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BACKBEAT, OS CINCO RAPAZES DE LIVERPOOL

BACKBEAT, OS CINCO RAPAZES DE LIVERPOOL (Backbeat, 1994, Polygram Filmed Entertainment) Direção: Iain Softley. Roteiro: Iain Softley, Michael Thomas, Stephen Ward. Fotografia: Ian Wilson. Montagem: Martin Walsh. Música: Don Was. Figurino: Sheena Napier. Direção de arte/cenários: Joseph Bennett/Barbara Herman-Skelding. Produção executiva: Hanno Huth, Nik Powell. Produção: Finola Dwyer, Stephen Wooley. Elenco: Stephen Dorff, Sheryl Lee, Ian Hart, Gary Bakewell, Chris O'Neill, Scott Williams, Kai Wiesinger. Estreia: 01/4/94

Stuart Sutcliffe nasceu em Edimburgo (Escócia) em 23 de junho de 1940 e morreu de hemorragia cerebral em Hamburgo (Alemanha) em 10 de abril de 1962. Como artista plástico, foi extremamente elogiado, tendo sido influenciado por artistas abstratos expressionistas americanos e exposto em galerias do mundo todo. Apesar de seu inegável talento como pintor, no entanto, Stuart não ficou conhecido através de sua arte e sim por um fato de extrema importância no universo musical - Stuart Sutcliff, ou simplesmente Stu foi o quinto Beatle, antes que Lennon, McCartney & cia dominassem o mundo. E a história da amizade entre ele e John Lennon - e a espécie de triângulo amoroso formado por eles e a fotógrafa Astrid Kircherr - é contada em "Backbeat, os cinco rapazes de Liverpool".

Inspirado pela comoção pública em torno da morte de John Lennon em dezembro de 1980, o britânico Iain Softley demorou mais de uma década para passar da ideia à ação. É difícil dizer com certeza, mas provavelmente nesse caso o tempo foi um belo aliado. Distante do calor do momento e da imaturidade inerente à juventude, o cineasta realizou um filme sóbrio, elegante e sem os exageros de um fã. No roteiro co-escrito pelo diretor ao lado de Stephen Ward e Michael Thomas, as personagens não são astros do rock: são jovens ambiciosos e talentosos em busca do lugar ao sol e completamente entregues à sua vontade de viver.

A trama de "Backbeat" começa quando Lennon (Ian Hart) convence seu melhor amigo, Stu (Stephen Dorff) a utilizar o dinheiro da venda de um quadro na compra de um baixo. Mesmo sem muito talento para a música, o rapaz aceita acompanhar o amigo e os outros integrantes de sua banda a uma viagem a Hamburgo, na Alemanha. Lá, os dois, acompanhados de Paul McCartney (Gary Bakewell) e Pete Best (Chris O'Neill) fazem uma série de shows em bares um tanto decadentes. Tudo sofre uma reviravolta quando entram em cena o artista plástico Klaus (Kai Wiesinger) e a bela fotógrafa Astrid (Sheryl Lee, a Laura Palmer da série de TV "Twin Peaks"), que cria o visual da banda. Apaixonado pela bela alemã, Stu passa a dedicar-se mais à pintura do que à música, o que apressa seus conflitos com a banda e com o melhor amigo, enciumado com a relação entre os dois.



O roteiro de "Backbeat" concentra-se principalmente nas relações entre Lennon/Astrid/Stuart. Dividido entre uma promissora carreira plástica uma medíocre trajetória como músico, Stu não deseja magoar os sentimentos do melhor amigo, a quem a banda é o mais importante de tudo. Mesmo assim, ele sabe, sem dúvida alguma, que ama Astrid, e que não pretende abandoná-la para acompanhar o grupo musical dos amigos. Essa crise existencial de Sutcliffe é a alma do filme de Softley e encontra em Stephen Dorff um intérprete à altura: mesmo que não seja exatamente carismático, Dorff é o ator ideal para encarnar as dúvidas de sua personagem, sempre à beira de um colapso nervoso. Com uma química invejável com Sheryl Lee (linda e etérea), ele também consegue fazer com Ian Hart uma dupla verossímil e afinada. Mesmo que não seja fisicamente ideal para o papel de Lennon, Hart entrega uma atuação visceral e intensa, que conquista o público justamente por sua entrega.

Ao contar a história dos Beatles antes que eles se tornassem os Beatles que todo mundo conhece, "Backbeat" aproveita para apresentar ao público uma trilha sonora vibrante e contagiante. Músicas dos primórdios da banda mais famosa do mundo desfilam pela tela, comentando a ação em cenas que desafiam qualquer um a ficar parado. A musicalidade dos Beatles sempre esteve presente, parece querer dizer o roteiro e as cenas pré-Cavern Club, e as tragédias pessoais pelas quais passou o grupo apenas fomentaram uma das bandas mais sensacionais, criativas e mágicas da história.

"Backbeat" é um filme de fãs para fãs. Mas é também a história de uma amizade, de um amor e de uma tragédia. É simples e sofisticado, assim como as músicas dos Beatles. Delicioso!

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