
UMA CILADA PARA ROGER RABBIT (Who framed Roger Rabbit?, 1988, Amblin Entertainment/Touchstone Pictures, 104min) Direção: Robert Zemeckis. Roteiro: Jeffrey Price, Peter S. Searman, romance "Who censored Roger Rabbit?", de Gary K. Wolf. Fotografia: Dean Cundey. Montagem: Arthur Schmidt. Música: Alan Silvestri. Figurino: Joanna Johnston. Direção de arte/cenários: Roger Cain, Elliot Scott. Produção executiva: Kathleen Kennedy, Steven Spielberg. Produção: Frank Marshall, Robert Watts. Elenco: Bob Hoskins, Christopher Lloyd, Joanna Cassidy. Estreia: 21/6/88
6 indicações ao Oscar: Fotografia, Montagem, Direção de arte/cenários, Som, Efeitos Sonoros, Efeitos Visuais
Vencedor de 4 Oscar: Montagem, Efeitos Sonoros, Efeitos Visuais e Especial de Animação
Filmes noir são um gênero à parte dentro do cinema americano. Desde que surgiu, nos anos 40, seus elementos foram utilizados à exaustão pelos cineastas do mundo todo, com resultados tão díspares quanto as personalidades de seus complexos personagens. Por isso não deixa de ser curioso e até irônico que seu mais legítimo representante no final do século XX seja um filme cujo protagonista nem humano é.
Exatamente. O protagonista de “Uma cilada para Roger Rabbit”, como seu próprio nome sugere, é um coelho. Mas não um coelho qualquer. Na Hollywood dos anos 40, em um mundo à parte onde seres humanos convivem com cartoons, Roger é um astro de cinema, popular e querido graças principalmente a sua participação em filmes com o amado Baby Herrman, que nos bastidores é um boçal grosseiro e cheio de vícios. Casado com a bela Jessica Rabbit, Roger é invejado e admirado, mas quando o filme começa está passando por uma crise sem precedentes. Preocupado com um de seus maiores investimentos, o dono do estúdio onde o coelho trabalha contrata o detetive Eddie Valiant (Bob Hoskins, genial em cada cena) para que siga a bela esposa de Roger. Quando o “amante” de Jessica é assassinado, o coelho passa a ser o principal suspeito e pede ajuda ao detetive para provar sua inocência. Nem um pouco disposto a colaborar com um personagem de cartoon, uma vez que seu irmão e ex-parceiro foi assassinado por um, Valiant acaba mudando de idéia ao descobrir uma conspiração orquestrada pelo sinistro Mr. Doom (Christopher Lloyd), que quer exterminar a raça de atores de animação.

Espetacular em cada cena, a obra de Robert Zemeckis é um primor da sétima arte. Engraçado como poucos, inteligente como ainda mais raros, o roteiro, baseado em um livro desconhecido fora dos EUA, brinca de forma admirável com os clichês do gênero noir, com ambientações soturnas, personagens cheios de mistérios e uma fotografia brilhante de Dean Cundey, que ressalta ainda mais o clima de mistério da trama rocambolesca e intrincada.
Mas nada é melhor em “Uma cilada para Roger Rabbit” do que a perfeita interação entre atores reais e desenho animado. Utilizando uma técnica descoberta nos filmes de Walt Disney das antigas (“Você já foi à Bahia?”, por exemplo) da forma mais criativa e polidimensional possível, a equipe responsável pelos efeitos visuais (merecidamente premiados com o Oscar da categoria) dá um verdadeiro show de talento e competência. É inacreditável em alguns momentos como a realidade impossível torna-se palpável, principalmente graças ao excepcional trabalho de Bob Hoskins, que teve que trabalhar sozinho em grande parte das filmagens e criou um Eddie Valiant crível e real.
Divertidíssimo da primeira à última cena, “Roger Rabbit” é um tributo ao talento de seus realizadores e ainda por cima cria dois personagens inesquecíveis: o protagonista, dublado pelo mesma voz do Pernalonga e sua sensual esposa, Jessica Rabbit, um dos mais surpreendentes símbolos sexuais surgidos ultimamente e dublada por Kathleen Turner e Amy Irving. Sua força é tão notável que já houve a ideia de um novo filme estrelado apenas pelos dois. Vida longa ao casal Rabbit!