terça-feira

CONTROL



CONTROL (Control, 2007, 3 dogs and a Pony, 122min) Direção: Anton Corbjin. Roteiro: Matt Greenhalgh, livro "Touched from a distance", de Deborah Curtis. Fotografia: Martin Ruhe. Montagem: Andrew Hulme. Figurino: Julian Day. Direção de arte/cenários: Chris Roope/Philip Elton. Produção executiva: Iain Canning, Lizzie Franckle, Akira Ishii, Korda Marshall. Produção: Anton Corbjin, Tod Eckert, Orian Williams. Elenco: Sam Riley, Samantha Morton, Alexandra Maria Lara, Joe Anderson, Craig Parkinson. Estreia: 17/5/07 (Festival de Cannes)

O semi-documentário "A festa nunca termina", de Michael Winterbottom falava sobre a efervescente cena musical de Manchester, na Inglaterra, a partir do empresário Tony Wilson, proprietário da casa noturna Factory - que deu nome também a seu selo. Uma das histórias contadas no filme de Winterbottom era a de uma banda de rock chamada Joy Division, que teve seu final bruscamente interrompido pelo suicídio de seu líder, o melancólico e tímido Ian Curtis - e que depois renasceu como a bem-sucedida New Order. Essa contundente trama paralela clamava por um filme só seu. E não demorou para ele surgisse. Dirigido por Anton Corbjin - conhecido por videoclipes de bandas como U2, Metallica e Depeche Mode - "Control" é uma homenagem honesta, comovente e forte, que faz jus à memória de seu biografado na mesma medida em que conta uma história interessante até mesmo para quem nunca ouviu falar na banda.

Contando sua história de forma linear - o que exclui ousadias narrativas para concentrar-se nos conflitos pessoais de seu protagonista - Corbjin utiliza o roteiro, baseado no livro da viúva de Curtis, Deborah, como guia para tentar entender a alma torturada do cantor, um rapaz introvertido, que sofria de epilepsia e que não soube lidar com todas as pressões exercidas pela fama repentina, pelo casamento precoce e por um caso extraconjugal que lhe pesava na consciência. Interpretado com excelência por Sam Riley - que dá à personagem a fragilidade e a tensão necessárias - Ian Curtis surge diante da plateia com todos os seus problemas, todas as suas idiossincrasias e principalmente seu talento em criar canções que falavam sobre dor, tristeza e amor. Recriando na tela o gestual bizarro do artista, assim como sua rotina esmagadora de um trabalho que não lhe satisfazia (e que o levou à música) e o amor por David Bowie e posteriormente Sid Vicious (da banda Sex Pistols), Riley não está nunca aquém de brilhante, e encontra em Samantha Morton uma parceira à altura.


Conhecida como a vidente Agatha do sucesso "Minority report" e indicada ao Oscar em duas ocasiões - como coadjuvante por "Poucas e boas" e protagonista por "Terra de sonhos" - Morton dá nuances bastanta intensas à sua Deborah, uma jovem presa a um casamento fracassado (ainda que apaixonada pelo marido) e a uma vida sem maiores alegrias. A presença silenciosa da atriz contrasta com o ruído da música de seu companheiro, que em pouco tempo se tornaria um ícone do movimento roqueiro não só inglês, mas mundial - e que encerrou-se de forma estúpida e chocante. Quando estão juntos em cena, Morton e Sam Riley tem uma química fascinante - que contrasta com a frieza do relacionamento entre suas personagens mas serve lindamente ao filme de Corbjin.

Fotografado em espetacular preto-e-branco, "Control" é acertadamente pontuado pela música da Joy Division, que comenta a ação com propriedade e inteligência. Sem ceder à tentação de dramatizar excessivamente a história, o cineasta estreante demonstra elegância ao evitar as lágrimas fáceis e filmar uma trama perturbadora com delicadeza e respeito. Um belo e imprescindível filme para os fãs do eterno roque dos anos 70.

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