segunda-feira

MENINA DE OURO

MENINA DE OURO (Million dollar baby, 2004, Warner Bros, 132min) Direção: Clint Eastwood. Roteiro: Paul Haggis, livro "Rope burns", de FX Toole. Fotografia: Tom Stern. Montagem: Joel Cox. Música: Clint Eastwood. Figurino: Deborah Hopper. Direção de arte/cenários: Henry Bumstead/Richard C. Goddard. Produção executiva: Robert Lorenz, Gary Lucchesi. Produção: Clint Eastwood, Paul Haggis, Tom Rosenberg, Albert S. Ruddy. Elenco: Clint Eastwood, Hilary Swank, Morgan Freeman, Jay Baruchel, Anthony Mackie, Lucia Rijker, Michael Peña, Bryan O'Byrne, Margo Martindale. Estreia: 15/12/04

7 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Clint Eastwood), Ator (Clint Eastwood), Atriz (Hilary Swank), Ator Coadjuvante (Morgan Freeman), Roteiro Adaptado, Montagem
Vencedor de 4 Oscar: Melhor Filme, Diretor (Clint Eastwood), Atriz (Hilary Swank), Ator Coadjuvante (Morgan Freeman)
Vencedor de 2 Golden Globe: Melhor Diretor (Clint Eastwood), Atriz/Drama (Hilary Swank)
Vencedor de 2 Screen Actors Guild Awards: Atriz (Hilary Swank), Ator Coadjuvante (Morgan Freeman)

No mesmo ano em que "O aviador" - mastodôntica produção sobre o milionário Howard Hughes, dirigida por Martin Scorsese e protagonizada por Leonardo DiCaprio - surgiu como favorito ao Oscar devido a seu tamanho e imponência, um filme de orçamento pequeno e estrelado por uma atriz que tentava a volta por cima depois de uma inesperada estatueta da Academia e produções fracassadas apareceu do nada e, surpreendendo a todos foi o grande vitorioso na cerimônia do Oscar de 2005. Dirigido e estrelado pelo veterano Clint Eastwood, o emocionante "Menina de ouro" pode ter custado muito menos do que "O aviador" e não ter tido a mesma divulgação que o projeto de Scorsese, mas tem algo que seu maior rival não mostrou ter: um coração. A trágica história da amizade entre uma garçonete em busca do sonho de tornar-se boxeadora e seu treinador alquebrado pelo tempo e por decepções constantes comoveu milhares de pessoas pelo mundo e principalmente os eleitores da Academia, que o presentearam com quatro estatuetas: filme, diretor, atriz e ator coadjuvante, para o sempre competente Morgan Freeman.


Baseado em contos do livro do escritor F.X. Toole - todos eles versando sobre o universo do boxe - o roteiro escrito por Paul Haggis - que no ano seguinte chegaria novamente ao Oscar com "Crash, no limite" - narra a história de Maggie Fitzgerald (uma assombrosa Hilary Swank, merecidamente premiada com uma segunda estatueta), uma garçonete solitária e batalhadora que sonha vencer no mundo do boxe. Apesar de não estar mais na idade de começar um treinamento, ela convence o experiente Frank Dunning (Clint Eastwood), dono de uma academia, a lhe ajudar a realizar seu sonho. Decepcionado com seu último pupilo - que o deixou por um treinador mais agressivo e ambicioso - Dunning torna-se o mestre da garota, que em pouco tempo começa a demonstrar que merece sua dedicação e confiança. No entanto, um acidente durante uma importante luta internacional põe em cheque a força e a amizade entre mestre e discípula.

 
Na verdade, "Menina de ouro" surpreende seu público por levar a trama por caminhos inesperados, distantes do que seu início pressupõe. Ao contrário do que se poderia imaginar, a trajetória de Maggie rumo à fama não se dá como em "Rocky, um lutador": a fábula da vitória do mais fraco contra as convenções não tem lugar no mundo criado por Eastwood e companhia. A melancolia e a sensação de fracasso que permeiam o filme acentuam-se a cada cena e o final feliz parece mais distante do que nunca quando a saúde da protagonista torna-se mais e mais frágil, até o avassalador desfecho, de arrancar lágrimas de pedra.

O tom de tristeza adotado por Eastwood - e que sua delicade e sutil trilha sonora corrobora acertadamente - fica claro na narração de Morgan Freeman, na pele de um lutador aposentado, cego de um olho, que acompanha a evolução da relação entre Maggie e Dunning - um homem amargo, com um relacionamento problemático com a única filha e um ateu convicto que se diverte provocando o pároco local com discussões teológicas - como um espectador privilegiado. Dunning encontra na solitária e carente garçonete uma substituta para sua filha, e a moça vê nele um pai, uma imagem familiar bem diferente daquela que ela tem e que a decepciona constantemente.

Difícil não gostar de "Menina de ouro", uma pequena obra-prima construída com sangue, suor e sentimentos e realizada com uma paixão que salta aos olhos. As lágrimas são inevitáveis, mas esquecer da saga de Maggie Fitzgerald é tarefa das mais inglórias.

2 comentários:

Heron Xavier disse...

Eu nunca chorei tanto em um filme como em "A Menina de Ouro".

Espetacular. Espetacular.

Hugo disse...

Um dos grandes trabalhos de Clint, com ótimas atuações do trio principal e um final de quebrar o coração.

Abraço

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