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DISQUE M PARA MATAR


DISQUE M PARA MATAR (Dial M for murder, 1954, Warner Bros., 105min) Direção e produção: Alfred Hitchcock. Roteiro: Frederick Knott, baseado em sua peça teatral homônima. Fotografia: Robert Burks. Montagem: Rudi Fehr. Música: Dimitri Tiomkin. Elenco: Ray Milland, Grace Kelly, Robert Cummings, John Williams. Estreia: 29/5/54

Quase sessenta anos antes de "Avatar" quebrar recordes de bilheteria e revolucionar o modo de fazer cinema (mas não de melhorá-lo qualitativamente), o mestre do suspense já brincava com a tecnologia de 3D. Em 1954 estreava "Disque M para matar", que, baseado em uma peça de teatro de Frederick Knott, utilizava - com bastante parcimônia - efeitos poucas vezes vistos nas telas de cinema na época. A crucial diferença entre sua ambição no momento e o que acontece atualmente nos multiplexes é que antes de focar-se em "revoluções visuais", Alfred Hitchcock concentrava-se na história de seus filmes, em trabalhar o suspense de suas cenas e dar verossimilhança a seus protagonistas, por mais ambíguos que eles fossem.

A personagem central de "Disque M" é Tony Wendice (Ray Milland), um ex-tenista profissional que abandonou a carreira em prol de um vantajoso casamento com a bela Margot (Grace Kelly na primeira de suas três colaborações com o cineasta). Sabendo-se traído por ela, que mantém um romance com o escritor de livros policiais Mark Halliday (Robert Cummings), ele tece um mirabolante plano para livrar-se dela e consequentemente ficar com sua herança. Para tal, ele contrata um antigo colega de escola com uma longa ficha de processos por estelionato. Na hora marcada para o crime, no entanto, as coisas não saem como o esperado e quando Grace passa de vítima a algoz seu marido aproveita para mudar seus planos, acusando-a de assassinato.


O mais interessante em "Disque M para matar" nem é a tentativa de Hitchcock em utilizar-se de recursos óticos "modernos" para contar sua história e sim a maneira com que ele conduz a trama, repleta de surpresas e reviravoltas. Por ser baseado em um texto teatral - uma origem que necessariamente prende a ação em poucos cenários - o filme não apresenta cenas de ação ou externas muito elaboradas (pelo contrário, sempre que aparece a rua é de maneira um tanto artificial). O diretor se contenta em mostrar à audiência apenas o que está acontecendo no momento, sem apelar para flashbacks ou outros recursos que desviariam a atenção. Essa opção em ser extremamente econômico em malabarismos de câmera propicia ao público um sentimento de voyeurismo que o mantém ligado na história mesmo quando ela descamba para um ato final um tanto forçado.

É inegável que "Disque M para matar" perde o pique no seu terceiro ato, quando Tony Wendice está prestes a ser desmascarado. Talvez por não contar com a presença luminosa de Grace Kelly ou por contar apenas com uma conclusão pouco satisfatória em termos de suspense, não se tem, em seus últimos vinte minutos, a concisão e o ritmo de seu princípio - em especial as cenas que antecedem o crime propriamente dito. Ainda assim, como sempre na obra do cineasta, é imperdível por ser de uma elegância rara, em que até mesmo um assassinato é filmado, segundo palavras do francês François Truffaut "como uma cena de amor".

PS - Em 1998, o diretor Andrew Davis (de "O fugitivo") realizou uma nova versão de "Disque M para matar", intitulada "Um crime perfeito", estrelada por Michael Douglas, Gwyneth Paltrow e Viggo Mortensen, mais fiel ao texto teatral e surpreendentemente interessante.

2 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

Eu simplesmente sou fã deste filme, preciso revê-lo pra apimentá-lo! Seu texto é bem direto e preciso, noto que tem base e gosta mesmo de falar sobre cinema clássico! Parabéns!

Rodrigo Mendes disse...

Amou demais a Grace kelly neste primeiro filme com o mestre. A cena do assassinato é perfeita!

Abs! Ótima leitura do filme!

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