terça-feira

ESTAREMOS SEMPRE JUNTOS


ESTAREMOS SEMPRE JUNTOS (Nous finirons ensemble, 2019, Trésor Films/Caneo Films/EuropaCorp, 134min) Direção: Guillaume Canet. Roteiro: Guillaume Canet, Rodolphe Lauga. Fotografia: Christophe Offenstein. Montagem: Hervé de Luze. Direção de arte/cenários: Philippe Chiffre/Fabien Georges. Produção executiva: Xavier Amblard. Produção: Alain Attal. Elenco: François Cluzet, Marion Cottilard, Benoit Magimel, Gilles Lelouche, Laurent Lafitte, Pascale Arbilot, Clémentine Baert. Estreia: 11/4/2019

Em 2010, o ator e cineasta Guillaume Canet lançou "Até a eternidade", uma comédia dramática que tornou-se um dos maiores sucessos do cinema francês daquele ano, com mais de cinco milhões de ingressos vendidos e elogios rasgados. Seu retrato carinhoso e um tanto melancólico de um grupo de amigos obrigados a enfrentar as verdades por trás de suas vidas aparentemente tranquilas tinha no elenco nomes conhecidos do cinema europeu - como o veterano François Cluzet - e vencedores do Oscar - Marion Cottilard e Jean Dujardin, este em uma participação especial - e nítidas influências de "O reencontro", clássico oitentista do norte-americano Lawrence Kasdan. Com personagens bem construídos, excelente senso de ritmo e um equilíbrio invejável de humor e sentimentalismo, seu roteiro deixava margem para uma continuação que, depois de nove anos, finalmente viu a luz dos projetores. "Estaremos sempre juntos", que volta a encontrar o grupo de amigos, dessa vez com suas vidas alteradas pelo tempo e por novos dramas, estreou na França em 2019 e, apesar de não obter a mesma repercussão do original - e não ter sido exatamente aprovado pela crítica -, mantém algumas de suas maiores qualidades e aposta na identificação da plateia com seus personagens, agora mais velhos e desiludidos.

Enquanto o primeiro filme as férias de verão do grupo de amigos protagonistas acontecia sob a sombra do acidente que deixou um deles no hospital, em "Estaremos sempre juntos" o drama principal gira em torno de Max (François Cluzet), o mais bem-sucedido financeiramente do grupo, que está passando por um inferno astral: separado da mulher, Véro (Valerie Bonneton), vê sua fortuna escapar por entre os dedos, sofre de uma grave crise de meia-idade (apesar do relacionamento carinhoso com a nova esposa) e, apesar de esconder de todos, está vendendo a casa de praia onde tantas vezes recebeu (com indisfarçável orgulho) sua turma. Em depressão e ainda mais taciturno e mau-humorado, Max se surpreende quando todos aparecem na propriedade sem avisar, como forma de comemorar seu aniversário com uma festa surpresa. Já faz algum tempo que seu relacionamento com o grupo está estremecido (principalmente depois de uma briga com Eric (Gilles Lellouche)), e o reencontro, como se poderia esperar, irá reviver conflitos e forçar confrontos que todos gostariam de evitar. Sete anos depois da tragédia que os fez repensar a vida, eles novamente são postos diante de situações decisivas.

Marie (Marion Cottilard) talvez seja, dentre todos, a que mais mudou: mãe solteira de um menino, ela não é mais a mulher disposta a mudar o mundo que era em seus dias mais jovens, e não perde a oportunidade de demonstrar sua má-vontade com o mundo em geral. Vincent (Benoit Magimel) também mudou radicalmente de vida, depois de assumir um relacionamento homossexual e separar-se de Isabelle (Pascale Arbillot) - que, por sua vez, redescobriu sua sensualidade a ponto de chamar a atenção de Antoine (Laurent Lafitte), agora trabalhando como assistente de Eric - que também tornou-se pai e tenta equilibrar sua carreira de ator (em ótima fase) com a vida (quase) familiar. Eric é o único que sabe a verdade sobre a nova situação financeira de Max - e o ajuda a fingir que ele é o responsável por alugar uma nova casa para seu reencontro - um reencontro em que ele tentará manter as aparências enquanto luta desesperadamente com sua sensação de fracasso. Nesse meio-tempo, situações dramáticas e cômicas se acumulam: Vincent se sente atraído pela ex-mulher, Eric tenta convencer Marie a abandonar sua nova e autodestrutiva rotina e a onipresença de uma rígida babá deixa tudo em constante tensão - sem falar nos filhos adolescentes de Vincent e Max, buscando atenção e aprovação paternas.

Assim como em "Até a eternidade", Canet equilibra drama e humor, ilustrando seu roteiro com uma trilha sonora caprichadíssima e um ritmo suave. Porém, ao contrário do que acontecia no primeiro filme, ele não consegue evitar uma queda de interesse em seu terço final, com um clímax pouco atraente - envolvendo as crianças - e um desfecho menos potente do que se poderia imaginar. Tais pecados, no entanto, não apagam o que a produção tem de bom: um elenco acima de qualquer crítica (que consegue lidar com a complexidade de seus personagens), uma sensibilidade emocionante e um carinho indisfarçável pelas relações humanas. Que venha um terceiro capítulo!

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