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ENTREVISTA COM O VAMPIRO

ENTREVISTA COM O VAMPIRO (Interview with the vampire: The vampire chronicles, 1994, Geffen Pictures, 123min) Direção: Neil Jordan. Roteiro: Anne Rice, romance de sua autoria. Fotografia: Phillippe Rousselot. Montagem: Mick Audsley, Joke Van Wijk. Música: Elliot Goldenthal. Figurino: Sandy Powell. Direção de arte/cenários: Dante Ferretti/Francesa Lo Schiavo. Produção: David Geffen, Stephen Woolley. Elenco: Tom Cruise, Brad Pitt, Kirsten Dunst, Christian Slater, Antonio Banderas, Stephen Rea, Thandie Newton. Estreia: 11/11/94

2 indicações ao Oscar: Trilha Sonora Original, Direção de arte/cenários

Desde que a escritora americana Anne Rice publicou o livro "Entrevista com o vampiro", em 1976, muitas tentativas de adaptá-lo para o cinema foram frustradas, pelos mais variados motivos. No final dos anos 70, por exemplo, o projeto foi engavetado devido ao fracasso de três filmes sobre vampirismo - "Drácula", com Frank Langella, "Nosferatu", com Klaus Kinski e "Amor à primeira mordida", com George Hamilton. Na época, o nome mais cotado para protagonizar o filme era o ator - então em alta - John Travolta, ainda que a própria escritora tivesse o holandês Rutger Hauer em mente quando criou a personagem central do livro. Mais de uma década se passou até que finalmente a história das aventuras dos vampiros Lestat, Louis e Claudia chegasse às telas. Dirigido pelo irlandês Neil Jordan - cineasta inteligente e de extremo bom-gosto - o filme estreou cercado de expectativas e polêmicas, mas surpreeendentemente agradou à maioria da crítica e o que é mais importante, dos fãs da obra literária.

Escrito por Anne Rice como forma de terapia depois da morte da filha pequena, vítima de leucemia - e homenageada no livro na pele da vampira-mirim Claudia - "Entrevista com o vampiro" arrebatou milhares de fãs mundo afora, que espernearam violentamente quando foi anunciado o nome do ator que viveria o sedutor protagonista, Lestat de Lioncourt. Acostumado a viver galãs heróicos - e levar multidões aos cinemas - Tom Cruise era o último nome que os leitores desejavam ver na pele do malévolo vampiro-mor criado por Rice e a própria escritora manifestou-se ferozmente contra a escolha dos produtores. A morte de River Phoenix - que viveria o jovem repórter que faz a entrevista do título - não colaborou para animar os ânimos e tudo parecia apontar para um fiasco de grandes proporções. Felizmente a história do cinema é repleta de surpresas, e "Entrevista com o vampiro" é uma delas. Mesmo que ignore algumas importantes nuances do livro, a adaptação para as telas - feita por Anne Rice em pessoa - não faz feio em comparação com sua origem. E, por incrível que pareça, Tom Cruise é um de seus maiores destaques.



Tentando fugir da imagem de bom moço, Cruise entrega em "Entrevista com o vampiro" uma de suas atuações menos previsíveis, ainda que às vezes escorregue descaradamente para o overacting - levando-se em consideração, porém, que Lestat é uma personagem teatral e propensa a exageros, dá pra deixar de lado as críticas mau-humoradas e divertir-se com sua interpretação. Debochado, cruel e politicamente incorreto, Lestat é o contraponto perfeito ao melancólico Louis, vivido por um Brad Pitt em vias de transformar-se em sensação absoluta junto ao imaginário feminino.

Tudo começa em São Francisco, quando um jovem jornalista (papel que Christian Slater herdou de River Phoenix) é procurado por um rapaz de aparência sinistra. Apresentando-se como Louis de Pointe du Lac, ele revela ao repórter que é um vampiro e, depois de convencê-lo disso, conta a ele sua inacreditável história, que tem início em Nova Orleans no ano de 1791. Devastado pela morte da esposa e do filho recém-nascido, Louis é um jovem fazendeiro que desafia a morte diariamente. Um dia ela aparece à sua frente na figura do misterioso Lestat (Tom Cruise), um vampiro que o leva para o mundo das trevas. Incapaz de matar seres humanos e alimentando-se do sangue de pequenos animais, Louis incomoda Lestat a ponto de ambos resolverem sair pelo mundo em busca de outros iguais a eles. Logo junta-se a eles a menina Claudia (Kirsten Dunst), que, órfã, é mordida por Lestat para acompanhá-los. As inúmeras viagens dos três são marcadas por eventos trágicos, principalmente quando Louis e Claudia se voltam contra a insensibilidade de Lestat.

Dirigindo com elegância mas sem maiores lances de criatividade, Neil Jordan teve sorte de cercar-se de gente extremamente talentosa. A fotografia sombria de Philippe Rousselot dá o tom exato ao clima de melancolia e tragédia que perpassa toda a história - vale lembrar que, no livro, Louis não perde a mulher e o filho e sim o melhor amigo, o que dá à trama um tom homoerótico absolutamente limado da versão cinematográfica. A trilha sonora de Elliot Goldenthal (indicada ao Oscar) mistura o gótico com o moderno, ainda que não fuja do óbvio ao eleger Rolling Stones para os créditos finais. E, se Brad Pitt não consegue se desvencilhar do básico em seu trabalho como Louis (transformado no roteiro em um chato sem pró-atividade), é Kirsten Dunst que brilha, na mais sensacional revelação do filme. Garfando um papel para o qual foram testadas Christina Ricci, Julia Stiles e Evan Rachel Wood, a futura namorada do Homem-aranha já demonstra, em seu primeiro papel de verdade, um talento que se comprovaria em filmes como "As virgens suicidas" e "Maria Antonieta".

Para quem não leu o livro, "Entrevista com o vampiro" é um excelente filme do gênero, com personagens bem construídos e interpretados por atores de verdade - ao contrário de coisas como a saga "Crepúsculo", que enterrou a mitologia vampiresca de forma aparentemente indelével. Para os leitores - que não se conformaram com a simplificação de temas como a depressão, a morte e até mesmo a bissexualidade dos protagonistas - não chega a ser a decepção anunciada. E para o público em geral, que gosta de um bom filme, é um programa de qualidade, dirigido por um cineasta incapaz de assinar qualquer trabalho.

3 comentários:

renatocinema disse...

Filmaço.

Produção que provou que dois atores "bonitos" quando inspirados podem fazer um grande trabalho.

Bela trama, bela direção.

Pena que ainda não li o famoso livro.

Maíra Oliveira disse...

Também senti que ocultaram os reais motivos, dos interesses de Armand e Lestat em Louis, nas cenas em que cada um deles pede, quase suplicam a Louis, para que lhes acompanhem numa vida possuidora de tom melancólico e triste, há homossexualidade ali, ou estou vendo coisas inexistentes? Por favor, você pode me dizer que canção original do filme foi indicada ao Oscar?

Clenio disse...

Maíra, sem dúvida existe no livro uma conotação homoerotica que inexiste no filme, provavelmente para não assustar as fãs de Cruise e Pitt. Tanto é assim que no romance de Anne Rice o personagem Louis não perde mulher e filho e sim um "amigo".
Qto ao Oscar, não houve uma canção indicada e sim a trilha sonora instrumental do Elliot Goldenthal.

Espero ter ajudado,
Clênio

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