quinta-feira

ALGUÉM TEM QUE CEDER


ALGUÉM TEM QUE CEDER (Something's gotta give, 2003, Columbia Pictures/Warner Bros, 128min) Direção e roteiro: Nancy Meyers. Fotografia: Michael Ballhaus. Montagem: Joe Hutsching. Música: Hans Zimmer. Figurino: Suzanne McCabe. Direção de arte/cenários: Jon Hutman/Beth Rubino. Produção: Bruce A. Block. Elenco: Diane Keaton, Jack Nicholson, Keanu Reeves, Amanda Peet, Frances McDormand, Jon Favreau, Paul Michael Glaser, Rachel Ticotin. Estreia: 12/12/03

Indicado ao Oscar de Melhor Atriz (Diane Keaton)
Vencedor do Golden Globe de Melhor Atriz Comédia/Musical (Diane Keaton)

Em 2000, a diretora/roteirista Nancy Meyers agradou o público - em especial o feminino - com a comédia "Do que as mulheres gostam", na qual fez o machão Mel Gibson adentrar o pensamento da mulher do século XXI depois de um choque elétrico (??). Três anos depois ela voltava às telas com uma comédia bastante superior e mais madura, novamente encarando um tema pouco explorado pelo cinemão americano: o amor depois dos 50 anos. Em uma época em que apenas as plateias adolescentes parecem ser levadas em conta na hora em que novos projetos são aprovados, "Alguém tem que ceder" provou - à Fox, por exemplo, que não se interessou pelo filme justamente pela idade de seus protagonistas - que inteligência e bom-gosto sempre tem seus fãs: mais de 120 milhões de dólares arrecadados nas bilheterias e uma surpreendente - mas justa - indicação de sua estrela, Diane Keaton, ao Oscar de melhor atriz.

O protagonista masculino da estória é o empresário musical Harry Sanborn (Jack Nicholson), que tem um fraco por mulheres mais jovens: sua faixa etária preferida é cerca de metade de sua idade. Sua nova conquista é a bela Marin (Amanda Peet), filha da bem-sucedida dramaturga Erica Barry (Diane Keaton). Durante um final de semana na belíssima propriedade da família, em Hamptons, Harry tem um enfarte e se vê obrigado a conviver com a “sogra”, com quem não tem um relacionamento dos mais agradáveis e gentis. Erica, no processo de começar um novo trabalho também não fica muito feliz com a possibilidade de ter que ser enfermeira do arrogante e auto-suficiente namorado da filha única, mas vê a situação ficar mais agradável quando conhece o jovem médico do empresário (Keanu Reeves), que cai de amores por ela. Toda a estranha situação fica ainda mais complicada quando Harry, que até então nem pensava em olhar para uma mulher com mais de 30 anos descobre-se interessado em Erica.

        

Escrito com um frescor e uma inteligência ímpares, o roteiro de “Alguém tem que ceder” brinca com a idade dos personagens de maneira engraçada sem ser boba, irônica sem ser complacente e principalmente, romântica sem ser piegas. Os diálogos entre Keaton e Nicholson (ainda sendo o mesmo Jack Nicholson de sempre, mas menos irritante) estão entre os mais sensíveis e cômicos de sua época, e recitados por dois dos melhores atores que se poderia encontrar. Keaton principalmente. A complexa mudança de sua personagem, que redescobre o amor depois de muito tempo enterrado em uma vitoriosa carreira não poderia ser entregue a qualquer atriz. Mas Diane já fez vários filmes com seu ex-marido Woody Allen e sabe como ninguém mergulhar em neuroses inteligentes e bem-humoradas. Não é de se julgar Meyers, que já escreveu o roteiro com seu par de atores em mente e recusou quaisquer outras possibilidades de elenco - e felizmente Nicholsou preferiu estar aqui do que em "Papai Noel às avessas", que deu a Billy Bob Thornton um de seus melhores papéis.
    
 “Alguém tem que ceder” é uma das melhores comédias românticas da década. Sabe ser engraçada, romântica, sensível e arrancar gargalhadas e lágrimas. Mesmo que se arraste um bocado em seu terço final, alongando-se demais, jamais chega a ser cansativa ou aborrecida - principalmente por contar também com a excelente Frances McDormand como a irmã de Erica, dona de momentos impagáveis. E se não fosse só isso, ainda é um prazer dos maiores ver a casa de praia da personagem principal. Mais do que apenas cenário, é uma festa para os olhos, fotografada com precisão pela lente do veterano Michael Balhaus.

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