quarta-feira

POR UMA VIDA MENOS ORDINÁRIA

POR UMA VIDA MENOS ORDINÁRIA (A life less ordinary, 1997, Channel Four Films/Polygram Filmed Entertainment, 103min) Direção: Danny Boyle. Roteiro: John Hodge. Fotografia: Brian Tufano. Montagem: Masahiro Irakubo. Música: David Arnold. Figurino: Rachael Fleming. Direção de arte/cenários: Kave Quinn/Marcia Calosio. Produção: Andrew Macdonald. Elenco: Cameron Diaz, Ewan McGregor, Ian Holm, Holly Hunter, Delroy Lindo, Dan Hedaya, Stanley Tucci, Tony Shalhoub, Timothy Olyphant. Estreia: 24/10/97

Robert Lewis (Ewan McGregor) é um sujeito de pouca sorte. Desacreditado em suas tentativas de tornar-se escritor de um romance trash, ele, no mesmo dia, é abandonado pela namorada (que o deixa pelo professor de aeróbica) e demitido do emprego de faxineiro de uma empresa (sendo substituído por um robô). Indignado com sua situação desesperadora, ele invade o escritório de seu chefe e, ao perceber que nada fará o frio empresário mudar de ideia a respeito de sua dispensa, faz a única coisa que lhe passa na cabeça: sequestra sua filha, a dondoca Celine Naville (Cameron Diaz). A moça, revoltada com o fato de ser obrigada a trabalhar para pagar por seus luxos, une-se então a Robert para arrancar dinheiro de seu pai. O que os dois jovens nem de longe sonham, porém, é que dois anjos bastante atrapalhados - O'Reilly (Holly Hunter) e Jackson (Delroy Lindo) - tem a difícil missão de fazê-los se apaixonarem um pelo outro, para que não sejam obrigados a viver na Terra pra sempre.

Com essa premissa de novela das sete, a dupla Danny Boyle (diretor) e John Hodge (roteirista) voltou às telas depois do estrondoso sucesso crítico de "Trainspotting", que colocaram seus nomes no mapa da indústria hollywoodiana. Contando ainda com o ator Ewan McGregor (com quem haviam trabalhado ainda em "Cova rasa"), Boyle e Hodge experimentaram, para seu desgosto, o amargo sabor do fracasso. Ignorado pelo público e malhado pela crítica, "Por uma vida menos ordinária" nem de longe causou o mesmo impacto de seus trabalhos anteriores e, pior ainda, foi rechaçado até mesmo pelos fãs mais fiéis do time até então vencedor. Mas afinal de contas, a comédia romântica de Boyle mereceu todo essa vaia generalizada?



É preciso saber se o público - e até mesmo a imprensa - entendeu a proposta do cineasta e seus fiéis asseclas. O que se pode esperar de uma comédia romântica cujos autores deram ao mundo um suspense recheado de humor negro e um drama sobre drogas que foi acusado de glamourizá-las? Obviamente não há, em "Por uma vida menos ordinári"a, cenas daqueles romances melosos que Hollywood costuma empurrar a plateias sedentas por escapismo sentimental. Quando acontece de falarem de amor, logo somos lembrados - pela trilha sonora propositalmente piegas ou pelos absurdos do roteiro - de que estamos diante de um filme que fala de amor, sim, mas da maneira menos convencional possível. Robert e Celine não formam um típico par romântico ele é quase um banana, capaz de desmaiar ao ver sangue, e ela é uma riquinha mimada cujo hobby é brincar de Guilherme Tell (mesmo que corra o risco de ferir o próprio ex-namorado). E o fato de estarem à mercê de dois anjos nada dados a sentimentalismos e capazes de violência física para atingir seus objetivos apenas reitera o tom de brincadeira absoluta. É preciso que se compre a proposta de Por uma vida menos ordinária. E o público, infelizmente, dessa vez não comprou.

Logicamente nem tudo são flores... É necessário admitir que há muitos erros em "Por uma vida menos ordinária", a começar pelo roteiro que, apesar de alguns bons momentos, não chega nem aos pés do brilhantismo de "Trainspotting" e "Cova rasa". As personagens são mal delineadas (talvez de propósito, mas isso não fica exatamente claro) e certas situações não se desenvolvem a contento, dando a impressão de uma colagem de desventuras sem muita conexão. Mas Danny Boyle é visivelmente um diretor muito criativo e isso fica nítido em soluções visuais bastante interessantes, como o céu de um branco absoluto e na sequência musical em que Ewan McGregor e Cameron Diaz parecem se divertir a valer (McGregor inclusive voltaria a demonstrar seus dotes vocais nos filmes "Velvet Goldmine" e "Moulin Rouge"). Somados à atuação delirante de Holly Hunter (de longe a melhor coisa do filme) e à trilha sonora impecável (característica das obras do diretor), esses momentos de criatividade fazem do filme uma agradável experiência. Pode não ser um Danny Boyle dos melhores, mas está longe de ser um dos piores. E tem a simpatia contagiante de Ewan McGregor.

4 comentários:

Hugo disse...

Gosto dos trabalhos de Danny Boyle, porém não assisti este filme.

Abraço

Alan Raspante disse...

Ainda não vi este, mas tendo McGregor e Hunter e ainda sendo uma comédia... pois bem, tenho enormes chances de gostar :)

renatocinema disse...

Assisti o filme anos atrás e gostei muito.

Bela lembrança.

Coloquei na minha locadora online para conseguir uma cópia.

AudiUnilateral disse...

Rapaz filme das antigas que ainda guardo na memoria ....

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