quarta-feira

AS BARREIRAS DO AMOR

 


AS BARREIRAS DO AMOR (Love field, 1992, Orion Pictures, 105min) Direção: Jonathan Kaplan. Roteiro: Don Roos. Fotografia: Ralf D. Bode. Montagem: Jane Kurson. Música: Jerry Goldsmith. Figurino: Collen Atwood, Peter Mitchell. Direção de arte/cenários: Mark Freeborn/Jim Erickson. Produção executiva: George Goodman, Kate Guinzburg. Produção: Sarah Pillsbury, Midge Sanford. Elenco: Michelle Pfeiffer, Dennis Haysbert, Stephanie McFadden, Brian Kerwin, Louise Latham, Beth Grant. Estreia: 11/12/92

Indicado ao Oscar de Melhor Atriz (Michelle Pfeiffer)

Vencedor do Urso de Prata (Melhor Atriz) no Festival de Berlim (Michelle Pfeiffer) 

Coisas de Hollywood: pronto para ser lançado em 1990, o drama "As barreiras do amor" - primeiro filme da produtor da atriz Michelle Pfeiffer, a Via Rosa - acabou sendo guardado em uma gaveta da Orion Pictures enquanto o estúdio enfrentava uma série de dificuldades financeiras que quase o levaram à falência. Sua demora em estrear, no entanto, mostrou-se providencial: o desempenho de Pfeiffer acabou por dar a ela o prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim e indicações ao Golden Globe e ao Oscar - um currículo que destaca o que a produção tem de melhor. Apesar de suas boas intenções, o filme de Jonathan Kaplan não consegue deixar de dar a impressão de ser um telefilme de luxo, com ritmo irregular e situações repletas de clichês. 

A trama se passa em 1963, durante um conturbado período, repleto de revoltas por direitos civis e por manifestações contrárias à Guerra do Vietnã. Praticamente alheia aos problemas do país, a cabeleireira Lurene Hallett (Michelle Pfeiffer) vive uma rotina centrada no trabalho, na vida conjugal ao lado do marido, Ray (Brian Kerwin), e principalmente em sua dedicação quase doente por Jackie Kennedy - a quem admira por, entre outras razões, ter sobrevivido dignamente a um aborto espontâneo, como ela. A chance de ver de perto a mulher por quem é quase obcecada acontece com a visita do presidente e da primeira-dama à sua cidade, Dallas - uma visita que acaba tragicamente, com o assassinato de JFK. Arrasada, Lurenne resolve comparecer ao funeral, em Washington, apesar da proibição do marido. No ônibus que a leva até a capital do país ela conhece Paul Cater (Dennis Haysbert), um rapaz negro que está viajando ao lado da filha pequena, Jonell (Stephanie McFadden), uma criança calada e estranhamente nervosa. Sentindo que há algo de errado na relação entre os dois, a jovem acaba por envolvê-los em um mal-entendido que os leva a virar alvo da polícia - pouco afeita a respeitar cidadãos a quem considera inferiores.

 

Ao relembrar ao público norte-americano um de seus maiores traumas - vale lembrar que foi realizado antes do estupendo "JFK: a pergunta que não quer calar" (1991), de Oliver Stone - e tocar em uma de suas feridas mais profundas (o racismo), "As barreiras do amor" acrescenta um elemento novo a um subgênero dos mais queridos do cinema - o road movie -, convidando o público a acompanhar personagens que vão revelando aos poucos camadas que fazem deles seres bem mais complexos do que em uma primeira constatação. Pfeiffer consegue sair facilmente do tipo femme fatale que a acompanhava até então ao imprimir em sua Lurenne um tom de futilidade e ingenuidade que vai sendo substituída gradualmente pela sensação de desamparo e percepção de um mundo que foge de seu dia-a-dia açucarado: seu trabalho é primoroso, especialmente na transição entre dona-de-casa deslumbrada para uma mulher que encara o próprio sofrimento e vê diante de si um mundo de injustiças e violência. Dennis Haysbert - substituindo Denzel Washington, que abandonou o projeto pelas famosas "divergências artísticas" - não fica atrás, com uma interpretação silenciosa e discreta, em que comunica mais com o olhar do que com longos diálogos (ainda que, quando necessário, também saiba demonstrar a dimensão de seu talento). Completando o trio de protagonistas, a pequena Stephanie McFadden não se deixa intimidar por seus colegas veteranos, transmitindo em suas feições delicadas um mundo de medo e traumas que vão se revelando conforme a estrada vai ficando para trás.

Uma pena, porém, que a direção de Jonathan Kaplan seja tão quadrada. Não é preciso que haja grandes ousadias em um filme cujo roteiro (escrito por Don Roos, que mais tarde assinaria a direção de "O oposto do sexo", de 1998, e "Finais felizes", de 2005) segue todas as regras já conhecidas pelo grande público, mas Kaplan simplesmente evita qualquer desvio no que se poderia esperar do percurso dos personagens - e uma edição mais enxuta talvez resolvesse parte do problema de ritmo que acomete a produção em seu segundo ato. Comentado por uma trilha sonora atípica de Jerry Goldsmith, "As barreiras do amor" é um filme agradável e bem realizado, mas que não atinge todo o seu potencial e não consegue escapar de seu destino de ser um trabalho pouco memorável na carreira dos envolvidos.

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