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A COR DO DINHEIRO


A COR DO DINHEIRO (The color of the money, 1986, Buena Vista Pictures, 119min) Direção: Martin Scorsese. Roteiro: Richard Price, romance de Walter Tevis. Fotografia: Michael Ballhaus. Montagem: Thelma Schoonmaker. Figurino: Richard Bruno. Direção de arte/cenários: Boris Leven/Karen A. O'Hara. Casting: Gretchen Rennell. Produção: Irving Axelrad, Barbara De Fina. Elenco: Paul Newman, Tom Cruise, Mary Elizabeth Mastrantonio, Helen Shaver, John Turturro, Forest Whitaker, Bill Cobbs. Estreia: 08/10/86

4 indicações ao Oscar: Ator (Paul Newman), Atriz Coadjuvante (Mary Elizabeth Mastrantonio), Roteiro Adaptado, Direção de arte
Vencedor do Oscar de Melhor Ator (Paul Newman)


Filmes sobre sinuca - ou bilhar ou qualquer assemelhado - normalmente não são sucessos de bilheteria nem fascinam as plateias que frequentam as salas de cinema. Por isso não é de se estranhar que "A cor do dinheiro", que deu o merecido Oscar de melhor ator a Paul Newman em 1986 não tenha tido uma brilhante carreira comercial, apesar do apelo jovem de um Tom Cruise ainda em sua fase de ídolo adolescente - status que ele começaria a mudar aqui e em "Rain Man" e confirmaria com "Nascido em 4 de julho". No entanto, rotular "A cor do dinheiro" como um filme de sinuca é o mesmo que restringir "Touro indomável" a um filme sobre boxe. Não é à toa que ambos os filmes sejam dirigidos pelo mesmo Martin Scorsese, que, com seu talento indiscutível, sempre conta histórias de homens lutando contra si mesmos.

Na verdade "A cor do dinheiro" é uma espécie de continuação de "Desafio à corrupção", lançado em 1961 e que também tinha como protagonista o mesmo Eddie Felson que Newman revive aqui. No filme de Scorsese, Felson é um jogador aposentado de uma variação de sinuca chamada "Bola 9", que vive da venda de bebidas alcóolicas. Seu passado de glória no esporte volta a lhe assombrar quando ele conhece o jovem Vincent Lauria (Tom Cruise), dono de um talento inegável, mas também de uma arrogância que apenas a inexperiência é capaz de construir. Empolgado com o rapaz, Eddie propõe a ele e sua ambiciosa namorada, Carmen (Mary Elizabeth Mastrantonio) que eles se unam para ganhar muito dinheiro em uma competição em Atlantic City. O trato - Felson entraria com seus meandros e malandragem e Vincent com o talento e a disposição - começa a dar errado quando Vincent passa a não dar ouvidos aos conselhos de seu mentor, julgando-se capaz de vencer sozinho. Logo eles acabam sendo obrigados a jogar um contra o outro.

Conforme dito antes, é característica da obra de Scorsese colocar seus protagonistas diante do pior de seus inimigos: ele mesmo. Em "A cor do dinheiro" ele faz isso duplamente. Eddie Felson precisa lutar contra seu passado, contra o tempo que já não lhe é mais complacente e contra seus próprios princípios. O jovem Vincent necessita aprender a lidar com seu exibicionismo, com a sua efusividade juvenil, com a ambição e a pressa típicas de sua idade. E ambos são forçados também a lutar um contra o outro: como dois espelhos, eles se enxergam no parceiro... e provavelmente não gostam muito do que veem.


Como filme, "A cor do dinheiro" não está no mesmo patamar das obras-primas de Scorsese: tem alguns problemas de ritmo e, deixando de lado a atuação excepcional de Newman, não tem um protagonista carismático e/ou repulsivo como seus melhores trabalhos. No entanto, seduz o espectador com uma imprevisibilidade rara - o roteiro do escritor Richard Price foge dos clichês admiravelmente e ainda tem a ousadia de terminar em aberto - o que, para um filme sem pretensões de tornar-se o primeiro capítulo de uma série é uma temeridade comercial sem tamanho. E é inegável perceber o cuidado do cineasta em filmar cada sequência do esporte da maneira mais empolgante possível - e nessas cenas a edição de sua colaboradora habitual Thelma Schoonmaker é, como sempre, destaque absoluto.

Mas é Paul Newman o dono do filme. Sua interpretação delicada, discreta mas extremamente forte domina cada cena em que ele aparece, dando aulas prestimosas a Cruise, que em seguida tentaria direcionar sua carreira para escolhas de maior prestígio do que "Negócio arriscado" e "A lenda". Mais do que levar um Oscar por respeito a sua carreira sensacional, ele foi premiado pela qualidade altíssima de seu trabalho. Um prêmio absolutamente merecido!

Um comentário:

Rodrigo Mendes disse...

Estou na fase Scorsese pois revi Touro Indomável e Taxi Driver algumas semanas.

A Cor do Dinheiro é um trabalho intocável do diretor.Scorsese sempre faz o melhor!

Abs!
Rodrigo

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