segunda-feira

JADE

 


JADE (Jade, 1995, Paramount Pictures, 95min) Direção: William Friedkin. Roteiro: Joe Eszterhas. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem: Augie Hess. Música: James Horner. Figurino: Marilyn Vance. Direção de arte/cenários: Alex Tavoularis/Gary Fettis. Produção executiva: William J. MacDonald. Produção: Gary Adelson, Craig Baumgarten, Robert Evans, Christine Peters. Elenco: David Caruso, Linda Fiorentino, Chazz Palminteri, Richard Crenna, Michael Biehn, Donna Murphy, Angie Everhart. Estreia: 13/10/95

Vencedor do Oscar de melhor diretor por "Operação França" (1971) - que também levou a estatueta de melhor filme - e o nome por trás do estrondoso sucesso de "O exorcista" (1973), William Friedkin declarou, em uma entrevista, que dentre todos os seus trabalhos, o seu favorito era "Jade", lançado em 1995. Das duas uma: ou o veterano cineasta buscava reacender as polêmicas em torno do filme ou estava seriamente fora de seu juízo perfeito. Medíocre, quase amador e constrangedor em suas tentativas de soar sexy ou transgressor, a produção estrelada por David Caruso e Linda Fiorentino naufragou fragorosamente nas bilheterias - custou cerca de 50 milhões de dólares e rendeu menos de 10 - e praticamente enterrou a carreira de seu astro, vindo da bem-sucedida série de televisão "Nova York contra o crime" e que, com dois fracassos consecutivos (o outro foi "O beijo da morte", que estreou poucos meses antes), chegou a pensar em abandonar Hollywood. Parte de uma série de produções da primeira metade da década de 1990 que apostavam no erotismo para chamar a atenção das plateias, "Jade" demonstrou, sem espaço para dúvidas, o desgaste da fórmula - e o fato de ter um elenco sem carisma e uma história fraca ajudou (e muito) em sua pouca repercussão.

Apesar de o roteirista de "Jade" ser o mesmo Joe Eszterhas de "Instinto selvagem" (1992) - o enorme sucesso popular que deu início ao boom do gênero - e de sua estrutura ter similaridades bastante óbvias, o filme de Friedkin sofre com a apatia de seu protagonista masculino (tanto o personagem quanto o ator, David Caruso), a sensualidade pouco atraente de sua estrela feminina (Linda Fiorentino sem repetir o êxito de sua performance avassaladora em "O poder da sedução") e a direção quase preguiçosa de William Friedkin - também responsável pelas constantes alterações no roteiro, provável motivo da fragilidade do produto final. Mesmo nas sequências de ação, o cineasta fica longe de demonstrar a segurança vista, por exemplo, em "Operação França" - as perseguições automobilísticas soam repetitivas e são incapazes de empolgar o público, além de parecerem completamente deslocadas da trama (confusa, desinteressante e, pior de tudo, totalmente artificial em suas tentativas de parecer sensual).

 

Assim como em "Instinto selvagem" e "Corpo em evidência" (1992) - estrelado por Madonna e igualmente amparado em sexo e violência -, "Jade" começa com um violento assassinato relacionado a aventuras eróticas. A vítima é um proeminente empresário, morto a golpes de machado. Durante a investigação, a equipe liderada pelo procurador assistente de São Francisco, David Corelli (David Caruso), encontra uma série de fotos do governador do estado, Lew Edwards (Richard Crenna), mantendo relações com uma prostituta chamada Patrice Jacinto (Angie Everhart). Interrogada pela polícia, Patrice revela que o morto mediava encontros de garotas de programa com homens ricos da região e que a mais desejada dentre todas era uma mulher com o nome de guerra de Jade - uma profissional conhecida por realizar todos os desejos de seus clientes, por mais bizarros que possam ser. Novas pistas, porém, levam a Katrina Gavin (Linda Fiorentino), respeitada psicóloga clínica casada com o advogado Matt Gavin (Chazz Palmiteri em papel oferecido a Kenneth Branagh) - Katrina é Jade, uma personalidade que lhe permite atingir o prazer sexual, e tal revelação leva o próprio Corelli a suspeitar de sua inocência, por mais que isso lhe incomode pessoalmente: ele não apenas é amigo íntimo de Gavin como também é completamente apaixonado pela principal suspeita do caso.

A trama pouco verossímil de "Jade" - assim como seu ritmo pouco convidativo e o desenvolvimento precário de seus personagens - colabora com a sensação de filme feito às pressas, sem cuidado com questões cruciais de roteiro e pós-produção. Além de esteticamente decepcionante - nem mesmo as cenas de sexo são minimamente excitantes - e transmitir uma aura de filme B, o trabalho de Friedkin sofre com um elenco fraquíssimo, incapaz das menores nuances de realismo. Caruso - inexpressivo como poucos -, ficou com o papel recusado por Warren Beatty (!!!) e Fiorentino, vinda dos elogios unânimes por "O poder da sedução" - onde pintava e bordava com sua sexualidade franca e amoral -, é subaproveitada, sem ter seu carisma explorado a contento. Escalada para um papel em que praticamente toda Hollywood foi considerada - das óbvias Sharon Stone, Madonna e Demi Moore às mais ousadas possibilidades Nicole Kidman, Jodie Foster e Julia Roberts -, ela acabou por sofrer as consequências do fracasso da produção: de estrela promissora, passou a figurar em uma lista de coadjuvantes pouco lembrados (apesar de ainda obter sucesso como o principal nome feminino de "Homens de preto", de 1997). Já o caso de David Caruso foi quase pior: depois de dois grandes fiascos seguidos, tomou parte de algumas produções obscuras e só retornou ao relativo prestígio em 2002, quando assumiu o papel principal de "CSI: Miami".

Esquecível e quase constrangedor, "Jade" é uma mancha na carreira de William Friedkin, apesar de sua opinião contrária. Talvez sirva para madrugadas insones - mas mesmo assim só se não houver mais nenhuma opção.

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JADE

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