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sábado
UM BEIJO ROUBADO
UM BEIJO ROUBADO (My blueberry nights, 2007, Block 2 Pictures, 95min) Direção: Kar Wai Wong. Roteiro: Kar Wai Wong, Lawrence Block, história de Kar Wai Wong. Fotografia: Darius Khondji. Montagem: William Chang. Música: Ry Cooder. Figurino: William Chang, Sharon Globerson. Direção de arte/cenários: William Chang/Judy Rhee. Produção executiva: Ye-cheng Chan. Produção: Jacky PangYee Wah, Kar Wai Wong. Elenco: Jude Law, Norah Jones, Natalie Portman, Rachel Weisz, David Straithairn. Elenco: 16/5/07 (Festival de Cannes)
Queridinho dos festivais de cinema graças a filmes como "Felizes juntos" e "Amor à flor da pele", realizados em sua China natal, Kar Wai Wong não teve a mesma sorte com sua primeira produção em língua inglesa. Filme de abertura do Festival de Cannes de 2007, "Um beijo roubado" dividiu a crítica, que não encontrou nele a profundidade dramática de suas obras anteriores. Lindamente fotografado pelo iraniano Darius Khondji e musicado com capricho pelo cubano Ry Cooder, a história da bela e delicada Elizabeth (a cantora Norah Jones estreando como atriz) em busca de autocrescimento esbarra no problema comum a filmes em formato episódico: o desequilíbrio na qualidade de suas subtramas.
Mesmo contando com o escritor Lawrence Block como co-roteirista ao lado do diretor, "Um beijo roubado" ressente-se basicamente de uma estrutura mais sólida, que sustente a fragilidade dramática de sua protagonista. Interpretada com correção mas sem brilho por Norah Jones, a romântica Elizabeth serve apenas como testemunha de duas histórias de qualidades distintas, enquanto sua própria trama amorosa com o charmoso Jeremy (Jude Law, quase coadjuvante), dono de um café que é apaixonado por ela desde uma noite em que beijou-a durante o sono, carece de força e alma. Não se pode culpar Jones pelo relativo fracasso em despertar a atenção da plateia em seu segmento, uma vez que o próprio roteiro peca pela superficialidade, mas é de se pensar se uma atriz mais energética e carismática não ajudaria...
Quando o filme de Wong começa, a doce Elizabeth está indo embora de Nova York para curar seu coração partido - o que não impede que deixe atrás de si a paixão de Jeremy, com quem manteve uma única conversa que o deixou encantado. Em Memphis, ela trabalha arduamente para sobreviver. Como garçonete, ela trava conhecimento com um casal cujo relacionamento foi destruído pelo ciúmes: Arnie (David Straithairn) é um ex-policial que não consegue superar o fim de seu casamento com a bela Sue Lynne (Rachel Weisz) e se entrega a porres homéricos diante dos frequentadores do bar onde Elizabeth trabalha. Em Nevada, um tempo depois, ela conhece Leslie (Natalie Portman), uma jovem jogadora que lhe pede ajuda para pagar suas dívidas e acompanhá-la em uma viagem de carro até seu pai, doente.
O maior problema em "Um beijo roubado" é que as tramas paralelas são muito mais interessantes do que a trajetória de sua protagonista, que nunca chega a mostrar uma personalidade forte o bastante para chamar a atenção da audiência. A Elizabeth de Norah Jones (ou provavelmente a Elizabeth do roteiro de Wong e Block) é quase apática diante das situações que lhe são apresentadas, deixando que o foco do filme seja constantemente alterado - e nem sempre para dramas consistentes. A trama que envolve o casal disfuncional vivido por David Strathairn e Rachel Weisz é fabulosa, contando com atuações caprichadas dos atores, em especial Strathairn, dando a medida exata entre a fúria e a paixão. A história que tem Natalie Portman como protagonista, porém, deixa a desejar exatamente por não contar a passionalidade da narrativa anterior, com um registro quase frio do cineasta. Nem mesmo o talento superlativo de Portman consegue disfarçar a falta do que contar.
E a trama dita principal, então? Apesar de alguns diálogos inspirados - "Como se diz adeus a alguém que não se pode viver sem?" - e do charme da ambientação, da trilha sonora e da dupla de atores, não há como negar que falta alguma coisa na história de amor entre Jeremy e Elizabeth. E é justamente esse vazio, esse vácuo em sua relação que enfraquece o filme como um todo. Falta emoção, falta aquela sensação de amor desesperado dos filmes anteriores de Wong. Talvez tenha sido justamente a intenção, mas um pouco de calor não faria mal. Ainda assim, merece ser assistido e pode encantar aos mais sensíveis.
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