sexta-feira

ALI

ALI (Ali, 2001, Columbia Pictures, 157min) Direção: Michael Mann. Roteiro: Stephen J. Rivele, Christopher Wilkinson, Eric Roth, Michael Mann, história de Gregory Allen Howard. Fotografia: Emmanuel Lubezki. Montagem: William Goldenberg, Lynzee Klingman, Stephen Rivkin, Stuart Waks. Música: Pieter Bourke, Lisa Gerrard. Figurino: Marlene Stewart. Direção de arte/cenários: John Myhre/Jim Erickson. Produção executiva: Howard Bingham, Lee Caplin, Graham King. Produção: Paul Ardaji, A. Hitman Ko, James Lassiter, Michael Mann, Jon Peters. Elenco: Will Smith, Jon Voight, Jamie Foxx, Mario Van Peebles, Ron Silver, Jeffrey Wright, Mykelty Williamson, Jada Pinkett-Smith, Bruce McGill, Giancarlo Esposito. Estreia: 25/12/01

2 indicações ao Oscar: Ator (Will Smith), Ator Coadjuvante (Jon Voight)

Em 2001 Will Smith já era um dos mais populares astros do cinemão comercial hollywoodiano, tendo participado de alguns dos maiores êxitos de bilheteria da década de 90, como "Independence Day" e "Homens de Preto". Mas como sempre acontece, sua ambição era outra: ser levado a sério como ator. O primeiro passo nessa direção foi o pouco visto "Lendas da vida", onde atuou ao lado de Matt Damon sob a direção de Robert Redford. Mas foi somente com "Ali", a cinebiografia do lutador Muhammad Ali, que Smith mostrou que, por trás de seu grande carisma e do sorriso fácil, havia um intérprete dramático de grande potencial. Mesmo que o filme tenha bombado nas bilheterias americanas (rendeu menos de 60 milhões contra os mais de cem do orçamento generoso), ninguém pode contestar a excelência do desempenho de seu protagonista.

Dirigido por Michael Mann logo após seu sucesso absoluto com "O informante" - que chegou a lhe dar uma indicação ao Oscar de direção - "Ali" não é uma cinebiografia no sentido tradicional. O roteiro inicial, que ultrapassava 200 páginas e mostrava toda a sua vida desde a infância foi amplamente reescrito por Mann e Eric Roth (os autores do script de "O informante") e passou a concentrar-se em um período específico da vida do lutador, justamente em seu auge e na fase mais polêmica de sua carreira, quando envolveu-se com o islamismo e perdeu o título de campeão mundial por recusar-se a ir para a guerra do Vietnã. Ao dedicar-se especificamente a esse ângulo da história o filme de Mann torna-se muito mais interessante, porque, através de seu protagonista e de suas lutas pessoais forma-se também um painel da história dos EUA, com seus problemas sociais e um racismo latente que fica óbvio através principalmente dos coadjuvantes da trama, como os conhecidos Malcolm X (em uma atuação acertada do cineasta Mario Van Peebles), Don King (Mykelty Williamson) e o repórter esportivo Howard Cosell (vivido por um irreconhecível Jon Voight).


Entre os acertos de "Ali" está também o tom sóbrio impresso por Mann, um cineasta elegante que não permite que a história resvale para o sentimentalismo nem mesmo quando todas as circunstâncias clamam por isso (e a interpretação do sempre ótimo Jamie Foxx como o empresário viciado em drogas de Ali é um perfeito exemplo dessa afirmação). E mesmo que as cenas de luta não sejam exatamente empolgantes (ainda que também não sejam más) o trabalho detalhista de Will Smith compensa qualquer falha. Merecidamente indicado ao Oscar, o jovem ator prova que seu desejo de ser considerado um ator de verdade não é apenas vaidade rasa. Encarar uma personagem tão maior que a vida quanto Muhammad Ali não é pra qualquer um, e Smith tira de letra o desafio auto-imposto (além de ter reduzido seu salário para que o filme pudesse ser feito).

Mesmo que tenha falhas em seu desenvolvimento (como a desnecessária duração excessiva e o superficialismo na relação de Ali com suas esposas), "Ali" tem mais qualidades do que defeitos. Seu relativo fracasso de bilheteria não condiz com o capricho de sua realização e a dedicação de seus colaboradores. Para as novas gerações Muhammad Ali tem o rosto de Will Smith. Não se pode dizer que seja injusto!

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