quinta-feira

A OUTRA FACE DA RAIVA

A OUTRA FACE DA RAIVA (The upside of anger, 2005, New Line Cinema, 118min) Direção e roteiro: Mike Binder. Fotografia: Richard Greatrex. Montagem: Steve Edwards, Robin Sales. Música: Alexandre Desplat. Figurino: Deborah Scott. Direção de arte/cenários: Chris Roope/Neesh Ruben. Produção executiva: Mark Damon, Andreas Grosch, Stewart Hall, Andreas Schmid. Produção: Jack Binder, Alex Gartner, Sammy Lee. Elenco: Joan Allen, Kevin Costner, Evan Rachel Wood, Erika Christensen, Mike Binder, Keri Russell, Alicia Witt. Estreia: 23/01/05 (Festival de Sundance)

Uma das atrizes mais interessantes do cinema americano a aparecer ao grande público na segunda metade dos anos 90, Joan Allen já havia sido reconhecida com algumas indicações ao Oscar - como coadjuvante por "Nixon" e "As bruxas de Salem" e como protagonista por "A conspiração" - mas, apesar de sempre ser a melhor coisa dos filmes dos quais participava demorou a ter um filme que lhe desse a oportunidade de mostrar toda a sua capacidade. Foi preciso um filme pequeno e despretensioso - dirigido pelo também ator Mike Binder, que escreveu o papel especialmente para ela - para que ela finalmente pudesse deitar e rolar, em uma atuação tão fabulosa que consegue contagiar até mesmo o normalmente apático Kevin Costner.


Realizado com delicadeza, simplicidade e sensibilidade, “A outra face da raiva” conta a história de Terry Wolfmeyer, uma dona de casa que tem a vida transformada quando é repentinamente abandonada pelo marido e fica às voltas com as quatro filhas: a mais velha, Hadley (Alicia Witt) estuda em outra cidade e está grávida do namorado; a segunda, Emily (Keri Russell) sonha em ser bailarina mas descobre estar seriamente doente; a terceira, Andy (Érika Christensen) quer ser jornalista e se envolve com o patrão alguns anos mais velho (o diretor do filme, Mike Binder) e a caçula, Popeye (Evan Rachel Wood) se apaixona por um colega de classe com dúvidas sobre sua sexualidade. Entregando-se à amargura e à bebida, Terry acaba encontrando amparo e companheirismo em Denny (Kevin Costner), amigo de seu marido que teve seus dias de glória como jogador de beisebol e no momento apresenta um programa de rádio e vive da fama de seu passado.
        

Sem tentar comover apelando às lágrimas fáceis, o equilibrado roteiro de Binder é um prato cheio para Allen, que brilha em cada cena, sendo a megera amarga, a sensível abandonada, a mãe cruel e a mulher com medo de entregar-se a uma nova paixão. Cercada por um elenco que nunca deixa a peteca cair, ela prova, sem espaço para dúvidas, de que é uma das atrizes mais completas de sua geração e transforma o que poderia ser apenas mais um filme sobre problemas familiares em uma experiência acima da média. E encontra em Kevin Costner um parceiro à altura, por incrível que pareça.

Um dos maiores ídolos do começo da década de 90 - com sucessos de bilheteria e um aplauso quase unânime a respeito de sua estreia na direção com o multioscarizado "Dança com lobos" - Kevin Costner deixou que sua megalomania freasse bruscamente a sua ascensão. Os fracassos mastodônticos dos igualmente imensos "Waterworld" e "O mensageiro" o transformaram rapidamente de "o grande astro americano" em "a promessa que não se cumpriu". Até mesmo sua imagem de bom moço foi pro ralo com o fim de seu casamento aparentemente indissolúvel e tudo parecia ter ido água abaixo quando o que restava de sua humildade o jogou em filmes elogiados como "13 dias que abalaram o mundo" - sobre a crise dos mísseis de Cuba em 1963 - e este "A outra face da raiva", onde injetou humanidade a uma personagem que, de certa forma, reflete o ocaso de sua carreira. Ao lado de Joan Allen ele é a principal razão para se assistir à bela estreia de Mike Binder como diretor.

Um comentário:

renatocinema disse...

Acho que hoje, talvez, seja um bom dia para eu assistir filmes sobre recomeços.

Gosto dos trabalhos de Joan Allen.

Costner, porém, acho que perdeu a vez e o passo, faz tempo.

Abraços

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