NA COMPANHIA DE HOMENS (In the company of men, 1997, Alliance Atlantis Communications/Fair and Square Productions, 97min) Direção e roteiro: Neil LaBute. Fotografia: Tony Hettinger. Montagem: Joel Plotch. Música: Karel Roessingn, Ken Williams. Direção de arte: Julia Henkel. Produção executiva: Toby Gaff, Mark Hart, Matt Malloy. Produção: Mark Archer, Stephen Pevner. Elenco: Aaron Eckhart, Matt Malloy, Stacy Edwards. Estreia: 01/8/97
"Não confio em um bicho que sangra sete dias sem morrer." Essa polêmica declaração do executivo Chad dá o tom exato de "Na companhia de homens", comédia de humor negro que causou controvérsia em sua estreia - e continua deixando as feministas e os politicamente corretos de cabelos em pé. Vencedor de inúmeros prêmios em festivais de cinema independente - e até mesmo do prestigioso círculo de críticos de Nova York - o filme de estreia do roteirista e diretor Neil LaBute se beneficia de sua coragem extrema em não utilizar de meias-palavras para contar sua história e, ainda mais importante, de contar com o ótimo Aaron Eckhart em um dos papéis centrais. É Aaron, com seu charme e talento naturais que comanda o espetáculo de misoginia orquestrado com concisão por LaBute.
Eckhart interpreta Chad, um jovem e ambicioso executivo que, em uma viagem de negócios, propõe a seu amigo e colega de escola e trabalho Howard (Matt Malloy) um plano diabólico que poderá lhes devolver o amor-próprio e o orgulho feridos por seus relacionamentos fracassados. Chad e Howard, aproveitando que estão longe de casa, resolvem seduzir e abandonar a mesma mulher, para que ela sofra com a rejeição e lhes restitua a sensação de superioridade do macho. A escolhida para ser a vítima do golpe é Christine (Stacy Edwards), uma secretária de sua empresa que, apesar de bela, é surda desde a infância. Excitada com o fato de estar sendo cortejada por dois homens, Christine nem de longe imagina o que lhe espera, e acaba se apaixonando perdidamente por Chad, sem perceber que Howard, carente depois de ter sido abandonado pela noiva, está caindo de amores por ela.
Contando a história de forma suscinta e direta, LaBute não tem medo de ir fundo em seu desejo de mandar às favas todas as normas da elegância. Chad é uma das personagens mais desprezíveis já criadas pelo cinema americano - capaz de disparar atrocidades verbais sem a menor sutileza - e ainda assim conquista a audiência devido ao charme cafajeste de seu intérprete. Mesmo um tanto chocado com a forma atroz com que Chad trata Catherine e até mesmo seus colegas de trabalho - ele chega a humilhar um funcionário negro com intenções de promoção - o público é levado a ter uma espécie de fascínio por ele. Se a intenção do roteiro era fazer com que a plateia tomasse contato com seu lado mais podre - e não o achasse assim tão ruim - é preciso dizer que teve muito sucesso. Mas qualquer um com um mínimo de suscetibilidade é bem capaz de ficar sem palavras diante da coragem do roteiro em ir até o fim em seus objetivos.
Talvez o fato de concentrar seus trunfos nos diálogos, repletos de um humor que não agradam a qualquer público, faça com que "Na companhia dos homens" não seja um produto de consumo fácil e digestão rápida. Até mesmo sua reviravolta final não é exatamente do tipo que faz a audiência vibrar, deixando, ao invés disso, um gosto amargo na boca e no estômago. Mas é um exemplo de roteiro e um sopro de criatividade em uma filmografia tão afeita a clichês quanto a americana.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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