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SEVEN, OS SETE CRIMES CAPITAIS

SEVEN, OS SETE CRIMES CAPITAIS (Seven, 1995, New Line Cinema, 127min) Direção: David Fincher. Roteiro: Andrew Kevin Walker. Fotografia: Darius Khondji. Montagem: Richard Francis-Bruce. Música: Howard Shore. Figurino: Michael Kaplan. Direção de arte/cenários: Arthur Max/Clay A. Griffith. Produção executiva: Dan Kolsrud, Anne Kopelson, Gianni Nunnari. Produção: Phylis Carlyle, Arnold Kopelson. Elenco: Brad Pitt, Morgan Freeman, Gwyneth Paltrow, Kevin Spacey, R. Lee Ermey, Mark Boone Jr. Estreia: 22/9/95

Indicado ao Oscar de Montagem

Os créditos iniciais já dão o tom do que vem pela frente: com a trilha sonora distorcida de Howard Shore por trás, imagens estremecidas e quase indistinguíveis mostram imagens desagradáveis e escuras, opressivas e angustiantes. É um aviso de David Fincher de que seu segundo filme - o primeiro desde as polêmicas reações a seu "Alien 3" - não é para qualquer estômago e, mais ainda, não tem a menor intenção de poupar ninguém, nem na plateia nem na tela. Um dos filmes mais corajosos dos anos 90 - e talvez por isso mesmo um dos momentos inesquecíveis do cinema policial em todos os tempos - o chocante "Seven, os sete crimes capitais" arrastou multidões às salas de exibição, com sua mistura perfeita entre clima sombrio, roteiro inteligente e um final avassalador. E é claro que contar com Brad Pitt encabeçando o elenco não atrapalhou em nada!!

Em plena ascensão à época do lançamento do filme, Pitt demonstrou que, ao contrário de vários colegas de profissão, se preocupava com os projetos nos quais investia. Sucessos seguidos como "Entrevista com o vampiro", "Lendas da paixão" e o posterior "Os 12 macacos" - que lhe garantiu uma indicação ao Oscar de coadjuvante - provaram que, além de bonito e sexy, ele também é um excelente ator, em especial nas mãos de um bom diretor. E bom é pouco quando se trata de David Fincher. Oriundo do universo dos videoclipes, Fincher aliou, em sua carreira como cineasta, o extremo bom-gosto estético à ousadia em escolher seus roteiros. Escrito por Andrew Kevin Walker em um momento de extrema inspiração, "Seven" é dos poucos filmes que conseguem encantar igualmente público e crítica e manter, mesmo passados quinze anos de sua estreia, o mesmo sabor de novidade. É impossível passar incólume à seu pessimismo e sua extraordinária força narrativa, reforçada pela fotografia soturna de Darius Khondji, um dos mais talentosos profissionais de sua área, que depois assinaria os belos enquadramentos de "Beleza roubada" e "Evita", por exemplo.

Passada em uma cidade não identificada - mas logicamente uma metrópole violenta e caótica - a história criada por Walker começa às vésperas da aposentadoria do metódico e dedicado detetive de homicídios William Sommerset (Morgan Freeman). Em sua última semana profissional ele torna-se parceiro do jovem e energético David Mills (Brad Pitt), recém chegado na cidade com a esposa Tracy (Gwyneth Paltrow). Juntos, eles começam a investigar uma série de homicídios que, descobrem, é cometida por um serial killer inspirado nos sete pecados capitais: gula, cobiça, preguiça, vaidade, luxúria, inveja e ira. Meticuloso, paciente e crudelíssimo, o assassino desafia os detetives até que, inesperadamente, se entrega, para apresentar a todos o clímax de seu diabólico plano.


É impressionante a maneira com que Fincher apresenta sua história, tanto pictoriamente quanto em termos narrativos. A escuridão e a umidade que a fotografia de Khondji transmite ao espectador é palpável e serve com perfeição às intenções negras do roteiro, pessimista e corajoso como poucos. Não deixa de ser irônico, no entanto, que justamente o terço final do filme - e seu inesquecível clímax - se passe em um ambiente ensolarado e espaçoso. Esse aparente paradoxo apenas confirma a vocação de Fincher em fugir do óbvio e surpreender a audiência. O diálogo travado entre o psicótico John Doe e David Mills na viatura policial, a caminho do desfecho genial do filme mostra bem essa dubiedade proposta pelo roteiro: em falas marcantes, Doe questiona se realmente as suas vítimas eram tão inocentes e até que ponto ele não estava apenas limpando uma sujeira que denegria a humanidade. É um texto forte, impactante e recitado por um Kevin Spacey em sua melhor forma.

Aliás, "Seven" também deve muitíssimo a seu elenco. Brad Pitt faz muito mais do que enfeitar a tela, entregando uma atuação visceral. Morgan Freeman tem uma presença silenciosa, precisa e apaziguadora. E Kevin Spacey prova - mais uma vez, como se fosse preciso - que é um dos atores mais espetaculares de Hollywood. No mesmo ano em que levou o Oscar por seu inacreditável Verbal Kint de "Os suspeitos", ele criou um estarrecedor John Doe, um dos vilões mais fascinantes da história do cinema. Seu olhar apático e seu tom de voz quase monocórdio estão na medida certa, compondo um monstro real e por isso mesmo assustador. Basta meia-hora em cena para Spacey botar todo mundo no bolso...

Um dos filmes mais sensacionais da história do cinema americano, "Seven" deu novo fôlego à carreira de David Fincher, confirmou Brad Pitt como o nome mais promissor dos anos 90, deu a Morgan Freeman um dos melhores papéis de sua carreira e marcou a ferro e fogo no imaginário mundial o trabalho impecável de Kevin Spacey. Inteligente, surpreendente e chocante, é uma das maiores obras-primas da sétima arte.

4 comentários:

Thomás R. Boeira disse...

Um dos melhores filmes que já assisti!
O final quase me fez vomitar na minha primeira visita ao filme, de tão pasmo que fiquei.

Abraço,
Thomás
http://www.brazilianmovieguy.blogspot.com/

renatocinema disse...

Filmaço.

Fui na estréia do cinema, visto que o trailer ja havia me encantado.

Todos saimos do cinema sem um único comentário nos lábios. Faltava força para dizer o que acabavamos de ter assistido.

Que história, que construção perfeita de roteiro.

Tudo se encaixa. O vilão se da bem e mal no final, ao mesmo tempo. Isso encanta e apaixona na sétima arte.

Fincher é gênio.

Flávia Hardt Schreiner disse...

15 anos se passaram e Se7en continua sendo um thriller moderno e envolvente...

Aline disse...

amém!!

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