quarta-feira

FINAIS FELIZES

FINAIS FELIZES (Happy endings, 2005, Lions GateFilms, 128min) Direção e roteiro: Don Roos. Fotografia: Clark Mathis. Montagem: David Codron. Figurino: Peggy Anita Schnitzer. Direção de arte/cenários: Richard Sherman/Matthew Flood Ferguson. Produção executiva: Mike Elliott, Nick Meyer, Tom Ortenberg. Produção: Michael Paseornek, Holly Wiersma. Elenco: Lisa Kudrow, Maggie Gyllenhaal, Tom Arnold, Steve Coogan, Jesse Bradford, Bobby Cannavale, Jason Ritter, David Sutcliffe, Sarah Clarke, Laura Dern. Estreia: 20/01/05 (Festival de Sundance)

Quando ainda não havia estreado como cineasta, Don Roos assinou os roteiros de filmes tão díspares quanto o suspense "Mulher solteira procura..." - que contava com uma Bridget Fonda no auge de uma carreira ascendente que posteriormente desapareceu -, o drama "Armadilhas do amor" - que deu à Michelle Pfeiffer uma indicação ao Oscar -, o tragicômico "Somente elas" - último papel decente de Whoopi Goldberg no cinema - e o tenebroso "Diabolique", refilmagem de um clássico francês que quase sepultou a carreira de Sharon Stone. Foi somente em 1998 que ele assinou um filme como diretor, e não foi um filme qualquer: ainda que relativamente pouco conhecido, "O oposto do sexo" oferecia ao público um tipo de humor que encantava pelo cinismo e pelo politicamente incorreto. Em seu segundo longa, a comédia dramática "Finais felizes", ele mais uma vez utiliza de seu sarcasmo e de seu modo quase cínico de ver a vida
para contar a história de uma dezena de personagens que buscam a felicidade mesmo que por meios às vezes bastante questionáveis. E, se por um lado perde pontos por não contar com uma personagem tão formidável quanto Dede, a protagonista de seu trabalho anterior - vivida por uma Christina Ricci exuberante e impecável - ganha bastante ao apresentar um painel rico o suficiente de personagens bem diferentes entre si.

Se "Finais felizes" tem alguém que merece ser chamada de protagonista, ela provavelmente é Mamie (vivida pela sempre ótima Lisa Kudrow, da série "Friends" e que também arrasava como coadjuvante em "O oposto do sexo"). Mamie é uma psicóloga que aconselha mulheres que pretendem interromper a gravidez. Na verdade ela tem um telhado de vidro, uma vez que, ainda adolescente, desistiu de abortar o filho que esperava de Charley (Steve Coogan na maturidade), filho inglês de sua madrasta - e jamais contou o acontecido a ninguém. Quase vinte anos depois, porém, ela é procurada por Nicky (Jesse Bradford), um  misterioso filmaker que sabe de seu segredo e pretende filmar um documentário apresentando o reencontro entre mãe e filho. Para evitar o encontro e fugir da chantagem que o rapaz faz, Mamie sugere que o tema de seu filme seja a luta do namorado mexicano Javier (Bobby Cannavale) para manter-se nos EUA. Enquanto os dois trabalham na edição, outras histórias paralelas acontecem, misturando-se aos poucos. Charley, o pai do filho de Mamie, por exemplo, desconfia que seu namorado, Gil (David Sutcliffe), é o pai do filho pequeno de um casal de lésbicas (Laura Dern e Sarah Clarke) e resolve tirar a história a limpo. Ele nem desconfia que o jovem músico Otis (Jason Ritter), que trabalha em seu restaurante, é apaixonado por ele, enquanto tenta impedir que a ambiciosa Jude (Maggie Gyllenhaal) - com quem teve uma forçada noite de sexo - seduza seu pai milionário, Frank (Tom Arnold).


 
"Finais felizes" usa e abusa de textos explicativos - alguns bastante irônicos e engraçados - para ajudar a contar suas histórias, que em momento algum seguem o caminho do previsível. Uma das maiores qualidades do texto de Don Roos - não apenas este, mas quase todos - é a simplicidade com que trata de temas espinhosos (homossexualidade, aborto, imigração ilegal) e os conduz com levaza, mesmo quando cria cenas bastante sérias, defendidas por um elenco perceptivelmente adequado e à vontade em seus papéis. A própria Lisa Kudrow deixa de lado a marcante Phoebe Buffay da série de TV que fez por dez anos para entregar uma interpretação comovente mas que nunca deixa de lembrar o público que faz parte de uma comédia.

Pouco visto e pouco conhecido, "Finais felizes" merece ser descoberto pelo público que procura diversão inteligente, descolada e moderna. E é mais uma mostra inconteste do talento de seu diretor/roteirista, que depois comandaria o belo "Mais que o acaso" e o chatinho "As coisas impossíveis do amor".

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