sexta-feira

ED WOOD

ED WOOD (Ed Wood, 1994, Touchstone Pictures, 127min) Direção: Tim Burton. Roteiro: Larry Alexander, Scott Karaszewski, livro "Nightmare of ecstasy", de Rudolph Grey. Fotografia: Stefan Czapsky. Montagem: Chris Lebenzon. Música: Howard Shore. Figurino: Colleen Atwood. Direção de arte/cenários: Tom Duffield/Cricket Rowland. Produção executiva: Michael Lehmann. Produção: Tim Burton, Denise Di Novi. Elenco: Johnny Depp, Martin Landau, Patricia Arquette, Sarah Jessica Parker, Bill Murray, Jeffrey Jones, Lisa Marie, George "The Animal" Steele, Vincent D'Onofrio. Estreia: 28/9/94

Vencedor de 2 Oscar: Ator Coadjuvante (Martin Landau), Maquiagem
Vencedor do Golden Globe de Ator Coadjuvante (Martin Landau)

Edward D. Wood Jr. nasceu em 10 de outubro de 1924 e morreu em 10 de dezembro de 1978. Veterano da II Guerra Mundial, costumava combater vestido com roupas íntimas femininas e, graças a essa particularidade, realizou seu primeiro filme como cineasta, em 1953: "Glen ou Glenda?" A partir daí, pegou gosto pela coisa e, com a ajuda de seu fiel grupo de amigos e do veterano ator Bela Lugosi - em fim de carreira, viciado em morfina e falido - dirigiu alguns dos mais terríveis filmes vistos nas telas, e assumiu, com o passar dos anos, o título de pior diretor da história do cinema. Sem a menor noção de como fazer um filme - e realizando-os com o dinheiro de quem quisesse produzí-los - Wood é uma das personalidades mais fascinantes do lado B de Hollywood, e virou assunto de um dos trabalhos mais pessoais e sensíveis de Tim Burton. Estrelado pelo excêntrico Johnny Depp, "Ed Wood" não encontrou seu público - rendeu menos de 6 milhões de dólares nas bilheterias americanas - mas encantou a crítica e os fãs de bom cinema. Tudo devido à inteligência do roteiro, ao elenco impecável e ao carinho explícito do diretor pelo material.

Levemente inspirado na biografia "Nightmare of ecstasy", escrita pelo músico Rudolph Grey, "Ed Wood" não é exatamente uma cinebiografia, uma vez que concentra-se unicamente na carreira de cineasta do protagonista, deixando de lado sua vida antes de sua chegada ao cinema. Tudo começa em 1953, quando Wood (vivido com gosto por Johnny Depp), arrasado com as críticas negativas feitas a uma peça teatral que ele dirigiu, resolve iniciar uma nova fase em sua vida, realizando filmes para o cinema. O fracasso de seu primeiro filme - que contava a história de um homem em crise de identidade sexual, interpretado por ele mesmo - não o impede de manter-se esperançoso, principalmente quando conhece, por acaso, o ator Bela Lugosi (Martin Landau, impressionante e vencedor do Oscar de coadjuvante). Decadente e considerado ultrapassado, Lugosi se une a Wood em seus absurdos projetos cinematográficos, iniciando um relacionamento de amizade e admiração sinceras. Enquanto o jovem diretor insiste em filmar histórias sem pé nem cabeça - utilizando como atores médicos quiropratas, investidoras sem talento e filhos dos produtores - seu relacionamento com a namorada Dolores Fuller (Sarah Jessica Parker) vai pro brejo e ele inicia um romance com a dedicada Kathy O'Hara (Patricia Arquette).




Extraordinariamente fotografado em preto-e-branco por Stefan Czapsky (vencedor de importantes prêmios da crítica americana por seu trabalho), "Ed Wood" foge do tradicional esquema das cinebiografias também por permitir-se brincar com a personalidade de seu homenageado. Ao narrar com bom-humor e ironia as aventuras de Wood em busca de reconhecimento e sucesso - ele se comparava a Orson Welles - Burton utiliza os elementos a seu dispor com maestria. A trilha sonora de Howard Shore - substituindo pela única vez o parceiro constante do diretor, Danny Elfman - estabelece o clima sombrio/divertido do filme logo nos créditos iniciais (que, dizem, custaram sozinhos mais do que qualquer filme de Ed Wood). A espirituosa maquiagem vencedora do Oscar faz sua parte sem apelar para exageros e o elenco não poderia estar em dias mais inspirados.

Acostumado a papéis de maluquetes, Johnny Depp criou um Ed Wood completamente obcecado por sua carreira, capaz dos atos mais inacreditáveis para transformar suas ideias malucas em filmes, mas ao mesmo tempo consegue humanizar a personagem em suas cenas com Martin Landau, que foge magnificamente das armadilhas de interpretar alguém tão conhecido como Bela Lugosi. O sotaque empregado por Landau convenceu até mesmo o filho de Lugosi e sua cadavérica aparência casa com exatidão com as intenções de Tim Burton em realizar um filme que orgulharia Wood. E seria injusto esquecer um Bill Murray hilariante e um Jeffrey Jones sempre em vias de roubar a cena. Todos os momentos em que a equipe de Ed Wood está reunida são sublimes em sua visão romântica e apaixonada do ato de fazer cinema.

"Ed Wood" é isso! Uma homenagem carinhosa, romântica, sensível, engraçada e comovente a um dos artistas mais originais e apaixonados que o cinema americano produziu. Ed Wood pode ter sido o pior diretor da história, mas inspirou o melhor filme de um cineasta que provavelmente nasceu para contar sua história.

4 comentários:

Rodrigo Mendes disse...

Tim Burton deveria ser lembrado por esta obra prima como ED por "Plan 9 From Outer Space".

Este Edward e o 'Mãos De Tesoura' são dois grandes (Ed´s) trabalhos conjuntos de Depp e Burton!

Abs.
Rodrigo

renatocinema disse...

Sem dúvida um filmaço.
Sem dúvida um grande trabalho de Johnny Depp (pouco aproveitado em O Turista)
Sem dúvida ótima fotografia.

Sem dúvida você escolheu um filme espetacular para comentar.

Thomás R. Boeira disse...

Realmente um dos melhores filmes de Tim Burton, senão o melhor.

Ótimas atuações de Johnny Depp e Martin Landau!

Abraço,
Thomás
http://www.brazilianmovieguy.blogspot.com/

O Neto do Herculano disse...

Vale a pena rever.
Certamente, o melhor trabalho de Burton (que me perdoem os fãs de Edwards).

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