quinta-feira

UM LUGAR AO SOL


UM LUGAR AO SOL (A place in the sun, 1951, Paramount Pictures, 122min) Direção: George Stevens. Roteiro: Michael Wilson, Harry Brown, baseado no romance "An american tragedy", de Theodore Dreiser. Fotografia: William C. Mellor. Música: Franz Waxman. Figurino: Edith Head. Produção: George Stevens. Elenco: Montgomery Clift, Elizabeth Taylor, Shelley Winters, Keefe Brasselle, Raymond Burr. Estreia: 14/8/51

9 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (George Stevens), Ator (Montgomery Clift), Atriz (Shelley Winters), Roteiro Adaptado, Fotografia, Montagem, Trilha Sonora Original, Figurino
Vencedor de 6 Oscar: Melhor Filme, Diretor (George Stevens), Roteiro Adaptado, Fotografia em preto-e-branco, Montagem, Trilha Sonora Original, Figurino

Vencedor do Golden Globe de Melhor Filme/Drama

Este é o filme que o mestre Charles Chaplin descreveu como "o melhor filme já feito em toda a história!". Este é o filme que inspirou Janete Clair a escrever a novela "Selva de pedra", um de seus maiore sucessos. Este é o filme que apresentou Elizabeth Taylor a Montgomery Clift, que se tornaram grandes amigos até a morte do ator, em 1966. E este filme também é mais uma das inúmeras injustiças que a Academia de Hollywood cometeu em suas premiações. Tudo bem que levou 6 estatuetas pra casa (diretor, roteiro, fotografia, montagem, trilha sonora e figurino em preto-e-branco), mas perdeu a principal para o insosso "Sinfonia de Paris" (e isso em um ano que tinha entre seus concorrentes o igualmente fenomenal "Uma rua chamada pecado", de Elia Kazan).

"Um lugar ao sol" é uma brilhante adaptação do extenso romance "An american tragedy", de Theodore Dreiser, que originalmente se passa nos anos 20. Ao transferir a ação para os anos 50, Stevens criou não só um belo melodrama romântico mas também um retrato feroz e nada delicado de um mundo em constante desequilíbrio social, que empurra os indivíduos além de seus códigos de ética e conduta. Seu protagonista, o jovem e ambicioso George Eastman não é apenas um anti-herói que se torna vítima de seu desejo de ascensão social: ele é também e principalmente a imagem do americano médio, que, nos primeiros anos do pós-guerra se vê dividido entre o que é certo moralmente e o que é necessário para se atingir um nível decente de vida.

George Eastman (vivido magistralmente por Montgomery Clift em seu mais icônico papel) é um jovem pobre que, fugindo de uma vida sem recursos ao lado da mãe, uma mulher religiosa ao extremo, vai trabalhar na empresa de confecções de seu tio. Lá, ele conhece e começa a namorar uma colega de trabalho, a simplória Alice (Shelley Winters). A proximidade com a família milionária de seu tio, cercada de luxo e glamour, logo passa a despertar seu desejo de ascensão social, que fica ainda mais acentuado quando ele se apaixona pela bela Angela Vickers (Elizabeth Taylor). Milionária, ela representa,para o rapaz acostumado com a mediocridade de uma vida sem maiores recursos, o brilho de uma existência sem preocupações financeiras. As coisas se complicam quando Alice revela que está grávida e passa então, por sua cabeça, livrar-se dela e consequentemente de seus problemas.

Ao contrário do que faria cinco anos depois com seu grandiloquente "Assim caminha a humanidade", que fotografava a vasta amplidão do Texas quase como um personagem a mais, em "Um lugar ao sol" George Stevens usa e abusa dos closes, criando tanto uma atmosfera claustrofóbica quanto extremamente calorosa. É impressionante como a mesma técnica funciona de maneiras tão distintas no filme. Quando George está com Angela a proximidade da câmera sublinha de forma inequívoca um sentimento inebriante de paixão, de amor, de urgência (e ajuda muito a beleza impressionante de Taylor, aos 17 anos e em seu primeiro papel adulto). Quando as cenas do protagonista são com Alice a mesma distância quase inexistente da câmera dá a plena sensação de sufoco, de falta de ar, de escuridão, como se estivéssemos assistindo tudo através dos olhos torturados de Eastman. Não é à toa que a fotografia de William C. Mellor arrebanhou o Oscar, tal é a sua importância em transmitir em imagens os pensamentos de seu protagonista.


O protagonista, aliás, merece um parágrafo à parte. Que belo personagem é George Eastman! Dividido entre a responsabilidade de uma paternidade indesejada - e a consequente mediocridade de uma vida da qual deseja fugir desesperadamente - e a possibilidade de uma vida longe de seu passado miserável - ao lado da mulher que verdadeiramente ama - ele é sem dúvida um dos mais complexos protagonistas do cinema dos anos 50. A escolha de Montgomery Clift para interpretá-lo foi uma jogada de gênio. Com seu belo rosto a serviço de uma personalidade torturada, Clift (um dos atores mais subapreciados de Hollywood, sempre sendo relegado a segundo plano em comparações com Marlon Brando e James Dean) oferece ao público um trabalho primoroso, onde transmite com igual competência assombro, paixão, desespero e angústia, sem nunca deixar de ser, nas cenas finais, o mesmo homem simplório e deslumbrado das primeiras. Uma tour de force das mais inspiradas do cinema, fascinante e de partir o coração.

"Um lugar ao sol" merece seu status de um dos melhores filmes de todos os tempos. Além do roteiro preciso, da fotografia perfeita e da sublime direção de George Stevens, contar com duas atrizes como Elizabeth Taylor e Shelley Winters para coadjuvar Montgomery Clift não é pra qualquer um. Cada uma dentro do seu estilo, elas representam os diferentes mundos que disputam a alma do protagonista. Linda, etérea e fascinante, Taylor veste Edith Head (figurinista de quem tornou-se grande amiga) com uma naturalidade invejável. E como imagem da mediocridade, Winters é insuperável, chegando a justificar o desejo homicida de George.

Obrigatório em todos os sentidos, "Um lugar ao sol" é uma influência ainda nos dias de hoje, como bem o comprova Woody Allen que o emula com maestria em "Match point". Feito há quase 60 anos, a obra de George Stevens se mantém tão atual hoje em dia quanto na época de seu lançamento, tamanha a genialidade que grita em cada fotograma.

Um comentário:

Santiago. disse...

E o impressionante é a qualidade do roteiro. Ele não está interessado em apresentar apenas uma história de amor em plena década de 1950. Ao mesmo tempo que há um clima de romance, principalmente, entre Clift e Taylor, o final é surpreendente para os padrões da época. E diria mais, até para os dias atuais. A morte do protagonista, coisa quase que impensável, é uma realidade em "Um Lugar ao Sol".

Este é um filme obrigatório para os fãs da Elizabeth Taylor. Além disso, o diretor nos presenteia com a presença do Clift, que mais tarde ainda estariam juntos em "De Repente, No Último Verão". Contando ainda com a Katharine Hepburn, outro grande nome do Cinema.

Abraço!

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