sexta-feira

VEM DANÇAR COMIGO

VEM DANÇAR COMIGO (Strictly ballroom, 1992, Miramax Films, 94min) Direção: Baz Luhrmann. Roteiro: Baz Luhrmann, Craig Pearce. Fotografia: Steve Mason. Montagem: Jill Bilcock. Música: David Hirschfelder. Figurino: Angus Strathie. Direção de arte/cenários: Catherine Martin, Martin Brown. Casting: Faith Martin, Fiona McConaghy. Produção executiva: Antoinette Albert. Produção: Tristam Miall. Elenco: Paul Mercurio, Tara Morice, Bill Hunter, Pat Thomson. Estreia: 20/8/92

Uma frase repetida constantemente em "Vem dançar comigo" é "Viver com medo é viver pela metade!". A julgar pelo resultado final de seu primeiro longa-metragem, o diretor australiano Baz Luhrmann leva o ditado ao pé da letra. Poucas vezes se viu uma obra tão exagerada em todos os sentidos, desde o visual até a interpretação do elenco, passando por uma trilha sonora que mistura sem pudor música clássica, canções pop e ritmos latinos. O que é mais estranho, no entanto, é que essa mistura toda, ao invés de resultar num samba do crioulo doido, deu muito certo. Despretensioso, alegre e contagiante, "Vem dançar comigo" é um dos mais criativos musicais de sua época, e muito de sua qualidade vem justamente dessa diversidade toda.

Ao contar a velha história do patinho feio, dessa vez tendo como cenário o mundo da dança de salão, Luhrmann abraça com carinho e coragem todos os clichês possíveis e imagináveis, sem medo de ser cafona e redundante. A trama centra-se em Scott Hastings (o dançarino até então desconhecido Paul Mercurio), um jovem que sonha tornar-se campeão do Festival Pan-pacífico de Dança de Salão. Talentoso ele é, mas teimoso também: para desespero de sua mãe (a deliciosamente over Pat Thompson, que morreu antes da estreia do filme), ele insiste em utilizar, durante os concursos, passos inovadores e que fogem das tradições da austera Academia de Dança. Sem parceira para acompanhá-lo no concurso que se aproxima - todas fogem de sua criatividade exarcebada - ele acaba aceitando treinar a novata e feiosa Fran (a também novata e feiosa Tara Morice) e, juntos, o ídolo da escola de dança e a tímida descendente de uma família latina aparentemente rígida mas convenientemente apaixonada por música tentam romper a barreira do preconceito e surpresa... se apaixonam!



Desde as primeiras cenas nota-se que "Vem dançar comigo" irá subverter as regras que carinhosamente apresenta. Com uma fotografia inteligente de Steve Mason, que valoriza as cores quentes da cenografia e dos figurinos, ambos de uma estética kitsch de causar orgulho a Pedro Almodovar, o filme foge do lugar-comum ao evitar paisagens do entardecer e bobagens românticas afins. Os clichês utilizados por Luhrmann ficam por conta do roteiro melodramático e com reviravoltas dignas de novelas mexicanas, com suas personagens maniqueístas e com o esperado final feliz, onde todos se confraternizam em um clímax alto-astral, inclusive os vilões (que, diga-se de passagem, se regeneram como em todo bom e absurdo filme romântico).

Bem-humorado sem ser pateta, romântico sem ser meloso e repleto de clichês mas construído sem levar-se muito a sério, "Vem dançar comigo" ainda conta com uma trilha sonora costurada exemplarmente pelo diretor (que refinaria a receita até o magnífico "Moulin Rouge", oito anos mais tarde): ao lado de "Carmen", de Bizet, pode-se ouvir "Quizás, quizás, quizás" entoada por Doris Day, "Time after time", clássico de Cyndi Lauper em nova gravação e até mesmo a encantadora "Love is in the air" na voz do então sumido John Paul Young. A trama pode até não ser exatamente surpreendente, mas a criatividade do filme de Baz Luhrmann reside majestosa em seu visual e na sua coragem de assumir seu lado brega.

Um comentário:

Paulo Cesar disse...

Não sei porque mas gosto muito desse filme...é um entre vários que,dando uma janela de tempo considerável,vejo e revejo sem cansar.Tem filmes simples,nada brilhantes ou mirabolantes em que parece que a soma de várias caracteristicas os tornam para sempre ao nosso gosto.

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