da área - começa em Praga, para onde a equipe de Jim Phelps (Jon Voight) é enviada com a missão de apossar-se de um disquete com informações fundamentais para o governo americano. As coisas, porém, dão muito errado e o time praticamente é exterminado sob os olhos do líder do grupo, o agente Ethan Hunt (Tom Cruise). Acusado de traição por um dos chefes da organização, Eugene Kittridge (Henry Czerny), cabe a Hunt provar sua inocência e descobrir quem é o verdadeiro agente duplo. Para isso, ele conta com a ajuda da mulher de Phelps, a bela Claire (Emmanuele Beart) e de dois agentes renegados, Franz Krieger (Jean Reno) e Luther Stickell (Ving Rhames, o Marcelus Wallace de "Pulp Fiction").

Filmado em locações na Tchecoslováquia, "Missão impossível" é um thriller empolgante, realizado com capricho - e um orçamento generoso. A trama intrincada criada por Towne e Koepp nada mais é do que a desculpa para algumas cenas de tirar o fôlego, sejam elas grandiosas (a luta final dentro de um túnel, com direito até mesmo a um helicóptero) ou minimalistas (já é antológica a cena em que Cruise, na pele de Hunt, fica pendurado a poucos centímetros do chão de uma sala milimetricamente à prova de intrusos). O tal disquete com informações políticas nada mais é do que um exemplar dos famosos "mcguffins" tão queridos a Alfred Hitchcock - elementos de importância vital às personagens, mas que servem apenas para justificar o andamento do roteiro. No caso de "Missão impossível", a lista capaz de corromper aos mais íntegros não é tão importante quanto a edição impecável e o cuidado com a parte técnica: é exemplar a maneira com que Brian DePalma lida com o desenho de som e com o uso parcimonioso dos efeitos visuais em seu filme. Eles fazem parte da trama e nunca são exagerados, nem mesmo no clímax final, em que o quase cerebralismo de sua primeira parte dá espaço à adrenalina total.

"Missão impossível" é diversão de primeira qualidade. Conta com um elenco escalado a dedo - que se dá ao luxo de ter Emilio Estevez, Kristin Scott-Thomas e Vanessa Redgrave como coadjuvantes de luxo - e não subestima a inteligência do espectador. Mesmo tendo gerado duas continuações que dão mais valor à pirotecnias visuais do que a tramas consistentes, é uma auspiciosa estreia de Tom Cruise como produtor.

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