quarta-feira

EVITA

EVITA (Evita, 1996, Hollywood Pictures/Cinergi Pictures Entertainment/Dirty Hands Productions, 135min) Direção: Alan Parker. Roteiro: Alan Parker, Oliver Stone, musical homônimo de Tim Rice e Andrew Lloyd Webber. Fotografia: Darius Khondji. Montagem: Gerry Hambling. Figurino: Penny Rose. Direção de arte/cenários: Brian Morris/Philippe Turlure. Produção: Alan Parker, Robert Stigwood, Andrew G. Vajna. Elenco: Madonna, Antonio Banderas, Jonathan Pryce, Jimmy Nail. Estreia: 25/12/96

5 indicações ao Oscar: Fotografia, Montagem, Direção de Arte/Cenários, Canção ("You must love me"), Som
Vencedor do Oscar de Melhor Canção ("You must love me")
Vencedor de 3 Golden Globes: Melhor Comédia/Musical, Atriz Comédia/Musical (Madonna), Canção ("You must love me")

Praticamente vinte anos separam a estreia na Broadway do musical "Evita", de Andrew Lloyd Webber e Tim Rice do lançamento de sua adaptação cinematográfica, dirigida pelo inglês Alan Parker e estrelado pela diva pop Madonna. Nesse vácuo de quase duas décadas, a ópera-rock de Webber e Rice - que teve montagem até mesmo no Brasil - tornou-se parte do inconsciente coletivo e sua transição para as telas mostrou-se mais complicada do que parecia a princípio. A demora, porém, foi providencial. Com a defecção de Oliver Stone do projeto, também foram deixadas de lado Barbra Streisand, Liza Minnelli, Meryl Streep e Michelle Pfeiffer. Por melhores atrizes que todas elas sejam, ninguém conseguiria ser Evita tão bem quanto Madonna. Arrebatadora em cena, ela apaga da memória de todos seus fiascos anteriores. Levou o merecido Golden Globe de melhor atriz em comédia/musical e segura lindamente a barra de protagonizar um filme quase 100% cantado.


Madonna fala meras 140 palavras em "Evita". Antonio Banderas - na melhor atuação de sua carreira em Hollywood - fala ainda menos (cerca de 18). A música fala por eles e por Jonathan Pryce, o terceiro protagonista de uma ousada e cara produção filmada em Londres, Budapeste e Buenos Aires e que despertou polêmica antes mesmo de ter sua primeira cena rodada: logicamente os argentinos, que veem Eva Perón como quase uma santa não gostaram nem um pouco de vê-la interpretada por Madonna, cuja imagem pública cabe em qualquer definição exceto às relacionadas a qualquer tipo de santidade. Furiosos com a produção do filme, eles chegaram a lançar a sua versão da história, estrelada por Esther Goris, que de certa forma complementa a visão artística e quase onírica de Rice e Lloys Webber, dirigida por maestria por um Alan Parker acostumado a musicais - afinal, foi ele quem assinou "Fama", "Pink Floyd - The Wall" e "The Commitments, loucos pela fama".


A escolha de Parker para comandar "Evita" foi um golpe de mestre. Inteligente e irônico, o cineasta imprime um ritmo espetacular a um roteiro que, em mãos menos hábeis, poderia se tornar um exercício enfadonho de paciência. Editado com precisão por seu colaborador habitual, Gerry Hambling e fotografado brilhantemente pelo iraniano Darius Khondji, "Evita" é tecnicamente impecável, repleto de toda a pompa e circunstância que exige. A impressionante sequência que mostra o funeral da primeira-dama mais amada da história da Argentina é de encher os olhos e basta uma olhada nas fotos do real evento para que se perceba o cuidado da direção de arte em reconstituir com detalhes toda a trajetória da protagonista. Àqueles que reclamaram da superficialidade do roteiro, é preciso lembrar que trata-se de um musical hollywoodiano baseado em um espetáculo da Broadway, ou seja, longe de ser um documentário com objetivos maiores do que entreter e encantar visualmente.



E visualmente "Evita" é um deslumbre. Não há uma única cena em que Alan Parker não tenha impresso seu extremo bom-gosto. Madonna troca de roupa 85 vezes em cena - batendo o recorde de Elizabeth Taylor em "Cleópatra" - e se entrega de corpo e alma à personagem, mesmo tendo que, em certos momentos, esconder a barriguinha de grávida. A estrela maior da música pop canta, dança e representa como se de sua atuação dependesse toda sua carreira - e a julgar pela carta desesperada que escreveu ao diretor implorando pelo papel, de certa forma considerava sua escalação para o filme como seu ápice. Seria injusto dizer que ela não atingiu seu objetivo de conquistar o respeito da crítica e da indústria, ainda que o tenha perdido pouco depois com mais escolhas equivocadas que acrescentou a seu currículo. Mesmo assim, é impossível dissociar, ao final do filme, a imagem de Madonna da imagem de Eva Perón.


Mas, como canta a personagem de Antonio Banderas no início do filme, quem é essa Santa Evita? O musical criado por Lloyd Webber e Tim Rice tenta responder essa questão da maneira mais lírica possível. A sequência inicial mostra a comoção argentina com a morte de sua "líder espiritual". A partir daí, a trama volta no tempo para apresentar a trajetória de uma menina bastarda que chegou ao cargo de primeira-dama da Argentina em uma época de grave crise econômica e de baixa auto-estima do país. O filme conta sua história de amor com o político Juan Peron (Jonathan Pryce, bastante eficiente), sua batalha contra a classe dominante (o que lhe causou grandes problemas de aceitação junto ao high society) e seu trágico final, vítima de um câncer que lhe tirou a vida aos 33 anos de idade. Tudo é narrado através do ponto de vista de um integrante da classe popular, vivido por um surpreendentemente capaz Antonio Banderas - e que, apesar do nome, não tem nenhuma relação com o revolucionário Che Guevara, como foi dito à época. Através de seus olhos, a ironia de toda a trama tem lugar sem nunca prejudicar seu desenvolvimento. E vale lembrar que em seu documentário "Na cama com Madonna", a cantora declarou ter grande interesse sexual no ator... uma fofoquinha de bastidor que dá um gosto ainda mais saboroso ao filme...


Enfim, "Evita", falem o que quiserem, é um grande filme. É dirigido com brilho, interpretado com garra e tem um ritmo invejável, onde as canções, ao invés de atrapalhar a ação, a empurram adiante. Uma obra-prima do gênero e o único trabalho de Madonna em que ela pode realmente ser chamada de atriz.


PS - Aproveito o momento para afirmar minha tristeza com a morte de Elizabeth Taylor, a última diva dos áureos tempos do cinema. É clichê dizer isso, mas sua obra sobreviverá junto àqueles que amam o cinema de qualidade.

4 comentários:

Alan Raspante disse...

Na primeira vez que assisti "Evita", não gostei tanto assim mas depois de rever passei a amar! hehehe Madonna está muito bem. As músicas são ótimas e o filme contém uma bela fotografia. Muito bom o filme.

ps: Gostei da nota do rodapé. Lá se vai mais uma grande deusa do cinema...

Cine Mosaico disse...

Eu gosto muito desse filme.
Visual e trilha sonora impecáveis.
A Madonna mandou muito bem =)

Paulo disse...

O filme de fato é deslumbrante, e é uma pena que a Madonna não tenha feito melhores escolhas posteriormente, tratando-se de sua carreira como atriz. O musical em si é um "samba do crioulo doido", tamanha a mistura de estilos musicais, mas o filme segura-se muito bem, tanto no estilo, como no efeito dramático.

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